A ciência da salvação

 

Em vista da grandiosa provisão de Deus na pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo, e pelo fato de o sincero arrependimento do pecado permitir a Deus, por assim dizer, perdoar e restaurar o pecador contrito que tem fé em Jesus, a mensagem do evangelho é um chamado do Céu para que homens e mulheres busquem sinceramente ao Senhor e recebam os generosos suprimentos de Sua graça.

Este poderoso apelo é a obra do anjo portador do evangelho eterno (Apocalipse 14:6), e sua mensagem ecoa por toda a Escritura:

Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor. (Atos 3:19)

Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração. (Hebreus 3:7-8)

Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificais as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. (Tiago 4:8)

Embora Deus não esteja longe de cada um de nós (Atos 17:27), Ele espera que O busquemos em espírito e em verdade (Salmo 145:18; Isaías 55:6) mediante fé (Atos 16:31; Hebreus 10:19-22), com genuíno arrependimento (Atos 3:19) e confissão dos pecados (I João 1:9).

Somente pela graça de Jesus Cristo podemos obter o perdão e a purificação espiritual. Nosso amorável e compassivo Redentor estende o convite para irmos a Ele com o pesado fardo de nossos pecados, preocupações e fadigas:

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. (Mateus 11:28-30)

Mesmo a resposta que se espera do pecador ao convite do evangelho não foi deixada exclusivamente à mercê da força humana. A conversão não depende nem da vontade nem dos esforços meritórios do homem, mas do poder convincente do Espírito Santo.

O homem por si só é incapaz de entender e apreciar as riquezas do evangelho, e tampouco pode resistir e vencer o pecado por sua própria força. Necessita desesperadamente entregar-se à influência iluminadora e regeneradora do Espírito Santo, por cuja obra os dons da graça de Deus são revelados e consolidados no coração humano.

Através do Espírito Santo, o pecador é unido a Cristo, pois a presença do Espírito equivale à presença do próprio Senhor Jesus (João 14:16-19). É o Espírito Santo que torna eficaz o que foi realizado por nosso Redentor na cruz, convertendo, purificando e tornando o crente participante da natureza divina.
Quando atende ao apelo divino e aceita a Cristo como seu Salvador, o suplicante encontra a paz e a segurança que somente a graça de Deus pode proporcionar (João 14:27).

Arrependimento e conversão

De acordo com João 16:8 e 13, a obra do Espírito Santo na redenção do homem consiste em quatro etapas fundamentais:

  1. Produzir-lhe profunda convicção de que é um pecador;
  2. Despertar-lhe para a necessidade de aceitar a justiça de Cristo, tanto a atribuída na justificação (Romanos 10:3-10), como a comunicada na santificação (Gálatas 2:20; Filipenses 2:13; I Tessalonicenses 5:23);
  3. Adverti-lo da realidade de um juízo contra o pecado;
  4. Guiá-lo a toda verdade.

Uma vez que o pecador ouça a voz do Espírito Santo e aceite a Jesus pela fé, três condições devem ser satisfeitas para que haja genuíno arrependimento e conversão:

1. Reconhecimento da condição de pecador diante de Deus

Na parábola do fariseu e o publicano (Lucas 18:9-14), nosso Salvador sublinhou o contraste entre aquele que se considera santo na esperança de obter o favor de Deus e louvor dos homens e o que admite sua condição de pecador, confessando seus pecados e suplicando a misericórdia e o perdão de Deus.

Conquanto o publicano se sentisse indigno até mesmo de orar, foi compelido a fazê-lo pelo reconhecimento de sua desesperada condição. Admitia em seu íntimo que não possuía qualquer das virtudes que se espera de um filho de Deus, e a vívida sinceridade de suas palavras demonstrava um intenso sentimento de necessidade que nenhum bálsamo humano poderia curar.

Esta é, sem dúvida, uma condição essencial para ser aceito por Deus e obter Sua misericórdia, pois sem ela não temos qualquer esperança.

Em um Salmo que é a síntese e o modelo do verdadeiro arrependimento, Davi, com o coração quebrantado e afligido pela culpa e necessitando da misericórdia de Deus, reconheceu a propensão natural do homem para o mal ao declarar:

Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim… Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe. (Salmo 51:3 e 5).

