No artigo anterior, vimos que a visão de João em Apocalipse 17:3-6 revela seis características da “grande meretriz” que resultaram de sua união com o mundo e que a definem como tal.
Examinamos as três primeiras características como parte de uma progressão profética e histórica sobre a apostasia cristã que, indubitavelmente, identifica a mulher adúltera com a Igreja papal.
Neste post, vamos abordar as três características seguintes, completando o perfil dessa Igreja, que sacrificou a verdade no altar do orgulho e da exaltação própria ao abandonar a Cristo e Sua palavra.
4. A mulher tem na mão um cálice de ouro
João vê na visão que essa mulher impura tem “na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição” (Apocalipse 17:4c).
Veremos que o ouro reluzente é apenas um disfarce para as abominações e imundícias de seu conteúdo.
Em seu sentido evangélico, o cálice representa a salvação, pela qual Davi orou fervorosamente (Salmo 116:13). Este símbolo se tornou ainda mais expressivo quando nosso Salvador instituiu a Santa Ceia.
O cálice da comunhão simboliza “a nova aliança no meu sangue” (I Coríntios 11:25), e se refere a todas as verdades do plano divino da redenção.
A nova aliança entre Deus e o homem é inteiramente apoiada nas promessas de Deus. É nova no sentido de que foi ratificada pelo sangue de Jesus!
Ao contrário do sistema levítico, em que o sacerdote oferecia “muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados”, Cristo ofereceu “para sempre, um único sacrifício pelos pecados”, e, “com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hebreus 10:11-12 e 14)!
Em contraste com o cálice da salvação, transbordante da mais pura doutrina de Cristo, o cálice de ouro na mão da mulher adúltera transborda de “abominações e com as imundícias da sua prostituição”.
É deste cálice com o vinho de sua prostituição que a Igreja “tem dado a beber a todas as nações” (Apocalipse 14:8), embriagando, assim, os habitantes da terra.
Significado profético do “vinho”
O profeta Isaías esclarece a natureza desse vinho ao se referir à apostasia de Judá e Jerusalém no capítulo 29 de seu livro (note bem as palavras):
9 Estatelai-vos e ficai estatelados, cegai-vos e permanecei cegos; bêbados estão, mas não de vinho; andam cambaleando, mas não de bebida forte.
10 Porque o SENHOR derramou sobre vós o espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, que são os profetas, e vendou a vossa cabeça, que são os videntes.
11 Toda visão já se vos tornou como as palavras de um livro selado, que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele responde: Não posso, porque está selado;
12 e dá-se o livro a quem não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele responde: Não sei ler.
13 O SENHOR disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu,
14 continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa e um portento; de maneira que a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a prudência dos seus prudentes se esconderá.
O texto não poderia ser mais claro. A apostasia havia prejudicado a razão e o discernimento dos habitantes de Jerusalém – tal como acontece com alguém entregue ao vinho ou bebida forte -, incapacitando-os a compreender a mensagem do Céu.
Honravam o Senhor com os lábios, mas não conheciam o Deus a quem professavam seguir. Seu temor a Deus não refletia obediência à Sua lei, mas consistia em mandamentos de homens.
O Senhor Jesus identificou a mesma hipocrisia em Sua época, quando discutiu com os dirigentes de Jerusalém, para os quais as tradições de origem puramente humana eram tão ou mais sagradas do que a própria lei de Deus.
Cristo defendeu com determinação e firmeza a superioridade das leis morais de Deus sobre tradições e mandamentos humanos, e repreendeu os líderes judaicos citando as palavras de Isaías:
Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. (Mateus 15:7-9, ver também Marcos 7:6-9)
O vinho intoxicante de Babilônia
Desse modo, o vinho e a bebida forte, ou seus efeitos inebriantes, são usados figuradamente para descrever a embriaguez espiritual de adoradores cujo coração não foi santificado pela verdade e que se contentam em ostentar uma forma exterior de religião que agrada os sentidos.
O “vinho” de Babilônia, mediante o qual as nações da Terra são intoxicadas, se refere, portanto, aos ensinos e mandamentos de Babilônia com os quais ela corrompeu os “mandamentos de Deus” e o “testemunho de Jesus” (Apocalipse 12:17; 14:12).
Essa conclusão ganha espessura quando consideramos a causa imediata da queda da antiga Babilônia, cuja história proporciona um antecedente das mensagens de juízo no Apocalipse contra a Babilônia do tempo do fim.Em um banquete imperial, oferecido a mil de seus grandes, o rei Belsazar ordenou que os utensílios sagrados de ouro e de prata, trazidos do templo de Jerusalém por Nabucodonosor, fossem usados para beber o vinho de Babilônia (Daniel 5:1-3).
