O criacionismo e o novo espetáculo paralelo de Satanás

Em meados do século 19, Deus despertou pessoas em várias religiões com uma mensagem de advertência ao mundo: Jesus estava voltando e Seu juízo era iminente. Homens e mulheres sinceros e dedicados a Deus se puseram a estudar a Bíblia. Nos Estados Unidos, o ex-deísta e pregador batista William Miller foi figura de destaque. No Chile, o padre jesuíta Manuel Lacunza escreveu um livro sobre a volta de Jesus. Na Europa também houve os que tiveram a atenção voltada para as profecias apocalípticas. O mundo (especialmente a América) experimentou um verdadeiro reavivamento espiritual. Multidões aguardavam com expectativa a segunda vinda de Cristo (de acordo com a revista Reader’s Digest, cerca de um milhão de pessoas, só nos Estados Unidos, que na época tinham uma população na casa dos 17 milhões). O estudo das profecias de Daniel levou os mileritas (como ficaram conhecidos os seguidores de Miller) a concluir corretamente que algo especial ocorreria em 22 de outubro de 1844. Eles acertaram a data, mas erraram o evento. E disso decorreu grande decepção – o evento que passou para a história como o Grande Desapontamento de 1844.

Jesus não voltou, como os mileritas esperavam, mas dessa decepção Deus fez surgir um grupo de cristãos que, em lugar de abandonar a fé ou voltar às suas antigas denominações religiosas, tomou a decisão de se voltar para a Bíblia em busca de mais esclarecimento. Oraram fervorosamente pedindo ajuda ao Espírito Santo, e o Senhor não os desapontou. Aos poucos esse grupo de crentes foi descobrindo verdades preciosas, como a de que em 22 de outubro de 1844 Jesus iniciou o juízo investigativo no santuário celestial, conceito desconhecido dos cristãos até então. Redescobriram também a verdade do descanso sabático e de que o sábado do quarto mandamento da eterna lei de Deus é o memorial da criação. Encheram-se de esperança ao constatar que Jesus vai voltar, sim, embora não saibamos quando, e que nessa ocasião Ele ressuscitará os santos que “dormem” inconscientemente no pó da terra. Esse grupo de adventistas, que mais tarde seria organizado com o nome de Igreja Adventista do Sétimo Dia, percebeu que é importante realizar e promover a reforma de saúde, a fim de que corpo e mente estejam nas melhores condições possíveis para servir ao próximo; perceberam que no grande conflito entre o bem e o mal é vital ter uma mente clara para compreender as Escrituras e se conectar com o Céu (saiba mais sobre essa história aqui).

No texto de Apocalipse 14:6 e 7, esses cristãos viram uma verdadeira diretriz de trabalho: “Vi outro anjo, que voava pelo céu e tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo.
Ele disse em alta voz: ‘Temam a Deus e glorifiquem-nO, pois chegou a hora do Seu juízo. Adorem aquele que fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas.’”

Compreenderam que esse anjo representa um povo que deve proclamar ao mundo o evangelho imutável (eterno), que traz, além da mensagem de graça e salvação, o aviso do juízo e o convite à adoração do Deus verdadeiro, aquele que criou o Universo. Não um Deus qualquer, mas aquele que na Bíblia é identificado como o Criador. Para não deixar dúvidas quanto à identidade desse Deus que deve ser respeitado e adorado, o apóstolo João utilizou praticamente a mesma fraseologia do mandamento do sábado: “…porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e ao sétimo dia descansou” (Êxodo 20:11).

Conforme destacam autores acadêmicos e estudiosos do assunto, com o adventismo (em especial com os escritos da pioneira adventista Ellen White e do escritor e pesquisador George McCready Price) renasceu também o criacionismo, ou seja, a defesa com base na Bíblia e na ciência de que Deus criou o Universo e a vida; que Ele preparou em seis dias literais consecutivos de 24 horas a Terra para ser habitada por seres vivos inteligentemente desenhados. Essa mensagem, essa redescoberta foi tão poderosa, que criou uma verdadeira trincheira contra os avanços do darwinismo e do neoateísmo iluminista pós-Revolução Francesa. É claro que o diabo não gostou nada disso.

