Doação de Constantino

Os termos da Doação foram incorporados às Falsas Decretais, supostamente obra de Isadore Mercator, e às Decretais de Graciano. O documento foi citado com frequência pelos papas para afirmar seus direitos sobre os estados papais e, a partir de Leão IX (1048 a 1054), sua reivindicação de primazia sobre a Igreja Ortodoxa Oriental.

No século XV, Nicholas de Cusa, o bispo Reginald Peacock (c. 1395-1460) de Chichester e Lorenzo Valla (c. 1406-1407) demonstraram que o documento era uma falsificação do final do século IX. [1]
O primeiro papa que o utilizou em um ato oficial e se baseou nele foi Leão IX. Em uma carta de 1054 a Michael Cærularius, Patriarca de Constantinopla, ele cita a “Donatio” para mostrar que a Santa Sé possuía um imperium tanto terreno quanto celestial, o sacerdócio real. A partir de então, a “Donatio” adquiriu mais importância e foi usada com mais frequência como evidência nos conflitos eclesiásticos e políticos entre o papado e o poder secular.
O próprio Gregório VII nunca citou esse documento em sua longa luta pela liberdade eclesiástica contra o poder secular. Mas Urbano II fez uso dele em 1091 para apoiar suas reivindicações na ilha de Córsega, e papas posteriores (Inocêncio III, Gregório IX, Inocêncio IV) consideraram sua autoridade como certa. [2]
A propósito da Doação, Gosselin escreveu: [3]
O Papa Leão IX cita longos trechos dela em sua carta a Michael Cerularius, patriarca de Constantinopla, em 1054, a fim de estabelecer contra os gregos a jurisdição espiritual e temporal da Santa Sé.
No prólogo de sua transcrição da Doação, Leão IX diz: [4]Mas talvez, diz Leão, ainda reste algum escrúpulo em relação à sua dominação terrena (isto é, a do papado) e para que não suspeitem, nem de leve, que a Santa Sé Romana procura reivindicar e defender sua inabalável honra com fábulas tolas e antigas, apresentaremos aqui alguns privilégios que foram confirmados pela mão do referido Constantino, com uma Cruz de Ouro colocada sobre o venerável corpo do portador da chave celestial, pelos quais a verdade será confirmada e a vaidade será confundida: e para que todos os membros da Mãe Católica vejam que observamos a disciplina de São Pedro, que em sua epístola diz o seguinte sobre si mesmo: ‘Não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, mas vos demos a conhecer o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, sendo testemunhas oculares de sua majestade’. Assim, nós vos inculcamos coisas que não são conhecidas tanto por relatos quanto por visão e sentimento; portanto, sendo informados disso, saibam que o mesmo glorioso príncipe, no privilégio acima mencionado, após uma clara e perfeita confissão da fé cristã e um curioso louvor de seu batismo, promulgou assim a dignidade especial da Igreja Romana.

Notas e referências

1. Frank K. Flinn, Encyclopedia of Catholicism. New York: Facts On File, 2007, Art. “Donation of Constantine”, p. 236.

2. The Catholic Encyclopedia. Art. “Donation of Constantine“.

3. Jean Edne Auguste Gosselin, The Power of the Pope During the Middle Ages. Vol. I. London: C. Dolman, 1853, p. 318.

4. Citado em Michael Geddes, Several Tracts against Popery. London, 1715, p. 18 e 19.

 

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Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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