Mariologia à Luz da Bíblia – Estudo de Samuele Bacchiocchi

Escritores religiosos muitas vezes falam da era moderna como a “Era de Maria”. Um artigo de capa da revista Time, intitulado “The Search for Mary – A Busca por Maria”, observa: “Numa época em que cientistas debatem as causas do nascimento do universo, tanto a adoração como os conflitos envolvendo Maria subiram para níveis extraordinários. Um renascimento das bases da fé na Virgem está ocorrendo em todo o mundo. Milhões de fiéis estão se reunindo em seus santuários, muitos deles jovens. Ainda mais notável é o número das alegadas aparições da Virgem, da Iugoslávia ao Colorado, nos últimos anos.”[1]

O artigo relata que milhões de “pessoas do mundo inteiro estão viajando grandes distâncias para demonstrarem pessoalmente sua veneração à Nossa Senhora. O final do século 20 tornou-se a idade da peregrinação mariana” [2]. Vários exemplos informativos são citados. “Em Lourdes, o maior dos 937 santuários de peregrinação na França , o comparecimento anual nos últimos dois anos aumentou 10%, para 5,5 milhões.”

“Em Fátima, Portugal, a capela que marca a aparição de Maria diante de três crianças em 1917, atrai uma constante de 4,5 milhões de peregrinos ao ano, de um número cada vez maior de países . . . Em Czestochowa, Polônia, as visitas na Capela da Madona Negra já chegam a 5 milhões por ano, concorrendo com Fátima e Lourdes desde a visita de João Paulo em 1979. Ali, em agosto passado, o Papa falou a um milhão de jovens católicos. No ano passado,em Emmitsburg, Md., a presença de pessoas dobrou para 500.000, num dos mais antigos dos 43 principais locais marianos no Estados Unidos, a Capela Nacional da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes”.[3]

Num artigo de capa semelhante, intitulado “O significado de Maria”, a revista Newsweek sumaria a história de Maria dizendo:”O segredo do misterioso poder de Maria talvez seja apenas isto: por não ter história própria, ela atrai cada nova geração a criar uma imagem dela. A Bíblia oferece apenas pequenos relatos para se trabalhar. . . A partir dessa pequena linha de desenvolvimento, Maria gradualmente cresce. Surpreendentemente esta mãe judia desconhecida absorveu e transformou as mais poderosas deusas pagãs. Ela foi a Madona que dá a vida, mas também a Pietà que recebe os mortos. Uma vez que o ascetismo se tornou um caminho privilegiado para a santidade cristã, ela se tornou a perpétua virgem, um modelo de castidade e negação própria. Em 431, o Concílio de Éfeso emitiu a primeira declaração dogmática sobre Maria: ela estava para ser honrada como Theotokos ou a Mãe de Deus. . . . No século 19, tempos depois do culto a Maria ser rejeitado por muitos reformadores protestantes como um papismo sem sentido, o Papa Pio IX proclamou o dogma católico da Imaculada Conceição. ”[4]

João Paulo: Um Papa mariano

O crescimento de peregrinos às capelas marianas é quase ofuscado por relatos de alegadas novas aparições de Maria em diferentes partes do mundo. Esse crescimento trouxe grande satisfação ao hoje falecido Papa João Paulo II, cuja devoção a Maria era abundante em sua pátria polaca.

Quando João Paulo se tornou bispo em 1958, ele colocou um M dourado no seu brasão de armas e escolheu como seu lema Totus Tuus, que em latim significa “Totalmente Seu”, referindo-se a Maria, não a Cristo. “Durante suas incontáveis visitas às capelas marianas, João Paulo invocava a Madona em quase todos os discursos e orações que fazia. Ele pessoalmente acreditava que a intercessão especial de Maria poupou a sua vida quando foi baleado em 1981 na Praça de São Pedro. Além disso, como muitos outros, estava convencido que ‘Maria trouxe um fim ao comunismo na Europa.’[5]

Maria é vista como uma Ponte Ecumênica

Em 21 de novembro de 1964, o Concílio Vaticano II previu na sua Constituição Dogmática sobre a Igreja, chamada Lumen Gentium, que a intercessão de Maria “diante do Filho na comunhão de todos os santos” pode conseguir “reunir em paz e harmonia e, em um único Povo de Deus” todas as famílias da Terra (# 69). Àquelas alturas, protestantes viam essa predição como ridícula, mas hoje a situação mudou. Publicações recentes de protestantes a respeito de Maria indicam que ela realmente pode ser a ponte ecumênica que se está construindo para unir cristãos de todos os credos, minando a rejeição existente sobre os dogmas católicos de Maria.[6]

Após listar as sete principais publicações escritas em colaboração entre estudiosos católicos e protestantes, o anglicano John Macquarrie conclui: “Paradoxalmente, as mais importantes interpretações da doutrina mariana neste século chegaram até nós através de estudiosos protestantes de uma variedade de denominações. Ela é a mãe daqueles que ‘têm o testemunho de Jesus Cristo.’”[7]

Há uma crescente aceitação de Maria por escritores protestantes como a esperança da união ecumênica de todas as fés. No seu livro A Protestant Pastor Looks at Mary (Um pastor protestante encara Maria), o estudioso luterano Charles Dickson fala de Maria como um “modelo reluzente da genuína esperança cristã. É a esperança para toda a humanidade. Uma releitura e uma compreensão iluminada por parte da comunidade protestante ajudarão a recentrar a atenção de todo o mundo cristão em Maria, não como ponto de divisão, mas como a verdadeira ponte para a unidade de todos nós. “[8]

Em seu artigo “Protestants and Marian Devotion: What About Mary?” (Protestantes e Devoção Mariana: O que há sobre Maria?) o estudioso metodista Jason Byassee escreve: “Dizer ‘Santa Maria, cheia de graça, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte’ parece expressar um acréscimo extraescriturístico. Mas talvez pedir para Maria por rogo, ou orações, não é em si mesmo não-protestante. Fazendo isso pode-se talvez até mesmo manter o dogma cristológico e defender-se do patriarquismo. Quem sabe? Maria poderia ser exatamente a chave para o futuro ecumenismo, afinal de contas”.[9]

A busca ecumênica para uma redescoberta de Maria é exemplificada na colaboração entre eruditos católicos e protestantes para determinar o valor de Maria no Novo Testamento. O resultado mais notável desta busca conjunta é o livro Mary in the New Testament (Maria no Novo Testamento, 1978, 340 páginas), escrito por uma equipe de católicos e um grupo de Igrejas protestantes de destaque. Uma conferência entre anglicanos e teólogos ortodoxos orientais resultou no importante trabalho The Mother of God (A Mãe de Deus). Uma série de conferências entre eruditos católicos e luteranos produziu o livro The One Mediator, The Saints and Mary (O único mediador, os Santos e Maria, 1992). Paradoxalmente nos últimos anos, algumas das mais importantes reavaliações de Maria têm vindo de eruditos protestantes das mais diferentes denominações.

Maria poderia tornar-se a ponte entre católicos e muçulmanos

Maria também poderia ser a ponte entre católicos e muçulmanos, porque ela é reverenciada por ambos. Este ponto foi salientado por oradores em uma recente conferência cristã-muçulmana sobre o papel que desempenha Maria em cada religião. Na conferência, Janan Najeeb, diretor da Coalisão das Mulheres Muçulmanas de Milwaukee (Milwaukee Muslin Women´s Coalition), abordou o papel que Maria desempenha na fé islâmica.

