A Crise de Identidade Adventista: Uma Visão da Música de Adoração

Introdução

O último artigo escrito pelo pastor Lloyd Grolimund intitulado “Fogo na Igreja destacou a forma como o estilo de adoração neo-pentecostal, com música rock, drama, danças, falar em línguas e curas está encontrando seu espaço dentro de um crescente número de igrejas adventistas na Austrália. O problema não está limitado à Austrália. Assinantes de diversas partes do mundo têm respondido, compartilhando sua preocupação acerca da influência do pentecostalismo em suas igrejas locais.

A adoção de estilos pentecostais de adoração é o principal fator contribuinte para a crise de identidade adventista. Um número cada vez maior de adventistas lamentam que não podem mais freqüentar suas igrejas locais porque estão ofendidos pelo novo estilo de adoração, com música ritmada e drama. Esta crise é sentida de forma profunda de diversas formas em diversos países. Em outubro de 2003 fui convidado a falar em várias igrejas na Suécia e Noruega. Durante os 10 dias que passei nestes dois países, fui lembrado com freqüência que nossos crentes estão enfrentando uma crise de identidade adventista, porque um número cada vez maior deles está adotando o estilo de adoração e o estilo de vida de outros cristãos. À minha chegada em Estocolmo, Bobby Sjolander, o pastor de nossa Igreja do Colégio Ekebyholm, na Suécia, pediu-me especificamente que eu falasse sobre “A Crise de Identidade Adventista no Século 21”.

O mesmo aconteceu há algum tempo atrás, em 8 de junho de 2004, quando me foi solicitado que falasse em uma reunião de todos os pastores e anciãos que estavam assistindo a campal da Inglaterra do Sul, ocorrida perto de Bristol, Inglaterra. Esta era a maior reunião campal da Europa, com mais de 3.000 pessoas participando durante a semana e 5.000 no final de semana. O título de minha apresentação feita aos pastores e anciãos foi “A Crise de Identidade Adventista”. A resposta foi muito encorajadora, pois vários pastores e anciãos me entregaram CDs virgens para que eu lhes fornecesse uma cópia da apresentação para seu uso pessoal.

Em minha palestra sugeri que nossa identidade adventista tem três componentes principais: teológicos, existenciais e litúrgicos, ou seja, nossas doutrinas, estilo de vida e adoração. Aquilo que cremos, como vivemos e como adoramos têm, tradicionalmente, definido a nossa identidade. Temos nos visto como um povo remanescente, chamado a viver uma vida de temperança e um estilo de vida santo, de forma a proclamar a mensagem final de advertência (as três mensagens angélicas) à humanidade.

Desafios Teológicos

Em épocas recentes, cada um destes três componentes de nossa identidade adventista esteve sob severos ataques. Neste artigo me concentrarei principalmente na música de adoração, porque é o aspecto mais controvertido e crítico de nossa identidade adventista. À guisa de introdução, discutirei brevemente os desafios teológicos e de estilo de vida que estão erodindo a nossa identidade adventista.

Teologicamente, várias de nossas distintivas crenças adventistas têm sido questionadas e mesmo desafiadas. A última edição da revista “Reflections” (Reflexões) (Janeiro a Maio de 2004), o periódico oficial do Instituto de Pesquisas Bíblicas da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, oferece uma análise perspicaz dos desafios teológicos oferecidos tanto por adventistas liberais quanto conservadores. Uma vez que o foco deste artigo é o desafio da música de adoração para a nossa identidade adventista, faremos apenas uma breve menção de algumas influências teológicas e de estilo de vida que estão enfraquecendo a nossa identidade adventista.

Criação. “Durante aproximadamente os últimos trinta anos” escreve a revista Reflections, “um pequeno número de adventistas nos círculos acadêmicos tem estado a levantar questões concernentes à credibilidade de nossa posição acerca da criação, com base na evidência científica reunida pelos evolucionistas… Desta forma, as duas opiniões principais oferecidas à igreja por estes eruditos e teólogos são a evolução teísta ou o agnosticismo, com relação às origens” (Janeiro, pp. 3-4). Dito de forma simples, alguns professores adventistas de Ciências e teólogos sustentem que Deus usou a evolução como método de criação, enquanto outros simplesmente afirmam que não sabemos como a vida começou neste planeta.

Questionar ou mesmo rejeitar a doutrina bíblica da criação em seis dias, significa solapar a credibilidade de crenças fundamentais adventistas, tais como o Sábado e a Encarnação. Se Deus não criou o mundo em seis dias, então dificilmente Deus teria instituído o Sábado do sétimo dia para celebrar o término de Sua criação em seis dias. De forma semelhante, se Deus não participou do tempo humano na criação, para trazer os seres humanos e sub-humanos à existência, então não havia razão para que Ele participasse da carne humana na encarnação, para redimir e restaurar Suas criaturas a uma perfeição original que nunca existiu.

O Sábado. Em anos recentes o sábado tem sido atacado de diversas formas, por vários ex-instrutores bíblicos e ex-pastores adventistas. Estes homens têm escrito numerosos livros e artigos que argumentam que o sábado é uma instituição do antigo concerto, dado aos judeus, pregado na cruz e, consequentemente, não se aplicando mais aos cristãos da atualidade. Infelizmente, este ensino, conhecido como “Teologia do Novo Concerto” tem influenciado milhares de adventistas a abandonar a igreja.

Durante os últimos cinco anos tenho passado incontáveis horas expondo as falhas da chamada Teologia do Novo Concerto. Meu livro The Sabbath Under Crossfire (O Sábado Sob Fogo Cruzado) e, em grande parte, o desdobramento de discussões sobre o sábado com nossos ex-irmãos. É difícil de acreditar que mesmo antigos sabatistas estejam questionando o aspecto global do sábado, quando Jesus afirmou inequivocamente que “O sábado foi feito por causa do homem” (Marcos 2:27), não apenas para os judeus. De fato, Jesus fez tudo o que estava a Seu alcance para esclarecer o intento divino do sábado, ao proclamar o dia como um tempo para demonstrar misericórdia (Mateus 12:7), para “fazer o bem” (Mateus 12:12), para salvar vidas (Marcos 3:4), e para libertar pessoas de fardos físicos e espirituais (Lucas 13:12, 16). Todas as declarações de Jesus sobre o sábado indicam claramente que Jesus queria abrilhantar o sábado, e não torná-lo nulo.

Mas o sábado é atacado hoje não apenas teologicamente, mas também existencialmente por um número cada vez maior de adventistas que estão adotando a mentalidade da guarda do domingo. Esta mentalidade consiste em reduzir o sábado a uma hora de assistência à igreja. Quando o culto divino acaba, o sábado termina. Eles colocam suas roupas de sábado de volta no armário, fecham o armário e fecham o sábado. Gastam o resto do dia comendo em restaurantes, fazendo compras em shopping centers ou visitando lugares de entretenimento.

Ao atacar o sábado a partir de fora e de dentro da igreja, Satanás está minando a nossa identidade adventista, porque este dia serve como constante lembrança de nossa identidade e missão. Um erudito judeu escreveu: “O Sábado preservou os judeus mais do que os judeus preservaram o sábado.” Creio que o mesmo é verdade para a nossa igreja adventista. O sábado pode nos ajudar a nossa identidade adventista, nos lembrando que observarmos um dia santo significa aceitar o desafio de sermos um povo santo em meio a uma geração de mente secularizada e perversa.

O papel de Ellen White. É impossível estimar quantos adventistas abandonaram a igreja em anos recentes por causa da questão do papel profético de Ellen White. Dificilmente passa-se uma semana sem que eu receba um e-mail de adventistas angustiados, à beira de abandonar a igreja, depois de haver lido os ataques contra Ellen White, os quais estão publicados em incontáveis websites. Não há dúvidas de que o desafio ao papel profético de Ellen White está enfraquecendo de forma significativa a identidade adventista.

