Uma Breve Análise do Texto ‘As Lições dos Instrumentos do Templo’

 

O presente artigo pretende fazer uma análise breve do texto “As Lições dos Instrumentos do Templo”, produzido pela Dra. Liliane Doukhan, Ph.D. em Musicologia, e professora de História da Música e Literatura, no departamento de música da Universidade Andrews. Seu texto foi originalmente publicado na Review and Herald, de 2010, e traduzido para o português pelo Pr. Isaac M. Meira, e publicado em seu site Adoração Adventista. Foi reproduzido por outros sites, como em Adventismo Hoje e Música Sacra a Adoração, no qual a autora analisa alguns instrumentos musicais, comuns nos tempos do Antigo Testamento, usados pelos israelitas na adoração a Deus no Templo e nas festas sociais, e igualmente empregados pelos povos antigos nos seus rituais religiosos. Da sua análise extrai algumas “lições” que pressupõem o uso de instrumentos de percussão, a exemplo da bateria, no contexto da igreja. Segundo ela, a Bíblia Sagrada “não rotula um instrumento particular como bom ou mau”, e que essa é uma questão de “natureza cultural”. Para ela, “em vez de condenar o uso de um instrumento por sua associação com rituais pagãos, etc, as Escrituras indicam que tais instrumentos podem, ao contrário, ter um lugar importante na adoração a Deus. O seu significado e associações podem ser alterados e transformados. Tal procedimento é, de fato, um princípio básico do começo ao fim da Bíblia”.

Minha análise, entretanto, se restringe a alguns aspectos centrais da argumentação da autora. Nosso texto, entre outras fontes, norteia-se nas Sagradas Escrituras, nos escritos do Espírito de Profecia, e em duas importantes obras que tratam extensivamente sobre o assunto “O Cristão e a Música Rock” e “Cristãos em Busca de Êxtase” de Dr. Samuele Bacchiocchi e Pr. Vanderlei Dorneles, respectivamente.

Apesar de não ter a mesma formação da autora do texto em questão (minha formação é em História), senti-me à vontade para escrever sobre a minha compreensão do assunto, pois toda a Bíblia me ensina que o céu não é só dos doutores e PhDs da vida, mas também dos iletrados pescadores, camponeses, pastores, bem como de reis e homens doutos como Daniel, Salomão e o apóstolo Paulo!

Reconhecemos que a questão do uso da bateria na adoração no contexto da igreja é uma questão complexa ao mesmo tempo polêmica, e tem gerado discussão acalorada entre os membros da igreja em algumas partes do país. Tal questão tem levado muitos a buscarem uma posição bíblica quanto ao assunto. Todavia, penso que esta busca deve ser feita com humildade, desprovida de ideias pré-concebidas, pois caso isso não ocorra, corremos o risco de sermos enganados pelo nosso “eu”.

À semelhança da articulista, algumas pessoas, nesta busca pela verdade, chegaram a uma conclusão que pode ser descrita nos seguintes termos: O uso de instrumentos musicais é uma questão de “natureza cultural”. Portanto, se isto for verdade, não se pode proibir o uso dos tambores da bateria por sua ligação com o misticismo e paganismo, pois ao longo do tempo diferentes povos dão significados e interpretações diferentes aos mesmos instrumentos. Logo, o uso de instrumentos percussivos no culto de adoração não é apenas legítimo, mas altamente recomendável. Este artigo se propõe a ressaltar, fundamentalmente, o “outro lado”, isto é, as contradições presentes no texto da autora, sem, contudo, desconsiderar a importância das diversas informações trazidas pela doutora Doukhan relativas aos antigos instrumentos musicais mencionados na Bíblia Sagrada. Não pretendo com isso esgotar todas as considerações acerca do texto, mas apenas propor aprofundamentos das questões elencadas nele.

Antes, porém, de iniciarmos a análise da argumentação em si, é importante destacar a mensagem do Espírito de Profecia:

“É plano de Deus dar suficiente evidência do caráter divino de Sua obra para convencer a todos quantos desejam sinceramente conhecer a verdade. Mas Ele nunca remove toda a oportunidade de dúvida. Todos quantos desejam pôr em dúvida e cavilar encontrarão ensejo.” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 72).

Ellen G. White claramente ensina aqui que todos quantos buscarem na Bíblia justificativa para suas ideias, para cavilar, encontrarão. Deveras, alguns usam a história de Raabe e das parteiras de Moisés para justificar que Deus aprova uma mentira se for para o bem, outros utilizam algumas declarações de Paulo para afirmar falsamente que o sábado e a lei foram abolidos. Outros utilizam as ordens dadas por Deus a muitos dos juízes e reis de Israel para matar homens, mulheres e crianças e afirmam que Deus é um ser cruel e sanguinário. Outros usam a parábola do rico e do Lázaro para justificar que existe vida após a morte. Muitas religiões, se utilizando de diversas passagens bíblicas, até hoje praticam a poligamia. Ainda tem aqueles que usam a ordem de Deus a Pedro para matar e comer animais imundos, para afirmar que Deus permitiu o consumo desses animais. Poderia citar várias outras passagens que são utilizadas para justificar muitas das mentiras de Satanás, mas acredito que estas, para aqueles que desejam encontrar a verdade sobre o uso da bateria, já são suficientes.

1. A neutralidade dos Instrumentos

No começo do artigo é feita a afirmação de que os mesmos instrumentos musicais usados pelos israelitas no Templo, a exemplo das “harpas, liras, trombetas e címbalos” eram também empregados pelos povos pagãos antigos em seus rituais religiosos. Inclusive a harpa e a lira são apresentadas diversas vezes associadas com prostitutas, bebedeira e rebeldia, logo “a Bíblia não atribui virtudes particulares aos instrumentos, e não rotula um instrumento particular como bom ou mau”. Concordamos com a ideia de que não há instrumento algum que seja intrinsecamente bom ou mau. Os sons produzidos por quaisquer instrumentos musicais são neutros. Assim como no passado, hoje, instrumentos usados na igreja são também usados em shows e festas mundanas, a exemplo do violão, violino e piano. Um mesmo instrumento pode ser usado para produzir tanto a música pop quanto a música sacra. Todavia, isso não quer dizer que todo e qualquer instrumento musical pode indistintamente ser usado no culto de adoração a Deus. Qualquer pessoa, mesmo as que não são especializadas em música (como eu) podem distinguir entre os instrumentos que são úteis e recomendáveis para serem usados nos cultos de adoração a Jeová Deus e os que não o são. Para autorizar ou negar seu uso dentro do templo, é necessário considerar um importante princípio básico: toda música que traga à mente dos adoradores, pensamentos, sentimentos, associações de ideias ou recordações que não os elevem espiritualmente, deve ser evitada, pois se não cumpre seu objetivo, perdeu a razão de ser.

