Fobia Escolar

Tenho um filho de 7 anos de idade, o qual está sentindo muito medo de ir à escola. Ainda não sei se o medo é da escola em si, se ele não se adaptou, ou o que é. Sei que sou insegura, nervosa, e este filho muitas vezes me ajuda com sua companhia. O pai é um tanto ancioso, meio agitado, mas é um bom pai. Sinto-me muito sozinha, e com este problema que meu filho está passando, não sei o que fazer, ou porque ele está com tanto medo da escola. Que orientaçãoo senhor me dá? – O.V.F, Olinda, PE.

Resposta: O termo técnico que utilizamos para o problema de seu filho é “fobia escolar”. Fobia significa medo. Fobia escolar não é um termo muito apropriado, porque na verdade não é medo da escola, como explicarei. Um nome técnico mais aceito é “ansiedade da separação”.

Nestes casos a criança não somente não quer ir à escola, mas apresenta forte ansiedade quando pressionada a ir. É comum surgir algum sintoma físico ou medos paralelos,como o medo de animais, de serem abandonadas, de que algo ruim aconteça com os pais,do escuro, etc. Observa-se que tais crianças são muito apegadas aos pais, às vezes até exageradamente. E os cientistas estão crendo que o maior problema, na verdade, não é que a criança tem medo do que pode ocorrer na escola, mas sim de separar-se da mãe, de ter de se afastar de casa. Claro que ela pode numerar uma série de coisas da escola como sendo o problema, mas tudo isso parece ser uma racionalização, ou seja, uma espécie de deslocamento do problema verdadeiro para algo representativo ou simbólico. E isso é feito de maneira inconsciente pela criança.

John Bowlby estudou muito esse problema e descreveu quatro padrões de interação familiar ligados à maioria das histórias de dificuldades de ir à escola. Veja resumidamente o que ele descreveu:

1. Padrão A. O pai ou a mãe (mais comum a mãe) se apegam demais à criança porque eles mesmos sentem vazio interior, ansiedade, insegurança, e a criança se torna uma espécie de apoio, de conforto, de gratificação para eles. Esse apego pode ser consciente ou inconsciente, e em geral os pais argumentam que estão fazendo tudo o que acham que é benéfico para o filho. Quando há, por exemplo, uma coisa simples, como uma leve dor de cabeça, enchem a criança de cuidados, e até a impedem de ir à escola, tudo com a idéia de cuidar bem dela. Outras vezes é transmitida para a criança uma sensação de que ela não deve ter outras companhias, como se a criança estivesse errada de estar em companhia de outra pessoa além dos pais.

Um adulto pode se apegar exageradamente à criança com a desculpa de protegê-la, enquanto na verdade é ele quem se sente inseguro, “usando” a criança como fonte de proteção para si próprio. Isso se explica pelo fato de na infância desse adulto terem ocorrido situações emocionalmente difíceis na sua relação com os pais. Então, o relacionamento desse adulto com o filho se inverte, ou seja, ele passa a ter a criança como seu protetor, como seu “pai” ou “mãe”. Passa a ter a criança como fonte importante de suprimento afetivo. Consequentemente a criança se apega demais ao adulto, e quando ela nescessita estar sozinha, longe dele, como é o caso de estar na escola algumas horas sem o pai ou a mãe, ela se sente muito insegura, fica anciosa, e apresenta a fobia escolar.

2. Padrão B. É o medo de que algo horrível aconteça ao pai ou à mãe durante o tempo em que a criança está na escola. Isso pode se ligar a imaginações fantasiosas, raiva consciente ou inconsciente contra os pais, mas pode estar ligado a situações reais em que a criança foi ou está sendo exposta, tais como ameaças manipuladoras do tipo ” se você não fizer o que a mamãe quer, a mamãe passa muito mal, fica doente e até pode morrer”, ou ameaças que pai ou mãe podem fazer, como de ir embora, de se matar, de abandonar os filhos, de dá-los para outros, de interná-los em colégios (como punição), etc. Tudo isso leva a criança a sentir-se insegura, ameaçada, manipulada, e o resultado pode ser o apego excessivo aos pais, com o consequentemente medo da escola.

3. Padrão C. A criança tem medo de que algo horrível ocoora com ela mesma enquanto está longe de casa. Nesses casos é muito comum existir no relacionamento dos pais com o filho ameaças de abandoná-lo.

4. Padrão D. Aqui o problema maior é a insegurança, o medo excessivo que a mãe (ou mais raramente o pai) sente de que algo muito ruim ocorrerá à criança enquanto ela está longe de casa. E isso pode ocorrer tanto por causa de experiências negativas reais ocorridas no passado, como por causa de sentimentos hostis inconscientes que os pais podem ter em relação à criança. Tais sentimentos podem ser conscientes também e podem estar ligados a uma série de fatores, como o fato de não ser um filho do jeito que queriam, etc.