O que preocupa alguns de nossos crentes é a descoberta de que a sua imagem mental de Ellen White como uma profetiza que escreveu de forma precisa sob a inspiração do Espírito Santo não pode ser reconciliada com algumas imprecisões encontradas em seus escritos. Este é um problema sério, ao qual a nossa igreja precisa atentar com urgência; não dando desculpas para as imprecisões dos escritos de Ellen White, mas auxiliando nossos membros a compreender as limitações do dom profético manifestado na Bíblia e nos escritos de Ellen White. Analisei estas questões em meus periódicos “Endtime Issues” (Questões do Tempo do Fim), números 88 e 89. Demonstrei que Ellen White reconhecia suas limitações e convidei eruditos competentes a fazerem as correções necessárias na versão de 1911 de O Grande Conflito.

O dom profético não torna um profeta uma autoridade em história, ciência, ou interpretações doutrinárias. Ao invés disso, o dom de profecia capacita o profeta a falar aos membros da igreja “para edificação, exortação e consolação.” (I Coríntios 14:3). A Bíblia nos diz que as mensagens dos profetas devem ser testadas e avaliadas para nos certificarmos de que a verdade não seja misturada com erro (I Tessalonicenses 5:20-21; I Coríntios 14:29).

Durante os 70 anos de seu ministério profético, Ellen White deu amplas evidências de possuir o dom profético. Ela produziu milhares de mensagens para encorajamento, consolação, reprovação e edificação da igreja. Suas mensagens ainda vão ao encontro das necessidades espirituais de nossas almas e podem nos ajudar a crescermos até a estatura de nosso Senhor. Nossa igreja Adventista não seria hoje um movimento mundial, não fosse pela visão profética de Ellen White, que ajudou a definir a nossa mensagem e missão.

Outras Doutrinas. Existem várias outras doutrinas que são questionadas pos alguns adventistas hoje. Elas incluem o juízo investigativo, o conceito do remanescente, a interpretação tradicional de Babilônia, os períodos proféticos dos 1260/2300 anos, o Anti-Cristo e a doutrina do santuário. Não é possível fazermos neste artigo uma tentativa de examinarmos a controvérsia que cerca essas doutrinas. Elas são mencionadas simplesmente para demonstrar alguns fatores que estão enfraquecendo nossa identidade adventista.

Desafios ao Estilo de Vida Adventista

O segundo componente de nossa identidade adventista que está sob ataque é o estilo de vida. Tradicionalmente, os adventistas têm se tornado conhecidos por sei estilo de vida simples e saudável. Este estilo consiste em abster-se de café e bebidas alcoólicas, em comer principalmente comidas vegetarianas saudáveis, em vestir-se de forma modesta, evitando roupas reveladoras, em cultivar o adorno interior do coração em vez da ornamentação exterior do corpo com jóias e em envolver-se em recreações e entretenimentos saudáveis, evitando filmes que exibam cenas que são contrárias aos padrões morais adventistas.

Os padrões de estilo de vida tradicionais estão gradualmente sendo substituídos por atitudes mais permissivas. Uma pergunta que me é feita com freqüência durante meus seminários de final de semana é: “O que há de errado…?” O que há de errado com a bebida moderada? O que há de errado com vestir-se e adornar nossos corpos de acordo com a última moda? O que há de errado em ser gay ou lésbica? O que há de errado em viver com alguém sem ser casado? O que há de errado em ir a um concerto de rock ou a um cinema?

Essas perguntas indicam que existem muitos adventistas sinceros que estão sinceramente fazendo o que é errado. Eles acreditam sinceramente que não há nada de errado em sexo pré-marital, desde que amem seu/sua parceiro(a). Eles acreditam sinceramente que os cristãos podem assistir filmes violentos ou permeados de sexo, desde que não fiquem emocionalmente envolvidos. Eles acreditam sinceramente que podem ouvir música rock, desde que a batida não seja muito forte e as palavras não sejam mundanas demais. Eles acreditam sinceramente que podem se divorciar de seu cônjuge, se não encontram mais a plenitude em seu relacionamento. Eles acreditam sinceramente que podem consumir uma quantidade moderada de álcool e drogas, desde que não se tornem dependentes. Eles acreditam sinceramente que podem usar diversos tipos de jóias, desde que não sejam muito extravagantes ou muito caras.

Poderíamos nos perguntar: Como podem tantos cristãos ser sinceros e ainda assim estarem sinceramente enganados sobre aspectos vitais das declarações do Evangelho para nossas vidas quotidianas? Me parece que parte do problema está na falta de compreender as declarações do Evangelho para nossas vidas quotidianas. A preocupação predominante parece ser ensinar as pessoas como serem salvas, ao invés de treiná-las sobre como viver uma vida cristã. Parece haver uma relutância em ajudar as pessoas a compreenderem como a aceitação do evangelho afeta a forma como comemos, bebemos, nos vestimos, nos enfeitamos, e nos entretemos. O resultado é que, para usarmos as palavras de Oséias, “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” (Oséias 4:6)

É minha convicção que não podemos culpar os membros da igreja por fazerem o que é errado, se seus líderes espirituais não os ajudam a verem as razões bíblicas para fazerem o que é correto. Durante os últimos 30 anos de ensinos e pregações ao redor do mundo, tenho visto, em incontáveis ocasiões, mudanças radicais no estilo de vida de pessoas que foram convencidas pelas escrituras e convertidas pelo Espírito Santo de que certos hábitos ou atos eram errados. Existem muitos cristãos sinceros que querem saber como viver de acordo com os princípios que Deus tem revelado na Bíblia. Eles apreciam quando alguém devota algum tempo para lhes mostrar, pela Bíblia e por exemplo pessoal, como viver uma vida cristã.

O Desafio da Música de Adoração

A crise de identidade adventista se reflete especialmente na música contemporânea adotada por um crescente número de igrejas para o “serviço de louvor”. Este é o assunto que quero analisar neste artigo, compartilhando alguns destaques de minha pesquisa sobre música na Bíblia. O pressuposto dominante é que a Bíblia aprova a música rock alta, adotada por muitas igrejas em seus cultos de adoração.

Este pressuposto equivocado é promovido por líderes eclesiásticos influentes como Rick Warren, o pastor fundador da Igreja de Saddleback – a maior igreja nos Estados Unidos, com 50.000 membros – e autor de dois livros muito vendidos, Uma Vida com Propósitos e Uma Igreja com Propósitos. Muitas pessoas têm me pedido para fazer uma análise destes livros. Farei isso assim que puder encontrar algum tempo. Existem algumas falhas bíblicas fundamentais nestes livros que precisam ser expostas. (N.T. – Veja os artigos listados na seção (Falsas) Estratégias de Crescimento para a Igreja)

Uma destas falhas é com relação à música. O pastor Warren ensina que “Deus ama todos os tipos de música”, inclusive a música rock popular. Ele escreve: “Quando leio sobre a adoração bíblica nos Salmos, vejo que eles usavam baterias, címbalos, trombetas, tamborins e instrumentos de corda. Isso parece música contemporânea para mim! … Saddleback é assumidamente uma igreja de música contemporânea. Somos freqüentemente referenciados na imprensa como ‘o rebanho que gosta de Rock.’ Usamos o estilo de música que a maioria das pessoas em nossa igreja ouve no rádio (Rick Warren, Selecionando a Música de Adoração, disponível [originalmente] em: http://www.pastorport.com/ministrytoday.asp?mode=viewarchive&index=18).

A Leitura Bíblica Superficial do Pastor Warren

O problema do pastor Warren é a sua leitura superficial da Bíblia. Vez após vez ele usa mal os textos bíblicos para promover seus pontos de vista. Se ele tivesse feito um pouco de lição de casa, teria descoberto que instrumentos de percussão como tambores, tamboris e pandeiros nunca foram usados na adoração a Deus no Templo, na sinagoga e na igreja apostólica. Portanto, Dificilmente Davi teria ensinado a utilização de instrumentos de percussão na adoração do santuário quando, como veremos, ele não os permitiu no ministério musical dos levitas.