Há instrumentos que são naturalmente suaves, como o piano, o violão, o violino, o violoncelo, clarinete e outros mais, cuja utilidade é indiscutível. Outros são mais estridentes, produzem ruídos, sons agressivos e pesados como chocalhos, pratos, vários tipos de tambores (caixa, bumbo, pandeiros, bateria, entre outros). Eles não produzem harmonia tampouco melodia. Seu lugar mais apropriado é nas festas populares, e não num recinto sagrado como a igreja. É difícil imaginar que o som deles evoque ideias elevadas ou espirituais. Afora isso, pesquisas apontam que nas pessoas que ficam expostas a explosão de barulho produzida por esses instrumentos de percussão “aumentam os níveis dos hormônios do estresse nos ouvintes” (Hélio dos Santos Pothin, A Música que Agrada a Deus. Acesso em 11 março, 2018).

De acordo com o Dr. Wolfang Hans Martin Stefani, especialista em música sacra, “há razões pelas quais determinados instrumentos são mais apropriados para certos propósitos. A bateria foi desenvolvida para produzir um som agressivo, fortemente rítmico, a fim de ser cultivado na música popular. Mas, pela mesma razão que as pessoas normalmente não querem órgãos de tubos em bandas de rock, uma bateria não é apropriada para a igreja, especialmente quando sentimentos como reverência e contemplação estão em jogo. O som percussivo “pesado”, produzido por esses instrumentos, não se harmonizam com o tipo de música que deveria ser enfatizado na adoração de Jeová (ver Isaías 6:1-8), onde reverência, paz alegria, arrependimento e compromisso formam a essência das emoções apropriadas” (“Música Moralmente Neutra?” – Revista Adventista, março de 2003, p. 5-7).

É sabido por todos que a bateria acentua o ritmo e o compasso da música, e música ritmada apela para o físico. Ela tem a propriedade de levar o adorador a mexer o corpo, a cabeça, os ombros, os pés. A música de nosso louvor ao Pai celestial deve apelar ao espírito e não à carne, porque o nosso Deus é Espírito (Jo 4:23, 24). Cremos que esta música não precisa ser fúnebre, como exorta Ellen G. White: “Não firais uma nota dolorosa; não canteis hinos fúnebres” (Carta 311, 1905). Diz mais: “Os que fazem do cântico uma parte do culto divino, devem escolher hinos com música apropriada para a ocasião, não notas de funeral, porém melodias alegres e, todavia, solenes” (Evangelismo, p. 508). Indubitavelmente, a música de adoração a Deus pode sim, ser alegre e vibrante, mas há que se evitar o apelo físico decorrente da música ritmada pelos instrumentos de percussão.

Segundo Hélio dos Santos Pothin, doutor em Fisiologia Humana pela UFRGS e Professor de Fisiologia Humana na Universidade Federal de Santa Maria/RS, “quando o som da música com ritmo repetitivo e acentuado (marcado), metro enfatizado, alcança nosso sistema auditivo é transformado em impulsos nervosos os quais são enviados a várias partes do organismo. Assim como o som musical, os movimentos do corpo desdobram-se através do tempo e então as sensações musculares são um meio apropriado para representar padrões rítmicos. Além de estimular os músculos a produzir movimentos físicos, as descargas de impulsos nervosos produzidas por ritmos que marcam ou acentuam os tempos fracos e os contratempos (sincopado) estimulam, também, vários centros nervosos no Tronco Cerebral como o Lócus Cerúleus, responsável pela liberação do neurotransmissor Noradrenalina e os Núcleos da Rafe, que liberam Serotonina. (Hélio dos Santos Pothin, A Música que Agrada a Deus. Acesso em 11 março, 2018).

Uma vez que a acentuação rítmica decorrente das batidas da bateria afeta o corpo estimulando a liberação dos hormônios do estresse, levando-o a movimentos físicos, comprovado por estudos científicos, o mais prudente é não utilizá-la na Casa de Deus. Para um estudo mais pormenorizado a respeito dos efeitos dos sons dos instrumentos de percussão no organismo veja o artigo “O Poder da Música sobre o Cérebro”

A questão da flauta: foi ela excluída no louvor do Templo e depois aceita?

Outra alegação intrigante da articulista é que “instrumentos que em algum tempo não foram aceitos encontraram seu lugar no Templo em tempos posteriores (mas em circunstâncias levemente diferentes), como foi o caso das flautas”. Ela refere-se a “agav”, um tipo de flauta pequena que produzia um som doce, suave. Esta diferenciava-se da “chalil”, outro termo hebraico para se referir a “uma grande flauta com um bocal que produzia um som agudo e penetrante”. Com base numa fonte extrabíblica como a Mishnah (livro básico da vida e do pensamento judaicos, e é tradicionalmente considerada parte integrante da Torá revelado a Moisés no Monte Sinai), afirma que a “agav” (flauta pequena) foi admitida posteriormente no segundo Templo, pois ela aparece na lista da Mishnah. Tal narrativa foi construída para nitidamente, em seguida, sustentar a tese de que “o problema parece ser mais de natureza cultural, a saber, convenções particulares num dado tempo e espaço”. Aqui a autora também segue uma trilha errada e perigosa, porquanto tal argumento comunica o pensamento do Relativismo e do Pós-modernismo, cuja ideia básica é de que não existe verdade absoluta, logo não há padrão para julgar se algo é certo ou errado, depende da cultura de cada povo. O argumento da “cultura de cada povo” como critério para aceitar ou rejeitar instrumentos musicais não se sustenta. Senão, vejamos:

