Bater Palmas e as Escrituras

As palmas como expressão de culto, na celebração no templo, não encontra qualquer respaldo nas Escrituras. O livro do Salmos descreve o louvor dos crentes e o louvor universal. Descreve também manifestações próprias de culto como igreja que eram, e outras manifestações musicais e artísticas e folclórica como povo-estado que também eram. O culto no tabernáculo ou no templo do Velho Testamento, por sua vez, era o mais impeditivo possível. Seguia-se uma liturgia rígida. A mobília e os utensílios do templo foram rigorosamente prescritos. Somente os sacerdotes cantavam (os 280 cantores levitas, homens vocacionados para este fim), Os instrumentistas eram ordenados, de uma única tribo, e ninguém mais. Somente o sumo-sacerdote entrava uma vez por ano no santo dos santos. Nem todos os instrumentos eram permitidos no templo, somente alguns próprios para o culto. Os homens comuns do povo assistiam a tudo de longe, as mulheres ainda mais longe em seu próprio lugar, os estrangeiros por detrás do muro da separação que existia para afastá-los ainda mais. Todos estes longe do átrio onde a celebração se dava. Tudo era impedimento.

Então, tomar o Salmo 47 no seu versículo 1, que está no contexto do Velho Testamento (“Batei palmas, todos os povos; celebrai a Deus…”), como se o culto do Velho Testamento seguisse à vontade, nos parece um equívoco pelos argumentos anteriores e também porque este Salmo está se referindo ao louvor universal, não do templo. No templo jamais se bateu palmas; até hoje as sinagogas judaicas não o fazem. E este é o único texto que fala de aplaudir, de bater palmas como expressão de louvor. No mesmo contexto o Salmo 98.8 determina que “os rios batam palmas,…”. (Isaias 55.12 trás a mesma idéia). O Salmo 150 determina que “todo ser que respira louve ao Senhor.”, mas nós não trazemos um animal, que evidentemente respira, para o templo, o que seria uma abominação ao Senhor. Os animais trazidos em sacrifício eram oferecidos fora do átrio, e mesmo assim, representavam a Cristo que é o “Cordeiro que foi morto de uma vez por todas”, acabando com todos os sacrifícios sanguinolentos de animais. Assim, no Novo Testamento não existe nem sequer esta possibilidade.

A totalidade das outras referências bíblicas sobre palmas não se refere a expressão de louvor, mas de zombaria, escárnio, ódio, e também uma delas, de homenagens humanas. Vejamos. Números 24.10 fala da ira de Balaque que se acendeu contra Balaão, “e bateu ele as suas palmas.” Em II Reis 11.12 encontramos a coroação de Joás, quando eles “bateram palmas“, em homenagem ao novo rei. Em Jó 27.23, encontramos a descrição da sorte dos perversos com a seguinte afirmação: “à sua queda lhe batem palmas, à saída o apupam com assobios.”, se referindo a vaias. Em Jó 34.37, encontramos: “Pois ao seu pecado acrescenta rebelião, entre nós, com desprezo, bate ele palmas, e multiplica as suas palavras contra Deus.” Lamentações 2.15 fala do escárnio sofrido por Jerusalém: “Todos os que passam pelo caminho batem palmas, assobiam e meneiam a cabeça sobre a filha de Jerusalém:…”, vaias, e levantar de ombros como dizendo “nem te ligo”. Ezequiel tem duas referências a Deus como batendo palmas, mas Ele o faz em ódio contra Israel (Ezequiel 21.17; 22,13). O texto de 21.17, por exemplo, diz: “Também eu baterei as minhas palmas uma na outra e desafogarei o meu furor; eu, o Senhor, é que falei.”. As duas outras referências ali é sempre em tom de zombaria (6.14; 21.14). Nahum 3.19 é o último versículo desta profecia e também fala pela última vez em bater palmas no Velho Testamento, também em tom de zombaria, de asco: “Não há remédio para a tua ferida; e tua chaga é incurável; todos os que ouvirem a tua fama baterão palmas sobre ti; porque sobre quem não passou continuamente a tua maldade?”. Neste caso específico encontramos a ruína de Nínive e a maldição que sobre esta cidade foi derramada. Enquanto estava ela doente de morte, com uma chaga incurável, todos “baterão palmas” sobre ela, impingindo maior aflição pelo barulho das palmas e seu ritmo infernal. O livro dos Salmos falam uma única vez de “aplaudir”, em 49.13, falando sobre o proceder dos seguidores dos estultos que “aplaudem o que eles dizem.”

