A Reforma segue em nossas mãos

Há exatamente 500 anos, degringolava a cisão com a obediência e fidelidade para com a Igreja Romana. O ato de Martin Lutero ao apregoar suas 95 Teses nas portas da Catedral de Wittenberg tornou-se símbolo dessa mudança. No Velho Mundo, os ventos da Renascença passavam a ter implicações espirituais. O livre exame da Bíblia, realizado em seus originais, evidenciava a apostasia do sistema papal.

Além de Lutero, outros reformadores surgiriam. Calvino e Knox foram alguns deles. No entanto, cem anos antes, Jan Hus também se levantou contra os desmandos da igreja. Buscando fidelidade a palavra, manifestou-se contra as indulgências. Os que vieram depois foram beneficiados pelo surgimento da imprensa, que potencializava a publicação das novas ideias: questionamentos a respeito da tradição, dogmas e instituição eram a tônica dos conteúdos.

A Palavra de Deus voltava a estar no centro. A autoridade da Escritura passava a estar acima de tudo. O grande princípio da reforma, conforme sintetizou Jesse Lyman Hurlbut em ‘História da Igreja Cristã’, é que a verdadeira religião está baseada nas Escrituras.” Nesse sentido, Hurlbut comentou: “A Reforma devolveu ao povo a Bíblia que se havia perdido, e colocou os ensinos bíblicos sobre o trono da autoridade”.

Outra grande verdade restaurada pela reforma, ainda de acordo com o autor, foi a ênfase na religião pessoal. Comentou Hurlbut a esse respeito: “Sob o sistema romano havia uma porta fechada entre o adorador e Deus, e para essa porta o sacerdote tinha a única chave”, ilustra.

Ele segue dizendo: “O pecador arrependido não confessava seus pecados a Deus; não obtinha perdão de Deus, e sim do sacerdote; somente ele podia pronunciar a absolvição. O adorador não orava a Deus o Pai, mediante Cristo o Filho, mas por meio de um santo padroeiro, que se supunha interceder pelo pecador diante de um Deus demasiado distante para que o homem se aproximasse dele na vida terrena. Em verdade, Deus era considerado como um Ser pouco amigável, que devia ser aplacado e apaziguado mediante a vida ascética de homens e mulheres santos, os únicos cujas orações podiam salvar os homens da ira de Deus.”

A quebra com o formalismo foi outro grande marco dos reformadores. “Os católicos romanos haviam sobrecarregado a simplicidade do evangelho, adicionando-lhe formalidades e cerimônias que lhe obscureciam inteiramente a vida e o espírito. A religião consistia em adoração externa prestada sob a direção dos sacerdotes, e não na atitude do coração para com Deus. […] Os reformadores davam ênfase às características internas da religião antes que às externas.”

A questão soteriológica foi a principal das transformações. A salvação pela fé em Cristo, e unicamente pela fé, proclamava “que os homens são justificados não por formas e observâncias externas e sim pela vida interior espiritual”.

Cinco séculos depois, é importante que recordemos dessa data acompanhada de suas devidas motivações. Fugir do formalismo, das normas de autoridade extra bíblicas e de métodos salvificos fora o sacrifício de Cristo são desafios para o nosso tempo, mesmo entre os protestantes.

Por fim, como adventistas e herdeiros da Reforma, cabe relembrar: “A reforma não terminou com Lutero, como muitos supõem. Ela haverá de prosseguir até a conclusão da história terrestre. Lutero tinha uma grande obra a fazer, em refletir a outros a luz que Deus permitiu brilhasse sobre ele; todavia, não recebeu toda a luz que devia ser dada ao mundo.” (WHITE, Ellen, “História da Redação”, página 353)

Ainda hoje há verdades a serem redescobertas. White segue dizendo: “Lutero e seus colaboradores executaram um nobre trabalho para Deus; mas, tendo vindo eles da Igreja de Roma, e tendo eles próprios crido e defendido suas doutrinas, não seria de esperar que pudessem discernir todos os seus enganos. […] A maioria deles continuou a observar o domingo e outras festas papais. Na verdade, eles não o consideravam como tendo autoridade divina, mas criam que devia ser observado como dia de culto, geralmente aceito. Havia alguns dentre eles, entretanto, que honravam o sábado do quarto mandamento.” (Idem, página 354)

O legado da reforma segue em nossa mãos. Vamos honrá-lo!

Por Davi Boechat

Fonte: Reação Adventista


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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