A ausência da flauta na lista de instrumentos músicos do Templo, ainda que fosse um instrumento de sopro, melodioso e produzisse sons suaves, é fato. É bíblico. Agora, sua suposta admissão tempos depois no Segundo Templo carece de comprovação bíblica. Não há textos bíblicos que revelem que esse instrumento tenha sido usado no “Segundo Templo”, o Templo de Zorobabel, que foi construído num “período de quatro anos e meio, de 520 a 515 a.C.” (Dicionário Bíblico Adventista, p. 1306). Segundo a Bíblia, os únicos instrumentos utilizados nesse Templo eram os mesmos ordenados por Deus a Davi, quais sejam: “o címbalo, alaúdes e harpas” (2 Cr 29:25). Além desses, aparecem somente as trombetas (2 Cr 5:12-13; 29:27). “O chalil era um instrumento de alegria, mas, ao que parece, não era usado na música no Templo” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 517). O Dr. Samuele Bacchiocchi afirma que “não há nada de moralmente errado com o uso de instrumentos como os tamboris ou as flautas. A razão pela qual eles foram excluídos da orquestra do Templo é simplesmente porque eram usados comumente para o entretenimento” (O Cristão e a Música Rock, p. 178).

Ele explica ainda que “a música era rigidamente controlada na adoração do Templo para assegurar que estaria em harmonia com a santidade do lugar. Assim como o sábado é um Dia Santo, da mesma forma o Templo era um Lugar Santo onde Deus manifestava a Sua presença “entre o povo de Israel” (Êxodo 25:8; cf. 29:45). O respeito para com o Dia Santo de Deus e o Lugar Santo de adoração, exigia que nenhuma música ou instrumentos associados com a vida secular fossem usados no Templo” (Idem, p. 179).

Mas, ainda que seja verdade que a “agav” (flauta) tenha sido introduzida na música tempos depois no “Segundo Templo”, ela é um instrumento de sopro e não de percussão, e como já demonstrado acima, ela só foi excluída por conta de sua associação com ritos sensuais das prostitutas. Contudo, não se pode dizer o mesmo dos tambores. Permanece a verdade de que, com exceção dos címbalos, instrumentos de percussão como tambores, tamboris e pandeiros nunca foram usados na adoração a Deus no Templo (II Cr 29:25, 26), na sinagoga, e na igreja apostólica, e que os instrumentos de percussão continuam sendo inapropriados na adoração a Deus na igreja atual. Essa tese é sustentada por várias expressões teológicas adventistas, teólogos, pastores, músicos de renome e líderes da Igreja. A exemplo do Dr. Samuele Bacchochi, Pastor Vanderlei Dorneles, Mestre em Teologia e Comunicação pelo UNASP, escreveu “Cristãos em Busca do Êxtase”; Eurydice Osterman, eminente compositora e professora de música na Universidade de Oakwood em Huntsville, Alabama EUA; o Dr. Ozeas C. Moura, o Dr. Wolfang Hans Martin Stefani, Ph.D. Este é professor, pastor e especialista na área da música sacra. Dentre as muitas funções de seu ministério, atuou como diretor de música, organista, pianista e regente de corais em várias Igrejas dos EUA, Inglaterra e Austrália. Nunca é demais dizer que, poucas pessoas podem falar com tanta autoridade e equilíbrio sobre música como ele.

Nessa linha de raciocínio, o Pr. Vanderlei Dorneles afirma: “Davi quis fazer uma casa para Deus, mas não lhe foi permitido. O rei era músico e Deus lhe deu orientações para que tomasse todas as providências para o Templo, que Salomão, seu filho edificaria. Entre essas orientações, Deus determinou os instrumentos que deveria ser usados no Templo, que foram “címbalo, alaúdes e harpas”. Em 2 Cr 29:25 é dito que os levitas foram estabelecidos “na Casa do Senhor com címbalos, alaúdes e harpas (…) porque este mandado veio do senhor, por intermédio dos seus profetas”. Davi fez os instrumentos para serem usados pelos levitas. É significativo como esses instrumentos foram são designados em 2 Crônicas 7:6 de “os instrumentos músicos do senhor, que o rei Davi tinha feito para deles se utilizar nas ações de graças ao Senhor”. O artigo plural definido “os” indica um grupo específico de instrumentos, que são qualificados como “do Senhor”. A lista desses instrumentos aparece em diversas ocasiões, sempre sem inclusão do tambor ou adufe (ver também I Cr 16:5; 25:1, 6; 2 Cr 5:12, 13). Na purificação do templo, empreendida por Ezequias, os levitas músicos são colocados em sua função com os mesmos instrumentos feitos por Davi. Na cerimônia, a música destes instrumentos é outra vez chamada de “cântico ao Senhor” (2 Cr 29:27). Os únicos instrumentos que aparecem nas listas dos usados no templo, além dos que foram confeccionados por Deus, são as trombetas (2 Cr 5:12-13; 29:27)” (Cristãos em Busca do Êxtase, p. 192, 193).

Como se vê, o problema com os instrumentos não é uma mera questão cultural (como quer a articulista), em que um povo numa determinada época e lugar não aceita um determinado instrumento, ao passo que outro ou o mesmo povo, tempos depois aceita esse mesmo instrumento, ressignificando-o ou dando uma nova interpretação a esse instrumento, mas é uma questão teológica.

Dizer que as possibilidades de alterações e transformações dos significados dos instrumentos musicais em diferentes épocas e lugares representam “um princípio básico do começo ao fim da Bíblia” constitui-se num equívoco. Carece de comprovação bíblica. Esta não era a lição que Deus quis ensinar. Se o uso dos instrumentos musicais na adoração a Deus é uma questão cultural, perguntamos: Por que as gerações futuras dos israelitas, posteriores ao Templo de Salamão, não introduziram os tambores e pandeiros no Segundo Templo? Se o critério da cultura fosse um princípio bíblico, como sugere a Dra. Liliane Doukhan, os tambores, pandeiros e outros instrumentos percussivos teriam sido introduzidos no louvor do Segundo Templo construído após o exílio babilônico. Toda evidência aponta que durante o Antigo Testamento os tambores permaneceram excluídos no louvor levítico. A Bíblia não menciona o uso dos tambores no Segundo Templo. As orientações de Deus quanto a música e a instrumentação no Templo permaneceram como padrão ao longo dos séculos. A lição que as Sagradas Escrituras querem nos ensinar com esse fato não é que temos que usar necessariamente apenas os instrumentos usados no Santuário do Antigo Testamento na igreja atual, mas que instrumentos que produzem somente ruídos e batidas, fortemente ligados ao misticismo e as mais degradantes formas de entretenimento musical na nossa própria cultura deveriam ser banidos da igreja atual.

