Reavivando a experiência da adoração de Deus

No sentido mais amplo do Novo Testamento e, particularmente, do livro do Apocalipse, a verdadeira adoração de Deus está inextricavelmente ligada ao ministério de Cristo no santuário celestial.

Perder de vista a Cristo em Seu santuário equivale a perder o significado espiritual da adoração verdadeira e, portanto, tudo o que ele representa na vida do crente.

Uma renovação da adoração entre o povo de Deus deve necessariamente consistir em um retorno a Cristo, pela fé, no local de Sua derradeira obra em favor dos santos, ou seja, no santuário celestial (Hebreus 4:14-16; 7:24-25; 8:1-2; 9:23-24; 10:19-23)!

Essa é, substancialmente, a mensagem do anjo portador do evangelho eterno à geração do fim:

Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. (Apocalipse 14:7)

A palavra traduzida aqui como juízo, krisis, refere-se à ação de julgar ou separar. Em conexão com o apelo de Deus à adoração verdadeira, a hora do julgamento divino consiste, pois, na separação ou distinção entre os verdadeiros e os falsos adoradores.

O tempo do verbo grego indica o sentido de urgência desta mensagem: “é chegada a hora do seu juízo”. O julgamento celestial não é um acontecimento futuro. Ele já começou! Está agora em andamento, razão por que Deus chama os homens a temê-Lo, glorificá-Lo e adorá-Lo, enquanto ainda existe oportunidade!

Para aqueles que responderem favoravelmente ao convite da graça, olhando para Cristo em Seu santuário em busca de perdão e santificação, o juízo é boa-nova que resultará em sua vindicação diante de Deus! Para aqueles, porém, que recusarem ouvir o apelo da graça e escolherem a adoração da besta e da sua imagem, o juízo será um tempo de angústia que resultará em condenação (Apocalipse 14:9-11).

A necessidade de olhar para Cristo em Seu santuário

O anúncio do juízo em Apocalipse 14:7 é paralelo à cena do julgamento na visão de Daniel, quando “assentou-se o tribunal, e se abriram os livros” (Daniel 7:10). A corte celeste em sessão, presidida pelo Ancião de Dias na pessoa do Filho do Homem, Jesus Cristo (Daniel 7:13, conforme João 5:22, 27), é, com efeito, o marco sobre o qual a mensagem do primeiro anjo à adoração verdadeira é estruturada!

Assim, só podemos obter uma compreensão mais profunda sobre o significado da adoração de Deus em seu marco do tempo do fim, isto é, na perspectiva da solene obra de Cristo sem Seu santuário como nosso Sumo Sacerdote e Juiz! Esse é o “novo e vivo caminho” para reavivar a verdadeira adoração entre o povo de Deus.

Da mesma forma que o israelita olhava para o antigo tabernáculo em busca de orientação, devemos nós hoje olhar para Cristo no santuário celestial, de onde emanam as verdades bíblicas sobre a adoração verdadeira no contexto do tempo do fim, de modo a obter uma orientação segura sobre aquilo que Deus espera de nós.

Fixar os olhos em Cristo e na Sua obra final de intercessão e juízo no santuário celestial é, ao mesmo tempo, uma necessidade e um desafio para o cristão. Necessidade, porque vivemos dias sobremodo solenes em virtude da natureza da obra final de Cristo em Seu santuário. Desafio, porque a linha divisória entre o sagrado e o comum se torna cada vez menos distinta, à medida que o humanismo e o secularismo avançam em nossa sociedade e nas igrejas.

A santidade de Deus e a santidade do sábado, em associação com a santidade do ministério sumo sacerdotal de Cristo na sede de operações no Céu, desafiam o cristão a respeitar a profunda distinção entre o sagrado e o comum, o santo e o profano. Negligenciar essa distinção é o caminho mais rápido para a apostasia.

A perda do senso do sagrado, conforme observa Samuele Bacchiocchi, afeta muitos aspectos da vida cristã hoje. Para muitas pessoas, nada é mais sagrado. O dia santo se tornou um feriado. O matrimônio é visto como um contrato civil que pode ser anulado facilmente pelo processo legal, em vez de ser uma aliança sagrada testemunhada e garantida pelo próprio Deus. A igreja é tratada como um centro social para divertimento, em vez de ser um lugar sagrado para adoração. A pregação tira sua inspiração de assuntos sociais, em vez de tirá-los da Palavra de Deus. Pelo mesmo motivo, a música na igreja é frequentemente influenciada pela batida do rock secular, em vez de ser influenciada pelas Sagradas Escrituras. (1)

Tudo isso decorre não somente da influência externa do secularismo e do relativismo cultural, que torna a igreja espiritualmente impotente, mas também de um problema interior, figadal, íntimo da alma, que diz respeito à nossa natureza ainda não santificada pelo poder da Palavra e do Espírito de Deus. A combinação de ambos os fatores nos torna completamente vulneráveis ao vinho sedutor da Babilônia moderna (Apocalipse 14:8).

