Afinal, Enoque e Elias subiram ou não para o Céu? Como Conciliar este fato com João 3:13?

Em João 3:13, Jesus disse: “Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do homem [que está no Céu]”. Afinal, Enoque e Elias subiram ou não para o Céu? Em caso afirmativo, como conciliar com o que Jesus disse? E como entender que Ele tenha também dito “que está no Céu”, se quando disse isso estava conversando com Nicodemos?

É claro que Enoque e Elias subiram para o Céu, pois a Bíblia assim o diz (Gn 5:22-24; 2Rs 2:1,11; Hb 11:5). O que Jesus disse não contradiz a informação bíblica. João 3:13 precisa ser entendido dentro de seu próprio contexto, e não no contexto das passagens acima.

Segundo João 3:11-13, Jesus fala de coisas celestiais com a familiaridade e naturalidade próprias de alguém que desceu do Céu, mas, de alguma forma, sem deixar de estar lá. Quando Ele diz que “ninguém subiu… senão Aquele que desceu”, não alude à Sua ascensão (fato que ocorreria só mais tarde), pois, com efeito, nessa hora Ele conversava com Nicodemos.

Assim, o assunto não é o evento histórico da ascensão, mas o papel revelacional de Deus que o Filho cumpre em Seu ministério terrestre. Cristo pode falar de “coisas celestiais” (v. 12) porque sabe o que estas coisas são e as tem visto (v. 11). Ele é o único que “subiu ao Céu”, isto é, que penetrou o conhecimento dessas coisas; e que “desceu do Céu”, isto é, que entrou em comunhão conosco pela encarnação, para nos trazer o conhecimento dessas coisas.

Céu aqui, diferente do que é quanto à ascensão de Enoque e Elias, tem sentido espiritual e não local nem geográfico; indica a única posição da qual pode ser auferido o conhecimento completo e verdadeiro sobre Deus, trazido e comunicado. O que Jesus estava afirmando a Nicodemos era que ninguém tem entrado em comunhão com Deus e possui, procedente desta comunhão, um conhecimento intuitivo de coisas divinas a fim de revelá-las aos outros, exceto Aquele a quem o Céu foi aberto.

Céu, portanto, indicaria a igualdade do Filho com o Pai, da qual Ele desceu por meio da encarnação (cf. Fl 2:6-8), mas que ainda reteve enquanto estava na Terra (Jo 5:18). O paralelismo com 1:18 parece óbvio:

 

Isaías 14:12, 13 é um provável background veterotestamentário para João 3:13. Nesse texto, é declarada a ambição do “filho da alva” (Lúcifer) de ascender ao Céu e ser “semelhante ao Altíssimo”. Todavia, ele não o conseguiu; ficou apenas na pretensão e na vontade. Mas o que ele cobiçou já pertencia a Cristo.

Entendemos que essa pretensão foi alimentada pelo querubim antes de sua expulsão do Céu. Em outras palavras, ele estava num local que se chama Céu, todavia pretendendo subir ao Céu. A conclusão lógica é que, nesse texto, subir ao Céu significa participar da igualdade com Deus, ser igual a Ele. Mas aquilo que para Lúcifer foi pretensão, para Cristo é natural participação. “Ninguém subiu ao Céu” senão Ele.

É verdade que poucos manuscritos contêm a afirmação de 13c, “que está no Céu” (é por isso que aparece entre colchetes). Mas é possível que sua omissão num bom número de documentos, bem como a alteração para “que estava no Céu” em algumas versões antigas, foram feitas para remover uma dificuldade óbvia. Sua originalidade é coerente com o que se observa no Evangelho de João, segundo o qual, o Filho permanecia junto ao Pai mesmo quando estava na Terra. Ademais, o verbo estar é empregado no presente do indicativo em outras passagens numa conotação semelhante à de 3:13 e 1:18:

 7:34 – “Haveis de procurar-Me, e não Me achareis; também onde Eu estou vós não podeis ir” (ver também o v. 36).

 11:26 – “Onde Eu estou ali estará também o Meu servo.”

 14:3 – “Voltarei e vos receberei para Mim mesmo para que onde Eu estou estejais vós também.”

 14:11 – “Eu estou no Pai” (com o verbo subentendido).

• 17:24 – “Pai, a Minha vontade é que onde Eu estou, estejam também comigo os que Me deste.”

Estes exemplos do emprego de “Eu estou” apontam para a realidade da íntima e perfeita comunhão do Filho com o Pai, a qual não foi alterada pela encarnação: o Filho enquanto esteve na Terra continuou sendo um com o Pai (“Eu e o Pai somos [não éramos, ou seremos] um”, 10:30).

Autor: José Carlos Ramos, professor de Teologia jubilado. Publicado na RA de Jul/2010.

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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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