Ela disse: “os muçulmanos não acreditam que Maria, conhecida como ‘Mariam”, em sua fé, é a mãe de Deus. Também não acreditam que ela seja livre da pecaminosidade humana porque não têm noção de pecado original. Muçulmanos, no entanto, reverenciam Maria como mãe de Jesus, um dos cinco maiores profetas–embora não o filho de Deus. Na fé islâmica, nós o vemos como uma ‘santa aperfeiçoada’ cuja pureza e fidelidade fazer dela um exemplo a seguir por todos os muçulmanos.

“Todos os muçulmanos são ensinados desde a mais tenra idade a amar, reverenciar e honrar Maria. É difícil encontrar um muçulmano que não seja espiritualmente elevado ao ler a história de Maria. Maria é mencionado mais vezes no Corão do que na Bíblia, de acordo com Najeeb. O 19º capítulo do Corão–intitulado “Mariam”–é dedicado a Maria, e que ela é a única mulher mencionada no texto sagrado islâmico pelo nome dado a ela e não por referências como ‘esposa de’ ou ‘ filha de’. Tão significativa é a posição dela no Islã que muitos teólogos acreditam que ela fosse uma profeta”. [10]

Nos últimos anos tanto o Papa João Paulo II como Bento XVI têm trabalhado duro para desenvolver um novo relacionamento entre o papado e o Islã. Esta parceria baseia-se na convicção de que católicos e muçulmanos adoram o mesmo Deus de Abraão e veneram a mesma Maria, a Mãe de Jesus. Esta crença é claramente expressa no novo e oficial Catecismo da Igreja Católica, que afirma: “A Igreja tem também uma grande consideração para com os muçulmanos. Eles adoram Deus, que é Único, Eterno e Subexiste, Todo-Poderoso e Misericordioso, Criador do céu e da terra, que também falou aos homens. Eles empenham-se em apresentar-se sem reservas aos decretos de Deus, assim como Abraão apresentou-se ao plano de Deus, cuja fé os muçulmanos associam à própria fé deles . Embora não reconhecendo Jesus como Deus, veneram a Jesus como um profeta, e também honram a sua Mãe virgem, e até mesmo, às vezes, devotamente a invocam.”[11]

É evidente que a estima católica sobre o Islã sofreu uma mudança fundamental de religião dos “infiéis”, para a de fiéis que adoram o mesmo Deus de Abraão e veneram a mesma Maria, Mãe de Jesus. A determinação dos Papas a desenvolver uma parceria com os muçulmanos decorre do simples fato de que os 1,3 bilhões de muçulmanos ultrapassa o 1 bilhão de católicos. Ao reconhecer a legitimidade da fé islâmica, o papa está facilitando a aceitação por parte dos muçulmanos de seu papel como o líder de uma futura Nova Ordem Mundial.

Objetivos do presente capítulo

À luz do crescente culto de Maria dos católicos e do aumento da devoção a Maria pelos protestantes como a esperança para a unidade ecumênica de todas as fés, é imperativo analisar as crenças populares sobre Marria à luz da Escritura. Este é o objetivo deste capítulo.

Por uma questão de clareza nosso estudo das crenças populares sobre Maria segue esta ordem sequencial:

1) A Perpétua Virgindade de Maria

2) A Imaculada Conceição de Maria

3) A Assunção Corporal de Maria

4) O Papel de Maria Como Mediadora

5) A Veneração de Maria

O procedimento que seguimos na análise destas crenças populares sobre Maria é simples. Primeiro declaramos a defesa católica e, em alguns casos, também protestante de suas crenças sobre Maria, e em seguida, submeteremos tais crenças à avaliação bíblica. Isto significa que o capítulo está dividido em cinco partes, de acordo com cada uma destas crenças.

Parte I – A Perpétua Virgindade de Maria

Foi o Sínodo Laterano de 649 AD que ressaltou pela primeira vez, o caráter tríplice da virgindade de Maria, a saber, que “Maria era uma Virgem antes, durante e após o nascimento de Jesus Cristo.”[12] Isto significa, conforme afirmado pelo apologisto católico Ludwig Ott, que “Maria deu nascimento em forma miraculosa sem a abertura do ventre e lesões ao hímen e, conseqüentemente, também sem dores.”[13]

A crença católica de que Maria foi uma virgem perpétua, ou seja, que ela viveu toda a sua vida como virgem e morreu virgem, é celebrada na liturgia católica como Aeparthenos, “Sempre-virgem.” O Novo Catecismo da Igreja Católica afirma esta crença, dizendo: “O nascimento de Cristo ‘não diminuem a integridade virginal de sua mãe, antes a santificou. Assim, a liturgia da Igreja celebra Maria como Aeparthenos, a ‘Sempre-virgem.’”[14]

O Catecismo resume a crença na virgindade perpétua de Maria, dizendo: “Maria permaneceu virgem ao conceber o seu Filho, virgem ao dar à luz a ele, virgem em carregá-lo, virgem em amamentá-lo em seu peito, sempre virgem.”[15] A virgindade de Maria é vista como uma condição prévia essencial para que ela “servisse no mistério da redenção com ele e dependentes dele, por graça de Deus.”[16]

O Catecismo continua dizendo: “Ser obediente, ela se tornou a causa de salvação para si e para toda a raça humana. Daí, não poucos dos primeiros Pais [da Igreja] comprazem-se em afirmar . . . “O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria: o que a virgem Eva amarrou por sua incredulidade, Maria soltou por sua fé. Comparando-a com Eva, eles chamam Maria ‘a mãe de todos os viventes’ e com freqüência afirmam: “Morte por Eva, vida por Maria “.[17]

É importante observar que para os católicos a perpétua virgindade de Maria e perfeição vitalícia, a capacita a servir como uma Redentora e dispenseira da graça de Cristo. Esta crença, como veremos em breve, está claramente expressa na Encíclica Ubi Primum, de Pio IX, promulgada em 2 de fevereiro de 1849. Esse tipo de ensino é claramente negado pela Escritura que ensina que “há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus” (1 Tim 2:5).

Defesa Católica da Perpétua Virgindade de Maria

Tomás de Aquino emprega vários argumentos para defender a perpétua virgindade de Maria. Por exemplo, ele argumenta que, se Maria tivesse relações sexuais com José após o nascimento de Jesus, isso seria “uma afronta ao Espírito Santo, cujo santuário foi o ventre vaginal, onde ele havia formou a carne de Cristo; portanto, seria ilegítimo que fosse profanado pela intervenção sexual com um homem.”[18]

Aquino conclui sua defesa da perpétua virgindade de Maria, dizendo: “Precisamos, portanto, simplesmente afirmar que a Mãe de Deus, como ela foi virgem em concebê-Lo e virgem em dar-Lhe nascimento, assim permaneceu virgem posteriormente. . . . Maria deu à luz em forma miraculosa sem abertura do ventro e lesões ao hímen e, consequentemente, também sem dores.”[19] Esta crença católica é expressa pelo título “perpétua virgindade”.