De acordo com as descrições acima e com o que você escreveu em sua carta, podemos ver que parece haver relação entre o que o seu filho sente e o comprometimento de vocês como pais. Vejam por exemplo, que você se descreve como uma pessoa com forte solidão e que o filho serve como companhia diante dessa sensação de estar só na vida. É provável que o seu relacionamento com essa criança ajude a produzir insegurança, culpa e bloqueio emocional nela. Por quê? Porque seu vazio ou solidão, que deve ter vindo do seu passado infantil, a leva a apegar-se demais ao filho, o que por um lado pode ser agradável para a criança, já que ela tem a sua companhia. Por outro lado, reter a criança perto de si atrapalha nela o desenvolvimento de auto-confiança, de segurança pessoal, etc. A princípio, ter a companhia constante da mãe é prazeroso para a criança, mas com o exagero isso passa a ser bloqueador do desenvolvimento da personalidade dela, podendo produzir fobias, ansiedade, etc.

Creio que você precisa refletir sobre as vivências, as experiências que teve na sua infância com seus pais, procurando entender que tipo de dificuldade emocional ocorreu entre você e eles nos primeiros anos de sua vida. Pode ser que você descubra que, por exemplo, esperava mais carinho, mais presença, mais encorajamento e o que recebeu (se é que recebeu) não foi suficiente para produzir em si mesma segurança e auto-estima. Por isso você acaba manifestando tais necessidades na relação com o filho, apegando-se demais a ele.

Pode ser que, ao procurar fazer uma avaliação da sua infância, sua mente não libere lembranças muito claras do que teria ocorrido de problemático,emocionalmente falando. Muitas vezes nossa mente não libera facilmente lembranças desse tipo, justamente porque são lembranças dolorosas que vão para “bem fundo” de nosso inconsciente a fim de não causar dor na consciência. Mas muitas vezes é preciso haver dor para curar.

Entretanto, não há uma necessidade imprescindível de ter que lembrar do que ocorreu na infância para haver melhora. Basta você compreender que deve estar se apegando demais ao filho e procuurar evitar isso, tendo confiança de que ele tem dentro de si condições psicológicas que Deus lhe deu ( e a todos nós), as quais lhe possibitarão vencer a forte insegurança que agora está instalada nele.

Claro que você terá que ser honesta e sincera consigo mesma, e evitar racionalizar (arranjar desculpas) para continuar se apegando demais ao menino! Sem honestidade não há possibilidade de cura. Recomendo que você come a “soltar” o garoto aos poucos, gradativamente, permitindo que ele faça coisas sozinho – as coisas que você sempre estava tomando a frente dele para fazer. Incentive-o a realizar tarefas e gratifique-o com elogios e carinho não fingido, quando ele conseguir realizá-las. Mas comece do mais simples para omais complexo. Você terá que lutar dentro de si para evitar repetir as ações de superproteção. Ao verificar que ele pode fazer aquilo que você achava que não podia, você ficará mais confiante na capacidade dele e o liberará mais, o que por sua vez aumentará a confiança dele nele mesmo. E, aos poucos, com muita paciência e amor, o medo dele diminuirá.

Adescrição que deu do seu marido, apesar de ser insuficiente, dá a idéia de que provavelmente o comportamento ansioso e agitado dele possa também colaborar no surgimento e na manutenção daansiedade no filho. Além do fator genético, que é passado dos pais para os filhos, há os fatores cultivados, ou adquiridos pela convivência. O comportamento se aprende. Portanto, será também importante que seu marido reflita sobre o porquê de ter agitação, ansiedade. É muito fácil culpar a “vida agitada”, mas muitas vezes a agitalção do corre-corre da vida de trabalho encobre a agitação interior, do íntimo da pessoa, agitação esta que tem mais a ver com conflitos internos, pessoais, do que com a batalha pela vida. Nesse caso é também necessário a pessoa ser honesta consigo mesma e procurar não tornar “bicho-papão” aquilo que não é.

Creio que muito da ansiedade tem que ver com a própria filosofia de vida que a pessoa tem. Na verdade, tem que ver com um conjunto de fatores, os quais basicamente envolvem aspectos físicos, mentais e espirituais. A filosofia de vida de uma pessoa, ou seja, a maneira como ela crê que a vida deve ser levada, os alvos que possui, tudo isso tem muito a ver com fatores emocionais inconscientes muito potentes.

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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