A Lei de Deus aos Romanos – II

“Porque para com Deus não há acepção de pessoas. Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados. Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu Evangelho.” (Romanos 2:11-16)


Deus não fará distinção dos pecadores durante o Seu julgamento. Haverá perfeita imparcialidade em cada litígio.1 Não importa a qual etnia, tribo e nação o indivíduo pertença; se ele é judeu ou gentio, todos serão julgados por suas obras e estas serão examinadas pelos princípios e regras de Sua lei.2

O povo israelita desenvolveu com o tempo a crença de que Deus fazia acepção de pessoas devido à eleição deles como os Seus representantes (Êxodo 19:5-6; Romanos 3:2) e, pela atuação livradora concedidas a eles em várias ocasiões. Acreditaram, também, que podiam condenar os crimes de outros povos enquanto eles realizavam as mesmas transgressões3 e, de que um conhecimento teórico da lei constituía em salvação (cf Atos 15:1-5). Enquanto eles conduziam suas vidas nessas circunstâncias, existiam não-judeus que eram verdadeiramente zelosos pelos princípios da lei:

“E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei.” (Romanos 2:27)

A lei para os judeus era o centro da vida religiosa (Romanos 9:30-33), e Jesus condenou essa atitude exortando e censurando-os:

“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de Mim. Contudo, não quereis vir a Mim para terdes vida. Eu não aceito glória que vem dos homens; sei, entretanto, que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de Meu Pai, e não Me recebeis; se outro vier em seu próprio nome, certamente, o recebereis. (…) Não penseis que Eu vos acusarei perante o Pai; quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança.” (João 5:39-45 cf Jeremias 6:16)

Comportamento oposto era observado em muitos gentios ao receberem o Evangelho de Cristo: “E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo.” (Atos 10:45). “Chegou ao conhecimento dos apóstolos e dos irmãos que estavam na Judéia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus.” (Atos 11:1 cf Atos 13:46-48, Atos 15:3).

FÉ E OBRAS NO TRIBUNAL

“Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Romanos 2:13). No Juízo, as obras realizadas em verdadeira obediência aos princípios da Lei de Deus serão as provas de que o pecador arrependido se submeteu a vontade do SENHOR, serão a comprovação de que a fé depositada em Cristo e em Seus ensinos foram de fato sinceras:

“Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.” (Tiago 2:14-26)

Tiago alerta ainda sobre a observância integral dos mandamentos da lei mencionada em Romanos 2:13, e Paulo esclarece que os princípios dela estão alicerçadas no amor:

“Porquanto, Aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.” (Tiago 2:11-12 cfTiago 1:25, Êxodo 20:3-17)

“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.” (Romanos 13:8-10)

Paulo, se dirigindo aos judeus, mencionou às normas de conduta reveladas à eles e que foram promulgadas no Antigo Concerto, especialmente as do Decálogo.(a) Ele comparou as condições que serão avaliadas no juízo: Daqueles que conhecem a vontade de Deus, mas não estão dispostos a obedecê-la, com a posição dos que não somente conhecem a vontade de Deus, mas Lhe rendem verdadeira obediência. E esta obediência se desenvolve somente com a fé alicerçada no amor; requisitos que muitos judeus não desenvolveram.4 Romanos 2:13 destaca o fato de que os homens são julgados não pelo que pretendem conhecer ou professam ser, mas, pelo que fazem. No juízo celestial são analisados os reais motivos que conduziram cada atitude (Romanos 2:5-8 cf Hebreus 4:12-13).

Então Paulo volve-se a explicar que Deus julgará judeus e gentios devidamente, cada caso será considerado em sua singularidade; os judeus mediante a lei escrita que a eles fora confiada para ensinar as demais nações, e os gentios mediante a lei não escrita (“lei da consciência“). Ambas as classes são conduzidas para o julgamento por possuírem pecados, independentemente se tiveram ou não contato direto com a lei (como se deu com os israelitas). Quanto a isso Paulo esclarece:

“A ira de Deus se revela do Céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o Seu eterno poder, como também a Sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.” (Romanos 1:18-21 cf Romanos 2:15-16, Atos 24:16)

O salmista Davi confirma as palavras de Paulo da seguinte maneira: “Não me arrastes com os ímpios, com os que praticam a iniqüidade; os quais falam de paz ao seu próximo, porém no coração têm perversidade. Paga-lhes segundo as suas obras, segundo a malícia dos seus atos; dá-lhes conforme a obra de suas mãos, retribui-lhes o que merecem. E, visto que não atentam para os feitos do SENHOR,nem para o que as Suas mãos fazem, ele os derribará e não os reedificará” (Salmos 28:3-5 cf Salmos 19:1, Isaías 5:11-12).

