O Maior Santificador do Sábado

“Mas Ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e EU trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-Lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” (João 5:17-18)

A CURA DO PARALÍTICO

Ao ir apressado no seu caminho, com passo firme, desembaraçado, louvando a Deus e regozijando-se no vigor que acabava de obter, encontrou vários fariseus, e contou-lhes imediatamente sua cura. Surpreendeu-se da frieza com que lhe ouviam a história. De sobrancelhas carregadas, interromperam-no, perguntando-lhe por que estava conduzindo seu leito no sábado. Lembraram-lhe severamente que não era lícito conduzir fardos no dia do SENHOR.

Respondeu ousadamente: “Aquele que me curou, Ele próprio disse: Toma a tua cama, e anda” (João 5:11). Perguntaram quem havia feito isso, mas o homem não lhes sabia dizer (João 5:13). Os fariseus sabiam que unicamente Um Se mostrara capaz de realizar esse milagre; porém queriam prova direta de que era Jesus, a fim de O poderem condenar como violador do sábado. No juízo desses rabinos, Jesus não somente havia quebrado a lei em curar o enfermo no sábado, mas, cometera sacrilégio em lhe mandar que levasse a cama.

Jesus encontrou no templo o homem que fora curado. Este viera trazer uma oferta pelo pecado, e também uma de ações de graças pela grande bênção recebida. Encontrando-o entre os adoradores, Jesus deu-Se a conhecer, com a advertência: “Eis que já estás são; não peques mais, para que não te aconteça alguma coisa pior.” (João 5:14). O enfermo restaurado regozijou-se extremamente por encontrar seu Libertador, e, ignorando a inimizade que existia contra Jesus, apresentou-O aos fariseus como o responsável pela sua cura.

Então Jesus foi levado perante o Sinédrio para responder à acusação de violador do sábado. Houvessem os judeus sido a esse tempo uma nação independente, tal acusação lhes teria servido ao desígnio de O condenar à morte. Sua sujeição aos romanos impediu isso. Os judeus não tinham poder para infligir pena de morte, e as acusações apresentadas contra Cristo não tinham peso num tribunal romano.

Apesar de seus esforços para anular-Lhe a obra, Cristo estava adquirindo, mesmo em Jerusalém, influência superior à deles próprios. Multidões que se não interessavam nas arengas dos rabinos, eram atraídas por Seus ensinos. Tanto pelas palavras como pelas obras de misericórdia, estava Ele derribando o opressivo poder das velhas tradições e mandamentos de homens, e apresentando o amor de Deus em sua inesgotável plenitude.

PERSEGUIÇÃO A JESUS

À acusação de violador do sábado, foi adicionada a de blasfêmia por Ele ter Se igualado ao Seu Pai (João 5:18). Os dirigentes da nação israelense tentavam anular a inegável e grande influência de Cristo (Mateus 4:23-25). No intuito de achar algo que lhes permitissem iniciar uma ação legal e propícia para condená-Lo a morte, espionavam-O a todo instante.

Nas investidas de censurá-Lo publicamente, os dirigentes judeus visavam eliminar a Sua autoridade e prestígio. Maquinaram diversos planos para colocar à nação contra Ele. Dando-se conta plenamente de que suas oposições contra Jesus não tinha base bíblica ou quaisquer outra, mais ferozmente se arregimentaram contra a vida dEle (Marcos 3:1-6). Naquela ocasião os judeus já tinham amplas provas do Seu messianismo, pois sabiam:

Da visão do sacerdote Zacarias (Lucas 1:5-20);

Da chegada dos magos em Jerusalém (Mateus 2:1-6);

Do anúncio de Seu nascimento feito aos pastores (Lucas 2:8-18);

Dos questionamentos e arguições de Jesus sobre as Escrituras no templo aos 12 anos (Lucas 2:42-47);

Do depoimento de João Batista quanto a ser Cristo o Messias (João 1:19-27);

Da perfeição do caráter de Jesus, da retitude de Seus ensinos e da origem divina de Seus milagres (Lucas 6:17-19) e,

Das profecias que O apontava como o Ungido de Deus (Isaías 40:1-12; Isaías capítulo 53;Daniel 9:20-27).

NO DIA DE REPOUSO

Os judeus desaprovaram publicamente ao homem por ter levado seu leito no sábado, mas não o castigaram, suas intenções prioritárias eram matar a Jesus, o Autor do milagre. O ódio dos fariseus contra Jesus, na ocasião, era motivado tanto pela cura quanto pela ordem de carregar o leito no sábado, o que contrariava as suas regras. Eles restringiam de forma injustificável inúmeros procedimentos que socorriam os necessitados aos sábados.

