Sempre se ouve a quem se adora. Um “fiel” que não siga os conselhos do seu deus, não se diferencia de um infiel. Talvez por isso, Deus aconselhe ao povo de Israel a que ouça suas palavras. Ouvir e seguir o conselho de Deus, nesse sentido, seria sinônimo de adorá-lo. Mesmo quando adora-se a um deus falso, segue-se o que ele diz. O adorador de Baal, levanta-se para sacrificar a Baal.
O grande problema é que o homem é um feitor de deuses. A idolatria surge de nós mesmos. Ao adorar Baal, o homem adora o deus que ele mesmo criou, e no fim, adora a si mesmo. Por vezes parece que o idólatra é um egocêntrico educado. Ele quer adorar a si mesmo, mas para não ofender a todos dizendo que é deus, cria um deus a sua imagem e semelhança e o adora. O próprio homem senta-se no trono que dedica ao seu falso deus.
Com a mídia, essa fábrica de falsos deuses foi amplamente desenvolvida. Hoje, para ser deus, basta ser bom. Neymar é um deus para muitos. Madonna, Elvis, AC/DC, Iron Maiden, Johnny Depp, Angelina Jolie, a lista é longa.
Mas, por trás de toda tentativa de endeusamento, a mídia esconde uma tentativa de aconselhamento. O que a mídia quer ao criar o deus Neymar é fazer com que os fãs de Neymar sejam como Neymar, vistam-se como Neymar, tenham as opiniões de Neymar…
Se todo deus fala, e toda fala pede obediência, a mídia cria seus deuses para que ela mesma seja ouvida. Quando se vê isso naquilo que os cristãos chamam de mundo (o local onde o reino de Deus não foi implantado), não se surpreende. O problema é quando isso acontece nos pátios do Castelo Real. Quando cantores são idolatrados no Reino, surge um problema.
No meio gospel, todo mundo já sabe, há a cultura da idolatria do cantor gospel. O mesmo fenômeno acontece com alguns pastores, mas mesmo este caso é diferente daquele. Um pastor geralmente é idolatrado por prometer milagres. Um cantor é idolatrado apenas por ser quem é. Ele é cult, é admirado, tem um cabelo legal, foto pop na capa do CD, e fala piegas: isso vende. Enquanto as pessoas querem de um falso pastor um milagre financeiro, os fãs querem de um cantor apenas sua atenção.
O caso mais surpreende de endeusamento gospel é a transmutação do cantor em teólogo, filósofo. Hoje, um cantor pode falar sobre o que quiser com autoridade divina: ele nunca estudou política, mas pode falar sobre política; nunca leu sobre economia, mas pode comentar sobre o capitalismo; nunca leu sobre teologia, sociologia, filosofia, mas pode comentar sobre pós-modernidade.
Hoje um cantor tem muito mais influência teológica que um teólogo. Mea-culpa, muito disso se deu porque muitos teólogos trancam-se na academia e cortam laços com o mundo real. A época do pastor teólogo (algo tão produtivo) morreu. Sem teólogos no mundo real, os cantores tomaram a cena.
Bem verdade, todo ser humano pode comentar sobre “tudo”; sobre tudo aquilo que estudou. Não é por não ser teólogo que um cantor não possa falar sobre teologia, não possa pregar; basta ele ter se preparado para isso.
Preparar-se para isso, todavia, não me parece ser o que está acontecendo. Há inúmeros músicos que se dão de filósofos sem terem estudado. Nesse contexto, o adversário de todos nós é o capitalismo. Todo cantor gospel gosta de falar mal do capitalismo, ao se passar por bom moço que preocupa-se com os pobres. Poucos citam algum economista que leu, poucos citam algum teólogo que leu, poucos confessam terem lido Gruden, mas todos batem no capitalismo.
No fim das contas, a briga é por influência. E o importante não é precisamente se os teólogos são mais importantes que os cantores, mas se a Verdade é mais importante que a opinião. Se o estudo é mais importante que a propaganda. Se o comentarista que escreve baseado em algo é mais importante que o músico propagandeado como deus.
Às vezes parece que esses “músicos” não entendem o mal que fazem com comentários dúbios, que criam falsas ideias sobre fatores essenciais do cristianismo. É o caso de muitos cantores do nosso próprio meio. Quem lê, entenda.
Por Patrike Wauker
Fonte: Reação Adventista