As orientações de Deus dadas a Davi no passado no tocante a instrumentação constituem-se num princípio no sentido de que, as músicas e os instrumentos que usamos no louvor e adoração ao Senhor Deus hoje, devem ser diferentes das músicas de entretenimentos usadas nas festas seculares. Elas precisam necessariamente produzir frutos de reverência e humildade nos adoradores (Is 6:1-8), bem como inspirar santidade, porque Deus é santo (Lv 19:2). Ocorre que, o som “pesado” produzido pelos instrumentos de percussão, notadamente da bateria, não se harmonizam com esse tipo de música que deve ser enfatizada na adoração ao Senhor Jeová. Logo, esse princípio estabelecido por Deus no passado deve nortear a escolha não somente do estilo de música, mas também dos instrumentos para acompanhá-las. Tal princípio não pressupõe a proibição do uso de instrumentos modernos no culto na igreja, mas a escolha deles deve submeter-se ao aludido princípio.

Segundo Bacchiocchi, “a restrição no uso desses instrumentos deveria ser uma regra válida para as futuras gerações. Quando o rei Ezequias reavivou a adoração do Templo em 715 a. C., ele seguiu meticulosamente as instruções dadas por Davi. Nós lemos que o rei ‘estabeleceu os levitas na Casa do Senhor com címbalos, alúdes e harpas, segundo mandado de Davi… porque este mandado veio do Senhor, por intermédio de seus profetas’. (II Crônicas 29:25). Dois séculos e meio mais tarde quando o Templo foi reconstruído sob a liderança de Esdras e Neemias, a mesma restrição foi aplicada novamente. Nenhum instrumento de percussão foi permitido para acompanhar o coro levítico ou tocar como uma orquestra no Templo (Esdras 3:10; Neemias 12:27, 36). Isto confirma que a regra era clara e válida por muitos séculos. O canto e a música instrumental no templo deveriam diferir daquela usada na vida social do povo” (O Cristão e a Música Rock, p. 208). Portanto, o assunto da instrumentação musical é uma questão de natureza teológica, pois foi o próprio Deus quem deu instruções nítidas a respeito da instrumentação e do louvor, excluindo, inclusive, os instrumentos de percussão da adoração no Templo.

Vale ressaltar que o címbalo foi o único instrumento de percussão permitido no Templo (I Cr 16:5). Entretanto, eles não eram utilizados para dar ritmo a música (como se faz com a bateria que acompanha a música acentuando o ritmo), mas como instrumento de sinalização, para indicar o começo do cântico, o fim de uma linha e não o ritmo dentro de um verso. (Samuele Bacchiocchi, O Cristão e a Música Rock, 206).

3. Os Tambores nos Salmos 149 e 150

Na inglória tentativa de dar uma fundamentação bíblica a sua inconsistente ideia de que o critério da cultura é “um princípio básico do começo ao fim da Bíblia”, cita na nota de referência os Salmos 149 e 150, nos quais se mencionam o “adulfe” (tamborins), nos versos 3 e 4 dos referidos capítulos, respectivamente. Todavia, a Dra. Liliane Doukhan ignora fundamentalmente três fatos importantes:

a) A linguagem poética dos Salmos. É sabido por todos os leitores da Bíblia que esse livro foi escrito em linguagem poética, usando muitas expressões figurativas para salientar a importância do louvor ao Senhor Deus Jeová. Não se pode fazer aplicações literais desses textos sacros. É preciso interpretá-los dentro da própria linguagem poética. Por exemplo, no verso 5-9 do salmo 149 encontramos uma expressões difíceis de serem colocadas em prática: “Exultem de glória os santos, cantem de alegria nos seus leitos. Estejam na sua garganta os altos louvores de Deus, e na sua mão espada de dois gumes, para exercerem vingança sobre as nações, e castigos sobre os povos; para prenderem os seus reis com cadeias, e os seus nobres com grilhões de ferro; para executarem neles o juízo escrito; esta honra será para todos os santos. Louvai ao Senhor!” Se interpretarmos estes versos de forma literal, então, chegaremos a conclusão bizarra de que a música sacra deveria ser apresentada nas camas, com os músicos portando “espadas de dois gumes”. Já o Salmo 150:1 recomenda louvar ao Senhor no “firmamento, obra do Seu poder”. O que o salmista queria ensinar com essa recomendação, que precisamos está nas alturas, no firmamento para louvar ao Senhor? Se ao usar o termo “firmamento” ele estava pensando no céu atmosférico, era impossível executar essa recomendação, uma vez que no seu tempo não havia transportes aéreos. Se ele tinha em mente o Céu morada de Deus, executar essa tarefa era igualmente impossível, porque o Céu é um lugar que só os anjos têm acesso e de onde podem louvar o Criador.

b) O Salmo 149 e 150 foram escritos antes da instruções de Deus Sobre a Música na Adoração. As evidências indicam que os Salmos 149 e 150 foram escritos justamente num período em que Deus ainda não tinha dado orientações nítidas a respeito do louvor e adoração na casa de Deus. Segundo Pr. Gilberto Theiss, este amadurecimento cúltico ocorreria primeiramente no transporte da arca para Jerusalém e depois, de forma plena, quando foram feitos os preparativos para o serviço levítico do templo a ser construído por Salomão” (Danças e Tambores no Salmo 150. Acesso em 09 março, 2018).

c) O objetivo dos Salmos. A finalidade desses salmos não é tratar dos instrumentos a serem usados na adoração no Templo. Não obstante o adufe ser citado o autor não assevera que o mesmo devesse ser usado no Santuário. O objetivo do Salmo é enfatizar o que está escrito no último verso do salmo 150: “Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor”. Em outras palavras, o autor do texto queria ensinar que tudo e todos devem louvar o Criador.

A pergunta de capital importância é: Quais as possíveis razões que levaram Deus restringir o uso dos instrumentos de percussão?

