A reconstrução simbólica de Babilônia nos últimos dias

 

A Babilônia mencionada no Apocalipse é um fenômeno do tempo do fim. Há seis referências a ela no último livro da Bíblia em conexão com os juízos finais de Deus (as sete últimas pragas) e a volta de Jesus.

A palavra “Babilônia” não foi escolhida pela Providência por mero capricho.

Há uma analogia entre essa Babilônia do tempo do fim e a antiga Babilônia.

Assim como esta última foi inimiga de Deus, de Sua verdade e de Seu povo, aquela manifestará um caráter e uma disposição semelhantes.

Antes de nos lançarmos à tarefa de identificar as corporações religiosas e políticas profeticamente relevantes para Apocalipse 14:8, é importante considerar que a maneira como o Apocalipse usa a palavra “Babilônia” também sugere uma tentativa de se reconstruir figuradamente aquilo que a antiga cidade representava para seus habitantes.

Nesse sentido, Babilônia é uma ideia que se procura reviver no tempo do fim, em flagrante desafio à mensagem divina que anuncia a queda moral e literal desse falso sistema religioso.

Deus havia disposto que a antiga Babilônia jamais seria reconstruída depois de sua queda (Jeremias 50:13, 39 e 40; 51:29, 37 e 43).

No entanto, revivendo o espírito recalcitrante da torre de Babel (Gênesis 11:1-6, comparar com 1:28 e 9:1 e 7), os homens querem hoje contrariar mais uma vez a ordem divina, reconstruindo de alguma forma a antiga Babilônia.

A “Corte Babilônica” de Hollywood

Hollywood & Highland é um enorme complexo que ocupa quase dois quarteirões da icônica “cidade dos sonhos”. Inaugurado em 2001, o complexo abriga mais de sessenta lojas, nove restaurantes, seis salas de cinema, dois clubes noturnos e o famoso Hotel Renaissance Hollywood, com seus 640 quartos, além do Teatro Dolby (antigo Teatro Kodak) – o lar permanente da premiação anual do Academy Awards.

A entrada posterior para o teatro é uma recriação maciça da antiga Porta de Ishtar.

A estrutura original foi construída em torno de 575 a.C. por ordem de Nabucodonosor II em homenagem à deusa, e consistia no principal acesso à cidade mesopotâmica da Babilônia.

A versão de Hollywood (localizada no coração do Hollywood & Highland e conhecida como Babylon Court) foi inspirada no filme Intolerance, de 1916, considerado um épico do cinema mudo, dirigido por D.W. Griffith.

Na fachada da imponente construção há dois relevos em destaque. O primeiro representa o deus Assur, também denominado Anshar (na mitologia babilônica) e Ashur, deus nacional da Assíria. Era considerado um deus guerreiro, casado com Ishtar (Inanna, para os sumérios), deusa da guerra e do amor sexual.

O segundo relevo representa o deus cabeça de águia Nisroque, divindade assíria da agricultura. Em uma escultura de Nínive, ele aparece espargindo água sobre a árvore sagrada. Tem na mão esquerda um recipiente com água, e na direita, uma esponja.

Foi para esta divindade que Senaqueribe, rei da Assíria, passou a orar após voltar de sua trágica campanha em Judá, ocasião em que foi assassinado por seus dois filhos (ver II Reis 19).

Alguns autores religiosos consideram Nisroque como sendo um anjo caído, que pertenceu à ordem dos Principados e um associado de Belfegor (o “senhor do fogo”). Johann Weyer e Collin de Plancy se referem a Nisroque como o “chefe de cozinha” dos príncipes do inferno. (1)

Como foi dito, a temática da Babylon Court foi inspirada no filme Intolerance, de D.W. Griffith. Convém tecer alguns comentários sobre esta produção do cinema mudo.

Intolerance é um drama histórico que aborda o problema da intolerância através de quatro linhas narrativas: (1) na antiga Babilônia, uma garota é vítima da rivalidade religiosa que resulta na queda da cidade; (2) na Judeia, os fariseus hipócritas condenam a Jesus Cristo; (3) na Paris de 1572, dois jovens huguenotes preparam-se para o casamento sem saber do iminente massacre do Dia de São Bartolomeu; e (4) na América moderna, reformadores sociais arruínam a vida de uma jovem mulher e seu amado. (2)

 

Cena do filme Intolerance que inspirou a Babylon Court.

 

Curiosamente, Hollywood escolheu uma cena da primeira linha narrativa como inspiração para o coração do seu complexo. Na qualidade de indústria maçônica, a escolha faz todo o sentido.