Os Reformadores Criam na Virgindade Perpétua de Maria

Surpreendentemente, os reformadores protestantes afirmaram a sua crença na perpétua virgindade de Maria. Martinho Lutero (1483-1546), por exemplo, foi fiel à tradição católica, quando escreveu: “É um artigo de fé que Maria é Mãe do Senhor, e ainda virgem. . . . Cristo, acreditamos, veio de um útero deixado perfeitamente intacto.”[20]

O reformador francês João Calvino (1509-1564) não foi tão liberal em seu louvor de Maria como Martinho Lutero, mas ele não nega a sua perpétua virgindade. A expressão que ele mais comumente usa em referência a Maria é “Santíssima Virgem”[21]

O reformador suíço Ulrico Zwinglio (1484-1531), escreveu, sobre a perpétua virgindade de Maria: “Acredito firmemente que Maria, de acordo com as palavras do evangelho, como uma pura virgem trouxe-nos o Filho de Deus e no parto e após o parto manteve-se sempre uma virgem pura e intacta.”[22] Noutro lugar Zwinglio afirmou: “Eu estimo imensamente a Mãe de Deus, a sempre casta, imaculada Virgem Maria; Cristo nasceu de uma maioria Virgem incontaminada.”[23]

A aceitação quase universal dos Reformadores da contínua virgindade de Maria, bem como a sua relutância generalizada em declarar Maria uma pecadora, foi sendo progressivamente rejeitada por seus seguidores. O motivo de sua ruptura com o passado em parte deu-se a um novo exame das passagens bíblicas utilizados para apoiar a perpétua virgindade de Maria. Além disso, as práticas idolátricas que se desenvolveram em associação com a veneração de Maria e a rejeição do celibato clerical, finalmente levaram a maioria das Igrejas protestantes a rejeitar várias crenças católicas sobre Maria.

Anglicanos e Católicos Concordam Sobre Maria

Em anos recentes, como referido anteriormente, a oposição protestante à veneração de Maria enfraqueceu consideravelmente. Exemplo disso é declaração de 57 páginas emitida pela Comissão Internacional Conjunta Anglicana-Católica Romana sobre a doutrina e devoção marianas. Um ponto-chave discutido no acordo é a “visão não-católica de que a imaculada concepção de Maria, a sua liberdade de pecado original e resultante isenção de pecado, contradiz o ensinamento da Bíblia de que ‘todos pecaram’ (Rm 3:23), e que Jesus é a única exceção (Heb. 4:15). O acordo responde a esta tradicional opinião protestante dizendo: “podemos afirmar conjuntamente que a obra redentora do Cristo ‘remonta’ em Maria às profundezas do seu ser, e a seus inícios sem violar a Escritura.”[24]

Com respeito à rejeição protestante da crença católica na assunção de Maria para o céu no fim de sua vida, o acordo declara: “podemos afirmar conjuntamente o ensino de que Deus tomou a Bendita Virgem Maria na plenitude de sua pessoas à Sua glória em consonância com a Escritura, uma vez que Deus recebeu a outros (Elias, Estêvão, o ladrão na cruz).”

Em outras crenças católicas significativas sobre a perpétua virgndade de Maria, o seu papel redentor, e sua veneração por orar a ela, o acordo mostra que teólogos anglicanos estão procurando maneiras de abraçar, pelo menos em parte, tais crenças. É evidente que a oposição protestante à devoção e veneração marianas está enfraquecendo gradualmente.

Argumentos Católicos da Escritura

O dogma católico da perpétua virgindade de Maria é baseado em suposições dogmáticas, não em ensinos bíblicos comprovados. Isto é evidenciado pelo fato de que os eruditos católicos citam apenas alguns versos bíblicos para apoiar a alegada perpétua virgindade de Maria. Por exemplo, o apologista católico, Ludwig Ott resume-os da seguinte forma: “A partir da pergunta que Maria dirige ao anjo, Lucas 1:34: “Como se fará isso, uma vez que não conheço varão?” é inferido [por alguns teólogos católicos] que ela tinha tomado a resolução de constante virgindade com base na iluminação Divina especial. Outros observam que o fato de o Redentor morimbundo confiou Sua Mãe à proteção do Discípulo João (João 19:26), “Mulher, eis aí o teu Filho”, pressupõe que Maria não teve outros filhos, somente Jesus.”[25]

As referências aos “irmãos” de Jesus (cf. Mat. 13:55; Marcos 6:3; Gal. 1:19) são interpretadas pelos católicos como referindo-se a “primos” de Jesus, não a irmãos de sangue. Outros acadêmicos católicos sugerem que talvez eles fosse filhos de José de um casamento anterior, preservando, assim, a perpétua virgindade de Maria. Este último ponto é muito importante nos ensinamentos católicos, porque sexo é associado com o pecado. Virgindade é visto como um pré-requisito para alcançar um nível mais elevado de pureza e, em última análise, santidade.

RESPOSTA BÍBLICA À PERPÉTUA VIRGINDADE DE MARIA

A Origem Pagã e as Implicações da Perpétua Virgindade

A Bíblia ensina claramente que Maria fora uma virgem antes e no momento do nascimento de seu filho Jesus (Isa. 7:14; Mat. 1:18-25, Luc. 1:26-27), mas nada sugere que ela continuou a ser virgem depois. As raízes do dogma da perpétua virgindade de Maria devem ser procuradas no ambiente pagão da era pós-apostólica quando houve uma forte ênfase no celibato dentro de certas religiões pagãs (as virgens vestais de Roma pagã) e seitas gnósticas “cristãs”. O intercurso sexual, mesmo dentro do casamento, era frequentemente carregado de suspeita de delito. Este ponto de vista finalmente levou Agostinho (354-430) a ensinar que o pecado original é transmitido através da procriação mediante relações sexuais.

A associação de sexo com pecado finalmente deu origem à idéia de que era inconcebível que Maria pudesse ter-se envolvido em relações conjugais normais após o nascimento de Jesus. Para ser santa Maria tinha que ser virgem antes e depois do nascimento de seu filho, Jesus. Seu hímen teve que permanecer intacto durante e após Jesus nascer, a fim de que ela alcançasse o mais alto estado de santidade. Esta idéia foi consolidada na tradição do celibato para padres e freiras.

A noção toda da perpétua virgindade de Maria compromete a integridade e humanidade da encarnação de Cristo, ao propor que Ele não só foi concebido, como também nasceu milagrosamente pelo Espírito Santo. Como homem-Deus, Cristo dificilmente poderia ter sido “em tudo feito semelhante a seus irmãos” (Hb 2:17) pela participação “das mesmas coisas” (Hb 2:14), se Ele foi arrebatado para fora do útero Maria milagrosamente, deixando o hímen de Maria intacto. Se tanto o nascimento quanto a concepção de Cristo foram rigorosamente obra do Espírito Santo que apenas tomou emprestado o ventre de Maria por nove meses, então a integridade e humanidade de Sua encarnação estão seriamente comprometidas.

Deus Criou o Sexo

A idéia toda da perpétua virgindade de Maria é baseada na perversa crença de que o sexo é pecaminoso. Essa crença é negada pela Escritura. A primeira declaração relativa à sexualidade humana é encontrada em Gênesis 1:27: “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. É digno de nota que, embora depois de cada ato de criação anterior a Escritura diga que Deus viu que “era bom” (Gên 1:12, 18, 21, 25), após a criação do homem como macho e fêmea, ele diz que Deus viu que “era muito bom” (Gên. 1:31).
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Esta primeira divina apreciação da sexualidade humana como “muito bom” mostra que a Escritura vê as relações sexuais homem/mulher como parte da bondade e perfeição da criação original de Deus. Assim, o dogma da perpétua virgindade de Maria anula a visão bíblica positiva do sexo, além de rebaixar as mulheres que optem pelo casamento, em vez de celibato.

Nos ensinamentos católicos uma mulher que se dedica à sua família, educando os filhos no temor de Deus dificilmente pode alcançar o mesmo estado de santidade de uma mulher que opta por permanecer virgem para servir ao Senhor. Tal ensino dificilmente pode ser apoiado pelas Escrituras, que exalta mulheres consagradas a Deus como Ana por dedicar-se à educação de Samuel (1 Sam. 1 e 2).

O Nascimento de Cristo foi Normal

A crença de que Maria permaneceu virgem durante e depois do nascimento de Cristo, é desacreditada por todas as descrições do evento, que indicam um nascimento normal. Lucas, por exemplo, escreve: “E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos” (Luc. 2:7). Paulo fala de Cristo como “nascido de mulher” (Gal. 4:4). Em Mateus o anjo explica para José: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus” (Mat. 1:21).

