CRIACIONISMO, o que é?

A decisão da então governadora do Estado do Rio de Janeiro de introduzir o ensino do criacionismo nas aulas de educação religiosa das escolas públicas, provocou, a partir de maio de 2003, um pequeno debate a respeito do assunto na imprensa brasileira.

Como adventistas do sétimo dia, pensamos que não temos dúvidas a respeito dessa questão. Dedicamos um dia por semana para comemorar os atos criativos de Deus e conhecemos bem a história da criação relatada em Gênesis 1 e 2. Apesar da aparente simplicidade, podemos esperar complicações quando consideramos a diversidade de origem e formação dos membros da igreja. Temos desde filhos de adventistas de várias gerações até recém-conversos vindos dos mais diversos credos. Na igreja, também convivem irmãos que não tiveram oportunidades de obter formação escolar até doutores em diversas áreas do conhecimento. Essa diversidade pode causar uma variedade de idéias na compreensão de alguns detalhes. Pode produzir diálogos interessantes ou debates mais ou menos acalorados e mais ou menos tolerantes.

A palavra criacionismo contém o sufixo ismo. O dicionário Houaiss da Língua Portuguesa diz que: “no curso dos séculos 19 e 20, o uso do sufixo ismo se disseminou para designar movimentos sociais, ideológicos, políticos, opinativos, religiosos e personativos”. Nesse sentido, poderíamos dizer que o criacionismo seria um movimento ideológico ou opinativo ou religioso, ou uma mescla disso.

Criacionismo e Igreja Adventista – A igreja adventista foi organizada na segunda metade do século 19, a partir do reavivamento pregado por Miller. Após o desapontamento de 1844, alguns perseveraram na fé. Ao buscarem na bíblia a base para sua fé, retornaram ao sábado como dia de guarda. As orientações proféticas de Ellen G.White incentivaram duas ações para o pequeno grupo de adventistas: cuidado com a saúde e preocupação com a educação. O fim do século 19 foi também a época em que a ciência experimentou um clímax de sucesso. Conta-se que Lord Kelvin teria dito que apenas duas pequenas nuvens impediam a compreensão total das leis da natureza. Nessa mesma época as ciências históricas da geologia e da paleontologia estavam sendo desenvolvidas. Parte do interesse das ciências históricas é construir uma narrativa histórica a partir de observações de evidências do passado que podem ser obtidas no presente. Até a biologia começou a desenvolver um aspecto de ciência histórica com a teoria da evolução proposta no livro A Origem das Espécies, de Darwin, publicado em 1865.

Para entender o envolvimento da igreja adventista com o criacionismo, é importante perceber o contexto descrito acima. As preocupações com saúde e educação iriam incentivar o preparo de professores para as escolas que, além de prepararem pastores, deveriam treinar pessoas para a obra médica. O preparo de estudantes para a medicina envolvia o estudo das ciências da natureza. Desse modo a igreja, em seu processo de desenvolvimento, buscava um retorno à Bíblia como base da fé; ao mesmo tempo que valorizava o conhecimento da ciência.