No Novo Testamento não há nenhuma referência ao bater de palmas, muito menos em relação a uma atitude cúltica, por que, enquanto o Velho Testamento era repleto de gestos como “colocar o rosto em terra”, o “rasgar as vestes”, o “colocar cinza sobre a cabeça”, o “vestir-se de pano de saco”, etc. etc, o Novo Testamento nos chama a um culto racional conforme orienta Paulo em Romanos 12.1: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.“. Esta expressão “Logiken Latria” – (culto racional), fala de um culto supra-sensual, um culto que não requer recursos como a dança (que nunca foi permitida no templo do Velho Testamento como expressão de culto), ou sequer as palmas, menos ainda das outras expressões gestuais.

As palmas para marcar o ritmo da música, devem ser observadas dentro de um contexto da música como um todo. A música para a adoração é composta de harmoniamelodiaritmo e letra. Cada uma destas partes atinge um aspecto do nosso ser. A harmonia atinge o nosso senso do belo, pela quantidade de sons, que, tal como a diversidade das cores e seus matizes, chamam a nossa atenção para a beleza; a melodia toca as nossas emoções; a letra tange a nossa inteligência, a razão; o ritmo, por sua vez, apela para o nosso corpo, o que por si só não é mal, absolutamente. Nosso coração bate em ritmo, nossos passos são dentro de ritmo. Todas estas partes, então, devem promover a integridade da música e a integridade do ser que adora. Uma música melosa, melodiosa se torna excessivamente romântica, sentimental, o que não é próprio para o culto. Uma música com uma harmonia complexa, com harmonias dissonantes, também não é própria pois chama a atenção exageradamente para uma de suas partes esquecendo-se da inteireza. A letra deve ser doutrinariamente sã trazendo a mensagem da Palavra de Deus ao nosso coração. O ritmo não pode ser de tal ordem que nos convide ao requebro. As palmas como expressão de culto, portanto, não são próprias, pois frisam o ritmo que convidam ao requebro, aos meneios, à sensualidade.

Lembremo-nos que adoramos a Deus conforme o que Ele requer e, Ele não requer que o façamos através de palmas, a não ser no louvor da natureza, dos rios, do farfalhar das árvores, do uivar e grunhir dos animais, do pipilar das aves, das palmas e até mesmo da dança. Mas no templo o louvor é racional, supra-sensual. O culto é logiken latria. Seu pastor, nesta autocrítica, então lhes promete, como responsável diante de Deus pela condução litúrgica, que não proporá e nem permitirá que no campo da Primeira Igreja se use palmas no culto solene prestado em celebração a Deus, para aplaudir feitos humanos, ou mesmo, como expressão de culto ao Senhor. De fato, nenhuma coisa, nem outra é própria à solenidade do culto que prestamos ao nosso Deus e Senhor.


Fonte: http://www.executivaipb.com.br

Autor: Ludgero Morais


Descubra mais sobre Weleson Fernandes

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

Verifique também

A música no culto e o Sola Scriptura

Há algum tempo, um pastor adventista postou um vídeo em seu canal no Youtube falando …

Louvor Midiático 

O sucesso de programas como American Idol e The Voice, revivendo os antigos shows de calouros, é um fenômeno mundial. …

Louvando a Deus!

1. Gratidão e louvor devem ser cultivados – I Crônicas 16:8-36 “Quando os dez leprosos foram …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×

Sejam Bem Vindos!

Sejam bem Vindo ao Portal Weleson Fernandes !  Deixe um recado, assim que possível irei retornar

×