“Beberam o vinho”, diz a Escritura, “e deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra” (verso 4).
Esse ato ousado e profano, que misturou o sagrado e o comum numa clara provocação ao Deus de Israel, determinou o fim do tempo de graça para Babilônia, trazendo sobre ela o veredito de sua condenação (versos 5, 24-28).
Tanto os sentimentos envolvidos como a natureza do ato também caracterizam a Babilônia do tempo do fim. Por causa de sua prostituição e idolatria, ela misturou o santo e o profano num cálice de ouro, com o qual tem seduzido todas as nações.
Se a essência da idolatria é confundir o santo com o comum e adorar a criatura em lugar do Criador (Romanos 1:22-23, 25), qualquer pessoa que venha a beber do vinho de Babilônia perderá a capacidade de distinguir entre ambos e será levada a confiar mais nas tradições humanas do que na Palavra de Deus.
E porque povos e nações têm sido assim iludidos e enganados, Babilônia cairá da graça protetora de Deus tão certamente como sua antecedente histórica, quando atingir o limite da paciência divina (Apocalipse 14:8; 18:2-5).
Símbolo da Igreja papal
É realmente admirável que a Igreja de Roma retrate a si mesma como uma mulher – a FIDES ou a fé católica – que tem na mão um cálice – o cálice de ouro da missa -, identificando-se, desse modo, com a mulher de Apocalipse 17!
De fato, a representação da fé católica na figura de uma mulher que segura em uma das mãos um cálice é muito comum e tem sua origem no paganismo, assim como muitos outros símbolos e costumes pagãos incorporados pelo catolicismo.
Charles Chiniquy, que serviu a Igreja por meio século, observou que a única diferença entre Roma pagã e a Roma dos dias atuais está no nome. [1]
Os templos idolátricos são os mesmos, e nem sequer os ídolos deixaram seus lugares! Hoje, como dantes, em sua honra e louvor queima-se o mesmo incenso! Nações inteiras ainda hoje estão prostradas a seus pés, para lhes oferecer as mesmas homenagens e pedir as mesmas graças; mas, em vez de apelidar tal imagem de Júpiter, dão-lhe o nome de Pedro; em vez de chamar a esta de Minerva ou de Vênus, chamam-na de Maria. É a velha idolatria que veio até nós com nomes cristãos!
Fides era originalmente a deusa romana da confiabilidade e da boa fé. Embora não fosse considerada a principal divindade, era bastante estimada pelo romanos, a ponto de ter o seu próprio templo na colina Capitolina. [2]
Como depositária e transmissora da cultura romana, de cujo solo se alimentou, era natural que a Igreja de Roma também se fizesse representar por uma mulher, a Fides católica, com a singular diferença de que, ao invés de vasos de frutas ou estandartes militares, ela tem na mão um cálice, que remete à mais importante das doutrinas católicas.
O sacrifício idolátrico da missa
O sacrifício idolátrico da missa figura entre os ensinos mais abomináveis do cálice de Roma, pois é uma contrafação doutrinária do sacerdócio.
Diz-se que, nesse “sacramento”, há “a presença do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo”, e que “o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: ‘É uma só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz'”. [3]
A ceia que Jesus instituiu é um memorial simbólico, não um sacrifício (I Coríntios 11:23-26).
Jesus não precisa “oferecer a si mesmo muitas vezes”, pois Ele “se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado” (Hebreus 9:24-26). Do contrário, Seu sacrifício seria tão imperfeito quanto os oferecidos diariamente pelos sacerdotes no sistema levítico.
Por mais sagrada que seja a doutrina da transubstanciação para o católico sincero, ela não é outra coisa senão idolatria, pois considera o onipotente Criador substancialmente contido em um pedaço de pão!