O teólogo adventista, de alto coturno, Vanderlei Dorneles, acredita que “a exclusão do tambor no Templo pode indicar que Deus não quis o instrumento na música de adoração por causa de sua relação direta com o misticismo e por sua influência no sentido de excitar as danças e embotar a consciência e o juízo. O ritmo do tambor que inclinava as pessoas à dança deveria estar fora do culto que requer a lucidez da mente para a compreensão da vontade de Deus. Além disso, uma vez que o templo era uma representação do trono de Deus, a música a ser usada ali deveria distinguir-se daquela usada nas celebrações profanas” (Idem, p. 193).

Segundo o Dr. Samuele Bacchiocchi importantes lições podem ser aprendidas “a partir da música e da liturgia do Templo de Jerusalém, assim como do Santuário Celestial. Primeiro, a música na igreja deveria respeitar e refletir a santidade do lugar de adoração. Isto significa que instrumentos de percussão e música de entretenimento, que estimulam as pessoas fisicamente, estão fora de seu lugar no culto da igreja. Por respeito à presença de Deus, tal música não foi permitida nos serviços do Templo, nem é usada na liturgia do Santuário Celestial. O mesmo respeito deveria ser encontrado nos cultos da igreja hoje. (…) Segundo, tanto a música do Templo terrestre quanto a do Templo celestial nos ensinam que os acompanhamentos instrumentais devem ser usados para ajudar a resposta vocal para Deus e não para sufocar o cântico. Em Apocalipse, é o conjunto instrumental das harpas que acompanha o cântico dos coros, porque o som da harpa combina-se bem com a voz humana, sem suplantá-la. Isto significa que música rock alta, rítmica, que encobre o som da letra, é imprópria para adoração na igreja. (…) Por fim, a música na igreja deveria ser reverente, afinada com a natureza sagrada da adoração. (…) Deus é santo e nós O adoramos com profundo respeito, temor e afeição. Tanto no Templo de Jerusalém quanto no santuário celestial Deus é adorado com grande reverência e respeito. A mesma atitude deveria ser manifestada em nossa adoração hoje, porque Deus não muda. (O Cristão e a Música Rock, p. 179, 180).

Já o doutor em música e pastor Wolfgang Hans Martin Stefani, considera que, “o ritmo, produzido mais propriamente pelo tambor, é a característica mais eminente e essencial da música africana, já amplamente relacionada com as experiências de transe e possessão.” (Citado em “Os Cristãos em Busca do Êxtase”, p. 193).

A eminente Professora de música, norte-americana, Eurydice Osterman, também escreveu que uma possível explicação para não usar bateria pode ser que, por sua natureza, não é um instrumento melódico. Em toda a Bíblia, há numerosas referências para cantar e fazer ‘melodia’ com a voz e com instrumentos. Como a bateria não é capaz de fazer ‘melodia’, as Sagradas Escrituras não a apresentam como sendo usada no Santuário. (O Que Deus Diz Sobre a Música, p. 80-90).

4. Os tambores e as mulheres

A articulista argumenta que os tambores não encontraram lugar na adoração do Templo provavelmente por conta de sua associação com as práticas pagãs, por que as “mulheres não eram parte do arranjo litúrgico nas cerimônias do Templo, e porque ele era um instrumento intimamente associado com dança, que não era parte das práticas de adoração do Templo.” Nas entrelinhas quer afirmar que a razão da exclusão dos tambores no Templo foi cultural. Antes, a exclusão dos instrumentos de percussão no louvor levítico foi motivado por razão teológica. Eles foram excluídos porque a música produzida pelas mulheres com esses instrumentos “não era apropriada para o serviço de adoração, por causa da sua associação com o entretenimento secular e, às vezes, sensual” (O Cristão e a Música Rock, p. 229) E isso é, indubitavelmente, um motivo teológico. Argumenta ainda que “se as flautas não foram aceitas nos arranjos litúrgicos no período do Templo, não deve haver lugar para o órgão em nossas igrejas hoje, pois órgãos são uma série de “flautas” (incidentalmente, a palavra hebraica moderna para órgão é a mesma usada para a doce flauta, “ugav”)”. Para responder a essas argumentações citamos mais uma vez o renomado teólogo adventista Dr. Samuele, o qual observa com muita propriedade:

Alguns estudiosos argumentam que instrumentos como tambores, tamboril (que era um pandeiro), flautas, e o dúlcimer, foram banidos do Templo, porque estavam associados à adoração e a cultura pagã, ou porque eles eram tocados, costumeiramente, por mulheres, para o entretenimento. Este bem poderia ser o caso, mas isso apenas mostra que havia uma distinção entre a música sacra, tocada dentro do Templo e a música secular tocada do lado de fora. Uma restrição foi colocada aos instrumentos musicais e às expressões artísticas usadas na Casa de Deus. Deus proibiu vários instrumentos, os quais eram permitidos fora do templo nas festividades nacionais e no prazer social. A razão não é que certos instrumentos de percussão fossem maus per se. Os sons produzidos por quaisquer instrumentos musicais são neutros, como uma letra do alfabeto. Em vez disso, a razão é que estes instrumentos eram comumente usados para produzir música de entretenimento, a qual era imprópria para a adoração na Casa de Deus (…).

Que lições podemos aprender da música do Templo? A ausência de instrumentos musicais de percussão e de grupos de dança na música do Templo indicam, como notado anteriormente, que uma distinção deve ser feita entre a música secular usada para o entretenimento social e a música sacra empregada no culto de adoração na Casa de Deus.

Nenhum “Grupo de Rock Judeu” estava no Templo para entreter as pessoas com uma música rítmica alta, porque o Templo era um lugar de adoração e não um clube social para diversão. Instrumentos de percussão como tambores, pandeiros, tamborins ou “tabrets” que geralmente eram usados na música de entretenimento, estavam ausentes na música do templo. Apenas os címbalos eram usados, mas de um modo limitado. Eles marcavam o fim de uma estrofe e a interrupção do cântico.

A lição para nós hoje é evidente. A música na igreja deveria diferir da música secular, porque a igreja, como o antigo Templo, é a Casa de Deus na qual nos reunimos para adorar ao Senhor e não para sermos entretidos. Percussão instrumental, que estimula fisicamente as pessoas com uma batida alta e constante, é tão imprópria para a música na igreja de hoje quanto foi para a música do Templo no antigo Israel. Uma segunda lição é que os instrumentos musicais usados para acompanhar o coro ou o cântico congregacional não deveriam encobrir as vozes.