Podemos chamar de “espetáculo paralelo” os esforços empreendidos pelo inimigo do Criador no sentido de ofuscar o despertamento criacionista do século 19. Satanás é especialista em levantar “cortinas de fumaça”, e foi exatamente o que ele fez. Num raio de cerca de dez quilômetros a partir da fazenda de Hiram Edson (o pioneiro adventista que primeiro compreendeu a verdade relacionada com o santuário celestial e o início do juízo investigativo), em Clifton Springs, estado de Nova York, surgiram também o espiritismo moderno (em 1848, na casa da família Fox, em Hydesville), o mormonismo (em 1827, com o encontro de Joseph Smith com o espírito chamado Moroni, em Palmyra) e a comunidade religiosa vegetariana, perfeccionista e polígama de Oneida (em 1848, liderada por John Humphrey Noyes, que pregava o “casamento complexo” ou “matrimônio grupal”, em que todo mundo estava disponível para todo mundo). Depois de algum tempo, autoridades locais decretaram o fim da comunidade de Oneida e Noyes fugiu para o Canadá. Em 1844, o também polígamo Joseph Smith foi assassinado enquanto tentava fugir da Cadeia de Carthage.

Com tantos pregadores e movimentos exóticos, seria fácil considerar os adventistas e sua profetisa também falsos e fanáticos. E o “espetáculo paralelo” não se limitou àquela região dos Estados Unidos. No mesmo ano em que nasceu o espiritismo moderno e foi fundada a comunidade Oneida, veio à luz o Manifesto Comunista de Friedrich Engels e Karl Marx (os dois se encontraram pessoalmente em 1844). Em 1859, foi publicado o livro A Origem das Espécies, cujo rascunho começou a ser escrito exatamente em 1844. Resumindo: uma avalanche de maus testemunhos, distorções doutrinárias e ideologias concorrentes.

O tempo passou, cada lado desse conflito prosseguiu com seus planos e projetos (frequentemente os filhos das trevas sendo mais prudentes e espertos que os filhos da luz [Lucas 16:8]), e eis que, no século 21, todas aquelas “cortinas de fumaça” ressurgiram com força, mais variadas, e se tornaram uma fumaceira gigantesca graças aos modernos meios de comunicação. Quer exemplos?

