“O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.” (João 3:19)
Não há ninguém mais profundamente interessado em nossa condição presente e destino futuro do que Jesus Cristo.
Desde que o pecado passou a fazer parte da experiência humana, trazendo dor, sofrimento e morte a um mundo outrora perfeito, o Senhor determinou-se a restaurar o relacionamento do homem consigo mesmo a qualquer custo.
Por essa razão Cristo veio, e Sua vinda constitui a mais expressiva prova de Seu interesse pela humanidade e de Sua determinação em revelar o amor de Deus e Sua justiça como única solução para o problema do pecado e da morte.
De modo que não há nenhum outro meio pelo qual podemos obter salvação, a não ser pela maneira designada por Deus. O apóstolo Pedro, cheio do Espírito Santo, declarou:
E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. (Atos 4:12)
E Paulo, o apóstolo dos gentios por excelência, movido pelo mesmo Espírito, disse:
Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos. (I Timóteo 2:5-6)
Nosso amado Salvador é o único que possui essa prerrogativa, porque a Si mesmo se ofereceu como “propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (I João 2:2). Nenhum anjo possui essa prerrogativa, nem tampouco qualquer nome dado entre os homens. O próprio Jesus declarou de Si mesmo:
Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. (João 14:6)
O Senhor Jesus Cristo representa a única e verdadeira escada que une a Terra ao Céu, o “novo e vivo caminho que ele nos consagrou… pela sua carne”, e o “grande sacerdote sobre a casa de Deus” (Hebreus 10:20-21), por meio de cujo ministério podemos ser totalmente salvos (Hebreus 7:25)! Cristo é, pois, o Personagem chave no plano divino de redenção, a única e mais extraordinária figura que o mundo já conheceu:
Porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus. (Colossenses 1:19-20)
Somente Cristo possui toda a plenitude do poder capaz de reconciliar todas as coisas e restaurar tudo o que foi perdido em virtude do pecado. Nenhum homem possui essa prerrogativa, de modo que possa exercê-la como co-criador ou co-redentor. É só a paz que provém da cruz, e não a paz propalada pela religião humanista, o antídoto contra os danos provocados pelo pecado.
Eis a grande razão por que a fé genuinamente cristã não pode nem deve contemporizar com a espiritualidade global politicamente correta, que coloca Cristo no mesmo nível de Maomé, Buda ou Krishna, e considera todas as religiões como caminhos de cura igualmente válidos. O verdadeiro cristianismo é inclusivo, sem sombra de dúvida, pois a oferta da graça que perdoa e santifica é estendida a todos os homens, indistintamente; mas ele é também exclusivo, na medida em que admite somente um único meio de salvação, uma única verdade presente e uma única igreja: “os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12).
Religião humanista na nova ordem global
Mas muitos religiosos de hoje tem substituído a suficiência de Cristo pela suficiência humana, na esperança de estabelecer o reino de Deus na Terra por meio da justiça social, da reforma política e de uma nova ética global que responda aos grandes problemas do homem e do planeta. A esperança é a nota tônica de nosso tempo, com a promessa de um futuro glorioso e uma nova humanidade, concebidos independentemente da graça de Cristo e sem a eliminação do pecado. Para os adeptos da nova espiritualidade, há “uma grande mudança na relação entre os humanos e Deus, de criatura passiva à participante ativo no processo da criação”. (1) Como “co-criador”, o verdadeiro céu será estabelecido aqui, pelo poder do homem, que é o centro de todas as coisas e o padrão pelo qual tudo é medido.