O salmo 150 lista oito instrumentos a serem usados no louvor ao Senhor: trombeta, saltério, harpa, tamborim, instrumentos de cordas, órgão, címbalos sonoros, címbalos altissonantes. Mas o pastor Warren ignora o fato a linguagem altamente figurativa dos salmos 149 e 150, a qual dificilmente endossa tocarmos música rock na igreja. O Salmo 149:5 encoraja as pessoas a louvarem o Senhor nos “leitos”. No verso 6, o louvor deve ser feito com “espadas de dois gumes” nas mãos. Nos versos 7 e 8, o Senhor deve ser louvado por castigar os ímpios com a espada, prender os reis com cadeias, e os seus nobres em grilhões de ferro. É evidente que a linguagem é figurativa porque é difícil acreditar que Deus esperaria que as pessoas O louvassem estando em pé ou saltando sobre as camas ou enquanto brandem uma espada de dois gumes.

O mesmo se aplica ao Salmo 150, que fala em louvar a Deus, de modo altamente figurativo. O salmista chama o povo de Deus para louvar o Senhor “pelos seus poderosos feitos” (verso 2) em todo lugar possível e com todo instrumento musical disponível. Noutras palavras, o salmo menciona o lugar onde louvar o Senhor, particularmente, “no Seu santuário” e “no firmamento do Seu poder”; a razão citada para louvar o Senhor, é por “Seus atos poderosos. . . conforme a excelência da sua grandeza”. (verso 2); e os instrumentos a serem usados citados para louvar ao Senhor são os oito listados acima.

Este salmo só faz sentido se considerarmos a linguagem como sendo altamente figurativa. Por exemplo, não há nenhuma possibilidade do povo de Deus poder louvar o Senhor “no firmamento do Seu poder”, porque eles vivem na terra e não no céu. O propósito do salmo não é especificar o local e os instrumentos a serem usados na música de louvor na igreja. Nem se pretende dar permissão para dançar para o Senhor na igreja. Antes, seu propósito é convidar todo aquele que respira ou emite sons para louvar ao Senhor em todos os lugares. Interpretar o salmo como sendo uma permissão para tocar rock ou dançar na igreja, é interpretar de forma incorreta a intenção do Salmo.

Distinção Entre Música Secular e Música Sacra

Em breve veremos que Davi restringiu os instrumentos musicais a serem usados no Templo, excluindo os instrumentos de percussão, porque estes estavam associados com o entretenimento social. Portanto, dificilmente ele conclamaria as pessoas a adorarem a Deus em Seu santuário com tambores e tamborins, quando ele próprio havia proibido o seu uso no santuário. Davi compreendia que a música associada com o entretenimento mundano não tem lugar na adoração a Deus em Seu santuário. É uma infelicidade que o pastor Warren, e muitos que o seguem, não compreendam a distinção bíblica entre música sacra para adoração e música secular para entretenimento.

As estratégias para crescimento de igrejas do pastor Warren são baseadas no que as pessoas querem e não naquilo que a Palavra de Deus ensina. Para descobrir o que as pessoas querem, ele usou um procedimento simples. “Distribui um cartão para todos na igreja dizendo: ‘Escreva os nomes das estações de rádio que você ouve.’ Eu não perguntei isso aos incrédulos, mas para as pessoas da igreja: ‘Que tipo de música você ouve?’ Quando recebi as respostas, nem uma única pessoa respondeu: ‘Ouço música de órgão.’ Nem uma … Então, tomamos a decisão estratégica de sermos uma igreja de música contemporânea. Logo depois que tomamos essa decisão e deixamos de tentar agradar a todos, a Igreja de Saddleback experimentou um crescimento explosivo… Serei honesto com você, somos barulhentos. Somos muito barulhentos em um culto de fim de semana…. Eu digo, ‘Não vamos abaixar o volume.’ A razão é que a geração com menos de cinqüenta anos quer sentir a música, não apenas ouvi-la…”(Rick Warren, Selecionando a Música de Adoração, disponível em: http://www.pastorport.com/ministrytoday.asp?mode=viewarchive&index=18).

Ao escolher dar para as pessoas aquilo que elas querem, ao invés de aquilo que elas precisam, o pastor Warren ignora a comissão de Cristo para chamar as pessoas a sair do mundo, e não para trazer a música mundana para a igreja. “Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4).

O Critério para a Música de Adoração

Para evitarmos a possibilidade de um conceito mal compreendido, é importante afirmarmos que existem muitas canções contemporâneas com música e letra apropriadas para a adoração. Algumas das canções contemporâneas exalam genuína devoção, tal como “Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus!” Tanto a melodia quanto as palavras desta canção, expressam adequadamente o anelo espiritual de uma alma sincera. Assim, seria injusto rotular todas as canções contemporâneas como “rock”.

Mas muitas canções contemporâneas são música rock com palavras cristãs. As pessoas respondem ao ritmo da música, em vez da mensagem das palavras, porque a música causa um impacto diretamente no corpo, contornando a mente. Rock é uma música para ser sentida, não para ser ouvida. É uma música composta para estimular as pessoas fisicamente, ao invés de elevá-las espiritualmente. Nosso livro O Cristão e a Música Rock cita estudos sobre o impacto físico da música rock, incluindo a excitação sexual.

Há algum tempo atrás fui convidado a falar em um congresso onde uma banda de rock bem equipada com bateria, sintetizadores e guitarras transformou o hino “Preciosa Graça” em uma canção de rock. Eles colocaram tanto ritmo no hino que algumas pessoas deixaram os bancos e começaram a exibir passos de dança nos corredores. É evidente que as palavras não ficaram registradas em suas mentes, porque dificilmente alguém pode dançar pensando na graça de Deus “que salvou um pecador qual eu.”

O critério para a música de adoração não é se uma canção é tradicional ou contemporânea, mas se a sua melodia, harmonia, letra e maneira de cantar se conformam ao princípio bíblico da música de adoração. Contrariamente aos conceitos errôneos dominantes, a Bíblia estabelece diferenças claras entre a música utilizada para o entretenimento social e a música digna da adoração a Deus. Esta distinção vital é analisada no Capítulo 7 – “Princípios Bíblicos de Música”, que é o capítulo mais longo e, provavelmente o mais importante de nosso livro “O Cristão e a Música Rock”. Seis eruditos, de seis países diferentes contribuíram para os capítulos do livro O Cristão e a Música Rock. Seis dos escritores são músicos profissionais e tem formação acadêmica em artes musicais.

O livro O Cristão e a Música Rock gerou considerável controvérsia. De fato, Ed Christian tentou desafiar este estudo com seu livro Joyful Noise: A Sensible Look at Christian Music (Um Barulho Alegre : Um Olhar Sensível à Música Cristã), publicado pela Review and Herald em 2003. Não li este livro, porque acho que o título em si é irracional. Assumir que Deus pode ser louvado por um “Barulho Alegre”  significa crer que Deus encontra deleite em qualquer som alto, sem discriminação. Mas o Deus da revelação bíblica não é um Ser de confusão e barulho, mas de ordem e harmonia.  você encontrará uma análise do livro Joyful Noise, publicada na revista Reflections (Reflexões) de Janeiro de 2004, o periódico do Instituto de Pesquisas Bíblicas.

Uma Experiência na Reunião Campal na Inglaterra do Sul

Há algum tempo atrás na reunião campal da Inglaterra do Sul (Inglaterra), tive uma experiência que influenciou a minha decisão de publicar alguns trechos do livro O Cristão e a Música Rock. Deixe-me explicar o que aconteceu. Na quarta-feira à tarde em 9 de junho de 2004, fui convidado a falar na Tenda dos Jovens, sobre “O Cristão e as Bebidas Alcoólicas”. Cheguei na tenda às 15:50, para montar rapidamente o meu projetor para a apresentação que estava marcada para começar dali a dez minutos, às 16:00. Na plataforma havia uma banda de uma dúzia de jovens tocando a sua música ritmada a todo volume. Eles estavam ensaiando para a reunião da tarde, a qual consistia principalmente de música rock.

Depois de montar meu projetor e o notebook, perguntei ao líder dos jovens se ele podia pedir à banda para parar, primeiro porque meus tímpanos estavam doendo e depois, porque estava na hora de começar. A banda saiu da tenda quando receberam a mensagem de que eu não apreciava a sua música rock. Ainda tivemos uma platéia decente de cerca de 300 pessoas.