Assim como os instrumentos de cordas usados no Templo, os instrumentos musicais usados na igreja hoje deveriam apoiar o canto. Os instrumentos musicais deveriam servir como uma “ferramenta de suporte” à Palavra de Deus que é cantada e proclamada. Isto significa, por exemplo, que a música do órgão não deveria ser tão alta a ponto de sobrepujar as vozes da congregação. Em várias ocasiões estive em igrejas equipadas com poderosos órgãos eletrônicos, que eram tocados tão alto que a voz da congregação não podia ser ouvida.

O princípio bíblico indica que a função do órgão é apoiar o canto da congregação; não encobri-lo. Este princípio não se aplica apenas a música do órgão, mas a qualquer outro instrumento, ou a uma orquestra que acompanhe um coral ou uma congregação cantando. Alguns argumentam que se seguíssemos o exemplo do Templo, precisaríamos eliminar da igreja instrumentos como o piano e o órgão, porque eles não são instrumentos de cordas. Tal argumento ignora a distinção entre um princípio bíblico e sua aplicação cultural. O princípio bíblico é que a música instrumental que acompanha o canto, deveria ajudar na resposta vocal a Deus e não encobrir as vozes. Nos tempos bíblicos, isto foi conseguido de forma melhor pelo uso de instrumentos de cordas. Note que as trombetas e os címbalos eram usados no templo, mas não acompanhavam o coro levítico. Não havia nada de errado com estes instrumentos. Eles simplesmente não eram vistos como apropriados para acompanhar o canto, presumivelmente porque eles não se mesclavam bem com a voz humana, além de suplantá-la.

Outro ponto é que instrumentos como o órgão ou o piano eram desconhecidos naqueles tempos. Se fôssemos excluir de nossa vida hoje tudo aquilo que a Bíblia não menciona explicitamente, não deveríamos comer pizza, torta de maçã, ou sorvete.

O princípio bíblico importante é que a música na Casa de Deus, tanto instrumental quanto vocal, tem que respeitar e refletir a santidade do lugar de adoração. Quando são usados instrumentos para acompanhar o canto, eles deveriam apoiar a voz humana sem sobrepujá-la. (Samuele Bacchiocchi, O Cristão e a Música Rock, p. 207-209).

Diz a articulista que “se hoje alguém argumentar que os tambores devem ser excluídos da igreja com base nas práticas bíblicas do Templo, deveria também excluir as mulheres de nossos serviços de culto”. Salta aos olhos que tal comparação é errônea, simplista e superficial. Para o leitor atento esse raciocínio é claramente um absurdo, por vários motivos. Primeiro, porque essa associação entre tambores e danças é uma questão fisiológica, por motivos sensoriais e hormonais, e não cultural, conforme já vimos acima; Além disso, sua inclusão nos cultos de adoração é uma questão teológica, e não cultural, conforme também já verificamos. E mais, mesmo que essa fosse uma questão cultural, a nossa cultura não faz essa associação específica entre tambores e mulheres. Se houvesse essa vinculação dos tambores com as mulheres, talvez se justificasse a exclusão das mulheres do louvor na igreja hoje; porém, não este é o caso. Portanto, a sugestão da doutora é completamente descabida. Na verdade, acredito que seja apenas uma “frase de efeito”, para causar nos leitores menos avisados um sentimento de empatia para com a sua tentativa de defesa teológica ao uso dos tambores na igreja. As Sagradas Escrituras afirmam: “Todo ser que respira louve ao Senhor.” (Sl 150:6). Logo, adorar ao amado Criador é privilégio de toda criação. Ninguém deve ser excluído do culto a Deus. Portanto, o raciocínio da doutora é descabido. E este sentido é confirmado pelo autorizado teólogo adventista Samuele Bacchiocchi que:

A lição da Bíblia e da história não é que as mulheres devam ser excluídas do serviço de música da igreja de hoje. Louvar o Senhor com música não é uma prerrogativa masculina, mas um privilégio de cada filho de Deus. É uma infelicidade que a música produzida pelas mulheres em tempos bíblicos tenha sido principalmente para o entretenimento e, por conseguinte, inadequada para a adoração divina.

A lição que a igreja precisa aprender da Bíblia e da história é que a música secular associada ao entretenimento está fora de lugar na Casa de Deus. Aqueles que estão ativamente envolvidos em estimular a adoção da música popular na igreja precisam compreender a distinção bíblica entre música secular usada para o entretenimento e a música sacra apropriada para a adoração a Deus. Esta distinção era compreendida e respeitada em tempos bíblicos, e deve ser respeitada hoje, se quisermos que a igreja continue sendo um local sagrado para a adoração a Deus, em vez de se tornar num local secular para o entretenimento social. (O Cristão e a Música Rock, p. 229).

5. O Problema da Bateria é o modo como ela é tocada?

Outro argumento utilizado pela autora para justificar o uso da bateria no contexto da igreja, é que no tocante a este instrumento “tudo se resume ao contexto cujo instrumento é usado e ao modo como tal instrumento é usado e ao modo como tal instrumento é tocado”. Em outras palavras, ela sustenta que o problema não é a bateria, mas o modo como a utilizamos. Este é o mesmo argumento que muitos na igreja utilizam para justificar o uso da bateria. Dizem que o problema é a falta de moderação no uso desse instrumento. Isso é deixar-se levar pala corrente das “portas abertas” que permite o uso de instrumentos impróprios nos serviços religiosos.

Considerando que os tambores, presentes na bateria moderna, por orientações divinas, foram proibidos na música sacra do templo, em função da sua associação com o culto pagão e continua até hoje; considerando que a bateria está associada a música rock, estilo musical que contraria os valores cristãos; considerando que a bateria foi feita para produzir sons pesados e estridentes, que afeta o organismo humano produzindo substância do estresse, diríamos que há problemas com o instrumento, e que ele não está de acordo com a vontade de Deus.

O canadense Karl Tsatalbasidis era um baterista de banda Jazz. Hoje, ele não toca mais esse instrumento, pois converteu-se ao adventismo. Ele conhece como poucos esse instrumento. Note o que ele afirmou a respeito da bateria: “A bateria foi inventada para o único propósito de fortalecer a música jazz, blues, rhythm and blues e todas as variedades de rock-n-roll. Por isso, não pode ser separada da origem da música rock e jazz. Nenhuma música pode incorporar a bateria sem, automaticamente, transformar-se em rock, jazz ou seus híbridos” (Drums, Rock and Worship – Modern Music in Today’s Church, Amazing Facts, Roseville, CA, USA, 2003. Citado no Artigo “A Música que Agrada a Deus”, do Dr Hélio dos Santos Pothin).