Os pesquisadores poloneses Pasek e Dyczewska notam que a principal ênfase nos movimentos da nova espiritualidade é colocada em uma espécie de auto-diagnóstico que envolve olhar para dentro de si mesmo e responder à pergunta: Quem é o homem e qual a sua verdadeira natureza? Uma mudança tem sido percebida no rumo dos procedimentos soteriológicos. [*] Seguidores da nova espiritualidade normalmente não aceitam o modelo de sacrifício, e rejeitam a salvação ab extra, ou seja, a salvação oferecida a partir de fora. Estes incluem, por exemplo, o conceito cristão do sacrifício de Cristo para a salvação ou o dom da graça. Os adeptos da nova espiritualidade estão mais próximos dos conceitos asiáticos, como a ideia budista de auto-aperfeiçoamento e desenvolvimento interior. A crença dominante é que a salvação (auto-salvação entendida como auto-aperfeiçoamento interior) deve ter lugar aqui e agora. (2)
A consequência última da crença do auto-aperfeiçoamento é a divinização do homem. A teosofista Annie Besant declara:
O homem não existe para ser compelido; ele existe para ser livre. Ele não é um escravo, mas um Deus em processo de formação, e o crescimento não pode ser forçado, mas deve ser desejado a partir de dentro. (3)
A mesma ideia transparece em The Lost Keys of Freemasonry, de Manly P. Hall, que se refere às “energias ardentes de Lúcifer” disponíveis ao maçom que aprendeu o mistério de seu ofício:
O homem é um deus em formação, e, como nos mitos místicos do Egito, ele está sendo moldado na roda do oleiro. Quando sua luz brilha para elevar e preservar todas as coisas, ele recebe a tripla coroa da eternidade, e une-se à multidão de mestres maçons que, em suas vestes de azul e ouro, estão dissipando a escuridão da noite com a tripla luz da Loja maçônica. (4)
Não é surpresa que esse conceito reverberasse em um discurso de William Q. Judge, um dos fundadores da Sociedade Teosófica, durante o Parlamento das Religiões, em 1894. Note suas palavras:
Jesus ensina que devemos ser tão perfeitos como o Pai, e que o reino dos céus está dentro de cada um. Para sermos perfeitos como o Pai, devemos ser iguais a ele, e, portanto, temos aqui a doutrina ensinada na antiguidade pelos brâmanes de que cada homem é Deus e uma parte de Deus. Isso apoia a unidade da humanidade como um todo espiritual… (5)
Essa ideia não se origina em nenhum dos ensinos de Cristo, mas na primeira grande mentira proferida pela Serpente: “Certamente não morrereis… e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:4-5). Com efeito, o discurso que proclama a igualdade entre as religiões em matéria de verdade, particularmente no que se refere à natureza do homem e seu propósito na Terra, encontra suas raízes na essência do grande engano com o qual Satanás enredou a humanidade na rebelião contra Deus.
Observa-se, contudo, que a crença pagã sobre a natureza do homem e suas relações com a Terra é partilhada por praticamente todas as religiões do mundo, e constitui o esteio em que a “unidade da humanidade como um todo espiritual” pode ser concebida. A nova torre de Babel afirma-se, assim, com base no mesmo espírito e nas mesmas crenças que motivaram os construtores de sua congênere histórica a se rebelarem contra Deus (ver Gênesis 11:4).
De fato, o universalismo religioso, com suas crenças em comum, é outro aspecto dessa tendência que chama a atenção. Ele também encontra suas raízes nas ciências herméticas, as quais têm sido preservadas e difundidas por organizações ocultistas como a Sociedade Teosófica, que se propõe a “reconciliar todas as religiões, seitas e nações sob um sistema comum de ética”. (6) A Maçonaria, cuja doutrina secreta interna é uma versão moderna dos antigos mistérios (7), “requer somente uma crença no Grande Arquiteto do Universo [Lúcifer]… o cristão, o judeu, o muçulmano e o hindu poderão se unir em torno de nosso altar comum, e a Maçonaria se torna universal, tanto na teoria como na prática. A verdade é que a Maçonaria é, sem dúvida, uma instituição religiosa – sendo sua religião a do tipo universal, na qual todos os homens concordam”. (8)
Desde que o Parlamento Mundial das Religiões se reuniu pela primeira vez em 1893, em Chicago – “a primeira reunião formal de representantes de tradições religiosas espirituais de origem oriental e ocidental” (9) -, o diálogo inter-religioso tem avançado em direção a uma mentalidade inter-religiosa cada vez mais humanista e esotérica, consolidando-se nas igrejas de diferentes confissões num ritmo surpreendente. Na contramão do evangelho eterno e seu derradeiro apelo à separação e santidade (Apocalipse 14:6; 18:4), o fenômeno inter-fé se impõe como novo paradigma.
Os sentimentos expressos naquela conferência ecumênica mostram que os anseios por uma unidade religiosa em nível global não são recentes. Uma nova ordem de paz e segurança num mundo unificado – a versão humanista do Céu na Terra – deve necessariamente resultar da cooperação inter-religiosa, e, por fim, de uma espiritualidade comum e inclusiva, purgada dos contraditórios e suficientemente distante das verdades que desafiam o pecador a compreender sua aflitiva condição. Note as seguintes declarações:
A religião do futuro será universal em todos os sentidos. Ela incorporará todos os pensamentos, aspirações, virtudes e emoções de toda a humanidade; ela unirá todas as terras, povos, tribos e línguas em uma irmandade universal de amor e serviço; ela estabelecerá na Terra uma ordem celestial. (10)
Não é no furor do fanatismo nem no fogo do preconceito que Deus fala e pode ser encontrado, mas na voz mansa da consciência… É aceito aquele que vive, e não o que murmura sua doutrina. Foram os escolhidos para a glória pelo grande Mestre de Nazaré os que usavam os maiores filactérios? O Sermão da Montanha é um credo? O Decálogo era um credo? Caráter e conduta, e não a doutrina, serão a nota tônica do Evangelho na Igreja Universal da Humanidade.