Para que não fique nenhuma dúvida quanto à natureza blasfema dessa doutrina, consideremos as palavras do erudito católico, John A. O’Brien, sobre o assunto: [4]
Quando o sacerdote pronuncia as tremendas palavras de consagração, ele vai até os céus, traz Cristo de Seu trono e O coloca em nosso altar para ser oferecido novamente como vítima pelos pecados do homem. É um poder maior do que o dos monarcas e imperadores. É maior do que o dos santos e anjos, maior do que o dos serafins e querubins; de fato, é maior até do que o poder da Virgem Maria. Pois, enquanto a Santíssima Virgem foi a agência humana pela qual Cristo se encarnou uma única vez, o sacerdote traz Cristo do céu e o torna presente em nosso altar como a Vítima eterna pelos pecados do homem – não uma, mas mil vezes! O sacerdote fala e eis que Cristo, o Deus eterno e onipotente, inclina Sua cabeça em humilde obediência à ordem do sacerdote.Que dignidade sublime é o ofício do sacerdote cristão que tem o privilégio de agir como embaixador e vice-regente de Cristo na Terra. Ele continua o ministério essencial de Cristo – ensina os fiéis com a autoridade de Cristo, perdoa o pecador penitente com o poder de Cristo, oferece novamente o mesmo sacrifício de adoração e expiação que Cristo ofereceu no Calvário. Não é de se admirar que o nome que os escritores espirituais gostam especialmente de aplicar ao sacerdote seja o de ‘alter Christus’. Pois o sacerdote é e deve ser outro Cristo.
Milhões de almas sinceras têm sido enganadas pelas falsas doutrinas de Roma. Ela realmente “engradeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o sacrifício diário e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo… deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou” (Daniel 12:11-12).
5. Ela tem um nome escrito na fronte
Em Apocalipse 14:1, João vê o remanescente final em pé com o Cordeiro no monte Sião, “tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai”.
Significa que este grupo especial de crentes foi completamente coberto pela graça e justiça de Cristo, de modo que representam na vida e no caráter a própria vida e caráter de Deus!
Não há maior herança para o crente cristão do que ser chamado pelo nome do Pai e o nome do Filho por meio do selamento no Espírito (Efésios 1:13; 4:30)!
Mas em Apocalipse 17:5, João vê escrito na fronte da mulher adúltera “um nome, um mistério: “Babilônia, A Grande, A Mãe Das Meretrizes E Das Abominações Da Terra”.
É um mistério que a Igreja que se declara a única guardiã e intérprete das Escrituras ensine doutrinas sem embasamento bíblico. É também um mistério que a Igreja que afirma ser cristã e mãe das igrejas, se embriague “com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus” (Apocalipse 17:6).
O seguinte pensamento resume magistralmente esse ponto: [5]
Uma igreja jactando-se a si mesma de ser a noiva, e ainda ser prostituta; intitulando-se a si mesma de Sião e ser Babilônia – isto é um mistério. Um mistério é, que, quando ela diz a todos – ‘vinde a mim’ – a voz do céu clama – ‘sai dela, povo meu’. Um mistério é que aquela que se orgulha como cidade dos santos, tornou-se a habitação de demônios; que aquela que pretende ser infalível, está falando para corromper a terra; que, denominando-se ‘mãe das igrejas’, é chamada pelo Espírito Santo ‘mãe das prostitutas’; que aquela que se orgulha ser indefectível, deve um dia ser destruída, e que os apóstolos devem regozijar-se com sua queda; que aquele que tem, como ela diz, em suas mãos as chaves do céu, será lançada no lago de fogo por Aquele que tem as chaves do inferno. Tudo isto, em verdade, é um grande mistério.
Não é de admirar, portanto, que Paulo tenha se referido a esse mistério como o “mistério da iniquidade” ou “da injustiça” (II Tessalonicenses 2:7), cujo fim será segundo as suas obras.
“Mistério: Babilônia, A Grande”
“Mistério” é também uma palavra apropriada para descrever os cultos da antiga Babilônia que penetraram na igreja.
Os mistérios sobre os quais “é vergonhoso até falar” (Efésios 5:12, Versão Católica) assumiram um caráter religioso desde que Ninrode, o fundador da primeira Babel, determinou-se a garantir sua influência sobre o povo, eliminando da mente dos homens o conhecimento do verdadeiro Deus.
O que significa esse nome escrito ‘na fronte’? Não indica, naturalmente, que, pouco antes de o juízo surpreendê-la, seu verdadeiro caráter estaria tão completamente desenvolvido, que todo aquele que tem olhos para ver, que tem o mínimo de discernimento espiritual, seria compelido, por assim dizer, por demonstração ocular, a reconhecer a maravilhosa adequação do título que o Espírito de Deus lhe havia afixado. Seu julgamento está agora evidentemente se apressando; e, à medida que se aproxima, a Providência de Deus, cooperando com a Sua Palavra, pela luz que derrama em toda parte, torna cada vez mais evidente que Roma é, de fato, a Babilônia do Apocalipse; que o caráter essencial de seu sistema, os grandes objetos de sua adoração, seus festivais, sua doutrina e disciplina, seus ritos e cerimônias, seu sacerdócio e suas ordens, tudo foi derivado da antiga Babilônia; e, finalmente, que o próprio papa é verdadeira e propriamente o representante direto de Belsazar.
“Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra”
De fato, ela é a única que se refere a si mesma como a “mãe de todas as igrejas”.
O então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, escreveu: [7]
De fato, em sentido próprio, Igrejas irmãs são exclusivamente as igrejas particulares… entre si. Deverá resultar sempre claro, mesmo quando a expressão Igrejas irmãs é usada neste sentido próprio, que a Igreja Universal, una, santa, católica e apostólica, não é irmã, mas mãe de todas as Igrejas particulares.
Da mesma forma, o papa Francisco declarou: [8]
E a Igreja assim vê crescer a sua maternidade: é Mãe de mais filhos, de muitos filhos; torna-se Mãe, sempre mais Mãe. E Mãe que nos dá a fé, Mãe que nos dá a identidade. A identidade cristã não é dada por um bilhete de identidade; a identidade cristã é pertença à Igreja: todos estes pertenciam à Igreja, à Igreja Mãe, porque não é possível encontrar Jesus fora da Igreja. O grande Paulo VI dizia: é uma dicotomia absurda querer viver com Jesus sem a Igreja, seguir Jesus fora da Igreja, amar Jesus sem a Igreja (cf. Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 16). E a mesma Igreja Mãe, que nos dá Jesus, dá-nos a identidade, que não é somente um selo: é uma pertença. Identidade significa pertença: a pertença à Igreja. Coisa estupenda!
Coisa estupenda, na verdade, é o fato de a Igreja ser “mãe das meretrizes e das abominações da terra”, visto ser ela própria uma adúltera, que abandonou o caminho da verdade por amor ao mundo e para obter dele seu reconhecimento e favor.
As “filhas” a que se refere Apocalipse 17:5 seguem o exemplo da “mãe”; são igualmente meretrizes, que partilham com ela das mesmas paixões e abominações, isto é, dos mesmos sentimentos e doutrinas pervertidas que caracterizam Roma papal.
6. Está embriagada com o sangue dos santos
Ao permitir em seu meio uma nova Jezabel, com sua falsa reivindicação como profetisa de Deus e com seu culto idólatra (Apocalipse 2:20), a igreja cristã se tornou, ela mesma, uma Jezabel, manifestando a mesma ambição e sede de sangue.
Andrew Lobaczewski observou que uma ideologia, por mais altruísta que seja, pode ser afetada por fatores degenerativos. Citando o exemplo do cristianismo e sua relação com o Império Romano, ele escreveu: [9]
O Império Romano, incluindo seu sistema legal e a parcimônia nos conceitos psicológicos, contaminou similarmente a ideia homogênea primária do Cristianismo. O Cristianismo teve que se adaptar à coexistência com um sistema legal onde o dura lex sed lex [a lei é dura, mas é a lei], no lugar de um entendimento dos seres humanos, decidia o destino de uma pessoa; isso levou então à corrupção da tentativa de atender aos objetivos do ‘Reino de Deus’ por meio dos métodos imperialistas romanos. […]
A civilização imperial e legal romana foi excessivamente ligada à matéria e à lei, e criou um sistema legal que era muito rígido para acomodar qualquer aspecto real da vida psicológica e espiritual. Esse elemento ‘terreno’ estranho infiltrou o Cristianismo e resultou na adoção de estratégias imperiais, pela Igreja Católica, para forçar seu sistema sobre os outros por meio da violência.
Além de demonstrar a exatidão da profecia, essa explicação nos lembra que o maior inimigo dos cristãos não é o preconceito, o descrédito ou a perseguição, mas o espírito do tempo – a cosmovisão dominante, que se impõe a tudo e a todos.
Assim como é o espírito do tempo, tal será a igreja que nele vive, se esta não preservar “o primeiro amor” (Apocalipse 2::4) e revestir-se “de toda a armadura de Deus” (Efésios 5:10-18).
Roma papal não mudou
A frase pode soar como um clichê protestante, mas ela é absolutamente verdadeira. A Igreja papal não mudou, a despeito de algumas de suas declarações formais mais recentes parecerem dizer o contrário.
Sobre essa questão, aliás, convém considerar o que a própria Igreja diz.
A Congregação para a Doutrina da Fé, no intuito de esclarecer certas questões relacionadas à doutrina da Igreja desde o advento do Concílio Vaticano II, expôs o seguinte: [10]
PRIMEIRA PERGUNTA
O Concílio Vaticano II mudou a doutrina católica sobre a Igreja?
