“Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo.” (Apocalipse 14:7)
A expressão “é chegada a hora do seu juízo” indica em que etapa da história da redenção a mensagem do primeiro anjo é proclamada.
No original, a palavra “juízo” (krisis) diz respeito ao processo de julgamento, a ação de julgar, em contraste com krima, o veredito ou sentença do julgamento, como em Apocalipse 17:1.
Sem dúvida alguma, trata-se de uma parte especial do evangelho eterno destinada aos últimos dias.
Ellen G. White escreveu:
Semelhante mensagem jamais foi apresentada nos séculos passados. S Paulo… não a pregou; indicara aos irmãos a vinda do Senhor num futuro então muito distante. Os reformadores não a proclamaram. Martinho Lutero admitiu o juízo para mais ou menos trezentos anos no futuro, a partir de seu tempo. (1)
Diferentemente da fase retributiva do juízo, que ocorrerá durante a segunda vinda de Cristo “para dar a cada um segundo a sua obra” (Apocalipse 22:12; Mateus 12:36; II Pedro 2:9; 3:7; I João 4:17; Judas verso 6), a fase investigativa tem lugar antes da consumação dos tempos, e é parte inseparável da mensagem do evangelho (o anjo que anuncia o juízo é o mesmo que proclama o “evangelho eterno” em Apocalipse 14:6).
A obra do juízo investigativo e extinção dos pecados deve efetuar-se antes do segundo advento do Senhor. Visto que os mortos são julgados pelas coisas escritas nos livros, é impossível que os pecados dos homens sejam cancelados antes de concluído o juízo em que seu caso deve ser investigado. Mas o apóstolo Pedro declara expressamente que os pecados dos crentes serão apagados quando vierem “os tempos do refrigério pela presença do Senhor”, e Ele enviar a Jesus Cristo (Atos 3:19 e 20). Quando se encerrar o juízo de investigação, Cristo virá, e Seu galardão estará com Ele para dar a cada um segundo for a sua obra. (2)
Assim, mesmo que por hora não consideremos as profecias apocalípticas que revelam o tempo exato do juízo, fica claro que o julgamento anunciado pelo primeiro anjo tem lugar antes da segunda vinda de Cristo, como se pode inferir de seu rápido e abrangente voo, impelido pelo início do juízo, apelando à humanidade para que se converta a Deus enquanto existe oportunidade.
O exame de cada caso já começou, mas a graça salvadora continua disponível, ainda que por pouco tempo. Além disso, antes que os homens possam fazer sua última escolha, duas outras mensagens consecutivas devem ser proclamadas ao mundo como partes integrantes do evangelho eterno (Apocalipse 14:8-12).
Compreendendo o juízo à luz do antigo santuário
Tendo em mente que o livro do Apocalipse é uma espécie de eco do Antigo Testamento, é fundamental voltarmos ao antigo santuário hebreu com o objetivo de compreender os ritos que ali se realizavam e que prefiguravam as diferentes fases do plano divino de redenção.
O antigo tabernáculo constituía a maior revelação de Deus sobre o plano da salvação desde a promessa dirigida aos nossos primeiros pais (Gênesis 3:15), uma representação didática em três dimensões do centro divino de operações no Céu (Êxodo 25 a 30; Atos 7:44; Hebreus 8:5).
No sistema típico e sacrifical do santuário terrestre, Deus colocava ao alcance do pecador o método divino de redenção que viria por meio de Jesus Cristo.
O santuário era composto de três partes distintas, mas interdependentes: o pátio ou átrio e o tabernáculo propriamente dito, com seus compartimentos chamados Santo Lugar e Lugar Santíssimo.