A expressão “sem lei” (Romanos 2:12) alude àqueles que não tiveram a lei revelada na sua forma escrita, mas, a tinham implantada na consciência. Pois esta consciência nunca foi deixada totalmente a mercê da pecaminosidade humana. O Espírito Santo, auxiliado por “meio das coisas que foram criadas“, pelos “feitos do SENHOR“, sempre a direcionou ao padrão da Lei de Deus (Isaías 30:21 cf Isaías 8:16, João 14:25-26). As Escrituras sobre esta questão declaram:

“Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as Minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei… aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.” (Hebreus 10:16-22 cf Jeremias 33:31-34, Provérbios 4:1-3)

Quanto a fé que cada um mantém, Paulo exorta: “A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova” (Romanos 14:22).

O julgamento avalia as oportunidade, os esclarecimento, as revelações, enfim, cada ajuda que Deus concedeu ao pecador e, os respectivos resultados desenvolvidos. “Se disseres: Não o soubemos, não o perceberá Aquele que pesa os corações? Não o saberá Aquele que atenta para a tua alma? E não pagará Ele ao homem segundo as suas obras?” (Provérbios 24:12 cf Hebreus 4:12-13)

Os gentios que reconheceram a revelação de Deus nas obras da criação (Romanos 1:19-21) e responderam ao impulso divinamente implantado de fazer o bem, fizeram “por natureza” as coisas contidas na lei (cf Romanos 2:29). E Paulo refere-se especificamente a Lei Moral que contém os Dez Mandamentos, pois, era impossível que os gentios pudessem cumprir “por natureza” os muitos atos e cerimônias determinados na Lei de Moisés(b), porém, podiam cumprir “por natureza” os princípios bases do Decálogo com o auxílio do Espírito Santo.

Os que tiveram o privilégio de conhecer a Lei Moral (Decálogo) em sua totalidade e, no entanto, pecaram contra uma expressão tão clara da vontade de Deus, devem receber um castigo maior em relação àqueles que tiveram menos instrução. A severidade do castigo é proporcional a culpa, e o nível da culpa corresponde às oportunidades. Não deve haver confusão entre a imparcialidade no julgamento com os diferentes níveis de punição (Mateus 11:21-24; Mateus 12:41-42; Lucas 12:45-48).

O juízo de Deus sobrevirá a todos e devidamente regulamentado pelos Dez Mandamentos, mas, o rigor punitivo de maior intensidade recairá sobre aqueles que a transgrediram sendo conhecedores dela. Ambas as classes de pecadores impenitentes (judeus e gentios) serão condenados; ambas as classes perecerão por seus pecados não confessados e perdoados (cf Isaías 24:4-6). Pois, pecado sempre foi e sempre será a transgressão da Lei de Deus, independentemente de qualquer condição apresentada.5 A violação aos princípios dela não será permitida sem que haja a devida consequência.

O homem tem a capacidade de julgar seus pensamentos, palavras e ações. No entanto, a consciência desprovida da orientação divina pode ser demasiadamente vacilante (I Coríntios 8:7), ou pode estar “cauterizada” por abusos à ela submetido (I Timóteo 4:2); ou, inversamente, pode está esclarecida por um conhecimento amplo da verdade (II Coríntios 1:12), e atua de acordo com a luz que tem. Esses fatos são os que realmente revelam o caráter. Paulo esclarece que a atuação da consciência dos gentios era outra evidência de que ainda tinham algum conceito da vontade de Deus (Romanos 2:14) apesar de que desconheciam Sua lei na sua forma escrita; nas mesmas condições que aos judeus ela foi concedida (Romanos 2:27).

Deus tem um registro exato de cada ato explícito ou secreto do pecador (Daniel 7:9-10; I Coríntios 4:5;Apocalipse 20:12); portanto ele pode julgar sem fazer acepção de pessoas. Em Romanos 2:16 se concentra o foco de Paulo no capítulo 2. Nesse verso apresenta-se o judeu favorecido com a revelação da lei, e que se sentia inclinado a menosprezar ao gentio, julgando-o de indigno de salvação. Mas unicamente Deus, que pode ler o íntimo da vida, anunciará o veredito.

A disposição guiada pelo amor, a prontidão para obedecer a Deus mediante a “lei da consciência“, são coisas que só Deus pode conhecer plenamente. As coisas essenciais que realmente constituem a observância da Lei do SENHOR são as qualidades de caráter que Deus espera de judeus e gentios, e no juízo são rigorosamente avaliadas.(c)

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a. Acesse: O Decálogo no Éden
b. Acesse: Lei de Deus & Lei de Moisés
c. Acesse: A Lei do Tribunal Celestial
1. Deuteronômio 10:17-18; II Crônicas 19:7; Jó 34:10-19; Romanos 3:28-31.
2. Tiago 2:8-13; Eclesiastes 12:13-14; Mateus 16:27 cf Isaías 24:4-6.
3. Romanos 2:1-10; Romanos 2:17-25; Daniel 9:11; Isaías 1:4.
4. Romanos 9:30-33 cf Romanos 3:23-31, Gálatas 5:6; Mateus 23:23 cf I Timóteo 1:5.
5. I João 3:4; Romanos 4:15; Romanos 6:23 cf Romanos 7:7; Romanos 5:12-13; I João 2:1-4 cf Isaías 8:20, Romanos 1:22-25, Apocalipse 22:15.

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Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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