Para viver para sempre

O tema da morte é universal. Alguns o vêem como o centro dinâmico da ordem social, a inspiração da filosofia, da arte e das tecnologias médicas. Ele vende jornais e apólices de seguro. Nos horroriza e nos comove. Ainda que aconteça todos os dias todavia parece nos surpreender. Inclusive, segundo a ciência, quase tudo o que vemos uns dos outros é matéria morta: a superfície da pele, cabelos, unhas.

Diante da morte o ser humano está definido. Ela nos obriga a buscar o sentido da vida e do além. A forma como nos referimos a ela revela quem somos. Peter Metcalf disse: “A vida torna-se transparente no contexto da morte”.1 Isso nos faz pensar sobre o que é realmente importante.

Um dos impulsos centrais dos seres humanos é o desejo de viver para sempre. O tcheco Franz Kafka disse: “O homem não pode viver sem uma contínua confiança em algo indestrutível dentro de si mesmo”.2

Esse impulso se manifesta em vários tipos de busca: Alguns procuram a imortalidade biológica através de sua descendência. Desejam que seus filhos triunfem onde eles fracassaram, se projetam para o futuro na pessoa de seus descendentes. Outros tentam preservar o seu corpo através do congelamento, ou permanecem na memória do povo através de instituições de caridade, livros, monumentos ou mesmo infâmias. As pirâmides do Egito, e o Taj Mahal na Índia são impressionantes monumentos à memória dos mortos. Por sua vez, as galerias da fama no esporte, prêmios e medalhas intentam consagrar as realizações humanas para a posteridade. Mas se tivéssemos que escolher entre a imortalidade simbólica e a vida eterna, todos preferiríamos viver.

Quando uma pessoa não deseja viver ou atenta contra sua própria vida, há algo nela que é contrário ao instinto mais natural do ser humano. Mesmo nas condições mais horríveis e miseráveis os seres humanos se agarram à vida. Todos os ministros religiosos já ouviram alguma vez o patético clamor de pacientes em seu leito de morte: “Eu quero viver. Não quero morrer.” Viver é a necessidade mais básica de todas. Será que podemos vencer a morte? Podemos deter o avanço do tempo que que vai destruindo e enterrando nossas ilusões mais queridas?

Hemingway tornou famosa a frase: “Por Quem Dobram os Sinos”3. Algum dia tocarão para nós. Será este o fim de tudo o que somos? Será esta existência tudo o que podemos esperar? Teremos que nos resignar a entrar por um lado do palco e sair pelo outro, após a mais ligeira e breve apresentação, às vezes sem aplausos?

A vida é algo mais

Todos nós sentimos que a vida é mais que existir e respirar; que tem que ser mais do que uma mera condição biológica. E onde encontramos o sentido de nossa vida? Em nosso nome e sobrenome? Em nosso lugar na sociedade ou na família? Em nossas posses?

Desde que temos feito uso da razão estamos buscando um lugar no tempo e no espaço. E muitas vezes escolhemos caminhos que levam à amargura e à destruição, que não sobrevivem à prova do tempo.

Quero propor que o sentido da vida humana se encontra em nosso Criador. Deus nos criou com uma natureza específica, uma finalidade específica e um destino específico. Toda a tragédia da vida e da morte tem um significado dentro do quadro maior da criação de Deus.

Deus nos criou. Ele formou o primeiro homem do pó da terra, um ser perfeito, com todos os órgãos perfeitos: coração, cérebro, pulmões, rins, fígado, etc. Então Deus soprou sobre o corpo sem vida o sopro da vida “e o homem foi feito alma vivente” (Gênesis 2:7).

Este ser vivente, de acordo com a Bíblia, é um todo indivisível. A alma não tem existência consciente fora do corpo. Todo o ser humano “espírito, alma e corpo” deve ser santificado por Deus (cf. 1 Tessalonicenses 5:23). O corpo, alma e espírito funcionam em estreita cooperação, tendo sido feito à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27).

Encontre o seu propósito em Deus

Se queremos encontrar sentido em nossas vidas, será no mesmo lugar de onde fomos criados no princípio. E nós fomos criados com diversos propósitos:

1. Nós fomos criados para amar e estabelecer relacionamentos

Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18), e criou Eva. Os relacionamentos com outros seres humanos, nos permitem dar e receber amor, e nos dão a oportunidade de viver para os outros, e não unicamente para nós mesmos. Para vivermos plenamente, precisamos estabelecer relações harmoniosas com os outros seres humanos e com o próprio Deus. Leia os Dez Mandamentos e você vai notar que os quatro primeiros tratam de nosso relacionamento com Deus, e os últimos seis tratam de nosso relacionamento com as outras pessoas (ver Êxodo 20).