Mas e o pecado? O pecado, como uma imputação teológica, possivelmente desaparecerá do vocabulário desta grande comunhão dos justos. Não obstante, como uma fraqueza a ser superada, uma imperfeição a ser posta de lado, o homem será fortemente lembrado de suas deficiências naturais, como ele é agora, à semelhança de seu primeiro progenitor, sobre cuja conduta ele certamente não tinha controle, e por cujo delito não deveria ser responsabilizado. A religião, então, como no presente, exalta o homem acima de suas fraquezas, lembrando-lhe de suas responsabilidades. O alvo diante de nós é o Paraíso. O Éden aparecerá. (11)
O leitor deve ter notado a estratégia ardilosa de exaltar certas verdades em detrimento de outras, e acrescentar àquelas uma porção de mentiras, tornando tudo mais sugestivo. A nova religião mundial, humanista por natureza, proclama os mais elevados ideais em nome do bem comum, mas despreza a verdade e exalta o homem a um nível que não corresponde à sua verdadeira condição perante Deus. Considera o pecado nada mais que uma deficiência natural que poder ser superada, invalidando, assim, o sacrifício expiatório de nosso Salvador. Embora valorize a experiência religiosa, sempre o faz a partir de conceitos místicos e em detrimento da sã doutrina. Sonha, enfim, em restaurar o Éden na Terra (uma prerrogativa exclusiva de Cristo), à sua própria maneira e independentemente de Deus.
Um dos nomes mais representativos hoje dessa espiritualidade universal e humanista é o escritor da Nova Era Neale Donald Walsch, autor da série de livros “Conversando com Deus”. Walsch, que em 2002 se referiu à Iniciativa das Religiões Unidas (URI, na sigla em inglês) como a organização inter-religiosa “de maior alcance global e universal” (12), escreveu (note suas palavras):
A Bíblia, que é apenas uma das muitas fontes de ensinamento espiritual da humanidade, apresenta esta mensagem por toda parte, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
(“Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus? Por que, então, seremos desleais uns para com os outros, profanando a aliança de nossos pais?” Malaquias 2:10. […] “Assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e, individualmente, membros uns dos outros” Romanos 12:5. […] “Porque nós, embora muitos, somos um só pão, um só corpo” 1 Coríntios 10:17).
Essa é uma mensagem que a raça humana tem ignorado.
Nossa religião, política, economia, educação, todo o nosso modo de vida baseia-se na ideia de que não somos um, mas que estamos separados uns dos outros. […]
Devemos mudar a nós mesmos. Devemos mudar as crenças sobre as quais nossos comportamentos são baseados. Devemos criar uma realidade diferente, construir uma nova sociedade. E devemos fazê-lo não com base em verdades políticas ou verdades econômicas, nem tampouco com base em verdades culturais ou mesmo nas verdades reverenciadas de nossos antepassados, pois os pecados dos pais estão sendo visitados nos filhos. Devemos fazê-lo com novas verdades espirituais. Devemos pregar um novo evangelho, cuja mensagem de cura pode ser resumida em duas frases:
“Somos todos um”.