O “Dia da Expiação” do profeta Isaías

A experiência de Isaías registrada no capítulo 6:1-6 de seu livro é, com efeito, bastante instrutiva para nós hoje. O profeta contempla, em visão, uma cena de juízo que apresenta Deus como vindo para o julgamento (Isaías 5:16)! O que significa estar na presença de Deus nesse dia? Qual o resultado de ser confrontado com a santidade e a glória de Deus no Seu templo? Que esperança pode haver para o pecador nessas circunstâncias?

Isaías relata que, “no ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo” (Isaías 6:1). O fato de Isaías ter recebido esta extraordinária visão no ano da morte de Uzias, rei de Judá, é bastante significativo em relação à experiência visionária do profeta.

Durante o longo reinado de Uzias, Judá conheceu uma prosperidade material e política sem paralelos desde a morte do rei Salomão (II Crônicas 26:1-15). Essa prosperidade, porém, não foi acompanhada de um correspondente progresso espiritual. Logo o orgulho e a autossuficiência substituíram a primitiva discrição e humildade que até então haviam caracterizado o seu governo.

Exaltando-se a si mesmo, Uzias corrompeu seu coração, transgredindo, por conseguinte, o mandamento do Senhor. Levado pela presunção, o rei tentou tomar o ofício sacerdotal, que Deus havia expressamente reservado aos descendentes de Arão (Números 18:1-7). Sua ambição em queimar incenso no santuário foi alimentada por seu orgulho, decorrente do ápice do poder real (II Crônicas 26:16-21). Há aqui, certamente, uma lição para nós, laodiceanos.

A apostasia de Uzias representava a condição espiritual e moral do povo nesse tempo, deixando a nação vulnerável à invasão dos inimigos de Deus. O juízo divino que se abateu sobre o rei na forma da lepra simbolizava bem essa condição, e nos lembra sobre as trágicas implicações de se buscar a santidade de maneira presunçosa, confundindo o santo com o secular.

Foi nesse contexto que Isaías contemplou, em visão, a magnificente presença de Deus no lugar santíssimo do santuário celestial, sentado em Seu alto e sublime trono, e cujas vestes de infinita glória enchiam o templo! Ouviu as antífonas dos resplandecentes serafins em honra ao Altíssimo, os quais clamavam em alusão ao Seu mais importante atributo: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos”, enquanto velavam o rosto, em reverente temor, não obstante o fato de serem seres perfeitos, sem pecado! Isaías sentiu os próprios fundamentos do templo tremerem ante a voz de Deus, e presenciou o santuário enchendo-se de fumaça, como que refletindo Sua luminosa glória (Isaías 6:2-4)!

Que experiência impressionante teve o profeta Isaías! Ele viu o verdadeiro Rei dos reis e Senhor dos senhores, identificado no evangelho de João como Jesus Cristo (João 12:41)! Seu relato é muito semelhante à descrição que João faz do templo de Deus no Céu, em Apocalipse 4! Ambas as visões destacam a santidade do Senhor. Como Deus santo, Ele requer santidade de Seu povo, uma mensagem enfatizada também no antigo tabernáculo (Êxodo 39:30)!

A experiência visionária de Isaías é de grande significação para a igreja de Deus hoje. Conquanto não fosse sumo sacerdote e não oferecesse incenso, foi-lhe permitido ter um vislumbre do que significa estar na presença de Deus no lugar santíssimo do santuário! As referências ao templo cheio de fumaça, ao altar, à confissão de pecados e ao juízo e expiação para o pecado e a impureza nos remetem imediatamente ao Dia da Expiação (ver Levítico 16)!

Senso de debilidade e indignidade

Tendo experimentado a adoração de Deus pelos lábios dos seres celestiais, Isaías percebeu a insuficiência da adoração oferecida por lábios mortais, pecaminosos. (2) Sua reação ante a glória e a santidade do Senhor é um testemunho contundente sobre a nossa verdadeira condição perante Deus:

Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos! (Isaías 6:5)

Estar na presença de um Deus santo proporcionou a Isaías uma percepção mais exata da pecaminosidade humana. Possuído por uma angústia além da capacidade de descrever, sentiu profundamente as imperfeições e impurezas dele e do povo, sua culpabilidade diante de Deus e sua insignificância ante Sua majestade!

Que notável contraste entre a reação de Isaías e a presunção de Uzias! Enquanto o primeiro permitiu que a santidade de Deus o alcançasse, reconhecendo humildemente sua verdadeira condição perante Deus e a necessidade de perdão e justificação, o segundo procurou obtê-la por méritos próprios!

