Implicações de seguir o Cordeiro por onde quer que vá

O Apocalipse caracteriza o povo de Deus no final da história como “seguidores do Cordeiro por onde quer que vá” (Apocalipse 14:4). Nesse artigo, vamos conhecer algumas implicações quanto a seguir o Cordeiro por onde quer que vá.

  1. Seguir o Cordeiro por onde quer que vá implica em aceitar seu sacrifício na cruz, entender o grande conflito final, e seu ministério no santuário celestial. Os seguidores do Cordeiro são mencionados na seção do grande conflito entre Deus e Satanás. A seção inicia em Apocalipse 11:19. “Abriu-se, então, o santuário de Deus que se acha no céu, e foi vista a arca da Aliança no seu santuário, e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande saraivada”. Por sua vez, o clímax da seção é a segunda vinda de Cristo em glória e majestade (Apocalipse 14:17-20).[1] A Arca da Aliança coberta pelo propiciatório e contendo a Lei dos Dez Mandamentos (Êxodo 20:1-20; 34:28; 40:20; Hebreus 9:4) é exposta, pois Deus vindicará sua justiça, amor, o santuário celestial, e os verdadeiros seguidores do Cordeiro. O santuário mencionado por João é o mesmo atacado e profanado pelo chifre pequeno conforme Daniel 8:10, 11. Por isso, a seção do grande conflito em Apocalipse deve ser estudada em conexão com os capítulos 7 e 8 de Daniel. Estes capítulos apresentam “dois planos rivais de ministério no santuário: o celestial original, e o substituto terrestre. Tem havido dois sumo sacerdotes rivais e dois sacerdócios rivais”.[2]  O de Deus no céu, e o do chifre pequeno na terra. Evidentemente, o chifre pequeno não pode ser Antíoco Epifânio, pois estaria em operação na terra até o final do juízo no santuário celestial (Daniel 7:9-13). Note como estes capítulos se relacionam estruturalmente e tematicamente.[3]  O juízo de Daniel 7 e a purificação do santuário em Daniel 8 são aspectos do mesmo evento no santuário celestial.

O capítulo 7 descreve um processo legal instaurado no santuário celestial, com livros de registros abertos diante de testemunhas inteligentes e em expectativa. Este é um juízo investigativo pré-advento, pois o Filho do homem não veio à terra, mas ao tribunal, diante do trono celestial do Ancião de dias, para receber o reino (Daniel 7:9, 13). Cristo mesmo é o Juiz, pois compartilha o trono do Universo, e o Pai delegou-lhe o juízo (Atos 17:31; João 5:22; 2 Coríntios 5:10). Voltando a Apocalipse 11:19, a arca do novo concerto não poderia estar no lugar santo do santuário celestial, pois no santuário terrestre que era exemplar, e sombra do celestial (Êxodo 25:8; Hebreus 8:5), ela se localizava no lugar santíssimo (Hebreus 9:3, 4).  Em pleno acordo com as Escrituras, a escritora Ellen White conclui: “Portanto, o anúncio de que o templo de Deus se abrira no Céu, e de que fora vista a arca de Seu concerto, indica a abertura do lugar santíssimo do santuário celestial, em 1844[4], ao entrar Cristo ali para efetuar a obra finalizadora da expiação”[5].  O juízo investigativo é bíblico. Por meio dele, nosso Sumo Sacerdote “purifica” o santuário celestial (Daniel 8:14). Purificar é tradução do termo hebraico  צָדַק  (ṣadaq) e significa “ser justo, ser reto”[6] , com amplo significado de “reconsagrado”, “vindicado”, “restaurado, “vitorioso”.[7]

  1. Seguir o Cordeiro por onde quer que vá implica em aceitá-lo como nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial. Conforme Levítico 4 no ritual típico[8] do santuário israelita diariamente ocorria um movimento sacerdotal simbólico de transferência de pecado de fora para dentro, isto é, do pátio para o lugar santo[9]. O pecador confessava seus pecados impondo as mãos sobre a cabeça de um animal substituto, e o matava. Nos casos de pecados de sacerdote ou de toda congregação o sangue era levado para dentro do santuário (Levítico 4:5-7; 15-17). Quando o pecador era um príncipe ou um cidadão comum, o sacerdote, com o dedo colocava o sangue nas pontas do altar de holocaustos, e o restante derramava na base do mesmo (verso 25).

