Entre a Ética e a Saúde

O número de pessoas que se declaram vegetarianas é cada vez maior. Todavia, nem sempre há um consenso sobre quais são os alimentos que o vegetariano come ou deixa de comer. Por exemplo, uma dúvida bastante comum é se o vegetariano toma ou não café. Considerando que o café é um produto exclusivamente de origem vegetal, um vegetariano poderia sem dúvida alguma fazer uso dessa bebida. Tabagismo, consumo de refrigerante, açúcar e frituras são outros itens que poderiam ser mencionados para exemplificar a questão. No entanto, além da divisão clássica e/ou nutricional das categorias de vegetarianos em função de suas preferências alimentares (veja o quadro “Dietas vegetarianas segundo o tipo de alimentos consumidos”), a motivação que alavancou a adoção da prática do vegetarianismo é essencial para entender a inclusão ou exclusão de determinados tipos de produtos e substâncias em sua dieta..

 

Motivos

Devido às restrições alimentares de cada um, segundo pesquisadores, a tradicional pirâmide alimentar nutricional ganharia uma configuração diferenciada em função da restrição na quantidade de alimentos permitidos segundo cada um dos tipos de regimes vegetarianos (veja quadro “Pirâmide alimentar diferenciada para vegetarianos”).

Também existe um seleto grupo de indivíduos classificados como frutarianos, os quais se alimentam geralmente apenas de frutas e sementes bem como o de vegetarianos crudívoros, composto por pessoas que consomem exclusivamente alimentos na forma crua. Todavia, mesmo com essa classificação ainda não é possível relacionar a exclusão de certos alimentos de origem vegetal da alimentação vegetariana. Para compreender a exclusão de outros itens ou mesmo a adoção de determinado estilo de vida, é necessário conhecer os motivos pelos quais os indivíduos adotam dietas restritivas, e, eventualmente, dietas muito restritivas.

Pesquisa feita nos Estados Unidos em 1992 indicou que 46% das pessoas que se declaram vegetarianas adotaram a prática alimentar em função da saúde ou religião; 24% adotaram o vegetarianismo em função dos direitos dos animais, meio ambiente e ética; 12% reportaram ser vegetarianos em função da prática alimentar adotada pela família ou pela convivência com amigos vegetarianos. E 18% não declararam motivação alguma para ser vegetarianos.
Evidentemente que, transcorridos 18 anos e considerando a situação atual do planeta, é esperado que tenha aumentado o número de adeptos ao vegetarianismo pela ética, quer em relação ao meio ambiente ou aos animais, e por razões de saúde.

Em função dessas duas principais classes de motivação, a saber, saúde e ética, é possível compreender mais claramente certas características e atitudes dos vegetarianos. Veja no quadro “Distinção entre vegetarianos éticos e saudáveis”, a exposição de alguns dos principais fatores que levam as pessoas a adotar determinado tipo de dieta vegetariana.

Vegetarianos éticos

Um exemplo exponencial entre os vegetarianos éticos na sociedade atual é o australiano Peter Albert David Singer, filósofo e professor universitário (Universidade de Princeton – USA), o qual atua na área de ética prática, tratando questões de ética pela perspectiva utilitarista. Ele é contra a discriminação feita a certos seres vivos fundamentada apenas no fato de serem de outra espécie.

 

Segundo o filósofo, quem come carne é culpado de especismo, algo como racismo praticado por humanos contra animais, dos quais o homem difere em grau, porém não em essência. Ele pondera que todos os seres vivos são capazes de sofrer e, portanto, devem ser tratados de forma igualitária. Sob essa ótica, o consumo da carne dos animais na alimentação é injustificável por criar sofrimento desnecessário.

Assim sendo, um vegetariano ético não está preocupado necessariamente em ter melhor saúde, podendo inclusive fazer uso de alimentos e substâncias nem sempre consideradas saudáveis. O importante para o vegetariano ético é não fazer mal ao próximo e tratar a todos de forma igualitária. Ele apresenta tendência a ser vegan, ou seja, restringir o consumo de qualquer produto de origem animal, pois este teria origem no sofrimento de outra espécie, fato injustificável para o vegetariano ético. Isso inclui evitar não somente os alimentos de origem animal, mas também produtos de origem animal tais como sapatos de couro, roupas de couro, corantes de origem animal, cremes que contenham produto de origem animal, produtos que tenham sido testados em animais, entre outros.

Evidentemente, a prática alimentar do vegetariano ético acarreta inegáveis benefícios à sua saúde, mas essa questão não é relevante para esse tipo de vegetariano. Apenas uma consequência não premeditada.

Vegetarianos saudáveis

O vegetariano saudável, como o nome diz, está mais preocupado com sua própria saúde. Muitas vezes ele chega ao vegetarianismo, de qualquer modalidade, em função de algum problema de saúde (hipertensão, câncer, diabetes, etc), buscando na alimentação amenizar seu problema ou mesmo a cura. Assim, é mais comum encontrar vegetarianos crudívoros no grupo de vegetarianos saudáveis, ao mesmo tempo que esse grupo apresenta o maior número de indivíduos ovolactovegetarianos.

Evidentemente, as pesquisas sobre a saúde dos vegetarianos é um grande motivador, sendo utilizadas como um dos principais argumentos para adoção da restrição alimentar.

 

Todavia, mais que mudanças no regime alimentar, o vegetariano saudável também apresenta usualmente mudança no estilo de vida, evitando geralmente bebidas alcoólicas, café, tabaco, açúcar e alimentos refinados, entre outras práticas. Adicionalmente, é mais adepto aos exercícios físicos, uso da água com finalidade terapêutica, ar puro, luz solar em horários apropriados e procura ter certa quantidade de horas semanais de repouso físico e mental.

Obviamente, ao não consumir alimentos de origem animal, mesmo na categoria ovolactovegetariana, esse grupo de vegetarianos também contribui com os demais seres vivos e meio ambiente e, caso adote a dieta vegan, o benefício aos animais e ao meio ambiente será ainda maior. Todavia, de forma correlata ao vegetariano ético, as consequências não atreladas à sua saúde, embora úteis, não determinam necessariamente sua adoção dessa prática alimentar.

De toda forma, pode ser concluído que, tanto os vegetarianos éticos como os saudáveis apresentam benefícios orgânicos (intencionais ou não) da prática alimentar adotada: ambos amenizam o sofrimento dos animais e contribuem para o meio ambiente. É claro, portanto, que a explicação para o consumo de certos alimentos e produtos não considerados saudáveis por indivíduos vegetarianos está diretamente associada à motivação deste na adoção do referido regime alimentar.

Késia Diego Quintaes é doutora em Alimentos e Nutrição

 

 

[Fonte: Vida e Saúde – Abr 2011, p.11 e 12]

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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