  1. Ideologia de gênero e poliamor. De acordo com a visão criacionista bíblica, Deus criou um homem e uma mulher para viverem uma relação de compromisso heteromonogâmica. Na comunidade Oneida ninguém era de ninguém, e a ideologia marxista tem o mesmo pensamento em suas bases. Atualmente, pregar a heteronormatividade e a santidade do casamento bíblico é um convite ao escárnio, a receber a alcunha nada elogiosa de “fundamentalista”. Mas aqueles que creem na literalidade do primeiro capítulo da Bíblia não podem interpretar o casamento de outra forma.
  1. Espiritualismo e ufologismo. Graças à poderosa indústria cultural (especialmente a de Hollywood), ideias como reencarnação, contato com os mortos, com espíritos e com extraterrestres são cada vez mais populares e aceitas. Na base dessas coisas está o pensamento de que o ser humano é imortal, pode evoluir ou será ajudado por seres mais evoluídos de “outros planos”. Deus é desnecessário – do jeito que o diabo gosta.
  1. Darwinismo e socialismo. Embora pareça aos menos atentos que essas ideologias nada têm que ver uma com a outra, elas são como unha e carne. O próprio Marx escreveu que o darwinismo representa “o fundamento natural” da sua teoria. Amplamente divulgados nos meios acadêmicos e pela mídia, o darwinismo e o socialismo criaram um ambiente cultural favorável à relativização das verdades bíblicas (e até da rejeição delas) e ajudaram a colocar Deus de lado, afinal, a humanidade está destinada à evolução – biológica e social.
  1. Veganismo e vegetarianismo. O adventismo ajudou a resgatar o conceito de “reforma de saúde”. A relação do ser humano com Deus é o foco, e a inspiração para uma vida tão ideal quanto possível sempre vem do primeiro capítulo da Bíblia, que nos ensina também sobre a boa relação de uns com os outros, com os animais e com o planeta. O guardador do sábado é convidado semanalmente a se lembrar dessas coisas. O veganismo tem traços de darwinismo e prioriza o bem-estar dos animais e a preservação da “mãe Terra”. Enquanto alguns veganos consomem cafeína e álcool, por exemplo, deixam de usar artigos de couro e mel, pois vêm de fontes animais. Campanhas veganas se valem de nudismo e de discursos de ódio contra os carnívoros, atraindo desprezo e aversão. O vegetarianismo pregado pelos adventistas tem outros fundamentos e propósitos.
  1. Perfeccionismo. O âmago da terceira mensagem angélica é a doutrina da justificação pela fé, ou seja, dependência total de Deus, especialmente no que diz respeito à salvação. O perfeccionismo religioso vai na direção oposta e ensina que o ser humano pode ser perfeito e imaculado com base em seus esforços por cumprir a lei de Deus (publicamente eles dirão que não é assim, mas na prática as coisas são diferentes). O espírito perfeccionista de Oneida ressurge e alguns hoje se sentem tão inadequados para viver entre os “mundanos” que decidem se afastar de todos, mantendo uma vida ascética e, no fundo, considerando-se espiritualmente superiores. No tempo dos pioneiros adventistas, o movimento da “Carne Santa” representa bem esse tipo de insanidade.
  1. Pseudociências. O criacionismo é a união coerente entre a boa teologia bíblica e a boa ciência. Estudando os dois livros de Deus – a Bíblia e a natureza –, os criacionistas podem restaurar o verdadeiro conhecimento a respeito do Criador e de Suas obras. Ciente do poder desse modelo conceitual, o inimigo vem alcançando sucesso em pleno século 21 com a disseminação de conceitos pseudocientíficos como a ideia da Terra plana e as campanhas contra a vacinação, para mencionar apenas dois exemplos, geralmente relacionados (porque conspiracionistas adoram conspirações). Relacionando o terraplanismo e a antivacinação com o criacionismo bíblico, os defensores dessas ideias atraem o escárnio, mais ou menos como faziam Smith, Noyes e outros.

Percebeu por que precisamos, mais do que nunca, clamar pelo poder do Espírito Santo e, como os pioneiros, enfrentar o erro com a força da verdade? Precisamos estudar atenta e profundamente a verdadeira ciência e a Bíblia Sagrada, a fim de dar ao mundo a mensagem correta, que instrui, desperta e salva.

O diabo é o pai da mentira. Vamos derrotá-lo com a verdade, ao lado do Senhor da verdade!

(Michelson Borges é pastor, jornalista, escritor, especialista em Teologia e pós-graduando em Biologia Molecular)

Fonte: Blog Outra Leitura


Descubra mais sobre Weleson Fernandes

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

Verifique também

Males da Educação moderna para quem crer na Bíblia

Se perguntassem para nós hoje como será a educação do futuro, talvez diríamos que será …

Bispos e padres se pronunciam contra a bênção a “casais” do mesmo sexo

Bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) manifestaram perplexidade com as bênçãos …

Por que Paulo foi acusado de pertencer a uma seita?

Certa ocasião, diante do governador Félix, o apóstolo Paulo se defendeu com estas palavras: “Confesso …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×

Sejam Bem Vindos!

Sejam bem Vindo ao Portal Weleson Fernandes !  Deixe um recado, assim que possível irei retornar

×