Nesse caso, a transferência de pecado era realizada pelo ato do sacerdote comer da carne do animal sacrificado (Levítico 6:25, 26). Entretanto, segundo Levítico 16, no dia da expiação no santuário terrestre, o sumo sacerdote com sangue em um movimento inverso, do santíssimo lugar para o lugar santo, purificava o mesmo santuário da contaminação do pecado (Levítico 16:11-19)[10].  No final da purificação do santuário, o sumo sacerdote colocava as mãos sobre a cabeça de um bode vivo. Esse bode emissário não era morto, pois não tinha parte na expiação.  Simbolicamente, como um depositário de lixo eram-lhe impostas as transgressões do povo de Deus (vs. 20-22). “Este bode representava Satanás, que é responsável por todo pecado no universo”. [11]

Os capítulos 1-10 do Apocalipse foram escritos tendo em foco o ministério de Cristo no lugar santo do santuário celestial. Mas, a partir do capítulo 11 a descrição muda para o tema do juízo efetuado no dia da expiação, no mesmo santuário.[12]  Em sua ascensão, o Cordeiro de Deus iniciou no santo lugar do santuário celestial a intercessão e a aplicação de Seu sacrifício em favor do Seu povo.

Mas, a partir de 1844, ao abrir-se a porta do lugar santíssimo, nosso Sumo Sacerdote passou a realizar a segunda fase de seu ministério celestial, na qual definitivamente os crentes são vindicados e os incrédulos condenados. Seu ministério celestial é com base em seu sacrifício realizado uma vez por todas na cruz. Ao final da purificação do santuário, nosso Sumo Sacerdote imporá a responsabilidade dos pecados do seu povo sobre Satanás. Tendo resolvido o problema do pecado, a seguir o Senhor como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Apocalipse 19:16) “aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que O aguardam para a salvação” (Hebreus 9:28).

As Escrituras enfatizam o início e o final do juízo investigativo, mas não o processo.[13]  Entretanto, parece claro pelo padrão bíblico que o juízo não produzirá escolhas, mas as respeitará e as confirmará (Apocalipse 22:11). Por exemplo, juízos vieram sobre os antediluvianos, em Sodoma e Gomorra, bem como outras cidades e indivíduos somente após suas escolhas terem sido fixadas por eles mesmos. A propósito, quando as escolhas do povo de Deus serão confirmadas definitivamente no juízo pré-advento? As Escrituras não informam dia nem hora, no entanto, em relação aos mortos elas declaram que o tempo de escolhas e oportunidades termina na morte (Eclesiastes 9:5; Hebreus 9:27).

Portanto, é plausível esperar que o juízo tenha começado pelos mortos, pois suas escolhas já foram fixadas. Por outro lado, com base na crise final de Apocalipse capítulo 13: “O mais provável é que o julgamento dos vivos ocorra simultaneamente, quando a última geração viva enfrentar a questão determinadora do destino…o conflito final a respeito da lei de Deus, que se centralizará na imposição da marca da besta”. [14]Esta será uma escolha individual e final para os vivos.

Há duas notícias a respeito do juízo, uma boa e outra má. A boa notícia é que o juízo é a favor dos santos do Altíssimo (Daniel 7:22), pois os seguidores do Cordeiro são representados por seu Sumo Sacerdote e Advogado que os leva no coração (Êxodo 28:30; 39: 8-16).  A má notícia é que aqueles que não estiverem vestidos com a justiça de Cristo serão condenados e lançados fora do reino (Mateus 22:1-14).

  1. Seguir o Cordeiro por onde quer que vá implica em entrar em Aliança com o Senhor, aceitando a perpetuidade de sua Lei e a obrigatoriedade do sábado do quarto mandamento. A abertura do lugar santíssimo e a visão da arca do concerto indicam que a Lei de Deus (Salmo 119:142; Tiago 1:25; Romanos 3:31; 7:12; Mateus 5:17-20) e o mandamento do sábado (Gênesis 2:1-3; Êxodo 16; 20:8-11; Marcos 2:28; Lucas 4:16) não foram abolidos. Os que combatem o juízo investigativo são os mesmos que ensinam a abolição da Lei de Deus, do sábado do quarto mandamento, e a falsa teoria “uma vez salvos, para sempre salvos”. Por outro lado, os que pela fé seguem o Cordeiro até o santuário celestial compreendem a perpetuidade de sua Lei e a obrigatoriedade da guarda do sábado. Note que seguir o Cordeiro implica não apenas em aceitá-Lo como Salvador, mas também entrar em Aliança com Ele, recebendo-O como Senhor (Apocalipse 14:12).