A maior parte do conhecimento desenvolvido pela ciência é compatível com a idéia de um mundo criado por Deus. As regularidades obseervadas na natureza foram chamadas de leis naturais pelos fundadores da ciência. O próprio nome “lei” sugere a ação de um legislador. A possibilidade de expressar as leis da natureza numa elegante linguagem matemática sugere a grandeza da mente que as originou. Além desse aspecto, a multiplicidade e complexidade de formas observadas tanto nas coisas inanimadas como nas vivas sugere não só a idéia da sabedoria do Criador como Sua generosidade e habilidade artística. Nesse contexto, Ellen G.White se referia à natureza como um livro de autoria divina, do qual devemos extrair lições que apontam para Deus. Em contraste com esses aspectos positivos da ciência estão os que mostram desarmonia com um ideal de paraíso. Esses deveriam ser atribuídos à ação do inimigo de Deus, e toda situação presente só poderia ser compreendida “à luz que resplandece do calvário). (Ellen G.White, Educação pág.101). Outra dificuldade com o desenvolvimento da ciência relacionava-se com as ciências históricas. Nesse sentido, Ellen G.White observou em seus escritos que não se deveria buscar uma acomodação dos dias da criação com os “supostos milhões de anos necessários para que a Terra evoluísse do caos” Ela afirmou ainda que “fora da história bíblica, a geologia nada pode provar” (Ellen G.White, Patriarcas e Profetas, Cap.9). Junto a essas afirmações, ela sugeriu que os vestígios de vegetais, de animais e de homens encontrados nas rochas são resultado da ação do dilúvio dos dias de Noé. Sobre a questão da teoria daevolução da vida, Ellen G.White apenas negou que o ser humano, “a coroa gloriosa da riação”, fosse o produto de “uma linha ascendente de germes, moluscos e quadrúpedes”. (Ibid., p.130.)

Orientados por essas diretrizes, os primeiros professores adventistas de ciências procuraram desenvolver seu trabalho. Entre eles, merece destaque George McCready Price. Formado basicamente por auto-estudo, Price escreveu várias obras. Atônica de seu trabalho foi defender a idéia de que a maior parte das formações geológicas que contém vestígios de vida seria mais bem explicada pelo dilúvio descrito na Bíblia do que por processos semelhantes aos que ocorrem hoje ou por uma seqüência de múltiplas catástrofes ao longo de milhões de anos. Sua obra principal, intitulada The New Geology (A Nova Geologia), foi publicada em 1923. Outros professores que assumiram o trabalho nas escolas superiores adventistas tiveram uma formação acadêmica formal mais completa e continuaram a perseguir a idéia de harmonizar os conhecimentos das ciências históricas com sua interpretação da Bíblia. Nessa busca, nem sempre houve concordância nos detalhes. Com o tempo, aceitou-se que a distribuição dos fósseis nas rochas apresenta certa ordem e várias hipóteses foram sugeridas para explicar o fato no contexto de uma grande catástrofe como o dilúvio. Em 1958, a igreja decidiu criar o Geoscience Research Institute (GRI), formado por um pequeno grupo de cientistas, com o objetivo de estudar essas questões. Entre as várias atividades desenvolvidas pelo instituto, e, 1974 foi iniciada a publicação de uma revista técnica denominada Origins (Origens), na qual cerca de 40% dos artigos publicados trata de questões relacionadas à paleontologia, geologia e o tempo; 35% lidam com questões filosóficas e teológicas e 18% com questões relativas à origem da vida e à teoria da evolução biológica. (Ver mais sobre o GRI em http://www.grisda.org).

Criacionismo além da Igreja Adventista – A forma de pensar a história da Terra desenvolvida pelos trabalhos de Price acabou influenciando pessoas em outras denominações evangélicas, quando John C.Whitcomb Jr e Henry M.Morris publicaram em 1961, a obra The Gênesis Flood (O Dilúvio do Gênesis). Nessa publicação, além de representar as idéias de Price de forma atualizada, os autores afirmaram que a semana da criação devia envolver a criação de todo o Universo e propuseram a hipótese especulativa de que, antes do dilúvio, teria havido uma camada de vapor na atmosfera envolvendo toda a Terra, modelando um clima ideal e protegendo-a da radiação cósmica. Ainda na década de 1960 foi criada a Creation Research Society Quarterly. Os membros dessa sociedade, além de ter credenciais em ciências, precisam assinar uma afirmação de fé que envolve crer que a Bíblia é a palavra inspirada por Deus, sendo todas as suas asserções histórica e cientificamente verdadeiras no original, incluindo os relatos da criação e do dilúvio no livro de Gênesis. Devem também aceitar a Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

Uma das organizações mais influentes para a divulgação do criacionismo tem sido o Institute for Creation Research, fundado e liderado no início da década de 1970 por Henry Morris. As atividades desse isntituto abrangem três “ministérios”: pesquisa, publicações e palestras.