Nenhum desses versos usa as palavras comuns para milagre, sinal ou maravilha. Não há referência a anjos ou ao Espírito Santo arrebatando Jesus miraculosamente do útero de Maria. Eles nos dizem simplesmente que foi Maria que “deu à luz ao seu primeiro filho” (Luc. 2:7). A idéia de um parto miraculoso de Cristo, sem passar pelo canal de parto ou sem causar dor, se encontra nos escritos apócrifos agnósticos do segundo e terceiro século, mas não na inspiração do Novo Testamento.

José e Maria eram Sexualmente Íntimos Após o Nascimento de Cristo?

Mateus sugere que Maria e José eram sexualmente íntimos após o nascimento de Jesus. Por exemplo, Mateus afirma que “antes de se ajuntarem, ela [Maria] achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mat. 1:18). O termo “ajuntar” (de sunerchomai) inclui a idéia de intimidade sexual (cf. 1 Cor. 7:5). O que fica implícito é que em última instância José e Maria “se ajuntaram” e vivenciaram a intimidade sexual.

Mateus declara que José “não a conheceu até que deu à luz seu filho” (Mat. 1:25). A frase “não a conheceu” sugere que José não teve relações sexuais com Maria até após o nascimento de Cristo. Nas Escrituras um homem conhece uma mulher ao se tornar sexualmente íntimo dela. “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu” (Gên. 4:1).

A frase “E deu à luz a seu filho primogênito” (Luc. 2:7; Mat. 1:25), sugere que Maria deu à luz de maneira natural, não de modo miraculoso. Foi Maria que pariu a Jesus. Não há menção de envolvimento do Espírito Santo no nascimento de Jesus.
O advérbio “até-heos hou” na frase José “não a conheceu até que deu à luz seu filho” (Mat. 1:25), implica que após o nascimento de Jesus, eles tiveram relações conjugais normais. Como Jack Lewis assinala, “no restante do Novo Testamento (Mat. 17:9; 24:39; João 9:19) a palavra até (heos hou) seguida por uma negação sempre implica que a ação negada se realizava posteriormente”.[26] Não há razão válida para assumir que Mateus 1:25 é uma exceção. Tivesse Mateus desejado transmitir a idéia da virgindade perpétua de Maria, ele simplesmente teria escrito: “Mas ele nunca teve qualquer união com ela”.

Jesus é Chamado de “Primogênito” de Maria.

Em Lucas 2:7 Jesus é chamado de o “primogênito-prototokon”. Enquanto o termo “primogênito” não mostra inequivocamente que Maria teve outros filhos, o significado natural é que ela teve. Se a virgindade perpétua de Maria era uma crença comum nos tempos de Novo Testamento, Lucas teria simplesmente escrito que ela deu à luz a seu “único” filho. Isto certamente teria resolvido o problema.


Vale salientar que Lucas escreveu muito depois do nascimento de Cristo, possivelmente após o falecimento de José e Maria. Se Jesus fosse o único filho de Maria, em retrospectiva, ele usaria a palavra “unigênito-monogene,” não a palavra “primogênito-prototokon”. No contexto “primogênito” implica que Maria teve outros filhos. Isto é confirmado pelo fato de que todos os evangelhos afirmam que Jesus tinha irmãos e irmãs.

Quem Foram os “Irmãos e Irmãs” de Jesus?

Há várias referências claras aos “irmãos e irmãs” de Jesus no contexto de Sua família próxima (primeiro grau). Estes textos sugerem que eles eram irmãos reais, não primos. Por exemplo, Mateus escreve: “Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs?” (Mat. 13:55-56). Este texto sugere que Jesus tinha uma grande família de pelo menos quatro irmãos e duas irmãs.

João, o mais místico de todos os evangelhos, sugere que Jesus não era filho único. “Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos” (João 2:12). “Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes” (João 7:3).

Paulo também se refere a Tiago como “irmão do Senhor”. “Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor”. (Gál. 1:18-19). “Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1 Cor. 9:5; ênfase acrescentada).

Duas explicações principais são dadas por apologistas católicos para conciliar estes textos com sua crença na virgindade perpétua de Maria. Alguns argumentam que a menção a “irmãos e irmãs” dizia respeito a meio-irmãos e meio-irmãs de Jesus. Eles seriam filhos de José de um casamento anterior, preservando assim a perpétua virgindade de Maria. Outros seguem o argumento de Jerônimo, de que esses eram primos de Jesus, não irmãos de sangue.[27]

O principal argumento usado para defender estas interpretações é que no idioma hebraico não há nomes específicos para a parentela. A palavra hebraica ah e a aramaica aha, podem significar irmão, meio-irmão, primo, sobrinho ou qualquer parente de sangue. Isto é verdade para o idioma hebraico, mas não para o grego. Esta interpretação ignora que todos os quatro evangelhos foram escritos em grego, não hebraico.

No idioma grego há duas palavras distintas para irmãos e primos, para irmão adelphos e para primo anepsios. A última é usada em Colossenses 4:10, onde Marcos é descrito como o primo-anepsios (sobrinho em algumas versões) de Barnabé. Mas a palavra primo nunca é usada em referência aos irmãos e irmãs de Jesus. Soubessem os escritores dos evangelhos que Tiago, José, Simão e Judas eram primos de Jesus, eles teriam usado a palavra anepsios para evitar qualquer confusão.

As palavras “irmão” e “irmã” são consistentemente usadas no Novo Testamento na definição de uma família, e sempre se referindo a um irmão ou irmã de sangue (Mar. 1:16,19; 13:12; João 11:1-2; Atos 23:16; Rom. 16:15). Por que se deve presumir que os termos “irmãos” e “irmãs” são usados figurativamente por Mateus, quando ele usa o termo “mãe” literalmente? Se “irmã” é literal em Atos 23:16 (irmã de Paulo), não há razão para interpretar a mesma palavra num sentido diferente em Mateus 13:56. É um princípio hermenêutico estabelecido que palavras devem ser entendidas no seu sentido literal a menos que a interpretação literal envolva uma contradição óbvia.

Apoio indireto para essa conclusão é provido pelas descrições das viagens de José e Maria, primeiro para Belém e depois para o Egito. Lucas nos conta que José e Maria viajaram de Nazaré para Belém “a fim de alistar-se” (Luc. 2:5). Se José tivesse pelo menos seis filhos de um casamento anterior, esperaríamos que viajassem com ele como uma família. O fato de que apenas José e Maria são mencionados por Lucas, sugere que pelo tempo de seu noivado José não tinha filhos. É difícil acreditar que um homem piedoso como José iria abandonar seus filhos para se casar com Maria.

Apoio para essa conclusão é também fornecido pela descrição de Mateus da fuga para o Egito. Um anjo instrui José num sonho dizendo: “Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga” (Mat. 2:13). Depois da morte de Herodes, o mesmo anjo diz para José: “Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino” (Mat. 2:20).

Em ambos os casos, a viagem consiste somente de José, Maria e o menino Jesus. Não há menção das seis crianças que José supostamente teve de um casamento anterior. Teria José os deixado sozinhos em Nazaré por vários anos até que ele e Maria retornassem do Egito com Jesus? Este dificilmente seria o caso, uma vez que todos os membros da família deviam ser alistados. Estas considerações nos levam a concluir que Maria provavelmente teve outros filhos além de Jesus.

Maria Decidiu Permanecer Perpetuamente Virgem?

