O Antigo Testamento registra um total de seis ocorrências em que o número 6 é significativamente posto em evidência (sobre isso,clique aqui).
Essas ocorrências revelam pelo menos quatro características associadas ao número que nos ajudam a estabelecer, à luz da palavra profética, o perfil completo do poder ao qual se refere:
a) No desafio de Lúcifer a Deus: Exaltação própria e rebelião (Isaías 14:13-14).
b) Na construção da torre de Babel: Incredulidade e desobediência (Gênesis 11:3-4).
c) Na imagem de Nabucodonosor, na função da orquestra real e na devoção de Belsazar aos seus diferentes deuses: Falsa adoração (Daniel 3:1, 5; 5:4).
d) No poder babilônico representado pela “árvore”: Orgulho e autossuficiência (Daniel 4:10, 11, 14, 20, 23 e 26).
Essas quatro características estão presentes no poder anticristão denunciado na segunda e terceira mensagens angélicas (Apocalipse 14:8-12) e em profecias paralelas (capítulos 13 e 17).
Note que a expressão “número do seu nome” em Apocalipse 13:17 revela que o número da besta está intimamente ligado ao seu nome: “um mistério: Babilônia, a grande” (Apocalipse 17:5), um nome cujas pretensões e valores se opõem ao nome de Cristo (19:16) e aos nomes do Filho e do Pai escritos na fronte do remanescente final (14:1).
Portanto, não faz nenhum sentido procurar qualquer nome cujo cálculo resulte em 666 (há uma infinidade deles), mas sim calculá-lo a partir do nome do poder ao qual o número está associado.
Rastreando as origens pagãs do nome e do número
O fato de que o Apocalipse use o nome “Babilônia” para se referir à apostasia de proporções ecumênicas nos últimos dias indica claramente que devemos compreender esse fenômeno escatológico a partir de sua congênere histórica, ou seja, a Babilônia do Antigo Testamento.
Com exceção do desafio de Lúcifer a Deus, é significativo que todas as demais ocorrências envolvendo o número 6 no AT estejam relacionadas à Babel ou Babilônia. Os babilônios usavam, aliás, o sistema sexagesimal (baseado no número 60), um número repleto de simbolismos ligados às suas práticas ocultas.
No tempo dos caldeus, a religião babilônica era uma religião profundamente astrológica. Sua compreensão do universo era baseada na astrologia, e os deuses que governavam o mundo e a vida dos homens eram identificados com os astros. Marduque, por exemplo, era identificado com o planeta Júpiter, e Ishtar, com Vênus. Os conhecimentos científicos dos caldeus, especialmente no campo da astronomia, foram motivados por seu interesse religioso na astrologia, a qual incluía a arte advinhatória. A astrologia estava tão ligada à cultura caldaica, que os romanos usavam o termo “caldeu” para designar “astrólogo”.
Na religião astrológica da Babilônia, atribuía-se a cada deus um número ou números considerados sagrados, os quais frequentemente eram usados no lugar do nome do deus. Esses números indicavam a posição e o poder do deus no panteão astrológico. (1)
Para cada planeta conhecido pelos antigos (o sol e a lua eram então considerados planetas), havia um amuleto ou quadrado mágico no qual os números estavam dispostos de tal forma que, independentemente da ordem da soma, o resultado será sempre o mesmo e representará o número identificado com aquele planeta ou astro. Além do quadrado mágico correspondente, há uma constante específica (linha, coluna ou diagonal), um metal associado, uma soma permanente (total) de suas n linhas ou n colunas e certas palavras. (2)
Os amuletos associados ao deus Sol eram chamados “Sigilas Solis” ou “Selo do Sol”, e todos continham os números de 1 a 36. Em um desses amuletos, vemos o deus Sol em pé sobre um leão. Isto indicava a posição desse astro na constelação do Leão, nos dias quentes de agosto. No verso há a inscrição “Nachyel”, que significa “inteligência do Sol”, e os números de 1 a 36. Esses números estão dispostos de modo que o resultado da soma de qualquer linha, coluna ou diagonal é 111, e, por conseguinte, a soma de todas as seis linhas ou seis colunas é igual a 666. (3)
Na astrologia babilônica, o número 36 possuía um significado especial. Os babilônios dividam cada uma das doze casas do zodíaco em três salas, perfazendo um total de 36. Eles, então, dividiam todo o restante do céu em 36 constelações e nomeavam o deus dominante de cada constelação para governar uma das 36 salas do zodíaco. Uma vez que se acreditava que os espíritos dos mortos subiam em direção ao céu para habitar as estrelas – uma crença ainda muito viva hoje -, não havia um único espírito, uma única estrela no céu que não estivesse representado nas 36 salas do zodíaco. Jurar pelo número 36 significava jurar por todos os deuses celestiais, bem como por todos os espíritos dos mortos. Os 36 deuses eram chamados decanos porque cada um governava sobre 10 graus do círculo zodiacal e durante 10 dias do ano de 360 dias.
