A ênfase do evangelho para o tempo do fim

 

Concluímos nosso artigo anterior observando o extraordinário significado da instrução que João recebera do “anjo forte” para profetizar novamente (Apocalipse 10:11).

O ato simbólico de João comer o livrinho e experimentar a sensação doce e amarga de sua mensagem (verso 10) é esclarecido nessa ordem divina. Revela que a igreja de Deus, simbolizada na pessoa de Seu profeta, recebe agora a comissão para proclamar o evangelho eterno dentro do marco das profecias do tempo do fim!

Isso significa que João, ao profetizar outra vez, deve fazê-lo na perspectiva dos últimos acontecimentos segundo revelados no livro de Daniel, o que implica naturalmente um aumento progressivo do conhecimento de suas profecias (Daniel 12:4-10).

A ordem para anunciar o evangelho eterno na perspectiva do tempo do fim é cumprida na proclamação da tríplice mensagem de Apocalipse 14, cujos apelos e advertências têm o propósito de restaurar o evangelho em sua plenitude e preparar um povo para o grande Dia do Senhor.
Assim, a ordem profética do “anjo forte” ressoa na potente voz dos três anjos em sua obra de alcance mundial (Apocalipse 14:6). O movimento do advento iniciado por Guilherme Miller e seus colaboradores representou o primeiro grande despertar nesse sentido e, a despeito da amarga desilusão provocada por um erro de interpretação sobre a natureza da purificação do santuário (Daniel 8:14), foi responsável pela origem do movimento adventista tal como o conhecemos hoje, com sua insigne mensagem para o tempo do fim.

Miller não estava correto somente quanto ao cálculo da visão da tarde e da manhã, mas também com relação ao inexprimível e espantoso significado envolvendo o grande evento predito na profecia: a purificação do santuário. Embora influenciados pela ideia geralmente aceita de que tal acontecimento se referia à purificação da Terra pelo fogo do juízo, a ocorrer durante a segunda vinda de Jesus, os primeiros adventistas tinham plena certeza de que a purificação do santuário ao fim dos 2.300 anos devia representar algo de supremo interesse para o povo de Deus.

De fato, a expressão “o santuário será purificado”, em Daniel 8:14, nos remete à mais importante e solene cerimônia do conjunto de ritos do antigo tabernáculo hebreu e, posteriormente, do templo! A compreensão dessa cerimônia típica e sua relação com os demais ritos do santuário terrestre lança preciosa luz sobre a ênfase especial do evangelho eterno para o tempo do fim na obra dos três anjos de Apocalipse 14. Em virtude da natureza do tema, vamos dividir nosso estudo em algumas etapas, servindo o presente artigo como nota introdutória.

O santuário terrestre, com todos os seus utensílios e serviços, fora construído por Moisés conforme o modelo que Deus lhe revelara no monte, em obediência à ordem: “E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles.” (Êxodo 25:8-9). Essa é a primeira referência explícita do Senhor a um santuário. Moisés havia feito menção a ele em seu cântico de vitória às margens do Mar Vermelho (Êxodo 15:17), ao antecipar o desejo expresso de Deus de manter uma comunhão mais perfeita com Seu povo e proporcionar-lhe uma magnificente revelação de Si mesmo e da história da salvação por vir.

Assim, Deus não somente falou do monte Sinai, mas continuou a falar com os israelitas através do interior do santuário levítico. Como observa Edward Heppenstall, o santuário era muito mais do que um local de culto. Sua estrutura e serviços simbolizavam o santuário celestial no qual Deus habita (Hebreus 8:1-2; 9:24).

Eis o motivo por que o Senhor advertira Moisés a construir o tabernáculo segundo o modelo que lhe foi mostrado no monte (Êxodo 25:9, 40).
A palavra hebraica para “modelo” (tabnit) expressa a ideia de uma cópia concebida a partir de um original que serve como modelo em miniatura para outra cópia, neste caso, o santuário terrestre. Com seu sistema de tipos e símbolos, esse santuário era “figura e sombra das coisas celestes”, uma “parábola para a época presente” (Hebreus 8:5; 9:9), sendo o modelo que lhe serviu de parâmetro um reflexo do “verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hebreus 8:2).

O santuário terrestre era, pois, uma cópia do centro divino de operações no Céu, a mais extraordinária revelação do plano de Deus feita até então. Como Jesus Cristo é a figura central no grande drama (Colossenses 1:19-20), toda a revelação do santuário centralizava-se nEle, prefigurando Sua morte expiatória na cruzSeu ministério sacerdotal no Céu e o juízo final.

Todo o sistema de tipos e símbolos, com suas promessas de redenção, constituía um testemunho em miniatura do evangelho. Mediante os sacrifícios e o ministério sacerdotal, Deus pôs ao alcance do pecador o método divino de redenção que viria por meio de Jesus Cristo.
Daí por que os ritos do santuário terrestre não eram um fenômeno mecânico, em que a forma prevalece sobre o conteúdo. Sua mensagem devia conquistar o israelita a Deus, trazê-lo de volta à comunhão com Ele, e revelar-lhe Seu caráter e a solução divina para o problema do pecado e da morte eterna.

Portanto, não é possível compreender adequadamente Jesus como nosso Sacrifício e Sumo Sacerdote fora do contexto do santuário. Por outro lado, sendo Jesus o fundamento e a vida do templo, em nossas considerações sobre o assunto precisamos manter esse foco essencial centralizado em Cristo. Uma vez que nosso Redentor é tudo para o que o santuário apontava, este não tinha qualquer valor sem Ele.

Como o próprio templo, o ministério sacerdotal devia servir de “figura e sombra das coisas celestes” (Hebreus 8:5). Por isso, Deus deu a Moisés instruções específicas sobre cada detalhe desse rito simbólico. O ministério do santuário consistia em duas partes: o serviço diário ou regular e o serviço anual (Hebreus 9:1-7).

serviço diário era efetuado pelos sacerdotes no altar de sacrifícios, localizado no átrio ou pátio exterior, bem como no primeiro compartimento do tabernáculo, chamado Santo Lugar.
serviço anual ocorria no segundo compartimento do tabernáculo, chamado Santo dos Santos, ou Santíssimo, ao qual somente o sumo sacerdote tinha acesso, uma vez ao ano.

O serviço diário ou regular consistia nos sacrifícios da manhã e da tarde, na oferta de incenso suave no altar de ouro, e nas ofertas especiais pelos pecados individuais. Havia também ofertas para os sábados, luas novas e solenidades especiais.

O serviço anual consistia na purificação do santuário, uma obra solene que completava o ciclo anual do ministério levítico.

Com o auxílio de Deus, vamos explorar cada um desses serviços em nossas próximas postagens. Começando com os ritos diários ou regulares e as profundas verdades espirituais neles tipificados, esperamos entender o sentido especial do evangelho eterno para os últimos dias e, consequentemente, a natureza da obra dos três anjos de Apocalipse 14 e sua derradeira mensagem de advertência.


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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