Da pergunta que Maria faz ao anjo em Lucas 1:34: “Como se fará isto, visto que não conheço homem algum?” alguns católicos inferem que ela tinha resolvido permanecer virgem pelo resto de sua vida. Mas a pergunta de Maria dificilmente sugere que ela tinha feito um voto de virgindade. Tivesse feito isso, por que ela se tornaria noiva de José antes de ficar grávida (Mat. 1:18)?

A noção de José e Maria vivendo num estado celibatário perpétuo é contrário aos ideais de Deus para o casamento, que se destina a unir um homem e uma mulher como”uma carne” (Gen. 2:24; Mat. 19:5-6). Depois da primeira ligação física, há a responsabilidade contínua de marido e mulher honrarem seus deveres conjugais: “O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido” (1 Cor. 7:3). Qualquer abstinência deve ser por consentimento mútuo “por algum tempo . . . e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência” (1Cor. 7:5).

Por que Jesus Confiou sua Mãe a João?

O fato de que na cruz Jesus confiou Sua mãe a João dizendo: “Mulher, eis aí o teu filho” (João 19:26), é vista por apologistas católicos como uma evidência de que Maria não tinha outros filhos além de Jesus. Por exemplo, Ludwig Ott escreve: “O fato de que o Redentor, à beira da morte, confiou Sua mãe à proteção do discípulo João (João 19:26), ‘Mulher, eis aí o teu filho,’ pressupõe que Maria não tinha outros filhos além de Jesus”.[28]

Esta suposição ignora o fato de que naquela época os irmãos de Jesus não eram crentes (João 7:5) e presumivelmente não estavam presentes junto à cruz. O argumento que de acordo com a lei mosaica, o parente mais próximo é requerido cuidar de Maria, ignora o fato de que Jesus estava mostrando compaixão por Sua mãe, na ausência de quem deveria cuidar dela.

Além disso, Cristo ensinou que o compromisso para com Ele supera os laços sanguíneos mais próximos. Quando Sua mãe e Seus irmãos apareceram enquanto ensinava, Ele disse: “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe” (Mat. 12:48-50). Com exceção de Sua mãe, Sua própria família naquela época não cria nEle. Assim Ele poderia apenas confiar Sua própria mãe a mãos crentes. E João era próximo de Jesus e poderia ser encarregado de cuidar de Sua mãe.

Conclusão:

O dogma católico da virgindade perpétua de Maria é despojado de qualquer evidência bíblica razoável. As poucas passagens que são empregadas na defesa do dogma, nem mesmo tratam do assunto. Mas a Igreja Católica não depende de autoridade bíblica para definir seus ensinos. Ela clama a autoridade para definir seus próprios dogmas, para escrever suas próprias regras e para criar seus próprios “intercessores” (2 Tes. 2:4).

O dogma da virgindade perpétua de Maria é uma das principais superstições antigas que foram empurradas às almas sinceras as quais lhes foi ensinado a nunca questionarem a voz da sua Igreja. É uma triste realidade que hoje milhões de pessoas sinceras, mas de forma ignorante e acrítica seguem um sistema autocrático que abertamente se opõe verdades reveladas por Deus.

Parte II – A Imaculada Conceição de Maria

Há uma progressão lógica nos dogmas católicos sobre Maria, cada um construído sobre o outro e finalmente aumentando a lacuna entre os ensinamentos bíblicos e os ensinamentos marianos católicos. Philip Schaff, um renomado historiador da Igreja do século XIX, corretamente observa que “do ponto de vista romano este dogma [da imaculada conceição] completa a Mariologia e Mariolatria, que passo a passo avançaram da virgindade perpétua de Maria a sua isenção de pecado após a concepção do Salvador, até à isenção de pecado após o parto, e finalmente a sua isenção do pecado original e hereditário [na concepção]. A única coisa que resta agora é proclamar o dogma de sua assunção ao céu, que foi durante muito tempo uma opinião mística na Igreja Católica”.[29]

A predição de Schaff de que o último passo na glorificação de Maria seria a proclamação do dogma de sua assunção ao céu foi cumprida em 1950, isto é, 57 anos depois de sua morte, ocorrida em 1893. Schaff nota que a glorificação progressiva de Maria corresponde ao “progresso na adoração de Maria, bem como a multiplicação de suas festas, festas essas que sempre ofuscam a adoração a Cristo. Ela, terna, compassiva e amável mulher, é invocada pela sua poderosa intercessão, em vez de seu Divino Filho. Ela é feita a fonte de toda graça, a mediadora entre Cristo e é virtualmente colocada no lugar do Espírito Santo. Quase não existe um epíteto de Cristo que os católicos romanos não apliquem à Virgem”.[30]

Definição do Dogma da Imaculada Conceição

Algumas pessoas confundem o dogma católico da imaculada conceição de Maria com a doutrina bíblica da concepção virginal de Cristo. A concepção de Jesus foi quase seguramente imaculada (sem pecado), mas este dogma se refere a Maria, não Jesus. Este doma alega que Maria foi preservada de pecado original desde o momento de sua concepção até o final de sua vida. Como isso supostamente aconteceu será explicado a seguir.

O dogma oficial da imaculada conceição, conhecido como ineffabilis Deus, foi promulgado pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854, por ocasião da Festa da Conceição. Na presença de mais de 200 cardeais, bispos e outros dignitários, Pio IX solenemente definiu e promulgou este dogma dizendo: “Nós declaramos, pronunciamos e definimos, que a doutrina que afirma que a Bendita Virgem Maria, do primeiro momento de sua concepção, por graça singular e privilégio do Todo-Poderoso Deus, e em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador da raça humana, foi preservada livre de qualquer mancha de pecado original, é uma doutrina revelada por Deus e, por essa razão, precisa ser firme e constantemente acreditada por todos os fiéis”.[31]

A Glorificação de Maria como um Canal de Graça e Redenção

A promulgação do dogma da imaculada conceição representa a culminação do processo de glorificação de Maria como um canal de graça e redenção para a humanidade. O objetivo do dogma é revelado na encíclica Ubi Primum que Pio IX enviou para os bispos em 2 de fevereiro de 1849, para solicitar a opinião e encorajar a cooperação deles em promover a aceitação do dogma da imaculada conceição, que logo seria promulgado.

A Encíclica contém citações reveladoras: “Nós grandemente ansiamos que, assim que possível, vós nos deis apreciação da consideração de devoção que anima vosso clero e vosso povo com respeito à imaculada conceição da Bendita Virgem, e quão ardentemente incandesce o desejo de que esta doutrina seja definida pela Sé Apostólica. E especialmente, veneráveis irmãos, desejamos saber o que vós mesmos, em vosso sábio julgamento, pensais e desejais sobre esta questão. . . . Temos certeza que será vosso prazer cooperar zelosa e diligentemente com nossos desejos, e que prontamente nos suprireis com as respostas que requisitamos”.[32]

Depois de apelar aos bispos para aceitar e gerar apoio popular para a crença na imaculada conceição de Maria, a Encíclica continua declarando: “O fundamento de toda nossa confiança, como bem sabeis, veneráveis irmãos, é encontrado na Bendita Virgem Maria. Pois Deus entregou a Maria a mordomia de todas as coisas boas, a fim de que todos possam saber que através dela são obtidas toda esperança, toda graça e toda a salvação. Por isso é vontade de Deus que nós obtenhamos tudo através de Maria”[33] Mais de seiscentos prelados responderam, e com exceção de quatro, todos aprovaram a definição papal da imaculada conceição.

Note que esta Encíclica papal claramente expressa o que frequentemente apologistas católicos tendem a negar, ou seja, a crença de que através de Maria “são obtidas toda esperança, toda graça e toda a salvação. Por isso é a vontade de Deus que nós obtenhamos tudo através de Maria”. Por fazer de Maria a dispenseira de “toda esperança, toda graça e toda a salvação,” a Igreja Católica finalmente minimiza o papel redentor de Cristo. Se esperança, graça e salvação podem ser obtidas através de Maria, o ministério intercessório e redentor de Cristo dificilmente se faz necessário. Finalmente, a adoração de Maria em devoções populares suplanta a adoração de Cristo. O resultado final é a adoração idólatra da criatura em lugar do Criador.