Um minhas observações introdutórias, mencionei que depois de ter ouvido aquela música rock altíssima, senti que teria sido mais apropriado se eu falasse sobre a minha pesquisa intitulada “O Cristão e a Música Rock”. Mas, como eles esperavam que eu falasse sobre o assunto anunciado, convidei qualquer pessoa interessada a discutir o assunto da música a vir ao meu chalé depois da reunião. Uma dúzia de jovens (entre 18 a 25 anos de idade) veio e passamos mais de uma hora juntos.

Conforme compartilhava alguns pontos de minha pesquisa com estes moços e moças receptivos, percebi a necessidade de ajudar nossos jovens a compreender melhor os princípios bíblicos que deveriam guiar as suas vidas. Desejei que mais tempo pudesse ser devotado nas Tendas dos Jovens para discutir questões que os jovens enfrentam hoje. A maioria de nossos jovens são pessoas decentes que buscam uma direção em nossa sociedade confusa. Infelizmente, de meu chalé só podia ouvir a música ritmada sem fim, sem descanso.

Os jovens adultos que vieram me visitar ficaram surpresos em aprender que nos tempos bíblicos a música e os instrumentos de percussão associados com o entretenimento social (o qual era, em sua maioria, de natureza religiosa) não foram permitidos no serviço de adoração no Templo, na sinagoga e na igreja apostólica. Não há dúvidas de que o povo de Deus nos tempos bíblicos distinguia claramente entre a música utilizada para a adoração divina e a música secular, empregada para o entretenimento social.

Esta experiência recente me lembrou da necessidade de ajudar o povo adventista, jovens e velhos, a compreender melhor os princípios bíblicos que deveriam nos guiar em nossa escolha de música para a adoração. Se você acha que este artigo pode ser útil, não hesite em compartilhá-lo com seus amigos.


A Crise de Identidade Adventista: Uma Visão da Música de Adoração

“Balançar ou não balançar”, eis a pergunta crítica que “balança” um número crescente de igrejas Adventistas do Sétimo Dia. Há uma geração atrás havia concordância quase universal de que a música rock, em qualquer versão, era imprópria para o uso pessoal e para o uso na igreja. Atualmente o rock “cristão” está substituindo rapidamente a música e os instrumentos tradicionais nas igrejas de todas as denominações. Em muitas igrejas, as “bandas de louvor” substituíram o coro, a projeção de cânticos substituiu os hinários sintetizadores substituíram os órgãos e baterias e guitarras assumiram seu lugar no repertório da instrumentação da música na igreja.

Algumas pessoas vêem essas mudanças como uma bênção divina, outras como uma maldição satânica. Parece não haver neutralidade nesta questão. As pessoas estão ficando muito exaltadas ao defender sua posição particular. Com freqüência as discussões geram mais exaltação do que luz, refletindo o gosto pessoal ou cultura, em vez de uma reflexão sobre os princípios bíblicos de música. No fundo, a controvérsia sobre o uso da música rock na adoração é fundamentalmente uma questão teológica que precisa ser resolvida através de uma compreensão dos ensinos bíblicos sobre este assunto.

Objetivos deste artigo. O objetivo geral deste artigo é extrair da Bíblia alguns princípios básicos com respeito à música apropriada para o culto na igreja e para o uso particular. A tarefa não é fácil porque a Bíblia não foi estabelecida como um manual de doutrina com uma seção dedicada exclusivamente à música. Ao invés disso, a Bíblia é um livro de pesquisa, com mais de 500 referências espalhadas por toda ela, sobre música, músicos, cantores, e instrumentos musicais. O desafio não é onde achar estas referências, mas como extrair delas princípios aplicáveis para nós hoje.

O conteúdo deste artigo foi extraído em grande parte do capítulo 7 do livro O Cristão e a Música Rock. Por razões de brevidade, seções importantes sobre a música na sinagoga e na igreja apostólica foram omitidas. A seção sobre “Dança na Bíblia” também foi omitida e será tratada em um artigo futuro [N.T. – Este artigo já está disponível, basta clicar no nome do artigo]. Se você está interessado em ler o estudo completo, basta clicar sobre o nome do livro, em qualquer uma das citações acima e será direcionado para a publicação on-line desta obra.

A Importância do Canto na Bíblia

A importância da música na Bíblia é indicada pelo fato de que as atividades criadoras e redentoras de Deus foram acompanhadas e celebradas por música. Na criação a Bíblia nos diz “quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus” (Jó 38:7). Na encarnação, o coro celestial cantou: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre homens, a quem ele quer bem!” (Lucas 2:14). Na consumação final da redenção, a grande multidão dos remidos cantará: “Aleluia! Pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso. Alegremo-nos e exultemos, e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (Apocalipse 19:6-8).

Razão para Cantar. Na Bíblia a música religiosa é centrada em Deus, não é centrada no eu. A noção de louvar a Deus como entretenimento ou diversão é estranha à Bíblia. Nenhum concerto de música “Judaica” ou “Cristã” foi executado por grupos ou artistas cantores no Templo, nas sinagogas, ou nas igrejas Cristãs. A música religiosa não era um fim em si mesma, mas era um meio para exaltar a Deus cantando Sua Palavra. Uma surpreendente descoberta recente, discutida posteriormente, é que todo o Velho Testamento foi planejado, originalmente, para ser recitado (cantado).

O cântico na Bíblia não é para o prazer pessoal nem para alcançar os “gentios” com melodias familiares a eles. É para louvar a Deus recitando Sua palavra – um método conhecido como “cantilena”. Prazer em cantar não vem de uma batida rítmica que estimula as pessoas fisicamente, mas da própria experiência em louvar ao Senhor. “Louvem o Senhor, pois o Senhor é bom; cantem louvores ao seu nome, pois é nome amável”. (Salmos 135:3; NVI). “Louvai ao Senhor, porque é bom e amável cantar louvores ao nosso Deus; fica-lhe bem o cântico de louvor”. (Salmos 147:1).

Cantar a Deus é “bom” e “agradável”, porque permite aos crentes que expressem a Ele sua alegria e gratidão pelas bênçãos da criação, libertação, proteção, e salvação. Cantar é visto na Bíblia como uma oferta de ação de graças a Deus por Sua bondade e Suas bênçãos. Este conceito é expresso, especialmente, em Salmos 69:30-31: “Louvarei o nome de Deus com cânticos e proclamarei sua grandeza com ações de graças; isso agradará o Senhor mais do que bois, mais do que touros com seus chifres e cascos” (NVI).

A noção de que cantar louvores a Deus é melhor que sacrifício nos faz lembrar de um conceito semelhante, isto é, de que a obediência é melhor do que sacrifício (1 Samuel 15:22). Cantar louvores a Deus salmodiando a Sua palavra não é apenas uma experiência agradável; também é um meio de graça ao que crê. Através do canto, crentes oferecem a Deus uma adoração de louvor, tornando-os aptos a receberem Sua graça habilitadora.

Maneira de Cantar. Para cumprir sua função planejada, o canto deve expressar gozo, alegria, e ação de graças. “Cantai ao Senhor com ações de graças” (Salmos 147:7). “Eu também te louvo com a lira, celebro a tua verdade, ó meu Deus; cantar-te-ei salmos na harpa, ó Santo de Israel. Os meus lábios exultarão quando eu te salmodiar; também exultará a minha alma, que remiste”. (Salmos 71:22-23). Note que o cântico é acompanhado pela harpa e pela lira (freqüentemente chamada de saltério – Salmos 144:9; 33:2; 33:3), e não com instrumentos de percussão. A razão, observada no Capítulo 6, é que os instrumentos de corda misturam-se à voz humana sem sobrepor-se a ela.

Em muitos lugares a Bíblia indica que o nosso cântico deveria ser emocional, com júbilo e alegria. Vemos ali que os Levitas “cantaram louvores com alegria, e se inclinaram e adoraram”. (II Crônicas 29:30). O cântico não deveria ser feito apenas com alegria, mas também de todo o coração. “Louvar-te-ei, Senhor, de todo o meu coração; contarei todas as tuas maravilhas”. (Salmos 9:1). Se seguíssemos este princípio bíblico, então o nosso cântico de hinos e canções de louvor na igreja deveria ser alegre e entusiástico.