“Nosso caminho não é um caminho melhor; nosso caminho é apenas um caminho a mais”. (13)
Perceba que os escritores da Nova Era frequentemente apelam às Escrituras para sustentar o seu ponto de vista sobre unidade, mas a unidade legítima, como observa o pastor e escritor John MacArthur, está enraizada na verdade. Jesus orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade… Por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que crerem em mim pela sua palavra, para que todos sejam um” (João 17:17-21, ênfase adicionada). “A unidade pela qual Ele orou”, acrescenta MacArthur, “é precedida por e cresce a partir da santificação na verdade. Comunhão que ignora ou encobre as doutrinas fundamentais da fé não é unidade dos cristãos; é compromisso ímpio”. (14)
A mudança a que Walsch se refere também é mencionada na seção de objetivos da World Goodwill, uma divisão da Lucis Trust, fundada pela teosofista Alice Bailey:
A preparação por pessoas de boa vontade é necessária, a fim de introduzir novos valores para a vida, novos padrões de comportamento, novas atitudes de não separação e de cooperação, favorecendo as relações humanas corretas e a paz no mundo. O vindouro Instrutor do mundo se preocupará principalmente não com o resultado dos erros e inadequações do passado, mas com as exigências de uma nova civilização e com a reorganização da estrutura social. (15)
A mudança nos padrões de pensamento, comportamento e valores como pré-requisito indispensável para a criação de uma sociedade unificada e cooperativa deve, pois, resultar da assimilação das “novas verdades espirituais” e do “novo evangelho” de cura, os quais têm muito pouco em comum com o evangelho eterno, tanto do ponto de vista da mensagem, como dos meios que utilizam. E quem são, em última instância, os agentes responsáveis em inculcar nas mentes dos governantes do mundo as novas ideias que visam à “reorganização da estrutura social”?
Por trás dessa divisão da humanidade em quatro partes entrelaçadas, estão aqueles iluminados cujo direito e privilégio consistem em vigiar a evolução humana e guiar os destinos dos homens. No Ocidente, nós os chamamos de Cristo e Seus discípulos. Nas teologias do Oriente eles são chamados por muitos nomes. Eles também são conhecidos como os Agentes de Deus, ou da Hierarquia das almas liberadas, que buscam incessantemente socorrer e auxiliar a humanidade. Isso eles fazem mediante a implantação de ideias nas mentes dos pensadores mundiais, a fim de que essas ideias recebam no devido tempo o reconhecimento e, eventualmente, tornem-se fatores determinantes na vida humana. (16)
O que os teosofistas consideram “Agentes de Deus”, as Sagradas Escrituras chamam de “espíritos de demônios, operadores de sinais” (Apocalipse 16:14), que se dedicam à obra maquiavélica de incutir na mente dos formadores de opinião os conceitos holísticos da Era de Aquário.
E não obstante, cristãos nominais estão entusiasticamente participando dessa mudança, sem qualquer crítica ou questionamento, reforçando, dessa forma, as fileiras do adversário para sua própria desvantagem. Desapercebidamente, eles tornam-se autênticos representantes da Nova Era e, portanto, agentes de transformação social para os visionário globalistas. Cabe-lhes, neste caso, a alcunha infame de “idiotas úteis”.
Rumo ao totalitarismo religioso
Que a tão almejada uniformidade espiritual no mundo resultará em intolerância para com grupos religiosos minoritários que não se ajustarem às reivindicações da nova ética global é algo que está fora de discussão. O livro do Apocalipse antecipa esse preocupante fenômeno da maneira mais objetiva:
- Apocalipse 16:13 e 14 se refere a uma articulação entre os principais ramos religiosos do mundo, representados pelo dragão, pela besta e pelo falso profeta, cujo discurso demoníaco seduz os governantes do mundo inteiro a unirem-se numa causa anti-cristã comum. O conflito a que se refere a profecia é de natureza essencialmente religiosa e tem íntima relação com o grande Dia do Senhor, tratando-se, portanto, de um conflito escatológico.
- Embora essa união não seja nem orgânica nem permanente, Apocalipse 17:13 revela que os atores políticos e religiosos envolvidos chegarão a ter “um só pensamento”, o que implica certa uniformidade de propósito e ações. Os países simbolizados pelos dez chifres (o número denota totalidade, em harmonia com Apocalipse 16:14) “oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem” com o fim de obrigar os habitantes da Terra a beber do vinho intoxicante de Babilônia mística (Apocalipse 14:7).
- O resultado desse conluio de poderes civis e religiosos é descrito em Apocalipse 13:14 e 15. A besta de dois chifres, símbolo da América Protestante (sobre isso, clique aqui), mantém sua aparência de cordeiro enquanto dispuser dos recursos persuasivos que lhe permitem impor o consenso sem o uso da violência. Falará, porém, como dragão quando recorrer ao uso da força para compelir fidelidade à nova ordem e eliminar grupos dissidentes.
A história testifica do imenso custo humano de se combinar interesses religiosos e políticos em torno de uma causa comum, e é precisamente esse quadro que a palavra profética antecipa quanto ao futuro do mundo pouco antes da vinda de nosso Redentor. Como observa Pascal Bernardin, o totalitarismo se instaurará em todas as suas dimensões: primeiramente em sua dimensão religiosa, em seguida em suas dimensões política e social, utilizando-se de muitos conceitos pagãos. (17)
Uma nova consciência e uma nova espiritualidade globais concebidas a partir de um conjunto de crenças e circunstâncias unificadoras gradualmente se impõem como novo parâmetro, e refletem um projeto maquiavélico de dominação das instituições e dos recursos do planeta longamente planejado e magistralmente executado.