Os Mecanismos da Imaculada Conceição

Para entender a definição católica da imaculada conceição de Maria, é necessário explicar primeiro a visão católica dualística da natureza humana. Expressado de maneira simples, católicos e a maioria dos protestantes acreditam que todo ser humano nasce com um corpo mortal e uma alma imortal. Já temos feito notar [em diferentes artigos e livros de minha lavra] que recentemente um grande número de estudiosos católicos e protestantes rejeitou a visão dualística platônica da natureza humana, abraçando em lugar a visão holística bíblica.

De acordo com a visão dualística, na concepção um corpo é formado no útero da mãe como resultado da inseminação de um pai. No momento da concepção do corpo, uma alma é criada e infundida no corpo. Esse processo é chamado de animação, isto é, a implantação de uma anima (que é o termo latim para alma) no corpo. Cada alma é infundida no corpo com a mancha de pecado original. Sobre circunstâncias normais tal mancha é supostamente removida no batismo logo após o nascimento da criança.

No caso de Maria, no entanto, a mancha do pecado original não foi removida no batismo, mas foi excluída por completo de sua alma no momento da concepção. Em outras palavras, o corpo de Maria foi infundido com uma alma limpa sem a mancha de pecado original. Em adição, uma santidade especial foi concedida a ela de tal forma que excluiu do seu corpo a presença de todas as emoções, paixões e inclinações pecaminosas.

A imunidade de pecado original na alma, assim como a exclusão do pecado hereditário do corpo, foram dados a Maria no momento da concepção pelo mesmo Cristo que purifica os crentes do pecado pelo batismo. Deste modo, a concepção de Maria foi imaculada, porque ela estava eximida da presença de pecado original na sua alma, e de pecado hereditário no seu corpo. Este é o significado essencial do dogma católico da imaculada conceição.

Este dogma vai além de atribuir concepção sem pecado a Maria, por também reivindicar que ela viveu uma vida totalmente sem pecado. Como declarado no Catecismo da Igreja Católica, “a Mãe de Deus ‘a toda santa’ (Panagia) . . . [era] ‘imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espirito Santo, e formada como uma nova criatura’. Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida”.[34]Assim, de acordo com o ensinamento católico oficial, Maria foi concebida sem nenhum traço de pecado e permaneceu sem pecado durante sua vida inteira. Logo veremos que este ensinamento é claramente condenado pelas Escrituras, que ensinam que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rom. 3:23; ênfase acrescentada).

Uma Questão Muito Debatida

Teólogos católicos têm debatido por séculos a questão da imaculada conceição de Maria. A questão mais polêmica era se Maria foi santificada, isto é, purificada do pecado, antes ou depois da infusão de uma alma em seu corpo, um processo conhecido como animação. No século III, John Duns Scotus e os monges franciscanos, promoviam a visão de que Maria fora purificada do pecado na concepção de seu corpo e antes da infusão de uma alma sem a mancha de pecado original. Assim, para eles, tanto o corpo como a alma de Maria nunca foram expostos ao pecado.

Essa visão foi contestada por Tomás de Aquino e subsequentemente pelos monges dominicanos. A razão dada por Aquino pode parecer cavilosa e detalhista para uma mente moderna não familiarizada às argumentações minuciosas de eruditos. Aquino escreve: “A santificação [purificação do pecado] da Bem-aventurada Virgem, não pode ser entendida como tendo tido lugar antes da animação [infusão da alma], por duas razões. Primeiro porque a santificação, da qual estamos falando, não é nada mais do que a purificação do pecado original. . . . Segundo porque . . . antes da infusão da alma racional, a descendência concebida não é devedora ao pecado”.[35]

Simplesmente expresso, Aquino argumenta que a purificação do pecado de Maria tomou lugar depois da infusão da alma, porque é a alma que faz uma pessoa racional e sujeita ao pecado. Se tanto o corpo como a alma de Maria foram sem pecado desde a concepção, então ela não precisaria de um Salvador. Tal visão, de acordo com Aquino, é “depreciativa à dignidade de Cristo” que é “o Salvador universal de todos”.[36] Maria precisava de um Salvador como qualquer outro ser humano. Isto é uma verdade bíblica inegável.

A solução adotada por Aquino é que Maria foi purificada do pecado depois de sua concepção e recepção da alma, mas antes do nascimento efetivo. Em outras palavras, Maria foi imaculada, isto é, sem pecado, não da concepção, mas do tempo do seu real nascimento. A diferença entre os dois parece insignificante para uma pessoa leiga, mas é de grande importância para a teologia católica, porque isto determina se Maria era sem pecado antes de sua concepção ou do seu nascimento efetivo.

Note que, para os católicos o caso não é Maria sem pecado. Neste ponto todos eles concordam que Maria o era. A única questão debatida é: “Quando Maria se tornou sem pecado, na concepção com a infusão da alma, ou nove meses depois no momento de seu nascimento propriamente dito?” O dogma da Imaculada Conceição abrigou a questão, declarando que Maria era sem pecado no exato momento de sua concepção.

Este dogma tem o propósito de reassegurar aos fiéis católicos, como declarado por Pio IX, que Maria pode dispensar “toda a esperança, toda graça e toda a salvação” porque ela foi concebida sem pecado e viveu toda a sua vida sem qualquer traço de pecado. Sua pureza a qualifica a ser uma co-redentora–uma crença popular católica examinada mais tarde neste capítulo.

A Imaculada Conceição Deriva da Visão Dualística da Natureza Humana

latônica dualística da natureza humana, de acordo com ela, a alma é infundida no corpo no momento da concepção e deixa o corpo na morte. Já temos feito notar que tal ensinamento é estranho à Bíblia, que ensina a visão holística da natureza humana.

Vimos que a Bíblia ensina que a natureza humana consiste de uma unidade indissolúvel, onde o corpo, alma e espírito representam diferentes aspectos da mesma pessoa, e não diferentes entidades funcionando de maneira independente. A alma não é infundida no corpo na concepção, mas é o princípio animado do corpo. Simplesmente expresso, nas Escrituras um corpo vivo é uma alma viva e um corpo morto é uma alma morta.

A visão holística bíblica da natureza humana remove a base da imaculada conceição de Maria, porque nega a noção de infusão da alma na concepção. Em lugar algum a Bíblia sugere que o pecado original é uma realidade biológica transmitida através da infusão da alma na concepção. Pecado original é uma condição moral básica de nossa natureza caída que influencia tudo em nós e sobre nós. “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rom 3:23). O dogma da Imaculada Conceição representa uma das muitas heresias que derivam da visão dualística da natureza humana.

Cenário Histórico do Dogma da Imaculada Conceição

É muito instrutivo olhar para o cenário histórico do dogma da imaculada conceição Ineffabilis Deus, promulgado em 1854 pelo Papa Pio IX. Seu pontificado foi o maior da história, de 1846 a 1878. Este é um tempo paradoxal para o papado. O maior desses paradoxos foi que enquanto os papas estavam perdendo poder territorial e temporal, eles tentaram compensar isso solidificando o seu poder religioso, promulgando dogmas para provar sua autoridade e infalibilidade (um movimento conhecido como “ultramontanismo”).