Mishna (parte do Talmude), por exemplo, contém interpretações, tradições, ritos e decisões que foram organizadas sistematicamente em seis tratados. Neles existem normas de conduta criadas pelos rabinosque eram repassadas ao povo como exigências a serem obedecidas no sábado. A Mishna não propõem criar novas leis, mas, relatar os costumes e juízos judaicos.1 Nela há questões da época de Jesus e da era pós-Templo.(a) Em relação a esta obra, David Hill afirma:

“O legalismo e a meticulosidade do judaísmo sobre o sábado podem ser analisados no Mišna tractate Šabbat. Ele [Jesus] procede para salvar o judaísmo de si mesmo dos numerosos temas sabáticos, tornando o sábado uma alegria (e, presumivelmente, salvou o judaísmo de seu legalismo e meticulosidade).”2

Segundo as tradições descritas na Mishna era proibido, por exemplo, realizar no sábado atividades como: Procedimentos de cura da pele, como raspagem (limpeza); jogar (por si mesmo) água fria sobre a mão e/ou pé deslocado, mas, poderia submeter a parte lesionada em água corrente; submeter um dente ao contato com o vinagre por motivo de dor, mas, poderia fazê-lo se o motivo era degustativo ou alimentar; a região lombar, dolorida, não poderia ser submetida ao vinho ou vinagre, mas, era permitido ungir com óleo, deste que esse não fosse originado de rosas.

Outras obras judias também se dispuseram a discorrer sobre regras específicas quanto a observância sabática, existindo diretrizes peculiares em algumas que não eram mencionadas nas demais. Obras como o “Livro dos Jubileus” e “Documentos de Damasco” além de conterem informações históricas do judaísmo, abrangem uma extensa lista de severas proibições3. Em geral existem 70 discussões que regem o quarto mandamento do Decálogo.4

Os rabinos se baseavam nessas regras para acusar a Cristo de transgredir o sábado. Vários atritos ocasionados por essas normas absurdas e inúteis estão registrados nos Evangelhos, por exemplo:

“Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos ressequida; e eles, então, com o intuito de acusá-Lo, perguntaram a Jesus: É lícito curar no sábado? Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço, tirando-a dali? Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem.” (Mateus 12:10-12; Marcos 3:1-8)

Jesus além de demonstrar que era lícito curar no sábado, revelou a violação que os rabinos e seus seguidores cometiam contra a própria lei deles, que dizia: “… se um animal cai num poço ou num fosso,não se deve removê-lo no sábado.”5 Cristo sabia que essa regra não pertencia as Escrituras e que eles não a obedeciam. Após questioná-los sobre ela, um silêncio desconcertante se fez presente. Enquanto falsamente acusavam a Jesus, eram eles que transgrediam os princípios do quarto mandamento, além de violarem suas próprias normas. Os perseguidores de Jesus não podiam apresentar pelas Escrituras Sagradas nenhuma lei que proibisse o auxílio dos enfermos aos sábados. Valiam-se de textos alheios à Bíblia para embasar suas próprias convicções.

Cristo nunca se defendeu das acusações de ter transgredido o sábado afirmando que ele fora abolido ou que não havia mais a necessidade de ser observado. Seus discípulos ao escreverem o Novo Testamento, décadas após a ascensão de Jesus ao Céu, nunca relataram algo a esse respeito. Mas, o profeta Isaías já havia descrito o comportamento e tradições reprováveis desses rabinos:

“O SENHOR disse: Visto que este povo se aproxima de Mim e com a sua boca e com os seus lábios Me honra, mas o seu coração está longe de Mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu, continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa e um portento; de maneira que a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a prudência dos seus prudentes se esconderá.” (Isaías 29:13-14)

E Jesus valendo-se das palavras de Isaías disse:

“… Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição.” (Marcos 7:6-9)

MEU PAI TRABALHA ATÉ AGORA

Depois de haver fracassado em seu desígnio de vencer a Cristo no deserto, arregimentara Satanás suas forças para se Lhe opor ao ministério, impedindo, se possível Sua obra. Aquilo que não conseguira realizar por esforço pessoal, direto, decidira efetuar por meio de estratégia.

Tão depressa se retirara do conflito no deserto e, em concílio com os seus anjos confederados, amadureceu os planos para cegar ainda mais o espírito do povo judeu a fim de não reconhecerem seu Redentor (João 1:11; Isaías 53:3). Levá-los-ia a rejeitar a Cristo e a tornar-Lhe a vida o mais amarga possível, esperando desanimá-Lo em Sua missão. E os guias de Israel tornaram-se os instrumentos de Satanás em combater o Salvador.

Jesus viera para engrandecer a Lei de Deus, e a tornar gloriosa (Isaías 42:21; Mateus 5:17-20; Lucas 16:17). Ele libertou o sábado daquelas enfadonhas exigências que o haviam tornado uma maldição em vez de bênção. Por isso escolhera o sábado para nele realizar a cura em Betesda. Poderia haver curado o enfermo igualmente em qualquer outro dia da semana; ou simplesmente tê-lo curado, sem lhe dizer que levasse a cama. Isto, porém, não Lhe teria proporcionado a oportunidade que desejava. Um sábio desígnio guiava todos os atos de Cristo na Terra. Tudo quanto fazia era em si mesmo importante, bem como na lição que comunicava.