Os sete planetas ou o dragão astrológico de sete cabeças governavam sobre os 36 decanos, e sobre todos eles governava o sol, considerado o “pai dos deuses”. Tendo em vista que o número 666 é a síntese dos números de 1 a 36, era natural e inevitável que esse número (chamado O Grande Número do Sol) fosse atribuído ao deus-sol, um deus cósmico que não só governava sobre todos os outros deuses, mas era também seu pai celestial. Isto explica porque os “Selos Solares” em uso antes da época de Cristo serviam como amuletos para afastar qualquer mal que pudesse vir dos 36 decanos. (4)
Havia também uma relação mística entre os planetas e os dias da semana. Cada planeta/dia era representado por seu respectivo número, conforme a seguinte tabela:
De fato, diz-se haver sete quadrados mágicos que têm sido associados aos sete planetas da cabala prática. Cada um desses quadrados mágicos (kamea) também está associado a uma sefira (esfera ou círculo) planetária na chamada Árvore da Vida. O número de divisões em uma linha ou coluna do quadrado mágico é regido pelo número do sefira correspondente. (5)
Não admira que o Apocalipse relacione o nome “Babilônia” a “mistério”, indicando indubitavelmente a origem pagã desse fenômeno (Apocalipse 17:5).
O paganismo se infiltra no cristianismo
Roy A. Anderson observa que depois da queda do império babilônico, todo o sistema de mitologia egípcia e babilônica foi transferido para Pérgamo, na Ásia Menor. Quando os persas derrotaram Babilônia, concederam liberdade aos habitantes da cidade. Mas os sacerdotes babilônios posteriormente promoveram um levante, e foram expulsos da região. Os fugitivos caldeus migraram para Ásia Menor, e fixaram a sede de sua religião de mistérios em Pérgamo. Não admira que o Senhor, escrevendo à igreja localizada nessa cidade, declare: “Eu sei as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás” (Apocalipse 2:13). (6)
Durante algum tempo, Pérgamo foi sede desse misterioso culto. Quando, porém, o rei de Pérgamo cedeu o seu reino aos romanos, este culto foi transferido para Roma, que tem sido, a partir daí, a sede deste falso sistema. O “título”, as “chaves” e as “vestimentas”, tudo isso foi absorvido pelo cristianismo apostatado. Pérgamo tornou-se assim um elo entre a antiga Babilônia e Roma. Era natural que a deificação dos imperadores começasse nesta cidade. (7)
O sistema de idolatria babilônico progrediu sobre a alegação de que representava uma ponte entre o Céu e a Terra, crença expressa no título pagão “Pontífice Máximo”. Na religião romana, o termo designava os membros do conselho de sacerdotes que compunham o Colégio Pontifício, considerado a maior organização sacerdotal em Roma, presidida pelo pontifex maximus. A partir da época de Augusto (31 a.C. – 14 d.C.), o imperador atuava tanto como autoridade suprema do Estado, como sumo sacerdote, ou pontífice máximo, título adotado pelos papas por volta do século XV. (8)
As pretensões papais e o número 666
Na qualidade de “Pontífice Máximo”, os papas atribuíram-se uma variedade de outros títulos que evocavam sua pretensão de ocupar na Terra o lugar do Deus Todo-Poderoso. (9). Entre os títulos mais significativos, temos VICARIVS FILII DEI, que significa “Substituto do Filho de Deus”. Para obter mais informações sobre como esse título cumpre as especificações proféticas concernentes ao número da besta, clique aqui
.
