Um alerta aos adventistas

Há cinco anos eu e alguns amigos nos demos conta de que a Igreja Adventista corria um grande risco de ser chacoalhada por uma nova teologia; uma teologia de caráter progressista. Diversos jovens cristãos, incluindo adventistas, vinham sendo influenciados por discursos marxistas, feministas, abortistas e relativistas. A influência geralmente ocorria na faculdade. Os jovens entravam no ambiente universitário e, em grande parte, ou largavam a fé cristã, ou começavam a importar discursos secularistas para dentro da igreja, formando assim uma nova teologia.

O ponto mais assustador, no entanto, é que não havia, nas redes sociais, nenhuma página adventista falando especificamente sobre a incompatibilidade entre a fé cristã e essas filosofias. Foi por essa razão que o Reação Adventista surgiu. A ideia, desde o início, era ocupar esse espaço vago que existia dentre as páginas adventistas.

Felizmente, não muito tempo depois, vários grandes influenciadores adventistas passaram a combater essas filosofias também. Ainda assim, a teologia progressista cresceu muito em nosso meio e tem dado bastante trabalho para a IASD, contando com muitas páginas na internet e a defesa de alguns de nossos pastores e cantores.

O monstro que o progressismo se tornou hoje é um exemplo claro de como um problema não tratado em seu início pode se tornar bastante grande e incômodo no futuro. Enquanto o adventista médio estava preocupado com discussões teológicas secundárias e achando que falar de marxismo e feminismo era ser político, professores universitários e alunos militantes de movimentos seculares faziam a cabeça dos nossos jovens com coisa séria, capaz de realmente criar outro evangelho. Nossa igreja perdeu o timing.

É aqui que entra o meu apelo. Assim como apontei, há cinco anos, que o progressismo teológico poderia causar grandes problemas para a IASD se nada fosse feito, hoje tenho apontado outro grande risco: o do fortalecimento da teologia tradicionalista.

O que é tradicionalismo? Tradicionalismo é a teologia da tradição. Ela se apega a determinados costumes e ideias que não possuem base bíblica e os vendem como se fossem a mais pura ortodoxia. Para isso, apelam para a autoridade de alguns pioneiros adventistas (como se eles fossem um magistério infalível) e às suas interpretações distorcidas dos escritos Ellen White (ignorando não só uma leitura contextualizada, mas também o fato de que Ellen White ensinava o Sola Scriptura, o que já descartaria qualquer imposição de ideias que não fluam da Bíblia).

E por que há um risco do fortalecimento dessa teologia? Simples: porque os extremos se retroalimentam. O progressismo e o tradicionalismo são extremos opostos. Enquanto o progressismo busca fazer uma teologia baseada nos ditames da cultura contemporânea e dos desejos libertinos, o tradicionalismo procura fazer uma teologia com base em tradições e em suas concepções legalistas, farisaicas e fanáticas. Assim, quanto mais o tradicionalismo se fortalece, mais progressistas surgem em reação. E o contrário é igualmente verdadeiro: quanto mais o progressismo se desenvolve, mais tradicionalistas aparecem para se opor.

Dada a crise que temos vivido com o progressismo hoje, não é difícil prever que em breve teremos hordas de tradicionalistas pretendendo combater o progressismo. Na verdade, isso já tem acontecido. Assim como vi surgir dezenas de páginas progressistas nos últimos anos, agora tenho percebido a aparição de muitas páginas tradicionalistas. O perfil é sempre muito parecido: surgem com um discurso de combate ao progressismo e tão logo estão exaltando ideias tradicionalistas.

O risco desse movimento pendular não deve ser ignorado, pois ele sempre foi constante na história. Só para citar um exemplo do próprio adventismo, no início da década de 1920, o mundo protestante sofria as pressões do liberalismo teológico. Com medo disso, os adventistas abraçaram o tradicionalismo. Como resultado, a ala tradicionalista dominou a IASD pelos próximos 50 anos, trazendo problemas que deixaram suas marcas até hoje, como o perfeccionismo, o legalismo, o farisaísmo, as vãs acusações de liberalismo em qualquer discussão, as péssimas interpretações de Ellen White e uma negação prática do Sola Scriptura (que, aliás, é um vício tanto de tradicionalistas, quanto de liberais teológicos).

Se, por um lado, podemos nos alegrar porque atualmente vários líderes e leigos adventistas tem combatido o progressismo nas redes sociais, por outro lado, devemos nos manter alertas. É preciso observar com cuidado se alguns (ou muitos) desses líderes e leigos não estão aproveitando o embalo do combate ao progressismo para fazer do tradicionalismo o “guardião da ortodoxia”. Mais que isso: é preciso combater o progressismo sem deixar de desmascarar o tradicionalismo. Do contrário, amanhã estaremos sendo chamados de liberais por tradicionalistas que querem “sair na foto” como ortodoxos.

Por Davi Caldas

Fonte: Reação Adventista


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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