Preparados para o Futuro

Há seis mil anos, o homem se preocupa com más notícias. Povos antigos faziam sacrifícios absurdos aos deuses, numa tentativa de assegurar suas colheitas. Cidades procuravam se proteger o máximo possível contra invasões freqüentes. Jericó, por exemplo, foi destruída pelo menos 18 vezes.

Hoje, nossa relação com o amanhã é ainda mais tensa. Primeiramente, porque a natureza nos dá um sinal amarelo. É tão grande a mudança climática que temos de nos preparar para as “estações do dia” Enfrentamos furacões, enchentes e incêndios que se manifestam numa intensidade e freqüência inéditas. Há pouco tempo, nos Pstados Unidos, um furacão arremessou uma caminhonete de duas toneladas a 15 quarteirões de distância.

O planeta já não suporta tanto carbono, plástico e lixo que simplesmente “despejamos’! A cobrança vem com juros.

Por outro lado, as relações humanas são o maior foco de incerteza. Cerca de um bilhão de pessoas vão dormir hoje sem comer praticamente nada, em grande parte, porque alguns governantes investiram em armas. Só em 2007, os gastos militares globais superaram 1,2 trilhão de dólares, dinheiro que sanaria a fome, mas termina por gerar instabilidade.

Também sofreremos com a urbanização desordenada ou favelização, que atinge um nível histórico: 2008 é o ano em que a maior parte da população mundial passa a viver nas cidades. O resultado é o aumento da criminalidade, da degradação ambiental e dos riscos à saúde pública. Acrescente-se também o vazio moral e a violência. Em número de vítimas fatais, temos dois Iraques por ano só no Brasil – um nas estradas e outro no caminho da bala.

Contudo, os próximos dias também nos reservam boas notícias. Certamente ouviremos da cura de doenças e de inovações que trarão conforto ainda maior. As últimas tecnologias deram vigor incomum à capacidade produtiva, multiplicando a geração de riquezas. O saldo é um dos mais duradouros ciclos de crescimento da era industrial, o que seria ainda melhor, não fosse a desigualdade.

Reações

Temos quatro maneiras de encarar a realidade que nos espera amanhã, três naturais e uma espiritual. A primeira é dando lugar à tristeza. Vivemos os dias de Lucas 21:26, e seria impossível não sermos afetados pelas dificuldades. A mídia ainda aumenta nosso quinhão de sofrimento, reportando-nos em cores e sons tudo de ruim que acontece de Abaetetuba ao Zaire. Diante disso, cumpre-nos cuidar de nossas emoções, pois, se mergulharmos num oceano de lágrimas, correremos o risco de nos afogar.

A segunda forma de encarar o futuro é manifestando um otimismo exagerado perante as realizações humanas. Entretanto, a história já provou que os progressos humanos não solucionam os problemas mundiais. No início do século 20, o mundo vivia a belle époque, período em que se festejava as tecnologias que prometiam resolver todas as questões humanas. Contrariando aqueles bons prognósticos, em poucos anos, tudo se degenerou na brutalidade das guerras mundiais. Desde então, uma característica do homem pós-moderno tem sido a aversão ao otimismo cego. Devemos sim ser otimistas, enxergar a “metade cheia do copo” mas com os pés no chão.

A terceira maneira de enfrentar a realidade que nos espera é com a indiferença, o que lembra a formação dos calos. Os calos são um recurso natural para preservar mãos e pés de quem faz serviços pesados. Com uma pele mais grossa, evita-se a dor e a perda de sangue. Da mesma forma, o contínuo choque com situações difíceis caleja a nossa sensibilidade, o que não é mau em si. Trata-se de um recurso provido por Deus para proteger nossa mente. Entretanto, corremos o risco de nos tornar tão “calejados” a ponto de perder a compaixão pelos outros.

Também podemos nos devotar exclusivamente à nossa agenda, enquanto “passamos de largo” pelo caído (Lc 10:31, 32). Isso acontece quando fugimos à realidade. Drogas, prazeres distorcidos, fanatismo, trabalho exagerado, compulsão por comida ou pelos raios de luz de um televisor são apenas meios de fuga. Jesus nos adverte contra isso (Lc 21:34).

Visão equilibrada

A melhor forma de enxergar o amanhã considera elementos que fogem ao âmbito humano. As palavras e o poder que devem guiar nossos passos estão além da auto-ajuda e do esoterismo barato. A sabedoria de que precisamos vem de um lugar sereno, acima de nossa delicada atmosfera, a anos-luz de nossa agitação.

Há um Ser que Se interessa por este grãozinho do Universo. Alguém atenta para nós, aos sonhos das crianças, às questões mundiais. Para Ele, que transcende distâncias, “longe” e “perto” são a mesma coisa. Seu íntimo percebe toda vibração de alegria ou pesar, e mais do que isso, Ele age. Sua mão invisível atua a cada segundo para minimizar os efeitos da insanidade humana.

O Senhor já interferiu em definitivo a nosso favor. Desde que o homem decidiu obter a “ciência do bem e do mal” a alegação do tentador de fato se cumpriu, e conhecemos profundamente o mal. Mas o tempo provou que o inimigo foi traído por suas próprias palavras, pois o mundo também conheceria o bem.

Em face do mal, Deus revelou o bem com todo o seu fulgor (Rm 5:20). O Criador veio à Terra como um de nós, mostrou em Sua vida apenas o bem e, pelo nosso bem, absorveu na cruz todo pecado, dor e miséria humanas. O triunfo do bem garante que o nosso futuro pertence ao Senhor.

