Muitas pessoas ficam confusas quando lêem a Parábola do Rico e Lázaro. Segundo a Bíblia, os mortos permanecem inconscientes na tumba até o dia da ressurreição, e como entender a conversa do Rico com Lázaro após a morte? Lucas 16:19-31
Esta parábola nada diz das almas imortais que saem do corpo depois da morte.
Ademais, é um princípio de interpretação bíblica que não se pode basear doutrinas sobre parábolas ou alegorias.
Eis aqui algumas razões que impedem tomar esta parábola literalmente:
1. Se esta parábola for tomada em forma literal, as Sagradas Escrituras estariam se contradizendo quanto à inconsciência dos mortos até o dia em que ressuscitam.
(ver: Eclesiastes 9:5, 6 e 10; São João 11:11-14; 5:28; 29)
Os mortos não estão no Céu, nem no purgatório, nem no inferno (Atos 2:29 e 34;
Jó 3:11-19; 17:13). Cremos que o Espírito Santo não pode contradizer-se (II Timóteo 3:15-17; II São Pedro 1:21).
2. Se esta parábola for tomada literalmente, aceitaremos que o Céu e o inferno estão tão próximos que os salvos e os condenados podem ver-se e ouvir-se. Este seria o maior castigo que poderiam receber todos quantos se salvem, pois estariam vendo e ouvindo seus entes queridos que se perderam em sofrimento!
A Bíblia declara abertamente que os maus serão totalmente destruídos.
“Porque os malfeitores serão exterminados … Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do Senhor serão como o viço das pastagens: serão aniquilados e se desfarão em fumaça” (Salmo 37:9 e 20).
3. Se esta parábola for interpretada literalmente, contradiz-se a crença popular de que a alma abandona o corpo no momento da morte para receber só sua recompensa; mas na parábola é dito que Lázaro e o rico estão presentes corporalmente, pois se mencionam o “dedo” de um e a “língua” do outro.
Todos sabemos que o corpo permanece na tumba e se desintegra totalmente.
Além disso, a sede que sente o rico é própria do corpo, e, afinal de contas, de que serviria um “dedo” molhado “em água” para aliviar os rigores extremos de um fogo verdadeiro?
Por estas razões concluímos que é uma parábola, e que faz parte de uma série de cinco que Jesus pronunciou (São Lucas 15 e 16) para destacar verdades básicas.
Jesus baseou esta parábola numa crença comum entre os judeus, mas contrária às Escrituras, que esses haviam aprendido de Babilônia, Egito e nações circunvizinhas.
Jesus tomou muito das coisas conhecidas por Seus ouvintes para apresentar Suas parábolas; uma maneira fácil de chegar ao coração, mas não necessariamente uma aceitação incondicional do material ou argumento que servia de meio para destacar um ensino.
Por outro lado, os judeus colocavam Abraão acima de Jesus: “Nosso pai é Abraão … És maior do que o nosso pai Abraão … ?”
(São João 8:39 e 53; São Mateus 3:9).
Jesus põe na boca de Abraão as palavras que este haveria de ter dito em pessoa: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (São Lucas 16:29-31).
É comum a Bíblia personificar as bestas como coisas inanimadas: as árvores se reúnem para nomear um rei (Juízes 9:8-15); “O cardo … mandou dizer ao cedro … Dá tua filha por mulher a meu filho” (II Reis 14:9); “Porque a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento” (Habacuque 2:11); “Se eles se calarem, as próprias pedras clamarão” (São Lucas 10:40; São Mateus 3:9; ver Jó 12:7 e 8).
Dois princípios gerais se destacam nesta parábola: que a recompensa se baseará na conduta que se observa enquanto se vive; e que o importante é obedecer à Palavra divina, e não confiar em nossa raça ou origem, nem mesmo sendo carnalmente “filhos de Abraão”.