Mencionemos, de passagem, o alcance da estratégia globalista pelo viés da política ecológica, cuja natureza totalitária em escala planetária é discutida por Pascal Bernardin em seu livro O Império Ecológico. O autor escreve:
A nova ideologia deverá fornecer um “princípio central e unificador” em torno do qual a sociedade mundial poderá se construir e se definir. Esse princípio deverá formá-la por inteiro, permiti-la definir tanto os objetivos quanto as normas de comportamento individual, ser aceito pelos povos do Ocidente e do Oriente, do Norte e do Sul. Ele deverá evitar confrontar qualquer sensibilidade religiosa ou “filosófica”, mas, ao contrário, fazer avançar a causa sincretista e a aparição de uma religião mundial. (18)
Semelhante sistema de poder, com sua autoridade quase onipresente e com plena capacidade de executar suas decisões até mesmo no plano individual, precisa recorrer a instrumentos de persuasão e controle para afirmar-se. É evidente que instituições livres e democráticas são incompatíveis com esse modelo, mas mesmo a tirania pode operar sob o manto do ideal democrático e humanitário. Aqui o todo social tem mais valor e importância do que as suas partes peculiares, as diferenças biológicas inatas são renunciadas em nome da uniformidade cultural, e os direitos da coletividade têm primazia sobre o que o século XVIII proclamava como os Direitos do Homem. (19)
Agora, uma vez que o papado é um grande competidor na disputa sobre quem irá controlar o futuro governo mundial (20), a crise ecológica, frequentemente superdimensionada em certos setores científicos e midiáticos, apresenta-se como uma oportunidade estratégica para o papa Francisco, que recentemente tornou pública uma carta encíclica sobre o assunto, com ampla repercussão.
Em outra importante encíclica, proclamada por seu antecessor, Bento XVI, e intitulada Caritas in Veritate, propõe-se uma “autoridade política mundial”, que “deverá ser reconhecida por todos, gozar de poder efetivo para garantir a cada um a segurança, a observância da justiça, o respeito dos direitos”, e que desfrute da “faculdade de fazer com que as partes respeitem as próprias decisões, bem como as medidas coordenadas e adotadas nos diversos fóruns internacionais”. Considerando que o papado jamais abandonou sua pretensão de suprema autoridade, tanto nas questões espirituais como nas temporais, e que o trono romano constitui, de fato, o cargo religioso mais poderoso do planeta, não é difícil imaginar quem será a voz deste sistema de governança global ou governo mundial.
Além da questão ecológica, muitos outros problemas globais representam fatores aglutinantes para os construtores do consenso, como o terrorismo, a crise econômica e financeira, o tráfico internacional de drogas e a superpopulação. Porém, os objetivos mencionados por Bernardin serão os mesmos e representarão a solução globalista para cada um desses problemas. A predominância dos eventos de natureza comum favorece, portanto, a instauração de um organismo supremo, supostamente indicado para a resolução e prevenção de crises sistêmicas, e ao qual governos nacionais, preservando ainda certo grau de soberania e independência, devotarão sua confiança e seus recursos.
Não impressiona que a nova ética global encontre no fundamentalismo seu inimigo mais tangível. O uso indiscriminado da palavra tem suportado uma definição cada vez mais elástica do significado pejorativo que lhe foi imposto, passando a incluir cristãos que creem na autoridade divina das Escrituras como potenciais obstáculos à realização da agenda globalista.