2. Nós fomos criados para ser administradores ou representantes de Deus

A Bíblia diz: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” (Gênesis 1:26). Aqui se menciona que o homem foi criado à semelhança de Deus para servir como seu representante para o resto da criação. Aceitar esse conceito faz-nos ver a nós mesmos como agentes do bem em um mundo de dor e destruição.

3. Fomos criados para adorar

Apesar de termos sido criados à semelhança de Deus, há um abismo intransponível entre o Criador e Suas criaturas. Diante da grandeza e onipotência divina, a resposta natural e instintiva do nosso coração é a adoração. Todo grupo humano tem o instinto de adorar. Negar este instinto representa afogar parte de quem somos. A Adoração para si mesmo, ou posses, ou símbolos da grandeza humana, são pobres substitutos para a nossa necessidade interior de adorar ao Criador. Muitas pessoas vivem vidas vazias por ignorar sua condição de criatura de um Deus vivo.

Não é de admirar que, na profecia do Apocalipse, a última mensagem profética para o mundo antes do retorno de Jesus à Terra, diz: “Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7).

4. Nós fomos criados para viver eternamente

Jesus disse claramente: “Aquele que crê em mim tem a vida eterna” (João 6:47). Jesus exigia fé da parte de seus seguidores. Sempre é possível duvidar, e sempre é possível crer. Crer é um requisito da vida espiritual porque envolve todas as faculdades do indivíduo. É uma questão do intelecto, como também do coração. E no coração do desafio da crença cristã se encontra Jesus, que faz o que não esperamos, que responde às nossas perguntas mais cruas com o silêncio da cruz.

Uma das histórias mais impactantes do novo testamento, que melhor representa a tensão entre a fé a a incredulidade, é o relato da ressurreição de Lázaro (João 11). Ali estavam duas irmãs e um gravemente doente. Elas pedem para encontrarem à Jesus, amigo e benfeitor da família, mas Jesus não veio. Marta e Maria expressam seu ressentimento. Ambas amam a Jesus; sabem que Seu poder e discernimento são sobrenaturais. Foram transformadas por Ele. No entanto, diante do terrível impacto da morte de seu irmão, a fé se mistura com a crítica, dor e uma faísca de esperança.

“tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá” adianta Marta (João 11:22). “Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar” (João 11:23). E ela limita sua fé referindo-se à ressurreição do último dia. Mas Jesus responde com uma de suas afirmações mais ousadas e desafiadoras: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?” perguntou o Mestre a Marta (João 11:25-26). E o mesmo ele nos pergunta hoje.

A vida eterna se encontra em Jesus. Fomos criados para viver com Deus, somos Seus filhos amados. A instrução bíblica sobre a questão mais importante de todas, a vida, é extremamente simples: Nos apartar de Deus sempre causa a morte. A rebelião de Adão e Eva no início abriu a porta à morte por ter quebrado a estreita e perfeita relação entre o homem e Deus. Jesus veio para restaurar essa relação.

A vida eterna e plena depende de uma relação de fé com o Filho de Deus.  O apóstolo João a resumiu, em termos inequívocos. “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1 João 5:11-12).

Hoje podemos viver uma vida de qualidade eterna. Em união com Jesus, podemos esperar confiadamente a redenção do nosso corpo mortal. E um dia, em Sua vinda, os nossos corpos serão transformados fisicamente para viver com Ele pela eternidade.

O apóstolo Paulo expressou a grande esperança do crente quando ele escreveu:

“a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção… Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (1 Coríntios 15:50-55).

Depois de muitos anos de reflexão, eu me agarro a essa esperança mais do que nunca. E você?

Referências:

1. Peter Metcalf y Richard Huntington, Celebrations of Death: The Anthropology of Mortuary Rituals (Cambridge, Inglaterra: Cambridge University Press, 1991), p. 25.

2. Franz Kafka, Aphorisms, (1918), p. 48. Ver en: http://en.wikiquote.org/wiki/Franz_Kafka.

3. Ernest Hemingway, Por quién doblan las campanas (primera edición en inglés, 1940).

Texto de autoria de Miguel Valdivia, publicado na revista adventista El Centinela edição de Nov/2010. Crédito da tradução: Blog Sétimo Dia https://setimodia.wordpress.com/


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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