A Arqueologia e a Bíblia

A arqueologia é uma grande ferramenta para confirmar a historicidade do relato bíblico.

Usada com prudência e exatidão, a arqueologia pode ser uma grande ferramenta de estudo não apenas para contextualizar corretamente determinadas passagens da bíblia, mas também para confirmar a historicidade do seu relato.

É claro que não podemos com a pá do arqueólogo provar doutrinas como a divindade de Cristo ou o Juízo final de Deus sobre os homens. Esses elementos demandam fé da parte do leitor. Contudo, é possível – através dos achados – verificar se as histórias da Bíblia realmente aconteceram. Então, fica óbvio o axioma filosófico: se a história bíblica é real, a teologia que se assenta sobre essa história também o será. Talvez seja por isso que, em vez de inspirar a produção de um manual de teologia, Deus inspirou os profetas a escreverem um livro de histórias para confirmar a ação divina em meio aos acontecimentos da humanidade.

COMO TUDO COMEÇOU – Não é tarefa fácil dizer exatamente quando começou a arqueologia bíblica. Na verdade, desde os primeiros séculos da era cristã já havia pessoas que se aventuravam na arte de tirar da terra tesouros relacionados com a história da Bíblia Sagrada. Helena, mãe de Constantino, foi uma dessas “pioneiras” que, numa peregrinação à Terra Santa, demarcou com a construção de igrejas vários locais sagrados onde se supunha ter ocorrido algum evento especial. Muitos desses locais servem, até hoje, de ponto turístico no Oriente Médio.

No entanto, as técnicas desses primeiros empreendimentos eram bastante duvidosas e o fervor piedoso levava as pessoas a verem coisas que na verdade não existiam. Aparições de santos, sonhos e impressões eram o suficiente para demarcar um local como sendo o exato lugar do nascimento ou da crucifixão de Cristo. Mas, a partir do fim do século XIII, a arqueologia das Terras Bíblias começou a ter ares de maior rigor científico. A descoberta acidental da Pedra de Roseta, ocorrida em 1798, levou vários especialistas a se interessarem pela história do Egito, da Mesopotâmia e da Palestina, descobrindo um passado que havia muito tempo se tinha por perdido.

Babilônia, Nínive, Ur e Jericó foram algumas das muitas localidades que começaram a ser escavadas, revelando importantes aspectos da narrativa bíblia. Para os críticos, que na ocasião levantavam argumentos racionalistas contra a Palavra de Deus, os novos achados representavam um grande problema, pois desmentiam seus arrazoados, confirmando vários elementos do Antigo e do Novo Testamento.

Um exemplo pode ser visto no próprio ceticismo com que encaravam a existência de uma cidade chamada Babilônia. Muitos pensavam que tal reino jamais existira. Era apenas fruto mitológico da mente de antigos escritores como Heródoto e os profetas canônicos. Até que, finalmente, suas ruínas foram desenterradas em 1899 pelo explorador alemão Robert Koldewey, que demorou pelo menos 14 anos para escavar suas estruturas.

Mais tarde, veio a descoberta de várias inscrições cuneiformes, que revelaram o nome de pelo menos dois personagens mencionados no livro de Daniel, cuja historicidade também tinha sido questionada pelos cético. O primeiro foi Nabucodonossor, o rei do sonho esquecido; e o segundo, Belsazar, que viu sua sentença de morte escrita com letras de fogo nas paredes de seu palácio.

CONTRIBUIÇÕES ADICIONAIS – Além de ajudar tremendamente na confirmação de episódios descritos na Bíblia, a arqueologia presta grande serviço ao estudo elucidativo de determinadas passagens. Graças a ela, é possível reconhecer o porquê de alguns comportamentos estranhos à nossa cultura. É o caso de Raquel furtando deliberadamente os “ídolos do lar” que pertenciam a Labão, seu pai (Gen 31:34). Aparentemente, o delito parecia ter um fim religioso, mas antigos códigos de lei sumerianos revelaram que naquela época a posse de pequenos ídolos no lar (comumente chamados de terafim), era o certificado de propriedade que alguém precisava para firmar-se como dono de uma terra. Caso os ídolos fossem parar nas mãos de outra pessoa, esta se tornava automaticamente proprietária dos terrenos que eles demarcavam. Por serem pequenos, poderiam facilmente ser furtados, e cabia ao dono o cuidado de guardá-lo para não ser lesado. Foi, portanto, num descuido de Labão que Raquel furtou seus ídolos (ou seja, suas escrituras), com o fim de entregá-los posteriormente a Jacó e fazer dele o novo senhor daquelas terras. Tratava-se de uma tentativa de indenização do esposo pelo engano que o levara a sete anos extras de trabalho nas terras de seu pai.