Em 1849 Pio IX foi exilado de Roma e impedido de voltar até que a França interviesse a seu favor. Depois de sua restauração, ao invés de continuar algumas das avaliações reformatórias, ele tentou governar como um monarca absoluto. Confrontou as principais forças europeias do seu tempo, até que em 20 de setembro de 1870, as tropas do novo Reino da Itália tomaram os Estados papais.

Justo Gonzales, um dos mais respeitados historiadores da Igreja de nossos tempos, perceptivelmente nota que “Enquanto perdia seu poder, Pio IX insistiu em reafirmá-lo, mesmo se isto pudesse ser feito apenas de maneiras religiosas. Assim, em 1854 ele proclamou o dogma da Imaculada Conceição. De acordo com este dogma, Maria por si mesma, por virtude de sua eleição para ser a mãe do Salvador, foi mantida pura de toda mácula de pecado, incluindo o pecado original. Isto foi uma questão que teólogos católicos debateram por séculos, sem chegar a nenhuma conclusão”.[37]

Gonzales continua apontando que “o fato mais significativo de um ponto de vista histórico, foi que, ao proclamar este dogma como uma doutrina da Igreja, Pio IX se tornou o primeiro papa a definir um dogma por conta própria, sem o apoio de um concílio. Em certo sentido, a bula Ineffabilis, que promulgava a Imaculada Conceição de Maria, foi um teste para ver como o mundo reagiria. Desde que a bula não encontrou muita oposição, o palco estava preparado para a promulgação da infalibilidade papal [em 1870]”.[38]

Os historiadores Nicholas Perry e Loreto Echeverria enfatizam a conexão significativa entre os dogmas da Imaculada Conceição e da Infalibilidade Papal. Eles escrevem: “Longe de ter gestação coincidente, os dois dogmas estão se reforçando mutuamente e se complementando. Eles são a consumação de uma aliança entre Roma e ‘Maria’ desde os primeiros tempos. Como a supervisora materna invisível da Igreja, tornou-se como Deus–ou tão ‘pura’ quanto a Segunda Pessoa de Trindade—assim sua contraparte paternal visível faz um avanço comensurável. Quando o mundo questiona a Cadeira de Pedro e suas prerrogativas, é requerida confirmação celestial. Por sua vez, este fator sobrenatural pode ser ratificado somente por uma voz super-humana: a da infalibilidade”.[39]

Com o sucesso do dogma da Imaculada Conceição, Pio IX, subsequentemente convocou o Concílio Vaticano I que formalmente declarou a infalibilidade papal. A Imaculada Conceição foi o primeiro dogma católico definido somente pela autoridade papal. O Papa pediu a opinião dos Bispos na encíclica Ubi Primum, mas ao promulgar o dogma ele não fez qualquer menção em representar os pontos de vista da Igreja em sua maioria. Como expresso por Maurice Hemington no seu clássico livro Hail Mary?: The Struggle for Ultimate Womenhood in Catholicism, “Foi um decreto solitário. Maria foi usada como um instrumento para solidificar o poder hierárquico no catolicismo”.[40]

De uma perspectiva histórica, a promulgação do dogma da Imaculada Conceição em 1854 representa o esforço unilateral do Papa Pio IX para provar sua autoridade papal de modo religioso num momento em que o poder político dos papas estava chegando a um fim. O resultado final é que a Igreja Católica hoje está afetada por dogmas não-bíblicos que não podem ser desfeitos porque foram promulgados ex catedra, isto é, como um pronunciamento oficial infalível do papa.

UMA RESPOSTA BÍBLICA AO DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

Fontes católicas reconhecem a falta de apoio bíblico direto para o dogma da Imaculada Conceição. Por exemplo, A Enciclopédia Católica admite que “nenhuma prova convincente direta ou categórica do dogma pode ser tirada da Escritura”.41 Dois textos principais são geralmente usados para apoiar a Imaculada Conceição: Gênesis 3:15 e Lucas 1:28. Veremos que nenhum desses textos nem mesmo lembram essa doutrina.

Gênesis 3:15: Maria é a Mulher em Inimizade com a Serpente?

Católicos acreditam que “a primeira passagem bíblica [Gên. 3] que contém a promessa de redenção, menciona também a Mãe do Redentor”:[42]“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gên. 3:15). Fontes católicas sempre interpretam a inimizade entre Satanás e a mulher como representando o conflito entre Satanás e Maria.

Por exemplo, A Enciclopédia Católica interpreta o texto dizendo: “A mulher em inimizade com a serpente é Maria. Deus colocou inimizade entre ela e Satanás da mesma maneira e medida como há inimizade entre Cristo e a semente da serpente. Maria sempre devia estar no estado exaltado de alma que a serpente destruiu no homem, i.e. em graça santificante. Somente a contínua união de Maria com a graça explica suficientemente a inimizade entre ela e Satanás. O pré-evangelho [Gên. 3], então, no texto original, contém uma promessa direta do Redentor, e em união com isto, a manifestação da obra prima de Sua Redenção, a perfeita preservação de Sua Virgem Mãe do pecado original”.[42]

A identificação da mulher em inimizade com a serpente como Maria, não pode ser justificada pelo sentido literal do texto. “O sentido literal é que Eva (não Maria) e sua posteridade ganharão a batalha moral contra Satanás e sua semente. A ‘mulher’ é obviamente Eva, a ‘descendência’ é claramente a descendência literal de Eva (cf. Gên. 4:1, 25), e a vitória é a vitória de Cristo sobre Satanás (cf. Rom 16:20)”.[43]

Mesmo permitindo por extensão uma aplicação indireta da mulher a Maria, é um salto gigantesco disto para sua imaculada conceição, que não está implícito no texto. O fato é que não há conexão necessária ou lógica entre Maria ser a mãe do Messias e sua concepção sem pecado.

Lucas 1:28: “Cheia de Graça” Implica Ser Sem Pecado?

A saudação do anjo a Maria “Salve, agraciada; o Senhor é contigo” implica que ela foi concebida sem nenhum traço de pecado? Esta é a interpretação do novo Catecismo da Igreja Católica: “Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, ‘cumulada de graça’ por Deus foi redimidadesde a concepção. É isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição. . . . Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida”.[44]

A interpretação católica de “cheia de graça” ou “cumulada de graça” como significando que “por Deus foi redimida [Maria] desde a concepção . . . [e] pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo o pecado pessoal ao longo de toda a sua vida”, revela muita inventividade e quatro sérios problemas.

Primeiro, a frase “cheia de graça” é uma tradução imprecisa baseada na Vulgata Latina “gratia plena”. O original grego kecharitomene é corretamente traduzido até mesmo pela Catholic New American Bible, simplesmente como “favorecida”. A tradução imprecisa da Vulgata se tornou a base para a idéia de que Maria teve graça estendida por toda a sua vida. Tal graça a capacitou a viver uma vida sem pecado–um ensinamento alheio à Escritura.

Segundo, o contexto indica que a saudação do anjo se refere apenas ao estado de Maria naquele momento, não para sua vida toda. Isto não afirma que ela era cheia de graça da concepção à transladação. Especialmente o contexto mostra que Maria foi “grandemente favorecida” (versão King James) porque Deus lhe concedeu o privilégio de dar à luz ao Seu filho. Nos versos 30-31, o anjo diz a Maria: “Maria, não temas, porque achaste graça [favor, KJ] diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus”. Mais tarde Isabel cumprimenta Maria dizendo: “Bendita [abençoada, KJ] és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre” (Lucas 1:4).

Estes textos indicam que Maria foi grandemente favorecida e abençoada porque Deus a escolheu para carregar Seu filho. Como Norval Geldenhuys comenta: “Deus deu a ela Sua graça livre e desinteressada em uma medida única, escolhendo-a para ser a mãe de Seu Filho”.45 Mesmo uma leitura rápida do contexto revela que a graça por ela recebida foi a tarefa de ser a mãe do Messias, não a de impedi-la de pecar ao longo de sua vida.