Não se pode passar por alto o fato de que a bateria é um instrumento não melódico, isto é, não produz melodia tampouco harmonia. Ela só serve para dar ritmo, produzir som agressivo, que causa forte resposta física e emocional, provado cientificamente. É importante ler o que a ciência diz a respeito dos efeitos no corpo quando ficamos expostos à música com ritmo acentuado e ao ruído produzido por instrumentos que não emitem sons. É isso que Deus quer do seu povo, que o adorem com músicas barulhentas e ritmadas pela bateria? De acordo com as Sagradas Escrituras, o culto que Deus quer é um culto “racional” (Rm 12:1, 2).

O Espírito de Profecia nos orienta acerca do tipo de músicas que devemos utilizar em nossa adoração a Deus:

Que haja cântico no lar, de hinos que sejam suaves e puros, e haverá menos palavras de censura e mais de animação, esperança e alegria. (Ellen G. White, Educação, pág. 167).

Pensam alguns que, quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem; barulho, porém, não é música. O bom canto é como a melodia dos pássaros – dominado e melodioso. (Evangelismo, pág. 510).

E quanto mais perto o povo de Deus puder aproximar-se do canto correto, harmonioso, tanto mais é Ele glorificado, a igreja beneficiada, e os incrédulos favoravelmente impressionados.(Testemunhos Seletos, Vol. 1, pág. 45).

De acordo com o Espírito de Profecia, os cânticos de louvor a Deus devem ser “suaves e puros”, “não barulhenta”, “melodiosa e dominada”, coisas que a bateria não produz.

É importante ressaltar que, em setembro de 1900, no estado de Indiana, nos Estados Unidos, Ellen G. White condenou veementemente os elementos de uma falsa adoração, entre eles está o tambor, revelando, desse modo, sua harmonia com as Sagradas Escrituras no tocante ao uso desse instrumento. Este movimento era denominado ‘carne santa’, onde as pessoas criam que depois de cantarem, dançarem e orarem receberiam um corpo santo e assim estariam prontas para a trasladação para o céu. Ela assim profetizou:

As coisas que descrevestes como tendo lugar em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ter lugar imediatamente antes da terminação da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se pode confiar neles quanto a decisões retas. E isto será chamado operação do Espírito Santo.

O Espírito Santo nunca Se revela por tais métodos, em tal balbúrdia de ruídos. Isto é uma invenção de Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo. É melhor nunca ter o culto do Senhor misturado com música do que usar instrumentos musicais para fazer a obra que, foi-me apresentada em janeiro último, seria introduzida em nossas reuniões campais. A verdade para este tempo não necessita nada dessa espécie em sua obra de converter almas. Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma benção. As forças das instrumentalidades satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para se ter um carnaval, e isto será chamado de operação do Espírito Santo.

Nenhuma animação deve ser dada a tal espécie de culto. A mesma espécie de influência se introduziu depois da passagem do tempo em 1844. Fizeram-se as mesmas espécies de representações. Os homens ficaram excitados e eram trabalhados por um que pensavam ser o poder de Deus (grifo nosso) (Mensagens Escolhidas, vol. 2 p. 36 e 37).

Alguns pessoas argumentam que Ellen G. White condenou a natureza do movimento e a maneira como os instrumentos eram usados nas reuniões de Indiana. Contudo, os fatos revelam que, além de condenar o falso movimento, ela condenou o instrumento em si. O comentário do Pr. Gilberto Theiss esclarece perfeitamente essa questão:

É muito curioso atentar para o fato que no momento do louvor e adoração, havia muitos instrumentos sendo usados como “um órgão, um contrabaixo, três violinos, duas flautas, três tamborins, três trompas e um grande tambor”, conforme testemunhado por alguns e descrito no livro “Música, sua Influência na Vida do Cristão, págs. 36 a 38.

A pergunta que surge é, se havia muitos instrumentos fazendo parte do louvor naquele momento, porque Ellen White citou apenas os tambores em suas observações de coisas estranhas que ocorreram naquele louvor?”

Ela não citou mais nenhum outro, apenas os tambores. É evidente que havia algo de errado com tal instrumento, pois se o problema fosse com a maneira de se usar todos os demais instrumentos, com certeza ela não colocaria apenas este em suas considerações. Veja:

“O que você descreveu como tendo acontecido em Indiana, o Senhor revelou-me que haveria de ocorrer imediatamente antes da terminação da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança”. ME, pág. 36 e Música, sua Influência na Vida do Cristão, pág. 38 e 39″.

Perceba que ela associou os tambores a coisas estranhas em Indiana e que tal estranheza teria lugar novamente antes da terminação do tempo da graça em nosso meio. Pois assim afirmou a mensageira do Senhor, que: “Seria introduzida em nossas reuniões”. ME, vol. 2, p. 36

Portando a revelação recebida a respeito do ocorrido em Indiana deixa evidente que por alguma razão tal instrumento não deveria fazer parte da adoração a Deus. (…).

Ellen White ainda comentando a respeito diz que “Os que participam do suposto reavivamento recebem impressões que os levam ao sabor do vento…Nenhuma animação deve ser dada a tal espécie de culto.” ME, vol. 2, p. 37

Recebeu também orientações precisas de Deus para compreender que “O Espírito Santo nunca se revela por tais métodos, em tal balbúrdia de ruído. Isso é uma invenção de satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo”. ME, vol. 2, p. 36

Sobre tal tipo de música com tambores Ellen White escreveu que “Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se poderá confiar neles quanto a decisões retas. E isso será chamado de operação do Espírito Santo”. ME, Pág. 36 e 37″ (Música e o Grande Conflito: A Música e a Percussão à Luz da Bíblia, p. 45 e 46).

Não poderia ser mais claro o fato que Ellen White reprovou não somente o modo como os instrumentos eram tocados na Campal de Indiana, mas os tambores em si. Logo, da perspectiva do Espírito de Profecia, os tambores usados na bateria moderna constituem-se em instrumentos inadequado a adoração a Jeová Deus. Será benéfico a nossa vida espiritual se levarmos em conta essa séria advertência da Mensageira do Senhor.