Em Apocalipse 13:17 e 18, a palavra grega traduzida como “nome” é onoma. Essa mesma palavra é usada no capítulo 19:16, indicando claramente que o termo poder ser aplicado a um título. É evidente que o título reivindicado pelo anticristo reflete sua pretensão de ocupar na Terra o lugar que pertence a Cristo por direito.
Nomes e títulos têm sido sugeridos ao longo da história para tentar solucionar o mistério. Embora algumas propostas sejam razoáveis e ajudem a confirmar que o papado é o anticristo representado pela besta marítima de Apocalipse 13, elas só se tornam significativas quando consideramos todas as demais características bíblicas do anticristo.
Ao contrário do que sustentam os apologistas católicos, o título VICARIVS FILII DEI é, de fato, atribuído ao papa romano, como confirmam uma variedade de documentos oficiais da própria Igreja. Por razões de necessidade, limito-me aqui a mencionar apenas um exemplo que comprova o uso oficial do título.
A Doação de Constantino, a mais famosa falsificação na história europeia, foi descoberta nas Decretais Pseudo-Isidorianas no século IX, e era frequentemente citada pelos papas para apoiar suas pretensões (sobre isso, clique aqui). Em uma parte desse documento, escrito em latim, lê-se o seguinte (destaque adicionado):
[…] ut sicut B. Petrus in terris VICARIUS FILII DEI esse videtur constitutus, ita et Pontifices, qui ipsius principis apostolorum gerunt vices, principatus potestatem amplius quam terrena imperialis nostrae serenitatis mansuetudo habere videtur, conscessam a nobis nostroque imperio obtineant… […] como São Pedro é visto como tendo sido constituído vigário do Filho de Deus sobre a terra, assim os Pontífices, que são os representantes desse mesmo chefe dos apóstolos, devem obter de nós e de nosso império o poder e uma supremacia maior do que a clemência de nossa serenidade imperial terrestre lhes tem concedido,…O texto prossegue com estas palavras:
[…] escolhendo esse mesmo chefe dos apóstolos e seus vigários como nossos constantes intercessores com Deus. E na medida de nosso poder imperial terrestre, nós decretamos que a sua Santa Igreja Romana seja honrada com veneração, e que mais do que nosso império e trono terrestre o lugar santíssimo de São Pedro seja gloriosamente exaltado, concedemos nosso poder, dignidade, glória, força e honra imperial. E ordenamos e decretamos que ela deve ter a supremacia sobre os quatro principais patriarcados, Alexandria, Antioquia, Jerusalém e Constantinopla, bem como sobre todas as igrejas de Deus em toda a terra. E o Pontífice, que no momento deve ser a cabeça da própria Santa Igreja Romana, deve ser mais exaltado do que os sacerdotes de todo o mundo, e segundo seu julgamento tudo o que é fornecido para o serviço de Deus e para a estabilidade da fé dos cristãos é para ser governado. (10)
O Arquivo Secreto do Vaticano disponibiliza imagens de uma cópia do século XVI da Doação. Na imagem ao lado, o título Vicarius Filii Dei aparece no final da quinta linha na parte inferior da página esquerda da sétima imagem.
A Doação de Constantino é dividida em duas partes. A primeira se refere à história da suposta conversão do imperador à fé cristã e é chamada de “Confessio”.