O senso de debilidade e indignidade do pecador diante da presença do Senhor em combinação com sua confiança no poder de Cristo para justificar, santificar e redimir de todo o pecado constitui o terreno fértil a partir do qual Ele pode operar os maiores milagres! O Senhor mesmo declara por intermédio de Sua Palavra: “mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra” (Isaías 66:2). “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Salmo 51:17)!

A resposta do Senhor ao clamor de Isaías foi imediata:

Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado. (Isaías 6:6-7)

A brasa viva representa apropriadamente o poder purificador e refinador da graça divina, retirada do altar de incenso, símbolo da obra de intercessão de Cristo no santuário celestial em favor dos santos (Êxodo 30:6-8; Apocalipse 8:3-4; 5:8). Por meio do perdão e da purificação que vem de Deus, o caráter humano é refinado e transformado!

Curiosamente, na adoração do santuário, a principal razão para tirar uma brasa do altar era para acender o incenso (Levítico 16:12-13). Mas, em Isaías 6, o serafim aplica a brasa sobre o profeta, e não sobre o incensário. Considerando que Uzias quis oferecer incenso, Isaías se tornou o próprio incenso! Assim como o fogo santo acendia o incenso para encher a casa de Deus com santa fragrância, acendeu o profeta para espalhar uma mensagem santa. Não é por acaso que nos versos seguintes de Isaías 6 (verso 8 em diante), Deus envia o profeta para o Seu povo. (3)

Conclusão

 

No santuário celestial o pecador contrito encontra a certeza do perdão, purificação e redenção da parte de Deus! É precisamente aqui, nesse encontro pessoal com o Senhor, que a experiência da adoração verdadeira começa! Quando o serafim tocou os lábios de Isaías com a brasa viva, tornou-o santo e puro! A partir de então, o anseio do profeta por seu povo era que eles também fossem purificados e transformados. A grande necessidade hoje é de lábios tocados com fogo santo do altar de Deus. (4)

Ellen G. White escreve:

A visão dada a Isaías representa a condição do povo de Deus nos últimos dias. Eles têm o privilégio de ver pela fé a obra que se está realizando no santuário celestial… Ao olharem pela fé ao Santo dos santos e verem a obra de Cristo no santuário celestial, eles percebem que são um povo de lábios impuros – um povo cujos lábios com frequência disseram tolices e cujos talentos não foram santificados e utilizados para a glória de Deus. Bem podem eles perder a esperança ao contrastarem sua própria debilidade e indignidade com a pureza e amabilidade do caráter glorioso de Cristo. Mas se, como Isaías, receberem a impressão que Deus deseja fazer sobre o seu coração, se eles se humilharem diante de Deus, há esperança para eles. O arco da promessa está sobre o trono, e a obra feita por Isaías será realizada neles. Deus responderá as petições vindas do coração arrependido. (5)

Precisamos ter uma experiência semelhante à de Isaías, de arrependimento, perdão e purificação. Precisamos, pela fé, de um encontro com Deus no Seu santuário, de modo a obter o senso da majestade e da santidade do Senhor, tanto em nossa vida pessoal como na vida da igreja – senso que perdemos juntamente com o nosso primeiro amor (Apocalipse 2:4-5). Sem essa experiência, não podemos adorar a Deus na beleza de Sua santidade, nem transmiti-la com poder aos não convertidos.

Que Deus nos conceda essa graça!

Notas e referências

 

1. Samuele Bacchiocchi, “Uma Teologia Adventista da Música na Igreja”. Em O Cristão e a Música Rock: Um Estudo dos Princípios Bíblicos da Música. Samuele Bacchiocchi (Ed.). Tradução de Mauro Brandão e Levi de Paula de Tavares. Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 2000, p. 172.

2. Roy Gane. Isaías: Consolai o Meu povo. Lição da Escola Sabatina Adultos-Professor, Abril-Junho 2004, p. 21.

3. Ibid.

4. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Volume 4. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 120.

5. Ellen G. White, Review and Herald, 22 de dezembro de 1896.

 

Fonte: Blog As Três Mensagens


Descubra mais sobre Weleson Fernandes

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

Verifique também

Purificados de todos os pecados perante o Senhor

A visão da tarde e da manhã de Daniel 8:14, que diz respeito à purificação …

Entre o “não é” e o “aparecerá”

A revelação mais surpreendente de Apocalipse 17 é a declaração de que a besta “está …

O método historicista de interpretação protestante

O texto a seguir, extraído da obra do Reverendo Joseph Tanner, Daniel and the Revelation, assinala …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×

Sejam Bem Vindos!

Sejam bem Vindo ao Portal Weleson Fernandes !  Deixe um recado, assim que possível irei retornar

×