Aprisionados na Rede

Pessoas com problemas emocionais buscam refúgio na web e acabam caindo na armadilha do vício.

Youtube, orkut, blogs, twitter, e-mail… A internet abriu infinitas portas de acesso à informação e aos relacionamentos. Basta um clique no mouse para iniciar uma conversa com os amigos, participar de um fórum de debate, postar um comentário, ver um vídeo, ler poesia. Enfim, não há limites para a navegação no maravilhoso mundo virtual.

Essa experiência faz parte do cotidiano de um número cada vez maior de brasileiros. Segundo pesquisa do IBOPE/NetRatings, no primeiro trimestre de 2008, 41,5 milhões de pessoas com idade acima dos 16 anos declararam ter acesso à internet em qualquer ambiente – casa, trabalho, escola, cybercafés, entre outros. Este é o maior patamar já atingido no Brasil, desde setembro de 2000, quando se iniciaram as medições do Instituto.

O dado é positivo, claro. Afinal, o País está conseguindo vencer as barreiras da exclusão digital. Mas, à medida que cresce o contingente de internautas, aumenta também a preocupação com o risco de ocorrência do vício em internet.

Organização Mundial da Saúde ainda não caracterizou esse vínculo de dependência como doença. O transtorno ainda está em estudo e deverá figurar na próxima edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ( Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais), publicação da Associação Psiquiátrica America (APA), que é a principal referência de diagnóstico para os profissionais de saúde mental.

As dúvidas quanto ao caráter patológico do uso excessivo dessa ferramenta desaparecem diante de histórias como a do garoto de 17 anos que já ficou 40 horas seguidas num jogo online. Ele se alimentava e fazia todas as necessidades fisiológicas diante do computador.

E mais: não só os indivíduos nascidos na chamada “era eletrônica” são suscetíveis ao vício. Uma senhora de 62 anos, que encontrou na web uma forma de sentir-se útil após a aposentadoria, acabou ficando dependente. Recebe mais de quatro mil e-mails por dia, fica conectada o dia inteiro, negligencia as atividades domésticas e não quer sair de casa. O seu casamento de mais de quarenta anos entrou em crise por conta desse comportamento.

Válvula de Escape

Para tratar casos como esses, o Hospital das Clínicas de São Paulo criou o Centro de Estudos de Dependência da Internet. “Oferecemos psicoterapia de grupo (formado por até 15 pessoas) com encontros semanais de uma hora e meia, durante 18 semanas. Ao final, os pacientes são encaminhados para avaliação médica e, se necessário, recebem a indicação de medicamento”, conta Cristiano Nabuco de Abreu, psicólogo, Coordenador do Ambulatório do Impulso do Instituto de Psiquiatria, onde funciona o Centro.

Durante o tratamento, os pacientes são orientados a identificar quais gatilhos emocionais os levam a buscar refúgio na web. “Eles percebem que usam excessivamente a internet não porque gostam e , sim, porque precisam dessa válvula de escape. A partir dessa percepção, passam a buscar alternativas para lidar com aquilo que incomoda sem ficar à frente do computador”, afirma Cristiano.

Criado há três anos, o Centro de Estudos já atendeu cerca de cinquenta pessoas. A maioria delas apresenta, além da dependência de internet, outros distúrbios associados como depressão, transtorno bipolar e fobia social. “Acompanhamos os pacientes após o término do tratamento e constatamos alto índice de recuperação”, comenta Cristiano.

Os dependentes de internet que não conseguem buscar a ajuda psicológica presencial contam com outra opção: um serviço via correio eletrônico oferecido pelo Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPPI) da PUC-SP. O atendimento é feito num período de dois meses, com uma troca de oito e-mails, em média.

“Nos primeiros e-mails, procuramos caracterizar qual é o tipo de vínculo que a pessoa estabelece com a internet. Alguns fazem autodiagnóstico de dependência, mas o problema não existe de fato. Outros apresentam a queixa real, porém desejam uma solução mágica. Ambos os casos desistem do atendimento logo no início”, relata Juliana Zacharias, psicóloga membro do NPPI.

Os internautas que permanecem em contato com o NPPI até o fim do programa ampliam a sua compreensão a respeito do sintoma. “Não oferecemos a cura para o vício. Isso requer um trabalho mais longo. Fazemos a orientação psicológica e encaminhamos para terapia, quando detectamos a necessidade”, esclaresce Juliana.

Instituído em Agosto de 2006, o serviço do NPPI atendeu 15 viciados em internet naquele ano. Em 2007, o número subiu para 50. E, até julho de 2008, o total chegava a 31. A maioria dos atendidos se mantém no anonimato. “O fato de não precisar se identificar facilita a procura por ajuda. Ir até um consultório seria bem mais complicado”, alega Juliana.

Sou Viciado?

Uma rápida pesquisa no Orkut, o maior site de relacionamentos, indica a existência de mais de 500 comunidades com o título “Viciados em Internet”. Isso não significa que os milhares de membros estão realmente dependentes. A expressão, na verdade, é mais usada para indicar o grau de paixão pela web. Mas como saber se esse vínculo está tomando um caminho rumo à doença? Os especialistas apontam alguns sinais indicativos de dependência. Veja no quadro abaixo e tire suas conclusões.

Sinais Indicativos de Dependência da Internet

1. Os indivíduos tornam-se monotemáticos: só falam de internet, só se relacionam por meio da web. Gradualmente, vão trocando as experiências reais pela realidade virtual.

2. Perda da Noção do tempo de conexão e sentir necessidade de aumentar o número de horas conectado para experimentar a mesma satisfação.

3. Saber que está fazendo uso excessivo da internet, sem conseguir se controlar.

4. Ficar irritado e deprimido quando o acesso à internet é restringido.

5. Negligenciar atividades (estudo, trabalho, lazer) e relacionamentos afetivos e sociais (familiares, amigos, namorado…) para ficar ligado no computador.

6. Mentir sobre o tempo que permanece conectado.

Ajudas

• Se quiser saber como está a sua situação em relação à rede, no site http://www.dependenciadeinternet.com.br, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso, há o teste (quiz) online “Você é um dependente de internet?

• O Serviço de apoio da PUC-SP, atende pelo endereço [email protected]

• O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas possui um grupo para tratamento de pessoas voluntárias viciadas em internet. Inscrições pelo telefone (11) 3069-7805.

Por Sueli Zola

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Sueli Zola é jornalista

Fonte: Medicina Social

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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