A segunda parte é denominada “Donatio”, e relaciona a autoridade, privilégios e propriedade legados ao papado pelo imperador. Posteriormente, foi incorporada à maioria das coleções medievais do direito canônico católico.
A imagem à direita reproduz a página do Decretum de Graciano, impresso em 1512, com o título Vicarius Filii Dei indicado pela seta.
O volume completo está disponível online em Bayerische Staatsbibliothek. O título papal aparece na imagem 201 (veja mais, clicando aqui).
Note que o título adotado pelos papas constitui uma síntese do pensamento pagão expresso na religião dos mistérios. O número 666 era uma representação numérica do deus que governava sobre todos os demais deuses do panteão astrológico, e é significativo que estivesse associado ao primeiro dia da semana.
Quando o papado mudou os tempos e a lei (Daniel 7:25) alterando o dia de repouso do sábado para o domingo, admitiu no seio do cristianismo toda uma simbologia pagã que associava o número 666 ao domingo, dia do deus Sol. Não admira que todos os antigos símbolos do culto solar estejam presentes hoje nas catedrais da Igreja Católica ao redor do mundo (para mais informações, clique aqui).
Conclusão
Em sua relação com o nome da besta e sua marca, o número 666 é uma evidência adicional da identidade e caráter do poder que reivindica para si, à semelhança da antiga cultura pagã, títulos e prerrogativas que não lhe pertencem, cumprindo, portanto, as especificações proféticas a seu respeito. Neste sentido, Roma papal constitui, de certo modo, uma continuação das antigas religiões de mistério, para as quais o número 6 era repleto de significado esotérico. Nas Escrituras, o número está intimamente ligado à exaltação própria e rebelião, incredulidade e desobediência, falsa adoração, e orgulho e autossuficiência, características que definem bem a Igreja romana e suas associadas.
Não por coincidência, a Bíblia se refere a esse poder como “mistério” (II Tessalonicenses 2:7; Apocalipse 17:5). Os mistérios babilônicos (antigos e “modernos”) têm desafiado a verdade de Deus desde os tempos mais remotos. O apóstolo Paulo menciona esses mistérios envolvidos em segredos como “obras infrutíferas das trevas” sobre as quais “o só referir é vergonha” (Efésios 5:11-12).
Por meio da tríplice mensagem angélica (Apocalipse 14:6-12), Deus desafia Seu povo a romper com esse sistema idólatra e corrupto e unir-se ao remanescente fiel, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus:
Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos. (Apocalipse 18:4)
Notas e referências
1. Murl Vance. The Trail of the Serpent. Pune, India: Oriental Watchman Publishing, 1991, p. 26.
2. Segundo informações do site de Rodolfo Domenico Pizzinga.
3. Roy A. Anderson. Revelações do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988, p. 144.
4. Murl Vance, op. cit., p. 26 e 27.
5. Bill Whitcomb. The Magician’s Companion: A Practical & Encyclopedic Guide to Magical & Religious Symbolism. St. Paul, MN: Llewellyn Publications, 1993, p. 451.
6. Roy A. Anderson, op. cit., p. 34 e 146.
7. Ibid., p. 35.
8. The New Catholic Encyclopedia, 2ª ed. Detroit, MI: Gale-Thomson, in association with The Catholic University of America, Washington, D.C., 2003, Vol. 11, Art. “Pontiff”, p. 473; Frank K. Flinn. Encyclopedia of Catholicism. New York: Facts On File, 2007, Art. “Caesaropapism”, p. 120.
9. Palavras de Leão XIII (1878-1903) na encíclica Praeclara Gratulationis Publicae, de 20 de junho de 1894. The Great Encyclical Letters of Pope Leo XIII. New York: Benziger Brothers, 1903, p. 304.
10. Christopher B. Coleman. The Treatise of Lorenzo Valla on the Donation of Constantine Text and Translation into English. New Haven, CT: Yale University Press, 1922, p. 12 e 13.
Fonte: Três Mensagens