Porém, Deus não agiu somente numa dimensão espiritual, embora a redenção tenha projetado conseqüências históricas. O Soberano interfere nos negócios humanos assegurando o cumprimento de planos específicos. Lembremos que o Espírito Santo procura impressionar as pessoas com um propósito (lo 16:8). Seres angelicais cruzam continentes para influenciar líderes políticos (Dn 10:12,13). No Apocalipse, “quatro anjos” contêm os ventos das hostilidades, evitando ameaças planetárias (Ap 7:1). Se nossos olhos pudessem ser abertos (2Rs 6:17), veríamos “carros de fogo” em operação.

‘Agindo Eu, quem o impedirá?” (Is 43:13). A intervenção divina ao longo dos séculos tem sido evidente. Por exemplo, Deus levantou os babilônios para trazer juízo a Seu povo e, ao mesmo tempo, preservá-lo. Os persas, por sua vez, restituíram o território aos judeus, o que permitiria o nascimento do Salvador em Belém e a concretização de dezenas de profecias.

Segundo o plano divino, as estradas romanas, os sistemas de comunicação e a relativa paz no primeiro século facilitariam a pregação do evangelho. E o Novo Testamento seria produzido numa língua internacional previamente difundida pelos gregos.

O passado revela que o Pai celestial tomou Seu povo pela mão e o fará sempre. “Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado” (Ellen G. White, Eventos Finais, p. 63,64.

Pmbora as realizações humanas nos impressionem e alguns prometam “paz e segurança” as profecias nos indicam que o mundo caminha em outra direção (1 Ts 5:3). Ainda Assim, não temos idéia do que existe do outro lado da montanha. Não obstante, Deus está acima dela, enxerga o que não vemos e tem planos particulares para nós. Mesmo que Sua vontade não seja a mesma que a nossa, confiemos no Senhor, porque Ele estará sempre ao nosso lado (Mt 28:20).

À luz de Cristo, percebemos que as realidades presente e futura estão sob limites. Podemos derramar lágrimas e nos indignar ao ouvir notícias estarrecedoras, mas não nos entregaremos ao desespero, porque Ele vê tudo e lidará com as injustiças da melhor forma possível. Sendo assim, dormiremos melhor (SI 4:8).

Fé proativa

Além de conhecermos os sinais dos tempos e de confiarmos na soberania divina, o fato de sabermos quem somos faz toda a diferença na maneira de encarar o futuro. É importante lembrar que diversos movimentos religiosos definharam por terem perdido a razão de ser. Louvemos a Deus, pois temos uma identidade e missão proféticas que nos dizem por que e para que existimos (Ap 12:17; 14:6-12). Essa auto-consciência dada pelo Senhor funciona como uma bússola e nos impulsiona ao objetivo final. A primeira visão de Eilen White nos ensina isso.

Ela contemplou o povo do advento trilhando um caminho “reto e estreito” Uma luz vinha por trás, indicando sua origem aprovada por Deus, e Cristo brilhava à frente deles, revelando-lhes o objetivo final. Os que prosseguiram com fé foram salvos (Primeiros Escritos, p.15). Logo, apesar de não conhecermos todas as curvas e percalços que nos esperam, sabemos aonde queremos chegar. Por mais “estreito” que se torne o caminho, sempre haverá uma luz para os nossos passos.

Nesse sentido, podemos dizer que não fomos criados para ser meros expectadores ou “vítimas” do futuro. Devemos nos antecipar ao amanhã, traçar estratégias e transformar a realidade ao nosso redor, sempre fiéis à Palavra e à nossa missão. Em outras palavras, devemos ser proativos, mantendo nosso foco.

Ser proativo é se antecipar às tendências, como a formiga das terras geladas, que armazena seu alimento durante o verão, porque a tendência é não encontrá-lo no inverno. José foi proativo quando propôs a estocagem de grãos durante os sete anos de “vacas gordas” Ao chegarem as “vacas magras” o Egito não foi pego de surpresa. A proatividade do hebreu o destacou (Gn 41:28-44).

Foi a postura proativa dos pioneiros da obra adventista que nos legou a formidável estrutura de que dispomos. Se eles não tivessem enxergado além, nossos templos, hospitais, escolas, universidades, instituições beneficentes, fábricas, editoras, e o mais importante – nosso povo – , simplesmente não existiriam. Iluminados por Deus, eles de certa forma determinaram o futuro da igreja.

Nossa identidade e missão só terão sentido à medida que mantivermos a capacidade de influenciar a quem nos rodeia, assim como o sal modifica o sabor do alimento (Mt 5:13). Somos o povo da esperança, e precisamos contagiar as pessoas com aquilo que faz arder nosso coração (Lc 24:32).

Quase no fim da primeira década do milênio, temos enormes desafios e incríveis oportunidades. As portas estão abertas para fazermos grandes coisas, refletindo a luz do Céu. Enfrentaremos tempos difíceis, individualmente e como povo, mas nunca esqueçamos que Deus ama cada minúsculo ser deste planeta e agirá sempre para o nosso bem. Tenhamos fé, pois nosso amanhã pertence a Ele.

Texto de autoria de Diogo Cavalcanti (Editor associado da Revista Adventista). Publicado na Revista Adventista de Janeiro/2008.

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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