Inúmeras sociedades criacionistas foram organizada nas últimas décadas do século 20, em geral inspiradas pelas publicações das duas organizações citadas. Vale destacar a Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), fundada em 1972, por iniciativa do Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira que, na época, era Professor titular na Escola de Engenharia de São Carlos – USP e membro da igreja adventista na mesma cidade. (Mais informações sobre a SCB e os materiais por ela publicados em http://www.scb.org.br).

Conclusão – O Criacionismo, portanto, é assim o esforço de harmonizar os conhecimentos das ciências históricas, principalmente a geologia e paleontologia com suas implicações na teoria da evolução biológica, com a visão de inspiração bíblica de que a vida na terra foi estabelecida por Deus a poucos milhares de anos. Esse esforço se faz por causa do valor atribuído à ciência pelo mundo secularizado de nossos dias. Mesmo as pessoas de índole mais religiosa não conseguem deixar de notar a importância do conhecimento científico. Muitos crentes gostariam de ter todas as suas crenças apoiadas por uma “prova” científica.

Essa busca de harmonização da ciência, que observa o mundo físico, com crenças que envolvem o transcendental, gera situações curiosas. Nos meios criacionistas, com freqüência, pode-se observar discussões mais ou menos exaltadas sobre detalhes da compreensão de aspectos do mundo físico ou de formas de interpretar a revelação bíblica. Essas disputas podem ser consideradas normais quando ocorrem no meio acadêmico, mas nem sempre são bem vistas em outros círculos.

Há uma porção de equívocos sobre o que seja o criacionismo. Alguns pensam que se trata do combate ao ateísmo. Pensam que, se pudermos “provar” pela ciência que Deus existe, a única alternativa será crer na história bíblica. Outros pensam que criacionismo é combate ao evolucionismo. Incluem no evolucionismo todas as teorias, modelos e especulações da ciência sobre origens, desde o modelo de origem do Universo conhecido como Big-Bang, passando pelos modelos de evolução estelar, propostas de origem da vida por processos naturais e abióticos e a teoria da evolução biológica das espécies. Em geral acreditam que a existência de falhas nessas propostas naturalistas sobre as origens implica na necessidade de aceitação da revelação de Deus na Bíblia. Uma idéia recente, denominada Intelligent Design (Design Inteligente ou Planejamento Inteligente), foi proposta por um grupo de cintistas. Design Inteligente (DI) é o estudo de padrões encontrados na natureza, os quais podem ser mais bem explicados como resultado da ação de uma inteligência. Apesar de compatível com o conceito do Deus criador da Bíblia, o DI não pretende deliberadamente se envolver com a história bíblica da criação nem com a discussão teológica da natureza do designer ou planejador. Sendo assim, a promoção do DI também não é criacionismo.

No mundo atual, é necessário conhecer e compreender o grande mercado de idéias. Entretanto, precisamos pensar sobre a finalidade desses esforços. Tudo o que queremos é entender o objetivo maior de nossa existência neste mundo. A narrativa bíblica provê uma perspectiva adequada. Por meio dela, a existência de um Deus criador é um pressuposto. Por meio dela, somos informados de que o ser humano foi criado “à imagem de Deus” (Gn 1:27). Por meio dela somos informados de que, apesar de estarmos afastados do objetivo original da criação, o próprio Deus Se fez humano para nos resgatar mediante o sacrifício de Jesus Cristo. Por meio da narrativa bíblica, somos também informados das promessas de uma nova criação, que restaurará tudo à perfeição original.

A aceitação disso envolve fé que se expressa numa relação de confiança entre nós e o Criador. Isso está muito além do alcance de qualquer ciência.

O Doutor Urias Echterhoff Takatohi, é professor de Ciência e Religião, Física e Matemática no UNASP, Campus de São Paulo.

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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