“Para experimentar os que habitam sobre a terra”

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.” (Apocalipse 3:10)

As atuais tensões produzidas pela diversidade cultural e religiosa e as crises de ordem comum que ameaçam a sobrevivência do homem e do planeta compõem um cenário adequado para que o processo dialético e o consenso de grupo se tornem o novo parâmetro em torno do qual as soluções pretendidas são articuladas.

Diferentes fatores têm intensificado um processo permanente de mudança de pensamento e de atitudes, uma transformação contínua rumo à “conciliação dos opostos nas coisas e no espírito”, sem muita tolerância para com o contraditório.

Está além de minha capacidade considerar aqui as técnicas abjetas que têm sido usadas para promover os novos valores e facilitar o consenso. (1) Contudo, todos nós, de alguma forma, somos testemunhas e potenciais vítimas dessa mudança em direção a uma nova ética social, expressamente anti-cristã, coletivista e homogeneizadora, e refratária à consciência autônoma e crítica. Ela se impõe em nome dos mais nobres ideias, das mais acalentadas esperanças, consolidando-se como norma pelo uso corrente de expressões como “interdependência global”, “responsabilidade universal”, “diálogo intercultural” ou “inter-religioso”, “valores compartilhados”, “padrão comum” e “objetivos comuns”. (2)

Não obstante, as intenções vis por trás da aparência de piedade são imediatamente reveladas à luz da palavra profética, que desmascara os poderes envolvidos na construção da nova ordem pelo uso de figuras que exprimem com absoluta fidelidade sua verdadeira natureza. As aparências intimidadoras do dragão, da besta e do falso profeta (Apocalipse 16:13-14) fazem cair a hipócrita máscara das potências referidas na profecia, as quais conclamam as nações da Terra a unirem-se numa cruzada sem paralelos contra o governo soberano de Cristo e contra Sua igreja.

dragão, cujo símbolo representa apropriadamente o antigo paganismo (Apocalipse 12:9; Gênesis 3:4-5), que excluía de suas crenças e ritos religiosos o verdadeiro Deus Criador para adorar a natureza e suas forças, faz-se representar hoje por uma espécie de neo-paganismo essencialmente idêntico, preservado e difundido pelas sociedades de mistério. Suas concepções sobre o homem e suas relações com a Terra fornecem a liga que une as religiões em torno de uma causa comum, favorecendo o surgimento de uma espiritualidade global, compartilhada.

besta, o aliado mais próximo do dragão e agente ativo de sua política (Apocalipse 13:1-10), é figura do catolicismo romano sob a liderança do papado, e constitui a expressão máxima da união entre paganismo e cristianismo.

Por fim, o falso profeta, cuja designação expressa a falácia de sua hipocrisia (Apocalipse 13:11-18), refere-se ao protestantismo estadunidense apóstata, o qual tem sido igualmente ativo na promoção dos interesses tanto do dragão como da besta.

Da boca de cada um desses três poderes reconhecidamente mundiais João vê saírem “espíritos imundos, semelhantes a rãs”, os quais são “espíritos de demônios, operadores de prodígios, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso”. Como se não bastasse a aparência intimidadora dos três poderes mencionados na profecia, confirma-se a origem e caráter desse conluio iníquo pela menção aos espíritos de demônios, estes, em última instância, os agentes aglutinadores que influenciam essas potências mediante uma política global verdadeiramente diabólica. E os sons ruidosos que emitem, semelhantes ao coaxar contínuo e inquietante de rãs, anunciam que o seu período de hibernação terminou e é chegado o momento de sua atividade mais intensa.

Ora, não é com a língua que as rãs capturam suas presas? É com o poder do discurso, da propaganda que esses espíritos de demônios, operando por meio de agentes humanos, pretendem congregar o mundo inteiro para a sua causa. O poder sedutor de sua política é intensificado pelos milagres que eles são capazes de realizar, tornando o engano final quase irresistível (ver II Coríntios 11:14-15; II Tessalonicenses 2:9-10: Mateus 24:24). Esses milagres também são fatores aglutinantes, como demonstram os atuais fenômenos carismáticos que unem ocultismo, catolicismo e protestantismo numa mesma causa.

