A cultura moderna trouxe grandes transformações (e deformações) aos hábitos alimentares e nutricionais da dieta ocidental. Antes disso, as pessoas em geral seguiam normas alimentares comuns. Os estilos culinários variavam sensivelmente, mas quase todas as dietas do povo simples conservavam a vitalidade de sua gente. Isso se devia ao fato de que quase sempre os alimentos eram usados em seu estado natural e os produtos animais só eram consumidos esporadicamente.
• A alimentação básica se compunha de cereais (arroz, milho, trigo, centeio), que saciam e proporcionam energia.
• As imprescindíveis proteínas procediam dos grãos (feijões, grão-de-bico, lentilha) e, em medida muito menor, da pesca ou da caça, ou dos animais domésticos.
• Nos países quentes, as gorduras eram vegetais (óleos, frutos secos). Já nos países frios, predominavam as gorduras de origem animal.
• O consumo de hortaliças e frutas dependia da região e da estação do ano.
A primeira grande mudança nos hábitos alimentares ocorreu por ocasião do encontro entre Europa e América. Isso propiciou, a partir do século 16, um grande intercâmbio cultural, que incluía muitos produtos alimentícios.
Na Europa, por exemplo, a batata andina começou a ocupar boa parte do lugar que até então correspondia exclusivamente aos cereais, pois se conservava melhor e podia ser cultivada em todos os climas e solos. Assim, esse humilde, mas nutritivo tubérculo, permitiu que o velho continente se livrasse da terrível escassez da estação do inverno, endêmica nos países centro-europeus e nórdicos durante a Idade Média. Às três Américas, por sua vez, chegaram as aves domésticas européias, o trigo e a cevada, a uva e diversas árvores frutíferas.
Mais tarde, o progresso científico e tecnológico que seguiu-se à revolução industrial e à desenfreada concentração urbana, provocaram enormes mudanças socioeconômicas e culturais – e também de hábitos alimentares. Os rápidos e espetaculares avanços da química e outras ciências positivas no fim do século 19 e início do século 20, provocaram exagerada valorização dos alimentos refinados e das proteínas e gorduras animais.
Assim, a partir do século 20, na maior parte do chamado mundo ocidental, a alimentação passa a seguir estes parâmetros:
• A farinha refinada (pão branco, arroz branco, macarrão de sopa, confeitaria) torna-se a base da alimentação.
• As gorduras animais (toucinho ou manteiga) ocupam espaço na cozinha e na mesa.
• Sal, açúcar refinado e especiarias (mostarda, pimenta) são generosamente empregados.
• As verduras, hortaliças e frutas frescas são menos consumidas, pois não são consideradas “nutritivas”.
• Além disso, consome-se em grande quantidade todo tipo de confeitaria e doces concentrados.
• Um rosto corado e estar “bem gordo” – conseqüência de uma excessiva ingestão calórica – é considerado, na primeira metade do século passado, símbolo de “vitalidade e saúde”.
• E para piorar ainda mais, o homem converte-se em escravo de boa quantidade de estimulantes tóxicos (café, cigarro, cafeína, álcool e outras drogas), considerados símbolos de “libertação”.
Todas essas mudanças alimentares, à parte da variedade culinária e gastronômica que trouxeram, afetaram de maneira decisiva a saúde. Por seus efeitos sobre o corpo humano, comprovou-se que esse estilo de vida e de alimentação é antinatural e a principal causa de muitas das mais comuns doenças de graves conseqüências.
Com esses hábitos alimentares, pode-se dizer que, em geral, comemos demais o que não convém e muito pouco dos alimentos verdadeiramente saudáveis.
Ernst Schneider é médico e autor do livro “A Cura e a Saúde Pela Natureza”.
Assim se comia antes da Revolução Industrial
• Sem a pressa característica dos tempos atuais, o momento das refeições era quase um “ritual familiar”, com hora e local bem definido.
• As refeições eram preparadas por alguém da própria família, tornando-as, normalmente, mais saudáveis e mais saborosas.
• A dieta era rica em fibras.
• Os cereais, arroz, milho, aveia e centeio, eram a base da alimentação.
• O pão era feito com farinha de trigo integral.
• O arroz não era beneficiado, e conservava todos os seus nutrientes naturais.
• Sendo integrais, os alimentos eram também mais consistentes, forçando a mastigação.
• Comia-se pouca carne.
• Não havia açúcar refinado e o consumo de guloseimas doces era bem menor.
• Sem a química industrial que embute nos alimentos muito açúcar, sal, gorduras e conservantes, os alimentos em geral eram mais saudáveis.
Assim se come no século 21
• As farinhas integrais foram substituídas por farinhas refinadas e batatas.
• Há consumo excessivo de produtos cozidos ou elaborados industrialmente, em detrimento das hortaliças e frutas cruas e frescas.
• Predomina a comida macia e evitam-se os alimentos duros, que exigem boa mastigação e salivação.
• Cada vez se consomem mais produtos elaborados industrialmente, portanto, desnaturados, aos quais se acrescentam diversos componentes artificiais não nutritivos.
• Há excessiva ingestão de proteínas de origem animal.
• Em muitos lugares, a preferência ainda é pela gordura animal em vez de óleos vegetais.
• O consumo de sal comum de mesa é excessivo.
• É cada vez maior a tendência de se usar especiarias e produtos químicos conservantes, no lugar de ervas e condimentos aromáticos naturais.
• Geralmente, há suprimento insuficiente de vitaminas, enzimas, minerais, elementos fitoquímicos e clorofila.
• A dieta média é pobre em fibra.