RESPOSTA
O Concílio Vaticano II não mudou nem pretendeu mudar essa doutrina; antes, desenvolveu-a, aprofundou-a e explicou-a mais detalhadamente.
Foi exatamente o que João XXIII disse no início do Concílio. Paulo VI afirmou e comentou no ato de promulgar a Constituição Lumen gentium: “Não há melhor comentário para fazer do que dizer que essa promulgação realmente não muda nada da doutrina tradicional. O que Cristo quis, nós também queremos [?]. O que foi, ainda é. O que a Igreja ensinou ao longo dos séculos, nós também ensinamos. Em termos simples, o que foi assumido, agora é explícito; o que era incerto, agora é esclarecido; o que foi meditado, discutido e ocasionalmente debatido, agora é reunido em uma formulação clara”. Os Bispos repetidamente expressaram e cumpriram esse propósito.
Seus sentimentos também não mudaram
Joseph Bernhart lembra que a Igreja Católica “repudiou sempre, desde o seu primeiro dia até hoje, como pecado dos pecados, a liberdade do espírito, entendida como liberdade de todas as opiniões; e nas épocas de sua onipotência sobre os homens, ela pune a doutrina destruidora destruindo aquele que a ensina”. [11]
O periódico católico Western Watchman também reconheceu: [12]
A Igreja perseguiu. Apenas um ingênuo em história eclesiástica negará isso. Os apologistas nos dias do domínio imperial romano censuraram a perseguição, e, com Tertuliano, lamentaram que “não era dever da religião perseguir a religião”. Todavia, depois dos dias de Constantino e sob o reinado desse primeiro imperador cristão, a atitude dos cristãos sofreu uma mudança e a perseguição dos pagãos ocorreu em muitos lugares do império. Cento e cinquenta anos depois de Constantino, os donatistas foram perseguidos e, eventualmente, mortos. Contra essa medida extrema, Santo Agostinho ergueu a voz, mas concordou que eles deviam ser despojados de suas igrejas e bens. Os protestantes foram perseguidos na França e na Espanha com a plena aprovação das autoridades da Igreja. Nós sempre defendemos a supervenção dos huguenotes e a inquisição espanhola. Onde e sempre que houver uma catolicidade honesta, haverá uma clara distinção entre a verdade e o erro, entre a catolicidade e todas as formas de heresia. Quando julga que é benéfico usar a força física, a Igreja irá usá-la. Ela não é melhor, nem mais santa do que Deus; e Deus usou a força física para levar as pessoas a abraçar a verdade. Se a Igreja se encontrar novamente nas mesmas circunstâncias que a cercaram nos dias dos donatistas, huguenotes e mouros é muito provável que ela se defenda com as mesmas armas que usou no passado.
A visão de João em Apocalipse 17 adverte que a Igreja voltará a ser um agente perseguidor quando a besta que era, e agora não é, voltar a ser o que foi no passado (verso 8).
Notas e referências
1. Charles Chiniquy. Cinquenta Anos na Igreja Católica Apostólica Romana. São Paulo: Livraria Independente Editora, 1947, p. 83.
2. http://www.forumancientcoins.com/moonmoth/reverse_fides.html
3.Catecismo da Igreja Católica, §§ 1381 e 1367.
4. John A. O’Brien. The Faith of Millions. Huntington, IN: Our Sunday Visitor, 1938, p. 270 e 271.
5. Citado em A.S. Mello, A Verdade sobre as Profecias do Apocalipse. São Paulo, 1959, p. 496.
6. Alexander Hislop; or, The Papal Worship proved to be the Worship of Nimrod and his Wife. London: Houlston and Wright, 1862, p. 3 e 4.
7. Joseph Ratzinger. Congregação para a Doutrina da Fé. Nota sobre a Expressão “Igrejas Irmãs“, II. Indicações sobre o uso da expressão, #10.
8. Homilia do Santo Padre Francisco. Capela Paulina, Terça-feira, 23 de Abril de 2013.
9. Andrew Lobaczewski. Ponerologia: Psicopatas no Poder. Campinas, SP: Vide Editorial, 2014, p. 145 e 146.
10. William Levada. Congregação para a Doutrina da Fé. Respostas a Algumas Questões Relativas a Certos Aspectos da Doutrina sobre a Igreja
11. Joseph Bernhart. O Vaticano: Potência Mundial. História e Figura do Papado. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1942, p. 136.
12. Western Watchman, A Catholic Journal Devoted to the Catholic Interests in the West, Vol. XXXXIII, No. 35, St. Louis, MO, Dec. 24, 1908, Forty Second Year, p. 8
Fonte: As Três Mensagens