“Fazer um Barulho Alegre ao Senhor”. A advertência para “fazer um barulho alegre ao Senhor”,  uma frase que ocorre sete vezes na versão KJV no Antigo Testamento (Salmos 66:1; 81:1; 95:1-2; 98:4, 6; 100:1) é usada freqüentemente por aqueles que defendem o uso da música rock na igreja.

A defesa para o uso de um som ensurdecedor no culto da igreja é que Deus realmente não se preocupa com o som, desde que Lhe façamos um barulho alegre. Uma vez que grupos de rock, com seus equipamentos eletrônicos, produzam um som poderoso, trovejante, alega-se que Deus ficaria muito feliz através de tal “barulho alegre” [*].

Antes de examinarmos os textos da Bíblia onde as frases “barulho alegre”  ou “barulho alto” aparecem em algumas traduções equivocadas, é importante nos lembrarmos que nos tempos bíblicos não havia nenhuma amplificação eletrônica. O que era alto naqueles tempos, seria muito normal nos dias de hoje. Os cantores que Davi designou “para louvarem ao Senhor com os instrumentos” (I Crônicas 23:5), poderiam produzir um volume máximo de cerca de 70 ou 80 decibéis, porque não tinham nenhuma possibilidade de amplificação.

O coro habitual era bastante pequeno, consistia de no mínimo 12 cantores adultos do sexo masculino, acompanhados por poucos instrumentos de cordas. O nível do volume dependia da distância entre os cantores e a congregação. Hoje, ao contrário, um grupo de rock de quatro pessoas, com o sistema de amplificação certo, pode produzir um som de 130-140 decibéis, nível este que pode sobrepujar a decolagem de um Jumbo. Tal volume excessivo pode facilmente danificar os tímpanos, como eu já experimentei pessoalmente.

Som Alto Louva a Deus? Esses textos da Bíblia que falam sobre fazer “um barulho alegre”  ou “um barulho alto” ao Senhor, nos ensinam que Ele se agrada com a amplificação excessiva da voz humana ou de instrumentos musicais durante o culto de adoração? Dificilmente. Esta conclusão foi tirada em grande parte de uma tradução errada do original hebraico traduzido como “barulho”. Em seu livro, The Rise of Music in the Ancient World, (O Surgimento da Música no Mundo Antigo) Curt Sachs responde a esta questão: “Como os judeus antigos cantavam? Eles realmente gritavam ao máximo de suas vozes? Alguns estudiosos tentaram nos fazer acreditar que este era o caso, recorrendo, particularmente, a vários salmos que supostamente davam testemunho de um cântico em “fortíssimo”. Mas desconfio que eles se valeram de traduções em vez de irem ao original”.

A frase “fazer um barulho alegre” é uma tradução errada do hebraico ruwa. O termo não significa fazer um barulho alto indiscriminadamente, mas gritar de alegria. O Deus da revelação bíblica não se deleita com o barulho em si, mas com melodias alegres. Um bom exemplo disso é encontrado em Jó 38:7, onde a mesma palavra ruwa é usada para descrever os filhos de Deus que “rejubilavam de alegria” na criação. Os cânticos dos seres divinos na criação quase não podem ser caracterizados como “barulho”, porque “barulho” pressupõe um som ininteligível.

O erro de tradução de ruwa como “barulho” foi captado pelos tradutores da Nova Versão Internacional (NVI), onde o termo é traduzido constantemente como “aclamar com alegria” em lugar de “fazer um barulho alegre”. Por exemplo, no Salmo 98:4 da KJV lemos: “Faça um barulho alegre ao Senhor, toda a terra,: faça um barulho alto, e alegre, e cante louvores”. Note a tradução mais lógica encontrada na NVI: “Aclamem o Senhor todos os habitantes da terra! Louvem-no com cânticos de alegria e ao som de música” (Salmo 98:4).

Líderes eclesiásticos como Rick Warren precisam compreender que existe uma grande diferença entre “fazer um barulho alto ao Senhor”, e “aclamar com alegria” ou “louvá-Lo com cânticos de alegria”. Cantar com júbilo e com o máximo volume da voz humana, não é fazer barulho, e sim uma expressão entusiástica de louvor.

Outro exemplo patente de tradução errada, da versão KJV, está em Salmos 33:3 onde lemos: “Cantai a Ele um novo cântico; tocai habilmente um barulho alto”. A última frase é contraditória, porque música habilmente tocada dificilmente poderia ser descrita como “barulho alto”. Surpreende o fato dos tradutores da KJV não terem visto essa contradição. A NVI traduz o verso corretamente: “Cantem-lhe uma nova canção; toque com habilidade ao aclamá-lo”. (Salmos 33:3).

Cantar, na Bíblia, não é limitado à experiência da adoração, mas se estende à totalidade da existência de uma pessoa. Crentes que vivem em paz com Deus têm uma canção constante em seus corações, embora esse cântico talvez nem sempre seja vocalizado. É por isso que o salmista diz: “Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu viver”. (Salmos 146:2; 104:33). Em Apocalipse os que saíram da grande tribulação são vistos em pé diante do trono de Deus, enquanto cantam um novo cântico que diz: “Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação”. (Apocalipse 7:10). Cantar louvores a Deus é uma experiência que começa nesta vida e continuará no mundo por vir.

O Ministério da Música no Templo

O ministério público da música durante os tempos bíblicos nos oferece lições significativas para a música na igreja atual. Muitos dos envolvidos no ministério da música contemporânea apelam para os diferentes estilos de música do Velho Testamento para “fazerem do jeito deles”. Acreditam que a música produzida por instrumentos de percussão e acompanhados por dança eram comuns nos serviços religiosos. Por conseguinte, defendem que alguns estilos de música rock e danças são apropriados para os cultos na igreja hoje.

Um estudo cuidadoso da função da música do Velho Testamento revela o contrário. Por exemplo, no Templo os músicos pertenciam a um clero profissional, só tocando em ocasiões restritas e especiais, e usavam alguns poucos instrumentos musicais específicos. Não havia nenhuma possibilidade em se transformar o serviço do Templo em um festival de música onde qualquer “grupo de rock” judeu pudesse tocar uma música de entretenimento da época. A música era rigidamente controlada no Templo. O que foi verdade para o templo foi, também, depois na sinagoga e na igreja apostólica. Esta pesquisa nos ajudará a entender que na música, como em todas as áreas da vida, Deus não nos dá permissão para “fazermos do nosso jeito”.

A Instituição do Ministério da Música. A transição de uma vida insegura, nômade no deserto para um estilo de vida permanente na Palestina sob a monarquia, proveu a oportunidade para se desenvolver um ministério de música que satisfizesse as necessidades da congregação adoradora no Templo. Antes desta época as referências sobre música estavam principalmente com as mulheres que cantavam e dançavam ao celebrarem eventos especiais. Miriam conduziu um grupo de mulheres cantando e dançando para celebrar a derrota dos egípcios (Êxodo 15:1-21). As mulheres tocaram e dançaram pela conquista de Davi (I Samuel 18:6-7). A filha de Jefté foi ao encontro de seu pai com adufes e com danças após seu retorno da batalha (Juízes 11:34).

Com o estabelecimento por Davi de um ministério de música profissional pelos Levitas, a produção musical ficou restrita aos homens. Por que as mulheres foram excluídas de servirem como musicistas no Tempo é uma pergunta importante que tem confundido os estudiosos. Nós comentaremos isto brevemente. As mulheres continuaram a fazer música na vida social do povo

O livro de Crônicas descreve com detalhes consideráveis como Davi organizou o ministério musical dos Levitas. Uma análise perspicaz de como Davi realizou esta organização é provida pela dissertação doutoral de John Kleining, The Lord’s Song: The Basis, Function and Significance of Choral Music in Chronicles. (A Canção do Senhor: A Base, Função e significado da Música Coral em Crônicas.) Para o propósito do nosso estudo, nos limitaremos a um breve resumo dessas características que são pertinentes ao ministério da música hoje.

De acordo com o primeiro livro de Crônicas, Davi organizou esse ministério em três estágios. Primeiro, ele ordenou aos chefes das famílias levíticas que designassem uma orquestra e um coro para acompanharem o transporte da arca até a tenda em Jerusalém (I Crônicas 15:16-24).