Igualmente curioso é o fato de o filme de Griffith retratar Ciro como um déspota tirano e indigno de confiança, algo pouco comum. Como se sabe, Ciro deixou atrás de si uma reputação de monarca benevolente. Para os judeus, Ciro foi considerado como um salvador, como um enviado de Jeová, por tê-los libertado do cativeiro e permitir-lhes reconstruir o seu templo em Jerusalém. (3)

De fato, em virtude de seu papel profético na libertação do povo judeu, Ciro é apresentado nas Escrituras como um símbolo de Cristo (Isaías 44:28; 45:1).

É particularmente significativo que o Hotel Renaissance (renascimento) esteja localizado atrás desta versão moderna da Porta de Ishtar – a porta através da qual o homem se reconectaria com os deuses. Há um evidente simbolismo que procura reviver certos aspectos do misticismo pagão, os quais frequentemente inspiram os roteiros de muitas produções hollywoodianas.

A religião de Hollywood: o evangelho segundo Matrix

A reconstrução simbólica de Babilônia no tempo do fim indica que o mundo estará imerso em uma nova forma de paganismo pouco antes da volta de Jesus. O redescobrimento de crenças pagãs é, aliás, uma das características mais marcantes da pós-modernidade, que vê na intuição, nas emoções e na experiência mística fontes confiáveis em matéria de conhecimento e realização.

A base desse fenômeno é o gnosticismo, um conjunto de crenças sincréticas que rivalizou com o cristianismo nos primeiros séculos.

Em síntese, o gnosticismo sustenta que a realidade nada mais é que uma ilusão criada pelo Demiurgo, uma entidade maligna responsável pela criação do cosmos material. Segundo o apócrifo de João, um texto gnóstico datado do século II d.C., o Demiurgo, chamado Yaldabaoth, é representado por uma serpente com cabeça de leão. Os gnósticos o identificaram com Jeová do Antigo Testamento.

Nesta criação mal-sucedida que constitui o mundo físico, o Demiurgo mantém as almas dos homens em um estado de sono ou ilusão, alienando-as, desse modo, de sua fonte original. Tal condição só pode ser superada mediante a gnose, uma forma de conhecimento mais intuitiva e emocional do que racional.

Desde os anos 90, tem sido um fenômeno recorrente nas produções hollywoodianas a adoção de temas inspirados em narrativas míticas do gnosticismo. O Professor Wilson Roberto Vieira Ferreira, Mestre em Comunicação Contemporânea pela Universidade Anhembi-Morumbi, apresenta em seu blog (clique aqui) uma lista representativa de filmes com essa temática.

Dentre os filmes gnósticos de maior sucesso, destaca-se Matrix, produzido pelos irmãos Wachowski e considerado por críticos e cinéfilos o maior feito do cinema desde Star Wars. Definitivamente, não é meu propósito aqui promover o filme, mas chamar nossa atenção para seu papel na reconstrução simbólica de Babilônia.

O personagem principal na trama, interpretado por Keanu Reeves, chama-se Thomas A. Anderson, um programador solitário que também se identifica como o hacker Neo. Ambos os nomes remetem ao papel “messiânico” do personagem. Anderson tem origem na expressão inglesa “Ander’s son” (“filho de André”). O nome André deriva do grego “Andreas”, a partir da palavra “andrós”, que significa “homem”. Anderson significa, portanto, “filho do homem”.

O nome Neo deriva da palavra grega “néos” e significa “novo”. Em Matrix, Neo/Anderson é o “novo filho do homem” destinado a libertar a raça humana da realidade ilusória produzida pelas máquinas (o “demiurgo”). A função messiânica de Neo é confirmada na fala do “cliente” no início do filme: “Aleluia! Você é o meu salvador, meu Jesus Cristo particular”.

É a bordo da “USS. Nabucodonosor” – nome do principal rei de Babilônia responsável pela destruição de Jerusalém – que o protagonista é iniciado em seu papel como o escolhido. Na cena em que Neo é apresentado à tripulação, a câmera se desloca rapidamente sobre a placa de identificação da nave, na qual se lê: “USS Nebuchadnezzar”.

“Logos” e “Osiris” são os nomes igualmente sugestivos das outras naves humanas procedentes de Zion. A versão hollywoodiana de Sião, porém, não corresponde ao monte da salvação onde estão Cristo e os remidos (Apocalipse 14:1), mas à resistência humana sediada próximo ao núcleo da Terra.

Em Matrix, Babilônia é a versão humana da salvação que pretende libertar as pessoas de uma realidade artificial (a verdade) criada pelo Demiurgo (Deus), que não se importa conosco.