Terceiro, a ênfase no “cheia de graça” é equivocada, desde que até mesmo apologistas católicos reconhecem que Maria era uma pecadora em necessidade de redenção. Por exemplo, Ludwig Ott diz que Maria “necessitava de redenção e foi redimida por Cristo”.[46]É biblicamente injustificável sugerir que Maria fosse isenta de pecados hereditários. Ao invés disso, ela foi habilitada pela graça de Deus para superar o pecado.

Finalmente, o mesmo termo para “graça-charito” é usado para fiéis em geral. Em seu excelente tratado sobre Mariologia, intitulado The Cult of the Virgn (O Culto da Virgem), Miller e Samples fazem notar que o termo grego para “cheio de graça” charito “é usado para os crentes em Efésios 1:6 sem implicar em pureza perfeita ou sem pecado. Então, novamente não há nada sobre Lucas 1:28 que estabeleça a doutrina da Imaculada Conceição. Que Maria foi favorecida de maneira única para ser a mãe do seu Senhor é a única inferência necessária”.[47]

Maria Conhecia Sua Necessidade de um Salvador

No Magnificat, Maria louva a Deus como seu Redentor dizendo: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Luc. 1:46-47; ênfase acrescentada). A razão pela qual Maria chama a Deus de meu Salvador é porque sabia que como uma descendente de Adão, fora concebida em pecado.

O dogma da Imaculada Conceição questiona a integridade da natureza humana de Maria, reduzindo-a a uma imagem e fazendo de sua vida uma fantasia. Isto implica que Maria nunca foi um ser humano real e nunca viveu uma vida humana real.

Na Bíblia, redenção não é uma intervenção miraculosa executada na concepção sem a participação humana. O Espírito Santo não trabalha impessoalmente, sem uma participação humana livre. A pureza de Cristo não foi mecanicamente garantida por Sua concepção miraculosa, mas foi Sua própria conquista durante Sua vida inteira através do poder concedido pelo Espírito Santo.

Conclusão:

A glorificação de Maria como sem pecado desde sua concepção é uma heresia que afeta a singularidade do Filho de Deus, colocando uma criatura em pé de igualdade com Ele. Pureza é uma qualidade reservada a Cristo somente. Salvador é um nome que só Cristo merece. O Anjo instruiu José dizendo: “e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mat. 1:21). Jesus é a única pessoa que nasceu, viveu e morreu sem pecado. Ele é o único qualificado para nos salvar dos pecados porque Ele somente é Deus. O dogma da Imaculada Conceição é biblicamente sem fundamento, historicamente injustificado e doutrinariamente doentio.

Referências:

1. Richard N. Ostling, “The Age of Mary,” Time, 30 de dezembro de 1991, p. 42.

2. Ibid.

3. Ibid.

4. “The Meaning of Mary,” Newsweek, 25 de agosto de 1997, p. 36.

5. Time (note 1), p. 42.

6. Veja por exemplo, Beverly Roberts Gaventa, Mary; Glimpses of the Mother of Jesus (1995) e a coleção de composições que ela co-editou chamada Blessed One; Protestant Perspectives on Mary (2002). Robert Jenson defende o papel de Maria em seu dois volumes monumentais de Systematic Theology (1997 and 1999) e na coleção de composições que ele co-editou, Mary; Mother of God (2004). Todos estas composições elevam o papel de Maria no Plano da Salvação. Anos de diálogo ecumênico entre católicos franceses e protestantes produziram um livro intitulado Mary in the Plan of God and in the Communion of the Saints (1999). O livro chama tanto católicos como protestantes para uma “conversão” no assunto de Maria.

7. Eric Mascall, “Modern Protestant on Mary,”www.mariology.com/sections/modern.html.

8. Charles Dickson, A Protestant Pastor Looks at Mary (1996), p. 110.

9. Jason Byassee, “Protestants and Marian Devotion: What about Mary?”

www.religion-online.org/showarticle.asp?title=3156.

10. Will Ashenmacher, “Muslim, Christians Discuss Mary,” The Marquette Tribune, September 14, 2004, Section on News.

11. Catechism of the Catholic Church, (San Francisco, CA, 1994) Parágrafo 841, Ênfase acrescentada.

12. Ludwig Ott, Fundamentals of the Catholic Dogmas (1960), p. 203.

13. Ibid., p. 205.

14. Catechism of the Catholic Church (Libreria Editrice Vaticana, 1994), p. 126, parágrafo 500.

15. Ibid., p. 128, parágrafo 510.

16. Ibid., p. 124, parágrafo 494.

17. Ibid.

18. St. Thomas Aquinas, Summa Theologica (1947), Pt. III, Q. 28, p. 2173.

19. Ibid., p. 2174.

20. Weimar’s The Works of Luther, tradução em inglês por Pelikan, Concordia, St. Louis, v.11, pp. 319-320; v. 6. p. 510.

21. Calvini Opera, Corpus Reformatorum, Braunschweig-Berlin, 1863-1900, v. 45, p. 348, 35.

22. Zwingli Opera, Corpus Reformatorum, 1905, v. 1, p. 424.

23. Citado por E. Stakemeier em De Mariologia et Oecumenismo, 1962, p. 456.

24. Richard N. Ostling, “Anglicans, Catholics Agree on Mary,” Deseret News (Salt Lake City), May 28, 2005.

25. Ibid.

26. Jack Lewis, The Gospel According to Matthew (1976), Vol. 1, p. 42.

27. Ludwig Ott (Nota 12), p. 207.

28. Ibid.

29. Philip Schaff, Creeds of Cristendom, with a History and Critical Notes (1893), vol. 2, pp.211-212.

30. Ibid.

31. Henry Denzinger, The Sources of Catholic Dogma, (1957), parágrafo 2803; Citado também no Catechism of the Catholic Church (nota 11), p. 124, parágrafo 491.

32. Ubi Primum, Sobre a Imaculada Conceição, Encíclica do Papa Pio IX, 2 de Fevereiro de 1849, Papal Encyclical Online,http://www.papalencyclicals.net/Pius09/p9ubipr2.htm.

33. Ibid.

34. Catechism of the Catholic Church (nota 11), p. 124, parágrafo 493. Ênfase acresentada.

35. St. Thomas Aquinas (nota 18), Parte 3, Q. 27, vol. 2, p. 2164.

36. Ibid.

37. Justo Gonzales, The Story of Christianity, (1984), vol. 2. p. 297.

38. Ibid.

39. Nicholas Perry and Loreto Echeverria, Under the Heel of Mary (1989), p. 122.

40. Maurice Hemington, Hail Mary?: The Struggle for Ultimate Womenhoon in Catholicism (1995), p. 19.

41. Frederick G. Holweck, “The Doctrine of the Immaculate Conception,” The Catholic Encyclopedia (1910), vol. 7, p. 242.

42. Ibid.

43. Norman Geisler and Ralph E. MacKenzie, Roman Catholics and Evangelicals. Agreements and Differences (2004), p. 307.

44. Catechism of the Catholic Church (nota 11), p. 124.

45. Norval Geldenhuys, Commentary on the Gospel of Luke (1983), p. 75.

46. Ludwig Ott (nota 12), p. 212.

47. Elliot Miller and Kenneth R. Sample, The Cult of the Virgin: Catholic Mariology and the Apparitionss of Mary (1992), p. 34.

Estudo de Autoria do já falecido Dr. Samuele Bacchiocchi
Professor jubilado de teologia da Universidade Andrews, publicado através da 
Newsletter End Time Issues nr. 191 no site Biblical Perspectives

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Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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