O segundo estágio aconteceria depois que a arca tivesse sido colocada em segurança na tenda em seu palácio (II Crônicas 8:11) [Referência bíblica citada conforme o original. A referência correta é I Crônicas 16:1 – N.T.]. Davi organizou a apresentação regular de música coral na hora das ofertas queimadas com os corais posicionados em dois locais diferentes (I Crônicas 16:4-6, 37-42). Um coro se apresentava sob a liderança de Asafe diante da arca em Jerusalém (I Crônicas 16:37), e o outro sob a liderança de Hemã e Jedutun diante do altar em Gibeão (I Crônicas 16:39-42).

O terceiro estágio da organização do ministério de música por Davi, aconteceu no final de seu reinado quando ele planejou o serviço musical elaborado que seria realizado no templo que Salomão construiria (I Crônicas 23:2 a 26:32). Davi fundou um conjunto com 4.000 Levitas como artistas em potencial (I Crônicas 15:16; 23:5). Deste grupo ele formou um coro levítico profissional com 288 componentes. Os levitas músicos correspondiam a mais de dez por cento dos 38.000 levitas. “Algum tipo de teste provavelmente era necessário no processo de seleção, uma vez que a habilidade musical nem sempre é herdada”.

O próprio Davi se envolveu, juntamente com seus oficiais, na escolha de vinte e quatro líderes das turmas, cada uma tendo doze músicos num total de 288 (I Crônicas 25:1-7). Estes, por sua vez, seriam os responsáveis pela seleção do restante dos músicos.

O Ministério dos Músicos. Para assegurar que não haveria nenhuma confusão ou conflito entre o ministério sacrifical dos sacerdotes e o ministério musical dos levitas, Davi delineou, cuidadosamente, a posição, o grau, e a extensão do ministério dos músicos (I Crônicas 23:25-31). A atuação do ministério da música era subordinada aos sacerdotes (I Crônicas 23:28).

A natureza do ministério dos músicos é descrita graficamente: “Deviam estar presentes todas as manhãs para renderem graças ao Senhor e o louvarem; e da mesma sorte, à tarde; e para cada oferecimento dos holocaustos do Senhor, nos sábados, nas Festas da Lua Nova e nas festas fixas, perante o Senhor, segundo o número determinado” (I Crônicas 23:30-31).

O contexto sugere que os músicos ficariam em pé em algum lugar diante do altar, uma vez que a apresentação de sua música coincidia com a apresentação da oferta queimada. O propósito desse ministério era agradecer e louvar ao Senhor. Eles anunciavam a presença do Senhor para o Seu povo na congregação (I Crônicas 16:4), assegurando-os de Sua disposição favorável para com eles.

Um Ministério Musical Próspero. O ministério de música no templo foi próspero por várias razões, as quais são pertinentes para a música da igreja hoje. Primeiro, os músicos levitas eram maduros e musicalmente treinados. Lemos em I Crônicas 15:22 que “Quenanias, o chefe dos levitas, ficou encarregado dos cânticos; essa era sua responsabilidade, pois ele tinha competência para isso”. (NVI). Ele se tornou o líder da música porque era um músico hábil e capaz de instruir a outros. O conceito de habilidade musical é mencionado várias vezes na Bíblia (I Samuel 16:18; I Crônicas 25:7; II Crônicas 34:12; Salmos 137:5). Paulo também faz menção a isto quando disse: “cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (I Coríntios 14:15, NVI).

O coro era constituído de no mínimo doze cantores adultos, do sexo masculino e com idades entre trinta e cinqüenta anos (I Crônicas 23:3-5). Fontes rabínicas relatam que o treinamento musical de um cantor levítico levava pelo menos cinco anos de preparação intensiva.  O princípio bíblico é que os líderes da música devem ter um entendimento musical maduro, especialmente hoje, quando vivemos numa sociedade de uma cultura elevada.

Segundo, o ministério da música no templo teve êxito porque seus músicos eram espiritualmente preparados. Eles foram separados e ordenados para esse ministério como o foram os outros sacerdotes. Falando aos líderes dos músicos levitas, Davi disse: “santificai-vos, vós e vossos irmãos. . . Santificaram-se, pois, os sacerdotes e levitas” (I Crônicas 15:12, 14). Foi entregue aos músicos levitas o sagrado encargo de ministrarem, continuamente, diante do Senhor (I Crônicas 16:37).

Terceiro, os músicos levitas eram trabalhadores em tempo integral. I Crônicas 9:33 declara: “Quanto aos cantores, chefes das famílias entre os levitas, estavam alojados nas câmaras do templo e eram isentos de outros serviços; porque, de dia e de noite, estavam ocupados no seu mister”. Aparentemente o ministério musical dos levitas requeria uma preparação considerável, porque lemos que “Davi deixou ali diante da arca da Aliança do Senhor a Asafe e a seus irmãos, para ministrarem continuamente perante ela, segundo se ordenara para cada dia;” (I Crônicas 16:37). A lição bíblica é que os ministros da música deviam estar dispostos a trabalhar diligentemente no preparo da música necessária para o culto de adoração.

Finalmente, os músicos levitas não eram artistas cantores convidados para entreter as pessoas no templo. Eles eram os ministros da música. “São estes os que Davi constituiu para dirigir o canto na Casa do Senhor, depois que a arca teve repouso. Ministravam diante do tabernáculo da tenda da congregação com cânticos”. (I Crônicas 6:31-32). Através de seu serviço musical os levitas “ministravam” ao povo. Outros cinco trechos no Velho Testamento nos dizem que os levitas ministravam ao povo por sua música (I Crônicas 16:4, 37; II Crônicas 8:14; 23:6; 31:2).

O ministério dos músicos levitas está bem definido em I Crônicas 16:4: “Designou dentre os levitas os que haviam de ministrar diante da arca do Senhor, e celebrar, e louvar, e exaltar o Senhor, Deus de Israel”. Os três verbos usados neste texto-“celebrar”, “louvar”, e “exaltar”-sugerem que o ministério da música era uma parte vital na experiência de adoração do povo de Deus.

Uma indicação da importância do ministério da música pode ser vista no fato de que os músicos levitas eram pagos com os mesmo dízimos que eram dados para o sustento do sacerdócio (Números 18:24-26; Neemias 12:44-47; 13:5, 10-12). O princípio bíblico é que o trabalho do ministro da música não deveria ser “uma obra por amor”, mas sim um ministério apoiado pela renda do dízimo da igreja. É razoável supor que, se uma pessoa leiga se oferece para ajudar no programa musical de uma igreja, tal serviço não precisa ser remunerado.

Resumindo, o ministério da música no templo foi conduzido por levitas experientes e maduros, que foram treinados musicalmente, preparados espiritualmente, apoiados financeiramente, e servidos pastoralmente. Como observa Kenneth Osbeck: “Ministrar musicalmente no Velho Testamento era um grande privilégio e um serviço de muita responsabilidade. Isto ainda é verdade no ministério da música em nossos dias. Em um senso muito real nós somos os levitas do Novo Testamento. Assim, estes princípios, que foram estabelecidos por Deus para o sacerdócio levítico, deveriam ser observados como diretrizes válidas para os líderes da música numa igreja do Novo Testamento”.

O Coro Levítico e o Ritual do Sacrifício. O livro de Crônicas apresenta o ministério musical dos levitas como parte da apresentação da oferta diária no templo. O ritual consistia de duas partes. Primeiro vinha o ritual com sangue, que fora planejado para expiar os pecados do povo através da transferência do sangue da oferta para o Lugar Santo (II Crônicas 29:21-24). Este serviço criava a pureza ritual necessária para que Deus aceitasse Seu povo e manifestasse Sua bênção sobre a congregação. Durante este ritual nenhum cântico era entoado.

