O Egito do indivíduo pós-moderno

Você reparou na declaração de Barack Obama, na quarta-feira passada, apoiando o casamento entre homossexuais? Manobra eleitoreira em busca do voto dos homossexuais? Talvez, mas, muito provavelmente, visa a desviar a atenção da campanha presidencial dos gravíssimos problemas econômicos dos EUA. Eu diria até que a causa gay de Obama guarda certa semelhança com a invasão das Malvinas pela ditadura militar argentina em 1982 (curiosamente, a protoditadura civil da família Kirchner esboça pegar o mesmo atalho). Em um texto divertido, um colunista a quem aprecio aproveitou o embalo para pedir, um tanto jocosamente, a legalização da poligamia. E listou inúmeras (e práticas) razões.

Mas, falando sério, o tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo vem ganhando corpo graças à incansável militância de seus ativistas e simpatizantes nos veículos de comunicação. A palavra mágica – verdadeira gazua argumentativa dos nossos dias – é “consensualidade”:* alegam que a vida privada de dois adultos sob comum acordo é assunto restrito a ambos. Um argumento válido, desde que respeitadas certas restrições legais (dia desses um sujeito não se livrou da cadeia por ter matado e devorado outro a pedido do próprio – ambos se haviam conhecido pela internet).

Sobre essas questões, lembro sempre da célebre tirada de Bertolucci: “O fascismo começa caçando tarados”, o tal do pretexto inaugural. Isso vale tanto para o aborto dos anencéfalos (a militância abortista e aborteira não está nem aí para a sanidade física e psicológica da mãe, muito menos do bebê sem perspectivas – querem mais é abrir precedentes para ampliar aos poucos a lista de permissões para o infanticídio), quanto para o tal do casamento “gay” – esse termo, em si, já valeria um estudo de caso. Bom, vamos seguir o argumento até onde ele nos leva.

Aproveitando a tsunami liberalizante, progressista e amiga da humanidade, por que não eliminar também interdições de natureza adjacente? Remetendo ao Adriano de Marguerite Youcenar, já é hora de dar um basta às “servidões inúteis”. Chega de arrastar pela vida o pesadíssimo saco de tijolos das superstições morais legadas pelos medievais (Al Pacino, in “O Advogado do Diabo”).

Explico: se consideramos suspender as restrições legais quanto ao sexo dos nubentes (que os mais avançadinhos rebatizaram de “gênero”), o que impede adoçar ainda mais a lua-de-mel inovando em cardinalidade e parentesco?

A relação conjugal deixaria de ser um-homem-pra-uma-mulher (1:1) e passaria para vários-pra-vários (n:m), e sem restrições de consanguinidade. Um sujeito poderia se casar, além de com a própria esposa, com o filho caçula e a filha mais velha, com cinco dos vizinhos e vizinhas, com a sogra (pois há sogras e SOOOGRAS); e também com o patrão, com dois dos sacerdotes da igreja (ou terreiro) que frequenta, com o maître de seu restaurante preferido, com sua empregada doméstica e com mais quantos couberem em sua agenda afetiva. (Ah, sim!, para economizar tempo e estresse, a idade mínima de quaisquer dos noivos também poderia ser reduzida para o início da puberdade – não era assim até meados do século retrasado?) O casamento poderia ser também como um serviço de assinatura de revistas, cuja não renovação explícita resultaria em caducidade e anulação.

Em decorrência, um grupo de 500 pessoas – metade homens, metade mulheres – em vez de se restringir a possíveis 250 matrimônios, poderia originar uma produtória inumerável de relacionamentos múltiplos e, por que não dizer, evoluídos. Afinal, se o casamento deve ser apenas o que queiramos que ele seja, para que limitá-lo ao preconceito de reacionários e conservadores monoteístas?

Um compositor brasileiro, já falecido, cantava: “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades…” O futuro da nossa sociedade aponta para as civilizações cananeias do século XIV a.C.: infanticídio, pederastia, incesto, o prazer dos sentidos e a natureza como objetos de cultos coletivos regulares…

Nosso mundo elegeu sua Terra Prometida: a Canaã pré-Moisés, e para ela ruma a passos largos, pressuroso, ávido, impaciente.

É isso. A parousia do homem pós-moderno é um gigantesco condomínio matrimonial sobre o qual nunca se apaga o letreiro luminoso: “HÁ VAGAS.” Com rodízios de pratos e leitos, com Viagra e Epocler durante e eutanásia ao final. Como o Cristianismo discorda dessa nova Cocanha,** pau nele…

(Marco Dourado, analista de sistemas formado pela UnB, com especialização em Administração em Banco de Dados)

(*) Interessante como essas causas ditas progressistas costumam ser apoiadas majoritariamente por evolucionistas. Entende-se. A evolução biológica, para eles, resulta da perda de informação genética. Já a “evolução social” depende da supressão de étimos morais: permissividade, licenciosidade, filicídio, etc.

(**) A Cocanha é um país mitológico, conhecido durante a Idade Média. Nessa terra mitológica, não havia trabalho e o alimento era abundante; lojas ofereciam seus produtos de graça, casas eram feitas de cevada ou doces, sexo podia ser obtido imediatamente de freiras, o clima sempre era agradável, o vinho nunca terminava e todos permaneciam jovens para sempre. Vivia-se entre os rios de vinho e leite, as colinas de queijo (queijo chovia do céu) e leitões assados que ostentavam uma faca espetada no lombo (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cocanha).

Criacionismo


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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