Várias palavras e expressões antigas também tiveram seu significado esclarecido pelo trabalho da arqueologia. O nome de Moisés, que certamente não era de origem hebraica, pode ter sua explicação na raiz do verbo egípcio ms-n, que significa “nascer ou nascido de”. Muitos faraós e nobres da corte egípcia tinham o seu apelido formado pela junção desse verbo e do nome de uma divindade. Por exemplo: Ahmose (“nascido de Ah, o deus da lua”); Ramose (“nascido de Rá, o deus sol”); Thutmose (“nascido de Thot”, outra forma do deus da lua). É possível que Moisés (ou em egípicio Mose) também tivesse originalmente o nome de um deus acoplado a seu próprio nome. Talvez fosse Hapimose (o deus do Nilo), uma vez que, de acordo com Êxodo 2:10, a rainha escolheu chamá-lo assim, porque o havia tirado das águas do Nilo.

Uma embaraçosa situação entre Jesus e um discípulo também pode ser esclarecida pela arqueologia. Trata-se do episódio descrito em Lucas no qual o Senhor aparentemente nega a um jovem que desejava segui-Lo o direito de sepultar seu próprio pai. Olhando pela cultura moderna ocidental, tem-se a impressão de que o pai do moço estava morto em um velório e que o filho estaria pedindo apenas algumas “horas” a Cristo para que pudesse seguir o féretro e , logo em seguida, partir com o Senhor. Um pedido aparentemente justo.

Mas as dificuldades se esvaem quando entendemos, mediante a contribuição da arqueologia, que, naquela época (e também hoje, nalguns idiomas como o árabe e o siríaco), a expressão “sepultar meu pai” era um idiomatismo que nem de longe indicava que o pai daquele jovem houvesse morrido fazia pouco tempo! Tanto é que o episódio é descrito como tendo ocorrido “caminho fora” (Luc 9:57). Se o pai do jovem houvesse morrido, o que estaria ele fazendo à beira da estrada? Na verdade, essa expressão idiomática significava que o pai estava sadio e feliz e que seu filho prometia sair de casa apenas depois que ele morresse.

Além disso, segundo o costume oriental, quando o pai morria, o filho mais velho ficava encarregado do sepultamento, mas esse também não ocorria imediatamente após a morte. Primeiramente, o corpo era banhado, perfumado e envolvido num lençol para ser depositado numa gruta tumular; onde ficava deitado sobre uma cama de pedra por um ano ou mais até que a carne houvesse completamente sido decomposta, restando apenas os ossos. Então, nesse dia, o filho retirava a ossada do pai, colocando-a delicadamente num pequeno caixão de pedra (conhecido como ossuário) e, somente aí, tinha-se finalmente completado o “sepultamento”, isto é, vários meses após a morte do indivíduo.

Com esse pano de fundo provido pelos estudos arqueológicos, o diálogo de Jesus com aquele jovem passa a ter outra dimensão. Esclare-se a questão e torna o texto mais compreensivo e agradável de se ler.

ARQUEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO – Estes são alguns achados alusivos ao Antigo Testamento:

1. Leis mesopotâmicas – Uma coleção de várias leis datadas do terceiro e segundo milênios antes de Cristo, as quais ilustram, com muitos detalhes, o período patriarcal. O conhecido código de Hamurabi (c. 1750 a.C) é uma delas.

2. Papiro de Ipwer – Trata-se da oração sacerdotal de certo egípcio chamado ipwer, que se queixa junto ao deus Horus das desgraças que assolavam o Egito. Entre elas, ele menciona o Nilo se tornando em sangue, a escuridão cobrindo a terra, os animais morrendo no pasto e outros elementos que lembram muito de perto as pragas mencionadas no Êxodo.