Esta narrativa também implica a negação da segunda mensagem angélica – o anúncio da queda moral e literal de tudo o que Babilônia simboliza -, na medida em que sugere a sobrevivência e resistência desse poder. Trata-se de uma hermenêutica invertida, típica do gnosticismo.

A nova Babilônia: o meio é a mensagem

Ao contrário da maioria de nós, os agentes de transformação global responsáveis por tornar Babilônia mística uma realidade no imaginário coletivo não ignoram os efeitos sociais e psicológicos dos meios que utilizam para criar o consenso.

E o entretenimento tem se mostrado um excelente recurso para incutir ideias que, de outro modo, seriam prontamente rejeitadas pela consciência crítica.

O Apocalipse revela que o “sistema babilônico” tem um modus operandi específico.

Diferentemente de Jesus Cristo, que estimulava as pessoas a pensar, expondo-lhes suas reais necessidades e levando-as à Bíblia (Mateus 13:51; Lucas 10:26; 20:17), Babilônia explora principalmente as experiências emocionais e sensoriais: ela “maravilha” (Apocalipse 13:3), “seduz” (13:14), “embriaga” (14:8; 17:1-2) e apela aos sentidos (13:13-14; 16:13-14).

Assim, quando a estrela da música pop, Madonna, fez sua apresentação no intervalo do Superbowl em 2012, a letra da música foi menos importante do que o faustoso visual repleto de simbolismos pagãos, consistindo na própria mensagem que se pretendia transmitir ao público naquela noite.

Em sua primeira apresentação, a performance de Madonna foi claramente inspirada em elementos procedentes da cultura religiosa do Egito, Suméria e Babilônia, encarnando a imagem da antiga deusa babilônica Ishtar, cognata da deusa Isis, dos egípcios, e de Inanna, dos sumérios. Ishtar era associada ao planeta Vênus, conhecido como a Estrela da Manhã. No ocultismo, a expressão é atribuída também a Lúcifer.

Performance de Madonna no intervalo do Superbowl 2012.

Em uma entrevista no talk show de Anderson Cooper, Madonna se referiu à dimensão espiritual da apresentação que faria alguns dias depois no Superbowl (note as palavras):

O Superbowl é como o Santo dos Santos nos Estados Unidos. Vou fazer algo como uma experiência na igreja, um sermão, e ele terá que ser muito impactante.

Eu não tenho dúvidas de quão impactante foi sua mensagem.

Katy Perry também transmitiu um recado igualmente impactante em sua performance no show do intervalo do Superbowl deste ano (2015). Em pé sobre um leão metálico gigante, a cantora representou a deusa babilônica Ishtar, geralmente retratada pelos antigos como estando em pé sobre um leão. (4)
Performance de Katy Perry no intervalo do Superbowl 2015.

Conclusão

Penso que esses tributos à cultura babilônica são parte de um esforço premeditado para reconstruir simbolicamente a antiga e soberba cidade de Babel em um desafio renovado a Deus.

Na perspectiva das profecias do tempo do fim, esse redescobrimento do paganismo pela sociedade pós-moderna é um sinal inequívoco de que estamos no limiar da volta de Jesus.

O apóstolo João declara: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno.” (I João 5:19).

Queira Deus que permaneçamos do lado certo do conflito até o dia do bem-aventurado aparecimento de nosso Senhor Jesus em poder e glória.

Notas e referências

1. Informações obtidas a partir dos sites: <http://www.infopedia.pt/$assur> e <https://en.wikipedia.org/wiki/Nisroch>. Acesso em: 23 set. 2015, 10h29min. Para mais detalhes sobre a Babylon Court de Hollywood e a motivação pagã por trás dessa indústria, ver a excelente apresentação de Scott Mayer, 

“Sistema Falso de Adoração”

 (recomendo que assistam a toda a série). Mais informações também podem ser obtidas neste artigo: 

“Osiris, The Oscars and The Babylon Gate”

.

2. Informação disponível em: <http://www.imdb.com/title/tt0006864/>. Acesso em: 23 set. 2015, 10h45min.

3. Michael Roaf. Mesopotâmia (Grandes Civilizações do Passado). Barcelona: Ediciones Folio, 2006, p. 204 e 222.

4. Com informações do blog 

Knowledge is Power

: 

“Show de Madonna no Superbowl: uma celebração da grande sacerdotisa da indústria musical”

; 

“A Performance de Katy Perry no Superbowl 2015: Do Sacrifício de Fogo ao Super Estrelato”

.

[Este artigo foi revisado em 21 de agosto de 2023]

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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