Essas palavras, vindas de um coração profundamente contrito, expressam o triste fato de que a natureza carnal exerce sobre o homem uma dominação escravizadora da qual não pode escapar por suas próprias forças.

Paulo salientou a mesma verdade em sua carta aos Romanos, ao apresentar o pecado como um poder dominante que torna impossível ao homem resistir à sua influência, tornar-se justo diante de Deus ou superar sua condição pecaminosa por seus próprios esforços.

Ao contrastar o domínio impiedoso do pecado (tanto no mundo como no íntimo de cada pessoa) com a universalidade e o poder da graça de Deus, Paulo prova que não há salvação fora de Cristo. Redimir o homem do pecado e regenerar seu caráter é uma obra divina.

Por isso, Davi não somente pediu por perdão, mas também por purificação, ao clamar:

Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável. (Salmo 51:10).

2. Tristeza pelo pecado

Um coração verdadeiramente arrependido não apresenta causas atenuantes, desculpas ou justificativas para suas faltas, nem busca o perdão por medo das consequências, mas se ressente do pecado e confia no poder de Deus para perdoar e restaurar.

No cerimonial típico da expiação, os israelitas deviam afligir sua alma, isto é, sentir profunda tristeza e repulsa pelo pecado como condição primordial para alcançar o perdão e a purificação prometidos (Levítico 23:27-29).

Na forte mensagem de arrependimento à Sião, a mesma condição era requerida do povo (Joel 2:12).

Da mesma forma, o grupo de selados na visão de Ezequiel, que não partilha da triste sorte de Jerusalém, inclui apenas aqueles que “suspiram e gemem por causa das abominações que se cometem no meio dela.” (Ezequiel 9:4).

Deus não será indiferente a um espírito entristecido e angustiado por causa do pecado. Ele mesmo diz:

Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. (II Crônicas 7:14).

Paulo se alegrou porque os cristãos em Corinto haviam sido “contristados para arrependimento”, ou seja, “contristados segundo Deus” (II Coríntios 7:9), testificando que a virtude da graça de Cristo de fato atuara em suas vidas mediante o dom do Espírito Santo.

O apóstolo usa essa experiência prática para estabelecer o contraste entre o verdadeiro arrependimento e o mero remorso provocado pelo medo das consequências (II Coríntios 7:10).

A “tristeza segundo Deus” implica o reconhecimento e a admissão da culpa e o esforço proporcional para reparar a falta, de modo que ela não se repita. Somente pela graça de Cristo pode o pecador sentir genuíno pesar pelo pecado, arrepender-se e abandoná-lo com a firme resolução de não mais cometê-lo.

O quebrantado e humilde de espírito, que se dispõe a obedecer de forma voluntária e cujo coração reconhece sua indignidade e incapacidade para obter a salvação por méritos próprios, será, de fato, aceito por Deus (Salmo 34:18; 51:17; Isaías 57:15; 66:2).

3. Confissão e abandono do pecado

A Escritura declara em Provérbios 28:13:

O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia.

Todo aquele que procura encobrir ou desculpar seus pecados resiste à obra do Espírito Santo (João 16:8) e, consequentemente, coloca-se na infeliz condição contra a qual nosso Salvador advertiu em Mateus 12:32.

Confissão e abandono do pecado refletem mais do que apenas a constatação de que se estava errado, de que o pecado realmente implica insanidade, loucura e alienação, e de que é preciso uma mudança da mente.

Confessar e abandonar o pecado completam o conceito bíblico de arrependimento porque envolvem não só uma disposição mental, mas principalmente uma mudança de direção, de atitude e de comportamento, um retorno à verdadeira fonte de vida e do discernimento moral.

A experiência do arrependimento significa, portanto, afastar-se do pecado e, ao mesmo tempo, aproximar-se de Deus, a fonte única de perdão e restauração (Ezequiel 18:23 e 32).

O arrependimento divinamente dirigido (Atos 5:31) é a resposta humana ao amor de Deus, que se torna eficaz no coração pela obra regeneradora do Espírito Santo, O qual conduz o pecador à cruz de Cristo.

Assim sendo, a possibilidade de arrependimento só existe quando o evangelho eterno é proclamado com poder.

Todos os que desejarem experimentar esse arrependimento completo e radical, que envolve a conversão da vida em seu nível mais profundo, descobrirão que Deus é “compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade” (Êxodo 34:6)!


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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