Uma vez que o ritual de expiação fosse completado, a oferta queimada era então apresentada sobre o altar. Este ritual sinalizava a aceitação de Deus ao Seu povo e a manifestação de Sua presença. John Kleinig explica que “enquanto os sacrifícios estavam sendo queimados sobre o altar, as trombetas, que anunciavam a presença do Senhor, sinalizavam para que a congregação se prostrasse diante de Sua presença, e o cântico do Senhor era cantado pelos músicos (II Crônicas 29:25-30). Assim, o serviço coral vinha depois que o rito de expiação houvesse sido completado. Não se tentava assegurar uma resposta favorável do Senhor, mas pressupunha que tal resposta já houvesse sido dada. Os músicos proclamavam o nome do Senhor durante a apresentação dos sacrifícios, para que Ele viesse e abençoasse Seu povo, como Ele mesmo prometera em Êxodo 20:24 e demonstrara em II Crônicas 7:1-3”.

A função da música durante o ritual do sacrifício não era eclipsar ou substituir o próprio sacrifício, mas levar a congregação a envolver-se em certos momentos designados durante o culto. Em outras palavras, os israelitas não iam ao templo para ouvir os conjuntos levíticos se apresentando em um concerto sacro. Muito pelo contrário, eles iam testemunhar e experimentar a expiação de seus pecados por Deus. A música que acompanhava o sacrifício expiatório os convidava a aceitarem e celebrarem a graciosa provisão divina de salvação.

Numa época em que muitos cristãos escolhem suas igrejas conforme o estilo musical da adoração, precisamos nos lembrar de que na Bíblia, a música nunca foi um fim em si mesma. No templo a música apresentada enriquecia o serviço sacrifical levando a congregação a envolver-se em alguns momentos específicos. Na sinagoga e na igreja apostólica, a música reforçava o ensino e a proclamação da Palavra de Deus. Para sermos verdadeiros ao testemunho bíblico, nossa música na igreja precisa apoiar o ensino e a pregação da Palavra de Deus, e não eclipsá-los.

Os Instrumentos Musicais do Templo. Davi não instituiu apenas o tempo, o lugar, e as palavras para a apresentação do coro levítico, mas ele também “fez” os instrumentos musicais para serem usados no seu ministério (I Crônicas 23:5; II Crônicas 7:6). É por isso que eles são chamados “os instrumentos de Davi” (II Crônicas 29:26-27).

Além das trombetas que o Senhor tinha ordenado por Moisés, Davi acrescentou címbalos, alaúdes, e harpas (I Crônicas 15:16; 16:5-6). A importância desta combinação de instrumentos como sendo uma ordem divina é indicada pelo fato de que esta combinação foi respeitada por muitos séculos, até a destruição do Templo. Por exemplo, em 715 A.C., o rei Ezequias “estabeleceu os levitas na Casa do Senhor com címbalos, alaúdes e harpas, segundo mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do Senhor, por intermédio de seus profetas” (II Crônicas 29:25).

As trombetas eram tocadas pelos sacerdotes e o seu número variava desde duas, na adoração diária (I Crônicas 16:6; Números 10:2) até sete ou mais em ocasiões especiais (I Crônicas 15:24; Neemias 12:33-35; II Crônicas 5:12). “Na adoração no Templo, as trombetas deram o sinal para que a congregação se prostrasse durante a oferta do holocausto e a apresentação do serviço coral”. (II Crônicas 29:27-28). . . Enquanto os músicos levitas ficavam de frente para o altar, os trombeteiros ficavam em pé, voltados para eles, em frente ao altar (II Crônicas 5:12; 7:6)”.

Esta disposição destacava a responsabilidade dos que tocavam as trombetas para fazer sinal para que a congregação se prostrasse e para que o coro cantasse.Os címbalos eram constituídos por dois pratos de metal com suas beiras dobradas, medindo, aproximadamente, 27 a 42 centímetros de largura. Quando golpeados verticalmente em conjunto, eles produziam um toque, como um tinido. Alguns apelam para o uso dos címbalos para argumentar que a música do templo tinha uma batida rítmica como a música rock de hoje, e, por conseguinte, a Bíblia não proíbe instrumentos de percussão e música rock na igreja hoje. Tal argumento ignora o fato de que, como explica Kleinig, “os címbalos não eram usados pelo cantor-mor na condução do cântico, batendo o ritmo da música, mas sim para anunciar o começo de uma estrofe ou de um cântico. Uma vez que eles eram usados para introduzir o cântico, eram brandidos pelo líder do coro em ocasiões ordinárias (I Crônicas 16:5) ou pelos três líderes dos grupos em ocasiões extraordinárias (I Crônicas 15:19). . . Como as trombetas e os címbalos eram tocados em conjunto para anunciar o começo do cântico, os que tocavam ambos os instrumentos eram chamados como “os que haviam de tocar” em I Crônicas 16:42″.

Em seu livro Jewish Music in Its Historical Development (Música Judaica em Seu Desenvolvimento Histórico), A. Z. Idelsohn observa que na adoração do Templo um único par de címbalos era usado, e apenas pelo próprio líder. “Os instrumentos de percussão eram reduzidos a apenas um címbalo que não era empregado na música propriamente dita, mas somente na marcação das pausas e intermissões”. De modo semelhante, Curt Sachs explica que “A música no templo incluía címbalos, e o leitor moderno poderia concluir que a presença de instrumentos de percussão indicaria ritmos precisos. Mas há pouca dúvida de que os címbalos, como em qualquer outro lugar, marcavam o fim de uma linha e não o ritmo dentro de um verso. . . Não parece existir uma palavra para ritmo no idioma hebraico”. O termo “Selá” que ocorre em alguns salmos para marcar o fim de uma estrofe poderia indicar o lugar onde os címbalos seriam tocados.

O terceiro grupo de instrumentos musicais era composto por dois instrumentos de corda, os alaúdes e as harpas que eram chamados “instrumentos de música” (II Crônicas 5:13) ou “os instrumentos para os cânticos de Deus” (I Crônicas 16:42). Como indicado por seu nome descritivo, sua função era acompanhar os cânticos de louvor e ação de graças ao Senhor (I Crônicas 23:5; II Crônicas 5:13). Os músicos que tocavam as harpas e os alaúdes, eles próprios cantavam os cânticos, acompanhando a si mesmos (I Crônicas 9:33; 15:16, 19, 27; II Crônicas 5:12-13; 20:21).

Em seu livro The Music of the Bible in Christian Perspective (A Música na Bíblia Sob Uma Perspectiva Cristã), Garen Wolf explica que “os instrumentos de corda eram extensivamente usados para acompanhar o canto, uma vez que eles não encobriam a voz ou a ‘Palavra de Jeová’ que estava sendo cantada”. Grande cuidado era tomado para se assegurar que o louvor vocal do coro levítico não fosse eclipsado pelo som dos instrumentos.

Restrição a Instrumentos Musicais. Alguns estudiosos argumentam que instrumentos como tambores, tamboril (que era um pandeiro), flautas, e o dúlcimer, foram banidos do Templo, porque estavam associados à adoração e à cultura pagãs, ou porque eles eram tocados, costumeiramente, por mulheres, para o entretenimento. Este bem poderia ser o caso, mas isso apenas mostra que havia uma distinção entre a música sacra, tocada dentro do Templo e a música secular tocada do lado de fora.

Uma restrição foi colocada aos instrumentos musicais e às expressões artísticas usadas na Casa de Deus. Deus proibiu vários instrumentos, os quais eram permitidos fora do templo nas festividades nacionais e no prazer social. A razão não é que certos instrumentos de percussão fossem maus per se. Os sons produzidos por quaisquer instrumentos musicais são neutros, como uma letra do alfabeto. Em vez disso, a razão é que estes instrumentos eram comumente usados para produzir música de entretenimento, a qual era imprópria para a adoração na Casa de Deus. Através da proibição desses instrumentos e de estilos de música, como a dança, associados ao entretenimento secular, o Senhor ensinou ao Seu povo uma distinção clara entre a música sacra, tocada no templo, e a música secular, de entretenimento, usada na vida social.

A restrição no uso desses instrumentos deveria ser uma regra válida para as futuras gerações. Quando o Rei Ezequias reavivou a adoração do Templo em 715 A.C., ele seguiu meticulosamente as instruções dadas por Davi. Nós lemos que o rei “estabeleceu os levitas na Casa do Senhor com címbalos, alaúdes e harpas, segundo mandado de Davi. . . porque este mandado veio do Senhor, por intermédio de seus profetas”. (II Crônicas 29:25).