Mas, ainda assim alguém pode dizer: “Nessa passagem Ellen White não diz explicitamente que não se pode usar bateria na igreja”. Ela não poderia condenar a bateria porque esse instrumento não existia em sua época. Todavia, em sua profecia, ela coloca os tambores (instrumentos que fazem parte da bateria moderna) num contexto negativo, entre coisas estranhas que deveriam ocorrer na igreja nos últimos dias. A Pena Inspirada diz: “imediatamente antes da terminação da graça (…) Haverá gritos com tambores, música e dança (…) “Isso é uma invenção de Satanás (…) E melhor nunca ter o culto do SENHOR misturado com música do que usar instrumentos músicos para fazer a obra que, foi-me apresentado em janeiro último, seria introduzida em nossas reuniões (…) As forças dos agentes satânicos misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é chamado de operação do ESPÍRITO SANTO (…)” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 36-39).

Do mesmo modo que Ellen G. White não afirmou explicitamente que os tambores são inadequados na adoração a Deus, ela também não disse explicitamente que não se pode fumar dentro da igreja ou entrar lá com um copo de bebida alcoólica na mão ou ainda vestidos em trajes de banho… Diz um velho e conhecido ditado popular: “Para bom entendedor, meia palavra basta”.

Ademais, quando olhamos o cenário musical da Igreja Adventista hoje, notamos claramente que muitos cantores e músicos usam a bateria para produzir e tocar músicas contrárias aos princípios bíblicos, a exemplo das músicas pop gospel e rock gospel. O tempo passa e as músicas estão cada vez mais pesadas e fortes. Observamos com tristeza que as músicas que estão sendo introduzidas na Igreja estão cada vez mais “gosperizada”, barulhenta e cheias de batidas. O que vemos são CD,s jovens e shows de cantores da igreja tocando e cantando música rock com letras religiosas. Nesses shows, os jovens vão ao delírio, movidos pelas vibrações das batidas da bateria. Possivelmente, esse seja o motivo porque eles não gostam das belas, históricas e inspiradoras músicas do hinário da igreja. Verdade é que, o apelo à moderação no uso da bateria é um pedido para que nós nos adaptemos ao mundo para conquistarmos os jovens. “A conformidade aos costumes mundanos converte a igreja ao mundo; jamais converte o mundo a Cristo”, adverte-nos a Mensageira do Senhor (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 509). Uma vez que a bateria está instrisicamente associada ao rock e é capaz de produzir essas reações emocionais nos jovens, ela deveria ser banida da igreja e de todos os eventos da igreja para os jovens.

Conclusão

Pelo exposto acima podemos chegar à conclusão de que a exclusão dos instrumentos de percussão do louvor no Templo não deu-se por uma questão meramente cultural, mas teológica, uma vez que foi o próprio Deus quem deu claras instruções a respeito, por eles estarem vinculados ao paganismo. Tal concepção teológica nos ensina, entre outras coisas, que a música na igreja deve ser diferente da música secular, porque a igreja, como o antigo Templo, é a casa de Deus e não é um lugar de entretenimento. Instrumentos de percussão estimulam fisicamente e são, portanto, inapropriados para a música na igreja como o foram para a música do Templo do Antigo Testamento.

A Dra. Liliane Doukhan ao longo do seu texto não apresentou nenhuma prova contundente escriturística, tampouco do Espírito de Profecia que favoreça o uso dos tambores no louvor a Deus na igreja. É mais interpretação pessoal dos parcos textos citados por ela.

Causa-nos estupefação o fato de que os israelitas do passado, mesmo sendo um povo rude e atrasado, que praticava a poligamia e a escravidão, que fazia uso de bebidas fortes e da pena de morte, não usavam tambores no templo. Como é possível que nós, cristãos adventistas que recebemos tanta luz que eles não receberam, façamos algo que eles considerariam irreverência?

A pergunta que surge de pronto é: O que vamos fazer a partir de agora com a luz que recebemos? Obedeceremos as ordens divinas de retirar a percussão do nosso louvor ou será que continuaremos louvando-O ao som de baterias e dizer que fazemos isso por amor e com a melhor das intenções? A Bíblia afirma que “Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam” (Atos 17: 30). Agora não estamos mais na ignorância. A partir de agora, qualquer pessoa que, sabendo de tudo isso, se atrever a comparecer diante dEle com músicas ritmadas, dançantes e barulhentas estará louvando não a Deus, mas ao seu próprio ego.

A verdade é que, quem entra na casa de Deus pondo de lado os interesses do Dono da casa não está cantando para louvar a Deus, mas sim para satisfazer a si mesmo ou para se exibir. É lamentável dizer, mas é possível que existam cantores que, talvez até inconscientemente, ao invés de estarem louvando a Deus, estejam apenas satisfazendo o seu desejo de serem admirados e aplaudidos dentro da igreja, por não poderem fazer isso no mundo. A Pena Inspirada nos diz: “Se a luz brilha em nossos dias, devemos recebê-la, apreciá-la e andar na luz…” Não podemos comparar a situação em que estamos com a de pessoas sinceras que, no passado, “viveram segundo a luz que possuíam. Não podiam ser responsáveis pela luz que nunca tiveram. Devemos prestar contas da luz que brilha em nossos dias. Seria insensatez desculpar nossa transgressão da lei de Deus porque pessoas boas em gerações passadas não a guardaram. (…) Nunca é seguro permanecermos indiferentes à luz”. (Ellen G. White, Cristo Triunfante, p. 317).

Que a partir de hoje, nossos encontros para a adoração a Deus sejam, realmente, um perfeito louvor e exaltação ao Seu Nome. Não devemos olvidar de orar a Ele por sabedoria e discernimento com relação ao tipo de música que devemos ouvir, bem como os instrumentos usar no Seu louvor a Deus. Creio que o Espírito Santo pode nos orientar sobre o que devemos evitar e fazer, a fim de nos conformar com a vontade de Deus.

Autor: Ricardo André de Souza


Fonte: A Verdade Como é em Jesus


Ricardo André de Souza é licenciado em História e Pedagogia. Atua como professor de História das Redes Públicas Municipal e Estadual de Sergipe. É ancião da Igreja Adventista do Sétimo Dia Central de Lagarto – SE.

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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