A guarda dos mandamentos de Deus é a prova do discipulado e nossa resposta de amor “Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados” (Apocalipse 1:5). Este discipulado não é a base, mas o fruto da salvação pela fé em Cristo Jesus. Seguir o Cordeiro nunca implica em uma teologia perfeccionista da última geração. “Nunca será demais dizer que somente Cristo é a única e suficiente perfeição e justiça do ser humano. O assunto básico é o poder salvífico de Cristo e sua justiça, não a impecabilidade do crente”.[15]  O juízo investigativo é centrado em Cristo, e não no homem. Deus não depende do homem, mas este é que depende dele. “A questão a ser levantada no juízo pré-advento não é se o crente verdadeiro apresenta um registro irrepreensível no crescimento do caráter, mas se está em união vital e crescente com Jesus Cristo (João 15:4-6)”.[16]

  1. Seguir o Cordeiro por onde quer que vá implica em aceitar a identidade bíblica da igreja remanescente, e unir-se a ela em sua missão profética neste tempo de juízo precedente à volta do Senhor em glória e majestade. Em um movimento vertical, os que seguem o Cordeiro por onde quer que vá, pela fé, solenemente contemplam no santuário celeste seu Sumo Sacerdote, a arca da Aliança e o desenrolar do juízo. Depender continuamente do Cordeiro é o antídoto para uma visão antropocêntrica do juízo que conduz à teologia do perfeccionismo. Por sua vez, em um movimento horizontal, os seguidores do Cordeiro se identificam e se unem com os que guardam os mandamentos de Deus, a fé em Jesus, e mantêm o testemunho de Jesus (Apocalipse 14:12; 12:17; 19:10).

Eles fazem discípulos por meio da comunhão com o Cordeiro, do relacionamento, e da missão descrita em Apocalipse 14:6-12.

Amigo internauta, estamos vivendo na última fase da história humana antes do retorno do Senhor, antes do começo da história no céu (Apocalipse 14:17-20; João 14:1-3). Sem dúvida, este é um tempo solene. O dia da expiação típico era uma santa convocação para oração, jejum, exame do coração e arrependimento (Levítico 23:26-30). Estamos em tempo de buscar socorro no trono da graça (Hebreus 4:14-16). Como vimos neste estudo, não é característica dos seguidores do Cordeiro e nem parte da verdade presente marcar datas para qualquer evento após o início do juízo investigativo. Ninguém sabe quando a porta da graça se fechará (Mateus 24:39, 40), e também ninguém sabe o dia e a hora da volta do Senhor (vs. 36). Porém, uma coisa é certa. Neste tempo de juízo, esta é a hora de pregar o evangelho eterno, e a tríplice mensagem angélica “aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo e língua e povo” (Apocalipse 14:6-12).


Referências:

[1] C. Mervyn Maxwell, Uma nova era segundo as profecias do apocalipse, 3ªed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), 318.

[2] William Shea, Daniel, 1ª ed. (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2009), 186. A seguir Shea.

[3] Jacques B. Doukhan, Secretos de Daniel, 1ª ed. (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2011), 128

[4] Referente ao ano 1844 ver: Clifford Goldstein, 1844, 3ª ed.(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000); Questões de doutrina, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009), 231; “22 de outubro de 1844”, ver https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/wilson-borba/22-de-outubro-de-1844/.

[5] Ellen G. White, O grande conflito, 43ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), 433.

[6] W. E. Vine, M. F. Unger, & W. White, Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (1:205). Nashville: T. Nelson, 1996), 1:205.

[7] Shea, 187

[8] O santuário terrestre e seu ritual, a partir do altar de holocaustos era tipológico, isto é, apontava para a cruz, e para o ministério de Cristo no santuário celestial. Sobre tipologia na Bíblia ver: Richard M. Davidson, Tipology In Scripture (Berrien Springs: Andrews University Press, 1981).

[9] Roy Gane, Altar Call (Berrien Springs, MI: Diadem, 1999), 204.

[10] Ibíd., 204, 205

[11] Norman R. Gulley, Systematic Theology: Creation, Christ, Salvation (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2012), 1: 505.

[12] John Paulien, “Sellos y trompetas: debates actuales”, em Simposio sobre apocalipses- I, editado por Frank B. Holbrook, 1ª ed. (Doral, FL: Asociación Publicadora Interamericana, 2010), 225.

[13] Frank B. Holbrook, O sacerdócio expiatório de Cristo, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), 211. A seguir Holbrook.

[14] Ibíd., 212.

[15] Edward Heppenstall, “Prossigamos para a Perfeição”: O ensino bíblico sobre santificação e perfeição, em Revista Parusia, editada por Amin A. Rodor, 2º semestre de 2008; 43. Ver também George Knight, Eu costumava ser perfeito, 1ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016).

[16] Holbrook, 214.

 

Fonte: Notíciais Adventistas

 


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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