Escolheu, entre os sofredores que se achavam junto ao tanque, o pior caso, para aí exercer Seu poder de cura, e pediu ao homem que levasse a cama através da cidade, a fim de publicar a grande obra de que fora objeto. Isso daria lugar à questão do que era ou não era lícito fazer no sábado, e abriria o caminho para Ele condenar as restrições dos judeus quanto ao dia do SENHOR, declarando vãs suas tradições.

Jesus lhes afirmou que a obra de aliviar os aflitos estava em harmonia com a lei do sábado. Estava em harmonia com os anjos de Deus que estão sempre descendo e subindo entre o Céu e a Terra para servir à humanidade sofredora. Jesus declarou: “Meu Pai trabalha até agorae Eu trabalho também.” (João 5:17). Todos os dias são de Deus, para neles se executar Seus planos para com a raça humana. Fosse a interpretação dos judeus razoável, então Jesus estaria em falta (I João 3:4 cf Romanos 7:7). Deus não deseja que Suas criaturas sofram uma hora de dor que possa ser aliviada no sábado, ou noutro dia qualquer.

As solicitações para com Deus são ainda maiores no sábado do que nos outros dias. Seu povo deixa então a ocupação diária, seus afazeres do cotidiano, e passa mais tempo em meditação e culto. Pedem-Lhe mais favores no sábado, que noutros dias. Exigem-Lhe a atenção de modo especial. Anelam Suas mais preciosas bênçãos (Isaías 56:1-8; Isaías 58:13-14).

A obra no Céu não cessa nunca, e o homem não deve descansar de fazer o bem. O sábado não se destina a ser um período de inútil inatividade. A lei proíbe trabalho secular no dia de repouso do SENHOR; o labor que constitui o ganha-pão, deve cessar; nenhum trabalho que vise prazer ou proveito mundanos, é lícito nesse dia; mas como Deus cessou Seu labor de criar e repousou ao sábado, e o abençoou, assim deve o homem deixar as ocupações da vida diária, e devotar essas sagradas horas a um saudável repouso, ao culto e a boas obras. O ato de Cristo em curar o enfermo estava de perfeito acordo com a lei. Era uma obra que honrava o sábado.

Os adversários de Cristo não tinham argumentos com que enfrentar as verdades que lhes fazia penetrar na consciência. Não podiam senão citar seus costumes e tradições, e estes eram fracos e nulos quando comparados com os argumentos que Jesus tirava da Palavra de Deus e da vida natural!

Houvessem os rabinos experimentado qualquer desejo de receber a luz, teriam se convencido de que Cristo dizia a verdade. Evitavam, porém, os pontos que apresentavam com referência ao sábado, e procuraram incitar ódio contra Ele, como por exemplo, declarar ser igual a Deus. A fúria dos líderes não conhecia limites. Não houvessem temido o povo, os sacerdotes e rabinos teriam matado a Jesus ali mesmo. Mas o sentimento popular em Seu favor era forte. Muitos reconheciam em Cristo o amigo que lhes curara as moléstias e confortara as dores, e justificavam-nO em curar o doente de Betesda. De modo que os guias se viram obrigados, de momento, a restringir seu ódio.

IROU-SE O “DRAGÃO”

Esse mesmo ódio de origem satânica é registrado em Apocalipse 12:17 contra os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé em Jesus.

O maior interessado em anular o quarto mandamento da mente do homem (Hebreus 8:10) é Satanás, pois, ele entende perfeitamente que não precisa levá-lo a transgredir todo o Decálogo para lhe conduzir a ruína como é ensinado em Tiago 2:8-13. Assim ele volve-se a investir contra o mandamento que mais especificamente orienta o homem a ter uma comunhão com Deus. Satanás sabe, por experiência própria (Apocalipse 12:7-8), que seus propósitos não se concretizarão induzindo o homem a menosprezar e blasfemar diretamente a Cristo; então utilizando de sua perspicácia, leva-o a deturpar os princípios da Lei de Deus, e de forma mais severa o sábado. Desde modo criatura é levada a desobedecer ao Criador.


Texto baseado em: WHITE, E. G. O Desejado de Todas as Nações, p. 201; Seção III, capítulo XXI –Betesda e o Sinédrio.

Vídeo relacionado: O Sétimo Dia – Estudo 03

a. Após a destruição do Templo de Jerusalém ocorrida em 70 d.C.

1. COHN-SHERBOK, D. (2004). JudaismHistoryBelief and Practice, p. 399; GERSH, H. (1984).MishnahThe Oral Law, Berman House Inc., p. 8; Referência complementar: BLANDINA, P. (1964).Mishnayoth, 2.ª ed., vol. 7, New York: Judaica Press, 1964.

2. HILL, D. (1972). The Gospel of Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, p. 209.

3. SALDARINI, A. J. (1997). Comparing the Traditions: New Testament and Rabbinic Literature, In: Bulletin for Biblical Research 7, (Institute for Biblical Research), p. 197-199; Referência complementar: Lawrence Schiffman, The Halakhah at Qumran, Leiden: Brill, 1975.

4. NEUSNER, J. (1981). Judaism: The Evidence of the Mishnah, Chicago: University of Chicago Press, p. 55-59.

5. Documento de Damasco, col. 11.

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