O que podemos dizer da série “13 Reasons Why”?

Nos últimos dias as redes sociais foram invadidas por comentários, críticas pessoais e artigos sobre a série americana do Netflix 13 Reasons Why. Quem não havia assistido soube que se tratava do suicídio de uma adolescente e quais as razões – expressas em 13 gravações – que levaram àquela decisão. Dessa maneira, esse breve artigo propõe discutir, embasadas em algumas teorias da área, as questões psicológicas envolvidas na trama, em que a abordagem da série e seus focos podem resultar e, também, fazer uma abordagem cristã do assunto.

O tema, considerado por grande parcela da sociedade como um tabu e algo a não ser falado, a fim de que não se incentive o ato, foi patrocinado pela Netflix com o intuito de conscientizar os telespectadores sobre os fatores que rodeiam do suicídio. O grande ponto negativo encontrado na série é o fato de focar nos fatores externos à protagonista e não apresentar uma solução para o problema que ela tinha. Com um enredo bastante forçado e apelativo, os capítulos apresentam, através de 13 gravações de áudio, as 13 razões pelas quais a protagonista decidiu tirar a própria vida. O fato de a série focar nos 13 porquês e esses porquês serem pessoas e seus atos maldosos nos mostra que a série peca em não abordar a doença psicológica em que se encontrava a personagem. A série somente enfatiza a seguinte mensagem: “Revise a forma com que você trata as pessoas, isso pode ser fatal.” Mas falaremos disso adiante.

Em uma busca inicial pela literatura da área, percebi que muito do que é cientificamente produzido sobre suicídio envolve o público adolescente. A princípio, podemos pensar que a série acerta em abordar esse público, e uma realidade (no caso, escolar) que pode ter relação com o suicídio – popularidade de uns, invisibilidade de outros, bullying, repressão, abuso psicológico e físico, entre outros. De fato, como afirma a OMS, o suicídio mata mais jovens do que o vírus HIV. De acordo com uma reportagem publicada pela BBC em Setembro de 2015, acidentes de trânsito são as principais causas de morte de jovens entre os 15 e os 29 anos, seguidos pelo suicídio, HIV/Aids e violência.

Kátia Reinert, membro do Conselho de Saúde Mental do governo dos Estados Unidos, em entrevista à Revista Adventista de Março de 2017, afirma que 90% dos casos de suicídio estão relacionados a problemas de saúde mental e de comportamento, ou seja, existe algo dentro do indivíduo que precisa ser externalizado e tratado.

É fato que as situações externas a nós nos influenciam. Em muito, elas moldam quem somos, todavia, a forma com que lidamos com essas experiências – principalmente as negativas – denotam nossa saúde mental, nossa maturidade e capacidade de lidar com situações adversas. Quando se trata de uma adolescente como Hanna – a protagonista da série, encontramos uma menina de 17 anos que sofreu muito com situações de bullying, humilhação e abuso sexual, e que, claramente, precisava de tratamento profissional. A protagonista diz repetidas vezes: “ninguém enxergou que eu precisava de ajuda”, “ninguém fez nada por mim”, mas seus pedidos por ajuda foram quase nulos; ela só diz que precisava de ajuda nas gravações; gravações estas que só vieram à tona após a sua morte, ou seja, quando ninguém mais podia ajudá-la. A psicóloga Vivian Araújo, coordenadora do curso de Psicologia do UNASP, explica que é importante que a pessoa que passa por problemas psicológicos fale sobre eles. A protagonista da série confirma isso quando afirma, na cena em que termina de gravar as fitas, que naquele momento ela se sentiu bem e pensou que poderia haver outra saída. Ou seja, colocar todos aqueles sentimentos para fora, nem que fossem apenas para serem gravados e ninguém ouvir, ajudou.

Mas qual é o ponto central dessa crítica? Ao abordar um tema que é considerado tabu a fim de causar impactos positivos, os produtores poderiam, sim, mostrar os fatores externos que levam as pessoas ao suicídio e alertar os telespectadores sobre como estão tratando os outros ao seu redor, mas a série tinha a obrigação de apresentar saídas, soluções ou pelo menos mostrar uma personagem que teve coragem de buscar ajuda, se quisesse realmente colaborar com o combate ao suicídio. A forma com que o suicídio é tratado na série é desonesto por mostrar que a única solução encontrada pela protagonista foi ceifar a própria vida. Ainda mais se considerarmos a influência que a mídia televisiva possui sobre seus telespectadores e que um público mais imaturo é ainda mais influenciável, a série é miserável ao apresentar um desfecho tão negativo.