3. Estela de Merneptah – Uma coluna comemorativa escritapor volta de 1207 a.C., que conta as conquistas militares do faraó Merneptah. É a mais antiga menção do nome “Israel’ fora da Bíblia. Alguns céticos insistem em negar a história dos Juízes dizendo que Israel não existia como nação naqueles dias. Porém, a Estela de Merneptah desmente essa afirmação ao mencionar Israel entre os inimigos do Egito.

4. Textos de Balaão – Fragmentos deescrita aramaica foram encontrados em Tell Deir Allá (provavelmente a cidade bíblica de Sucote). Juntos eles trazem um episódio da vida de “Balão, filho de Beor” – o mesmo Balaão de Números 22. Os textos ainda descreviam uma de suas visões, indicando que os cananeus mantiveram lembrança desse profeta.

5. Estela de Tel Dã – Outra placa comemorativa, desta vez da conquista militar daSíria sobre a região de Dã. Encontrada em meio aos escombros do sítio arqueológico, a inscrição trazia de modo bem legível a expressão “casa de Davi”, que poderia ser uma referência ao templo ou à família real. Porém, o mais importante é que mencionava pela primeira vez fora da Bíblia o nome de Davi, indicando que este fora um personagem real.

6. Obelisco negro e prisma de Taylor – Estes artefatos mostram duas derrotas militares de Israel. O primeiro traz o desenho do rei Jeú prostrado diante de Salmanazar III oferecendo tributo, e o segundo descreve o cerco de Senaqueribe a Jerusalém, citando textualmente o confinamento do rei Ezequias.

7. Inscrição de Siloé – Encontrada acidentalmente poralgumas crianças que nadavam no tanque de Siloé, essa antiga inscrição hebraica marca a comemoração do término do túnel construído pelo rei Ezequias, conforme o relato de II Crônicas 32:2-4.

ARQUEOLOGIA NO NOVO TESTAMENTO – Estes são alguns dos principais achados alusivos ao Novo Testamento:

1. Ossuários de Caifas e (possivelmente) Tiago, irmão de Jesus – Alguns ossuários costumavam trazer uma inscrição com o nome da pessoa que estava ali. Sendo assi, dois ossuários chamaram a atenção dos arqueólogos. O primeiro foi encontrado em 1990 e legitimado como sendo do mesmo Caifás mencionado em Mateus 26 e João 18. O segundo, cuja autenticidade é disputada entre os especialistas, pertenceria a Tiago, um dos irmãos de Jesus, conforme o texto de Mateus 13:55. Caso se demonstre verdadeiro, este ossuário será a mais antiga menção do nome de Jesus de que temos notícia.

2. O esqueleto do crucificado – Um outro ossuário encontrado em 1968 revelou a ossada de erto Yehohanan (“João”, em aramaico), que morrera crucificado. Seu calcanhar ainda trazia um pedaço torcido do prego romano. Esse foi o único exemplar de um crucificado de que temos notícia. Graças ao seu estudo, foi possível levantar importantes detalhes sobre os modos de crucifixão usados no tempo de Cristo.

3. Inscrição de Pilatos – Uma placa comemorativa encontrada em Cesaréia Marítima, no ano de 1962, revelou o nome de Pilatos como prefeito da Judéia. Antes disso, sua existência histórica era questionada pelos céticos.

4. Cafarnaum – A cidade em que Jesus morou foi escavada e preservada para visitação. Ali é possível ver os restos de uma sinagoga e uma igreja bizantinas que foram respectivamente construídas sobre a sinagoga dos dias de Jesus e a casa de Pedro, o líder dos doze apóstolos.

CONCLUSÃO – Certa vez, ao entrar festivamente em Jerusalém, Jesus declarou em meio à multidão que, ainda que os filhos se calassem, as próprias pedras clamariam (Lucas 19:40). Por que não poderíamos ver na arqueologia um cumprimento dessas palavras? De maneira silenciosa, mas bastante ativa, pedras, cacos de cerâmica, restos de fortalezas e antigos manuscritos clamam que a história é verdadeira, que Deus é tão real que quase dá para tocá-Lo.

A arqueologia é ertamente um presente do Céu aos crentes. Seu conhecimento é excelente ferramenta para a compreensão, estudo e proclamação da Palavra de Deus.

Rodrigo P.Silva é professor de Teologia no UNASP, campos Engenheiro Coelho, SP.

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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