Michael Ingham, bispo anglicano do Canadá e um defensor do pluralismo religioso, referiu-se ao fundamentalismo e às tendências conservadoras com as seguintes palavras:
O fundamentalismo religioso está em ascensão em todo o mundo, em cada grande tradição. Ele é uma reação de medo à modernidade, à velocidade rápida da mudança nas sociedades modernas. É um desejo nostálgico pela ingenuidade, tanto intelectual como política, um forte impulso para conter a onda de mudança que está varrendo tradições sociais e culturais que cruzam nosso mundo globalizado. Quase ninguém hoje subestima a força ou perigo do fundamentalismo. É difícil encontrar uma combinação mais tóxica do que religião e medo. Não há limite para sua barbárie e intolerância. Uma das características do fundamentalismo, seja cristão ou qualquer outro, é a sua infinita capacidade de racionalização e auto-justificação em nome do texto sagrado ou tradição sagrada. O poder do fundamentalismo reside precisamente na sua capacidade de reivindicar autoridade divina, a aprovação de Deus, e de manipular os anseios das pessoas pelo uso dogmático e inquestionável de mitos antigos e sagrados. O fundamentalismo, porém, não representa o único obstáculo. As tendências conservadoras, as quais devem ser distinguidas dos fundamentalistas, apresentam as mesmas razões de ansiedade… Ambos, fundamentalismo e conservadorismo, veem no pluralismo religioso um inimigo comum. (21)
O líder inter-fé, Marcus Braybrooke, diz que os fundamentalistas são imutáveis e fechados à interpretação num mundo em mudança, e acrescenta:
Os fundamentalistas rejeitam o conceito de simbolismo com referência às suas próprias verdades – eles consideram o seu mito em particular como verdadeiro num sentido literal… Para o fundamentalista, há somente uma verdade – a que eles possuem. Não podem, por conseguinte, aceitar uma sociedade pluralista em que o estatuto de igualdade é concedido a uma variedade de reivindicações da verdade. Estão empenhados, pela lógica de sua crença, a trabalhar pelo triunfo de seus pontos de vista. Muitos o fazem pela persuasão democrática, mas outros procuram coagir seus oponentes. (22)
A definição de fundamentalista amplia-se, desse modo, para além do extremismo religioso violento, e passa a abranger qualquer pessoa ou igreja que creia, por exemplo, no “mito” bíblico da criação ou na literalidade da segunda vinda de Cristo, ou ainda que considere a Bíblia como única expressão da verdade. O vídeo abaixo fornece um exemplo prático do que estamos discutindo aqui.
Robert Reich, ex-Secretário de Trabalho na administração de Bill Clinton, estabelece em linhas muito claras no que consistirá o conflito de nosso tempo na esfera religiosa. Note atentamente suas palavras:
O grande conflito do século 21 não será entre o Ocidente e o terrorismo. O terrorismo é uma tática, não uma crença. A verdadeira batalha será entre a civilização moderna e os anti-modernistas; entre os que acreditam na primazia do indivíduo e os que creem que os seres humanos devem sua lealdade e identidade a uma autoridade superior; entre aqueles que priorizam a vida neste mundo e aqueles que creem que a vida humana é mera preparação para uma existência futura; entre os que acreditam na ciência, razão e lógica e os que creem que a verdade é revelada através das Escrituras e do dogma religioso. (23)
Isso significa que qualquer pessoa avessa ao pluralismo religioso e a seus valores politicamente corretos será, por definição, fundamentalista, ou seja, alguém anti-modernista, fanático e irracional no sentido clínico da palavra. E antes que o leitor mais cauteloso imagine que este aspirante a blogueiro está exagerando suas conclusões, consideremos os fatos a seguir.
Há alguns anos, uma pesquisadora da Universidade de Oxford e escritora especializada em neurociência sugeriu que um dia o fundamentalismo religioso poderá ser tratado como uma doença mental curável [!]. Segundo informações publicadas no site do Huffington Post, Kathleen Taylor, que se descreve como uma “escritora de ciência afiliada ao Departamento de Fisiologia, Anatomia e Genética”, fez a sugestão durante uma apresentação sobre pesquisa do cérebro no Hay Literaly Festival, no País de Gales.