Dois séculos e meio mais tarde quando o Templo foi reconstruído sob a liderança de Esdras e Neemias, a mesma restrição foi aplicada novamente. Nenhum instrumento de percussão foi permitido para acompanhar o coro levítico ou tocar como uma orquestra no Templo (Esdras 3:10; Neemias 12:27, 36). Isto confirma que a regra era clara e válida por muitos séculos. O canto e a música instrumental no templo deveriam diferir daquela usada na vida social do povo.

Lições da Música do Templo. Que lições podemos aprender da música do Templo? A ausência de instrumentos musicais de percussão e de grupos de dança na música do Templo indicam, como notado anteriormente, que uma distinção deve ser feita entre a música secular usada para o entretenimento social e a música sacra empregada no culto de adoração na Casa de Deus.

Os lideres eclesiásticos, como o pastor Rick Warren, ficariam surpresos ao notarem que nenhum “Grupo de Rock Judeu” estava tocando no Templo para entreter as pessoas com uma música rítmica alta, porque o Templo era um lugar de adoração e não um clube social para diversão. De forma contrária à estratégia do pastor Warren, Davi não decidiu acerca da música a ser tocada no Templo passando um cartão entre os israelitas para descobrir seu gosto musical.

Nenhuma pesquisa de opinião era necessária, porque Davi sabia que instrumentos de percussão como tambores, pandeiros, tamborins ou “tabrets” que geralmente eram usados na música de entretenimento, seriam inapropriados para a música do templo. A razão é simples: O santuário de Deus não é um lugar de entretenimento, mas um lugar de adoração.

A lição para nós hoje é evidente. A música na igreja deveria diferir da música secular, porque a igreja, como o antigo Templo, é a Casa de Deus na qual nos reunimos para adorar ao Senhor e não para sermos entretidos. Percussão instrumental, que estimula fisicamente as pessoas com uma batida alta e constante, é tão imprópria para a música na igreja de hoje quanto foi para a música do Templo no antigo Israel.

Uma segunda lição é que os instrumentos musicais usados para acompanhar o coro ou o cântico congregacional não deveriam encobrir as vozes. Assim como os instrumentos de cordas usados no Templo, os instrumentos musicais usados na igreja hoje deveriam apoiar o canto. Os instrumentos musicais deveriam servir como uma “ferramenta de suporte” à Palavra de Deus que é cantada e proclamada. Isto significa, por exemplo, que a música do órgão não deveria ser tão alta a ponto de sobrepujar as vozes da congregação.

Em várias ocasiões estive em igrejas equipadas com poderosos órgãos eletrônicos, que eram tocados tão alto que a voz da congregação não podia ser ouvida. O princípio bíblico indica que a função do órgão é apoiar o canto da congregação; não encobri-lo. Este princípio não se aplica apenas a música do órgão, mas a qualquer outro instrumento, ou a uma orquestra que acompanhe um coral ou uma congregação cantando.

O princípio bíblico importante é que a música na Casa de Deus, tanto instrumental quanto vocal, tem que respeitar e refletir a santidade do lugar de adoração. Quando são usados instrumentos para acompanhar o canto, eles deveriam apoiar a voz humana sem sobrepujá-la.

As lições do ministério de música do Templo foram, posteriormente, seguidas na sinagoga e na igreja apostólica. Por uma questão de brevidade, estou omitindo estes importantes trechos, que os leitores interessados podem encontrar no capítulo 7 do livro O Cristão e a Música Rock.

Conclusão

Vários princípios bíblicos importantes, relevantes à música na igreja de hoje emergiram no transcurso deste estudo. Será feita uma tentativa de resumi-los nesta conclusão.

A música tem um lugar e um propósito especiais no universo de Deus. É um presente divino à família humana através da qual os seres humanos podem expressar sua gratidão a Deus, enquanto experimentam satisfação dentro de si mesmos. O prazer de cantar não vem de uma batida rítmica que estimula as pessoas fisicamente, mas da própria experiência de louvar o Senhor. “Louvai ao Senhor, porque é bom e amável cantar louvores ao nosso Deus” (Salmos 147:1).

Deus se preocupa acerca de como nós cantamos e tocamos durante o serviço de adoração. Ele não tem prazer com “barulho alto” ininteligível, mas com um canto ordenado, melodioso, e inteligível. Aqueles textos na Bíblia que falam sobre fazer “um barulho alegre”  ou “um barulho alto” ao Senhor não nos ensinam a louvar a Deus com a amplificação excessiva da voz humana ou de instrumentos musicais durante o culto de adoração. Tal noção é derivada de uma tradução errada de ruwa como “barulho alto”. A tradução correta acha-se na NVI que é “clamar (gritar) de alegria”.

O ministério de música deve ser dirigido por pessoas treinadas, dedicadas, e inclinadas espiritualmente. Esta lição é ensinada pelo ministério de música no Templo o qual era executado por levitas experientes e maduros, os quais eram treinados musicalmente, preparados espiritualmente, apoiados financeiramente, e servidos pastoralmente. Este princípio estabelecido por Deus para os músicos do templo é aplicável aos ministros da música em nossos dias.

A música deve ser centrada em Deus, e não centrada no “eu”. A noção de louvar o Senhor para o entretenimento ou diversão é estranha à Bíblia. Percussão instrumental que estimula as pessoas fisicamente através de uma batida alta e constante é imprópria para música na igreja de hoje como o foram para a música do Templo do Israel antigo.

Os princípios bíblicos de música esboçados acima são especialmente relevantes hoje, quando a igreja e o lar estão sendo invadidos por várias formas de música rock que descaradamente rejeitam os valores morais e as convicções religiosas abraçadas pelo Cristianismo. Em uma época em que a distinção entre música sacra e secular é vaga e imprecisa, e os adventistas estão perdendo seu senso de identidade, precisamos nos lembrar que a Bíblia nos conclama a “adorar o Senhor na beleza de Sua santidade” (I Crônicas 16:29; cf. Salmos 29:2; 96:9).

Possa o Senhor nos dar o discernimento e o desejo de enchermos nossas casas e nossas igrejas com músicas que tenham e Sua aprovação, em vez do aplauso do mundo. Ao darmos ouvidos a este chamado, estaremos preservando nossa identidade adventista em nossos lares e igrejas.

por: Dr. Samuele Bacchiocchi


Notas

Curt Sachs, The Rise of Music in the Ancient World (Nova York, 1943), p. 80.

John W. Kleining, The Lord’s Song: The Basis, Function and Significance of Choral Music in Chronicles (Sheffield, England, 1993).

Ibid., p. 57.

Veja, Joachim Jeremias, Jerusalem in the Time of Jesus (Philadelphia, Pa, 1969), pp. 173 e 208.

Veja, Talmude Babilônico, Hullin 24. O texto é discutido por A. Z. Idelsohn, Jewish Music in Its Historical Development (Nova York, 1967), p. 17.

Kenneth W. Osbeck, Devotional Warm-Ups for the Church Choir (Grand Rapids, Mi, 1985), pp. 24-25.

John W. Kleining (nota 7), p. 113.

Ibid., p. 80.

Ibid., p. 82-83.

A. Z. Idelsohn, Jewish Music in Its Historical Development (Nova York, 1967), p. 17.

Curt Sachs, Rhythm and Tempo (Nova York, 1953), p. 79.

Garen L. Wolf, Music of the Bible in Christian Perspective (Salem, Oh, 1996), p. 287.

Nota do tradutor: A expressão “Barulho Alegre” é a tradução que a versão King James deu para a palavra hebraica “ruwa” nos textos de Salmos 66:1; 81:1; 95:1-2; 98:4, 6 e 100:1. O termo não ocorre nas versões em português. Nas versões em português ela é traduzida nestes textos como: “Celebrai com júbilo ao Senhor”, “Cantai alegremente ao Senhor”, “Cantai ao Senhor com alegria” ou expressões equivalentes. A palavra “ruwa” também aparece em outras passagens com outros significados.


Fonte: http://www.biblicalperspectives.com /   Musica Sacra e Adoração

Traduzido por Levi de Paula Tavares em abril de 2008

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