Com relação às influências que a série pode causar, entramos em um ponto que está sendo muito abordado nos textos “pós 13 reasonswhy”, o Efeito de Werther. O nome tem relação com o romance de Goethe,Die LiedendesJungenWerthers, o qual tem seu desfecho com o suicídio do protagonista e que provocou suicídios de imitação após sua primeira publicação em 1774. Em 1974, denominado como Efeito de Werther, a pesquisa voltada à área de psicologia começou a investigar casos de suicídio por imitação. Entendendo brevemente o Efeito de Werther e seus impactos, podemos afirmar que a série o ignora ao romantizar o suicídio da forma que fez, e desconsidera as influências negativas que podem ocorrer em seu público adolescente. O que vem à mente dos telespectadores que se identificam com a protagonista? “Não há saída.” “Ninguém vai me ajudar.” “A única opção para acabar com esse sofrimento é acabar com a minha vida.” Uma inspiração negativa e totalmente dispensável.

Outro fator negativo na série, importante de ser ressaltado, é a ênfase no caráter egoísta e até vingativo da protagonista. Qual era o objetivo em deixar gravações e contar minuciosamente aos abusadores o que eles fizeram a ela? Além da dor da perda das pessoas que a amavam, a única coisa que sobra para quem ficou é a culpa. Ao distribuir culpa através de suas gravações a protagonista busca vingança.

Em suma, a série constrói uma personagem vingativa, busca culpar todos ao redor e exime a protagonista de qualquer responsabilidade.

Quando assisti à série me perguntei em que ela somou. Não quero descartar a mensagem de tratar bem o próximo, mas será que, pelo menos para os cristãos, isso não deveria ser uma obrigação cravada em cada ato de relacionamento interpessoal? “Ame os outros como você ama a você mesmo”, disse Jesus (Mat. 22:39). Para além dessa reflexão, acho que a série não soma nada de positivo a nossas vidas. Nosso dever como cristãos vai muito além de tratar bem outro ser humano – isso é o mínimo a se fazer. Nem sempre vamos conseguir inferir se alguém está passando por problemas graves, mas temos a oportunidade diária de passar mensagens de esperança. Essa é a palavra chave. Pessoas como Hannah precisavam de esperança.

Não podemos ser insensíveis e ignorar quem está ao nosso redor e que, de alguma forma, clama por ajuda. Você tem um filho adolescente? Você conhece alguém que passa por problemas psicológicos ou já passou por situações semelhantes às descritas na série? Aconselhe esta pessoa a procurar ajuda profissional e não a assistir séries como esta. A pessoa que sofre por problemas psicológicos atrelados a fatores externos (incluindo pessoas cruéis e criminosas) não precisa nutrir mais sentimentos de ódio pelos que a fizeram mal, mas buscar meios de fugir das influências negativas que essas situações resultaram; o cristão aparece nesse momento, mostrando que, assim como todos, essa pessoa foi comprada por alto preço na cruz do Calvário e tem valor para Cristo. Há muito tempo fomos abençoados com uma promessa maravilhosa e revigorante: “Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso.” (Mat. 11:28) Que bela promessa para mentes e corações destruídos pelo mal!

Araújo et al (2010) afirma que “a religiosidade representa um importante papel na prevenção do suicídio, pois foi comprovado que os indivíduos com maior envolvimento religioso apresentam menores taxas de suicídios; ela também é apontada como auxiliar no enfrentamento de doenças graves.” Atribuo essa afirmação à confiança em Deus. Como é importante crer que há alguém que cuida de tudo e que, mesmo em situações que nos despedaçam, nos estende Sua mão e diz: “Eu nunca vou te abandonar!” Você tem a oportunidade de dizer isso para alguém hoje? Diga! Você pode salvar uma vida.

Referências:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712010000100006

http://leandroquadros.com.br/suicidio-e-salvacao/

http://www.revistaadventista.com.br/blog/2017/03/13/materia-de-capa-6/

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150922_suicidio_jovens_fd

http://publicacoes.ispa.pt/index.php/ap/article/view/420/pdf

Por Mariane Caetano

Fonte: Reação Adventista

 

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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