Em resposta a uma pergunta sobre o futuro da neurociência, Taylor disse “que uma das possíveis surpresas é ver pessoas com certas crenças terem acesso à tratamento”. “Alguém que tenha, por exemplo, se radicalizado em uma seita – nós podemos deixar de ver isso como uma escolha pessoal dessa pessoa como resultado da pura vontade e começar a tratá-la como portadora de algum tipo de distúrbio mental”. Ela explicou em seguida que não estava se referindo apenas aos “candidatos óbvios, como o Islã radical”, mas também a crenças tais como bater em crianças é aceitável. (24)
As opiniões de Kathleen Taylor não representam de maneira alguma um caso isolado. Em 2003, o National Institute of Mental Health (NIMH) e a National Science Foundation (NSF) anunciaram os resultados de seu estudo financiado com dinheiro dos contribuintes americanos. Essencialmente, esse estudo declarou que os tradicionalistas são mentalmente perturbados. Pesquisadores das Universidades de Maryland (Berkeley) e Stanford haviam determinado que os conservadores sociais, em particular, sofrem de “rigidez mental”, “dogmatismo” e “aversão à incerteza”, em conjunto com indicadores associados à doença mental. (25)
Em um artigo acadêmico de domínio público, a autora, Elyse Rider, diz que o fundamentalismo tem surgido como uma reação de medo à globalização e à diversidade religiosa e cultural, procurando preservar e manter sistemas de crenças como distintos dos “outros”, e, portanto, desempenhando um papel de violência contra si mesmo e contra o outro ao ferir e embaraçar os membros das comunidades religiosas e os que não pertencem a elas. Rider escreve:
Ao transformar os sistemas de crenças em si mesmos, por negar-lhes o espaço para crescerem e interagirem, o fundamentalismo pode ser entendido como a negação da vida religiosa saudável. Trata-se, como Derrida explica, de um violento distúrbio autoimune em que o organismo fechado ataca a si mesmo numa tentativa confusa para manter-se. Na sua hiperxenofobia, sua fobia a todas as diferenças, o fundamentalismo gera o medo de um futuro diferente e, portanto, trabalha para negar esse futuro. A fim de curar a religião e proteger as comunidades de fé nas sociedades multiculturais e multirreligiosas contra essa doença altamente contagiosa, novas formas de imaginar a fé devem ser promovidas, de modo a se adequarem às nossas circunstâncias socioculturais e ecológicas contemporâneas e permitir-nos um futuro compartilhado onde possamos crescer em e através de nossas diferenças e semelhanças. (26)
Esses discursos carregados de expressões psiquiátricas e biológicas – “distúrbio mental”, “mentalmente perturbados”, “violento distúrbio autoimune”, “hiperxenofobia”, “doença altamente contagiosa” – refletem uma tendência crescente de patologização do fundamentalismo e do conservadorismo em geral, cujas definições, por sua vez, têm se mostrado altamente flexíveis, como demonstra uma recente declaração do papa Francisco: “Um grupo fundamentalista, mesmo se não mata ninguém, mesmo se não atinge ninguém, é violento. A estrutura mental do fundamentalismo é violência em nome de Deus”. (27) As implicações dessa tendência perturbadora são claras para todos aqueles que estão familiarizados com a história recente. (28)
Diante da última grande crise
A espiritualidade global e humanista da Nova Era está rapidamente definindo o cenário religioso contemporâneo, preparando o terreno para a criação de uma nova sociedade, mais multicultural, multirreligiosa e centrada nas necessidades do homem e do planeta. Esse fenômeno, que pouco a pouco se consolida diante de nossos olhos, cumpre com notável precisão a palavra profética, e indica, sem a menor dúvida, a iminência do grande Dia do Senhor. Estamos agora na fase de transição entre Apocalipse 16:13 e 14 e o capítulo 17:13, isto é, entre a articulação envolvendo os principais ramos religiosos e políticos do mundo e a tentativa de uma unificação em nível global; um conluio que visa estabelecer uma nova sociedade, certamente menos democrática e mais totalitária.
Tempos difíceis se descortinam diante do povo de Deus, e já é possível discernir, por conta da nova consciência global em formação, o espírito espinhoso da intolerância, mesmo nas igrejas cristãs mais ortodoxas. Basta observar a frequência perturbadora com que indivíduos de pensamento autônomo e crítico se veem obrigados a suspender suas faculdades perceptivas, abrir mão de seus valores e juízos, e sujeitar-se à ditadura do politicamente correto, caso não queiram ser rotulados como preconceituosos, homofóbicos ou fundamentalistas.
Contudo, apesar das ameaças que se acumulam contra a igreja de Deus, os fiéis seguidores de Cristo nada têm a temer quanto ao futuro, a menos que se esqueçam do caminho pelo qual Ele os tem conduzido. O derradeiro apelo de Deus na voz do terceiro anjo revela as virtudes que se espera encontrar nos verdadeiros crentes num tempo em que o conflito adquire contornos mais definidos:
Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. (Apocalipse 14:12)
Eis aqui o tipo de preparo necessário para enfrentar com êxito as forças que presentemente se aglutinam contra o povo de Deus. Significa mais do que simplesmente professar o nome de Jesus. Implica uma fé verdadeira, provada no fogo e na Palavra de Deus, que opera por amor e purifica a vida e o caráter.