No átrio ou pátio estava o altar dos sacrifícios onde os holocaustos ascendiam como cheiro suave ao Senhor (Levítico 1:9), símbolo de Cristo que “Se entregou a Si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus em aroma suave” (Efésios 5:2). Também havia uma bacia para lavar (Êxodo 30:18). A água também representa o Espírito Santo (João 7:37-39), a Palavra (João 13:10; 15:3; Efésios 5:26) e o batismo (João 3:5; Romanos 6:3-6; I João 5:8). Entrando no lugar santo, à direita se encontrava a mesa dos pães (Êxodo 25:30) com 12 pães feitos de flor de farinha (Levítico 24:5), representando a Jesus, o pão da vida (João 6:48) e ao corpo espiritual de Cristo, Sua igreja (I Coríntios 10:17). No lado esquerdo estava o candelabro de ouro (Êxodo 40:24) que tinha 7 lâmpadas (Êxodo 25:37) que ardiam continuamente (Levítico 24:2). São João viu o candelabro no Céu (Apocalipse 1:12) e sete lâmpadas ardendo diante do trono de Deus (Apocalipse 4:2, 5) e a Jesus no meio dos candelabros (Apocalipse 1:12-18). Jesus mesmo disse que Ele é a luz do mundo (João 8:12).
Diante do véu do altar de incenso (Êxodo 30:1-3; 40:26). Ali o sacerdote queimava incenso de manhã e de tarde (Êxodo 30:7, 8). No Apocalipse São João viu um altar de ouro diante do trono de Deus no Céu (Apocalipse 8:3) e diz que muito incenso subia com as orações dos santos (Apocalipse 8: 3, 4). Também é dito que o incenso são as orações dos santos (Apocalipse 5:3). O lugar santíssimo era o mais sagrado. Ali se encontrava a arca (Êxodo 26:33). Apocalipse diz que São João viu a arca de Deus em Seu santuário (Apocalipse 11:19). Sobre o propiciatório era visível a presença de Deus (Êxodo 25:21, 22) o qual falava pessoalmente com Moisés (Números 7:89). São João viu o Senhor sentado sobre um trono excelso (Apocalipse 4:2). (3)
Os dois tipos de serviços realizados no santuário
Levítico capítulos 1 a 7 e 16, e Hebreus 9:1 a 8 descrevem os serviços que eram realizados nesses locais sagrados, os quais representavam as três fases interdependentes do plano divino de redenção: a oferta sacrifical de Cristo, prefigurada nos ritos realizados no átrio; o ministério sacerdotal de Cristo no Céu, tipificado nos ritos realizados no Lugar Santo; e a obra de julgamento, simbolizada pelo Dia da Expiação realizado no Lugar Santíssimo.
A revelação do santuário centralizava-se, pois, em Jesus. Ela prefigurava Sua morte expiatória na cruz, Seu ministério sacerdotal no Céu e o juízo final. Podemos dizer, usando as palavras de Edward Heppenstall (
. Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1972), que o santuário revelava o escopo da redenção e do juízo, o amor de Deus pelos pecadores e a firme oposição de Deus às forças satânicas.
Estas preciosas verdades transmitidas aos israelitas através do santuário e seus ritos nos permitem compreender hoje com maior clareza os diferentes papéis de Cristo no desenvolvimento da salvação e na erradicação final do pecado.
Segundo Hebreus 9:1 a 8, havia dois tipos de serviços realizados no santuário terrestre:
a) Os serviços diários, ministrados pelos sacerdotes no pátio e no primeiro compartimento do tabernáculo, chamado o Santo Lugar, e que consistiam basicamente dos sacrifícios da manhã e da tarde (Êxodo 29:38-39; Números 28:3-4).
b) O serviço anual, que ocorria no segundo compartimento do tabernáculo, conhecido como Santo dos Santos ou Santíssimo, e ao qual somente o sumo sacerdote tinha acesso, uma vez por ano (Levítico 23:26-32; 16).
No próximo artigo, vamos examinar cada um deles para compreender o significado do juízo investigativo anunciado pelo primeiro anjo em Apocalipse 14:7.
Notas e referências
1. Ellen G. White, O Grande Conflito. 19ª edição. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1978, p. 355.
2. Ibid., p. 485.
3. Daniel Belvedere. Seminário As Revelações do Apocalipse. Edição do professor. Tatuí, SP: CPB, 1995, p. 72.