A importância da (boa) autocrítica da Igreja

Uma vez que a Igreja é formada por pessoas e as pessoas pecam, a autocrítica da Igreja é algo fundamental. E ao contrário do que muitos podem pensar, é a própria Bíblia que ensina a fazer essa autocrítica. Há séculos o profeta Ezequiel já servia de porta-voz divino para criticar pastores corruptos (Ez 34:1-11), Isaías para criticar a insensibilidade em relação ao próximo (Is 58:1-10), Tiago para incentivar uma religião mais ativa em prol dos necessitados (Tg 1:26-27), etc. A Bíblia é, por excelência, um livro bastante crítico, que coloca o homem em seu lugar a todo o momento. Assim a autocrítica da Igreja pode e deve fluir das Escrituras e, portanto, da própria fé cristã

Infelizmente, no entanto, nem todos sabem fazer a autocrítica da Igreja. E aqui emergem três tipos falhos de autocrítica: a autocrítica não cristã, a autocrítica tradicionalista e a autocrítica ausente. Vamos começar pela primeira. Típica dos crentes mais progressistas, ela não flui da Bíblia, mas da cultura contemporânea. Carrega os mesmos termos, comparações, generalizações, pressupostos, cosmovisão e modus operandi das críticas que não cristãos fazem à Igreja. Os não-cristãos aqui são o exemplo. E é o exemplo deles que deve ditar como a Igreja deve agir e ser. Essa autocrítica não intenta fazer a Igreja voltar à Bíblia (como era a intenção de Ezequiel, Isaías e Tiago), mas sim se enquadrar nos padrões secularistas adotados pelo crítico. Ela é implacável com pecados e pecadores “religiosos” e “conservadores”, mas absolutamente conivente com pecados e pecadores teologicamente progressistas e/ou anticristãos. É, no fim das contas, uma crítica mundana à Igreja, embora encapada de autocrítica.

A autocrítica tradicionalista à Igreja não é menos perniciosa. Ela geralmente também não flui da Bíblia, mas de tradições que não tem respaldo bíblico e de interpretações descontextualizadas. Mesmo quando é bíblica, focaliza a minúcia, o secundário, ao mesmo tempo em que deixa de lado os grandes problemas que deveriam ser criticados em primeiro lugar. Para o crente tradicionalista o importante é manter um exterior bonito, um padrão ascético de usos e costumes, uma acalorada discussão sobre minúcias e uma utilização corriqueira do método texto-prova. Isso vale mais do que repreender a hipocrisia, a falta de amor, a tradição sendo usada acima da Bíblia, o legalismo, a falta de estudo bíblico aprofundado, a falta de sermão sólido da Igreja, etc.

Finalmente, há a autocrítica ausente. É aquela típica dos que creem que nenhuma crítica precisa ser feita jamais. Devemos apenas “pregar o evangelho”. Há desses crentes no lado progressista, no lado tradicionalista e fora desses extremos também. É o pessoal do “não vale a pena discutir”. A omissão destes é responsável pelo mal na Igreja se proliferar. Afinal, tudo o que a Igreja não discute, será discutido pelo mundo. Só que, claro, com os pressupostos do mundo. E assim, a visão do mundo prevalecerá sobre aquele tema, tanto fora quanto dentro da Igreja. Isso vale, sobretudo, para as críticas. Temos a oportunidade de fazer a autocrítica da Igreja com base em pressupostos e cosmovisão cristã. Se não fizermos isso, crentes estarão fazendo a autocrítica da Igreja com pressupostos e cosmovisão mundana.

E então? Qual autocrítica da Igreja você, crente, tem feito? Nenhuma? A tradicionalista? A não cristã? Ou a crítica que flui da Bíblia e conduz à Bíblia? Que possamos ser bíblicos em nossas críticas à Igreja. Do contrário, elas só servirão para o mal.

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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