No Apocalipse, encontramos uma vívida descrição do ato final da grande controvérsia entre Cristo e Satanás, e podemos ver nos lances dramáticos desse conflito milenar as mãos de Deus guiando infalivelmente o curso da história em direção ao seu glorioso desfecho, não obstante todas as tramas e conspirações. O ajuntamento das forças de oposição ao reino de Cristo, embora pareça operar livremente e sob os caprichos de seus idealizadores, apenas cumpre o grande propósito de Deus dentro de Seu plano mais amplo de vindicar Seu governo e libertar Sua igreja, tema de que nos ocuparemos na próxima postagem, a última desta série sobre a Nova Ordem Mundial.
* Soteriologia é a área da teologia cristã que trata do plano divino da redenção, em especial da obra salvadora de Cristo.
Notas e referências
1. “The Age of Co-Creation”. Entrevista com Barbara Marx Hubbard, 1993.
2. Zbigniew Pasek, Agnieszka Dyczewska. “Man and Nature. A New Project on New Spirituality”. Problems of Sustainable Development, 2012, vol. 7, nº 2, p. 70.
3. Annie Besant. Esoteric Christianity, or The Lesser Mysteries. London: The Theosophical Publishing Society, 1901, p. 322.
4. Manly P. Hall. The Lost Keys of Freemasonry, or The Secret of Hiram Abiff, p. 40.
5. William Q. Judge. “Points of Agreement in All Religions”. Discurso proferido em 17 de abril de 1894 no Parlamento das Religiões em São Francisco, Califórnia.
6. H.P. Blavatsky. The Key to Theosophy. London: The Theosophical Publishing Company, 1889, p. 3.
7. I.A. Sadler. Mistery, Babylon the Great, vol. 2, p. 58. Shaw e McKenney observam que os grandes mestres maçônicos ensinam que “a Maçonaria é apenas uma revivificação dos Antigos Mistérios (as religiões de mistério da Babilônia, Egito, Pérsia, Roma e Grécia).” – Jim Shaw, Tom C. McKenney, The Deadly Deception
. Lafayette, LA: Huntington House, 1988, p. 143.
8. Albert G. Mackey. A Text Book of Masonic Jurisprudence: Illustrating the written and unwritten laws of Freemasonry. Seventh Edition. New York: Macoy & Sickels Publishers, 1865, p. 95.
9. https://parliamentofreligions.org/parliament/chicago-1893
10. John Gmeiner. “Religious Union of the Human Race”, em: The Dawn of Religious Pluralism: Voices from the World’s Parliament of Religions, 1893. Richard Hughes Seager (Ed.). La Salle, ILL: Open Court, 1993, p. 174.
11. Emil Gustav Hirsch. “Elements of Universal Religion”, em: The Dawn of Religious Pluralism, p. 224.
12. Lee Penn. False Dawn: The United Religions Initiative, Globalism, and the quest for a One-World Religion. Hillsdale, NY: Sophia Perennis, p. 43.
13. https://pt-br.facebook.com/notes/neale-donald-walsch/on-the-tenth-anniversary-of-9-11/10150285089176771/
14. John MacArthur, “The Rise of Reckless Faith”.
15. https://www.lucistrust.org/world_goodwill/about_wg
16. https://www.lucistrust.org/world_goodwill/key_concepts/the_new_group_world_servers3
17. Pascal Bernardin. O Império Ecológico, ou A subversão da ecologia pelo globalismo. Campinas, SP: Vide Editorial, 2015, p. 14.
18. Ibid., p. 12.
19. Aldous Huxley. Brave New World Revisited, p. 13.
20. Ver Malachi Martin, The Keys of this Blood: The struggle for world dominion between Pope John Paul II, Mikhail Gorbachev, and the Capitalist West. Nova York: Simon and Schuster, 1990, p. 15 e 17.
21. Citado em Lee Penn, op. cit., p. 184.
22. Ibid., p. 186.
23. Ibid.
24. “Kathleen Taylor, Neuroscientist, says Religious Fundamentalism could be Treated as a Mental Illness”. The Huffington Post, 31 de maio de 2013.
25. http://www.edwatch.org/updates05/012605.htm
26. Elyse Rider. “Intercultural Ecotheology: Integral Visions of Healing”, p. 3 e 4.
27. “Papa Francisco abre porta a renúncia e sublinha que ‘pobreza e humildade estão no centro do Evangelho'”. Secretariado nacional da pastoral da cultura. Destaque acrescentado.
28. A política eugenista e estética do nazismo constitui um caso representativo, e é tema do documentário “Arquitetura da Destruição”, do cineasta sueco Peter Cohen.
Fonte: Três Mensagens