Ainda não temos visto a plena manifestação desses sinais, porém podemos estar certos de que as obras milagrosas que acompanham o discurso do consenso aumentarão à medida que nos aproximarmos do grande Dia do Senhor. Guardar a Palavra da perseverança de Cristo, de modo que ela se torne a regra máxima de fé e vida, é a única garantia de que não seremos enganados. Ellen G. White esclarece esse ponto da maneira mais enfática:

Apenas os que forem diligentes estudantes das Escrituras, e receberem o amor da verdade, estarão ao abrigo dos poderosos enganos que dominam o mundo. Pelo testemunho da Bíblia estes surpreenderão o enganador em seu disfarce. Para todos virá o tempo de prova. Pela cirandagem da tentação, revelar-se-ão os verdadeiros crentes. Acha-se hoje o povo de Deus tão firmemente estabelecido em Sua Palavra que não venha a ceder à evidência de seus sentidos? Apegar-se-á nesta crise à Bíblia, e a Bíblia só? (3)
A tentação diz respeito, em primeiro lugar, à sedução dos sentidos, e a experiência pessoal com a Palavra de Deus é a única salvaguarda do crente contra os poderosos enganos que dominam o mundo. O condicionamento mental das pessoas mediante o uso de recursos sofisticados de manipulação psicológica, modificação da linguagem e inversão de valores constitui o estágio preparatório indispensável para criar a nova consciência planetária, em harmonia com os ideais globalistas. As manifestações sobrenaturais produzidas pelos espíritos de demônios apenas completarão a operação do erro, consolidando sua influência sobre a opinião pública sob o manto insuspeito da religião. Serão enganados somente os que não receberam o amor da verdade para serem salvos (II Tessalonicenses 2:9-12).

E já não podemos divisar no atual processo de construção do consenso a operação diligente desses espíritos demoníacos em seu afã de amalgamar as nações de todo o mundo para “a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso”? Não somos capazes de ouvi-los agora emitindo por toda parte seus sons característicos, como os de rãs à aproximação do próximo temporal? A teosofista Alice Bailey escreveu:

A formação lenta e cuidadosa do Novo Grupo de Servidores do Mundo é um indicativo da crise. Eles estão supervisionando ou dando início à Nova Era, e estão presentes nas dores de parto da nova civilização e na manifestação de uma nova raça, uma nova cultura e uma nova visão de mundo. (4)
O plano maquiavélico de concepção da nova humanidade engendrado por esses “supervisores” – originalmente, espíritos imundos, que se valem das múltiplas crises para atingirem sua meta – vem ganhando contornos cada vez mais definidos. Tal fato não pode ser negado. Percebemo-lo na política, na economia e, especialmente, na religião. Lee Penn escreve:

Em paralelo com o empenho para construir uma Nova Ordem Mundial econômica e política, estão em curso esforços para estabelecer uma Nova Ordem Religiosa. O Presidente Obama tem dado continuidade à expansão da religião civil americana de George W. Bush de modo a incluir todas as fés. Em seu discurso de posse, Obama disse que temos uma “herança mista” de “cristãos e muçulmanos, judeus e hindus, e não crentes”. Oficialmente, a “América cristã” não é mais cristã. Obama saudou a “Aliança das Civilizações” da ONU, e usa o gabinete da Casa Branca das Parcerias Baseadas na Fé para promover projetos de serviços inter-religiosos. (5)
De fato, a despeito de sua evidente contradição com a mensagem divisiva do evangelho eterno (Mateus 10:34-35; Lucas 12:51-53), a ideia de unidade religiosa e de uma espiritualidade comum, fundamentada, sobretudo, em duas das crenças mais salientes do paganismo, têm sido fervorosamente abraçada pelos protestantes, os primeiros, aliás, a tomar a iniciativa. Ellen G. White advertiu há mais de um século:

Mediante os dois grandes erros – a imortalidade da alma e a santidade do domingo – Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto o primeiro lança o fundamento do espiritismo, o último cria um laço de simpatia com Roma. Os protestantes dos Estados Unidos serão os primeiros a estender as mãos através da voragem para apanhar a mão do espiritismo; estender-se-ão por sobre o abismo para dar mãos ao poder romano; e, sob a influência desta tríplice união, este país seguirá as pegadas de Roma, conculcando os direitos da consciência. (6)
É digno de nota o fato de que dessa tríplice união procedam três espíritos imundos ou três anjos caídos e, portanto, três mensagens angélicas falsas, as quais se relacionam intimamente com os sinais empregados para unir as igrejas caídas com as potências políticas e econômicas, amalgamando todos os reinos do mundo numa só confederação. Essas mensagens espúrias, contrapondo-se a cada uma das três mensagens do evangelho eterno (Apocalipse 14:6-12), proclamam: (1) fidelidade à espiritualidade global e à cura do planeta, elevado ao status de criador; (2) a evolução do homem rumo a uma nova consciência e a uma nova humanidade, ou seja, Babilônia jamais cairá; e (3) o sinal de sua autoridade em matéria de consciência, tornando os mandamentos de homens a única base do ordenamento jurídico da nova ordem.

Assim, pela influência combinada do ocultismo, catolicismo romano e protestantismo apostatado e sua tríplice mensagem baseada num evangelho humanista de paz e segurança, o mundo será conduzido à guerra. E essa guerra não será pelo domínio esporádico de algum reino terrestre, senão contra o próprio Deus e Seu governo. Apocalipse 16:16 revela que as nações serão congregadas num lugar “que em hebraico se chama Armagedom”. Juntamente com a aparência simbólica dos poderes envolvidos e sua relação com os espíritos de demônios, a menção a essa guerra de proporções universais completa o quadro profético que descreve a verdadeira natureza e propósito desse conluio, não obstante sua aparência de piedade.

Ainda não se chegou a uma conclusão definitiva sobre o significado da palavra “Armagedom”. No entanto, não há dúvida de que o termo provém do Antigo Testamento, à semelhança de muitas outras expressões empregadas no livro do Apocalipse. Uma das soluções mais razoáveis é a que traduz “Armagedom” como “monte da matança”, “monte da destruição” ou “monte do juízo”, em contraste com o Monte Sião, o Monte da bênção e da salvação.

Har, em hebraico, significa “monte”, e Magedon (Megido), “matança” ou “lugar de multidões”. Significativamente, Joel 3:2 se refere ao “vale de Josafá” como o local em que o Senhor Deus congregará todas as nações para ali entrar “em juízo contra elas por causa do meu povo”. No verso 14, o profeta diz: “Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão” (verso 14). Para existir vale é preciso haver monte. O vale de Josafá (que significa “Jeová vai julgar”) está repleto de multidões, da mesma forma que o monte de Megido, o monte da “matança” ou “lugar das multidões”. Ambas as imagens estão teologicamente ligadas, referindo-se ao mesmo evento.

Tanto Joel como Apocalipse não enfatizam o local geográfico da última batalha, que abrange o mundo inteiro, mas sua natureza. Trata-se de um conflito real, porém de caráter espiritual. O dragão, a besta e o falso profeta reclamam domínio sobre toda a humanidade, embora jamais tenham recebido essa prerrogativa do Criador. Somente Jesus Cristo está autorizado pelo Pai a governar sobre a Terra e manifestar Sua vontade aos seus habitantes. O Armagedom consiste na vindicação do caráter de Cristo que, como Rei e Juiz, vem reclamar este mundo como Seu domínio legítimo, libertando Seus súditos do governo tirano de Babilônia e estabelecendo um reino que subsistirá para sempre (Daniel 2:44).

Apesar de todas as forças combinadas das trevas sob a liderança de Satanás, não há nenhuma possibilidade de que seres mortais possam oferecer alguma resistência à vinda do Rei dos reis e Senhor dos senhores (leia Apocalipse 19:11-16). À Manifestação do grande Dia do Senhor, o mundo inteiro, até então movido por figadal ódio à verdade a ponto de promulgar um decreto de morte contra os santos (Apocalipse 13:15), reagirá da única maneira possível:

Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode subsistir? (Apocalipse 6:15-17)Somente os selados do Israel espiritual poderão subsistir! Fora do Cordeiro, o verdadeiro Monte Sião, e de Seu aprisco – “os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:1, 12) – não existe qualquer chance de escapar aos juízos retribuidores de Deus destinados a Babilônia mística e seus adoradores. Eis a razão porque devemos responder positivamente ao derradeiro apelo do Senhor na voz dos três anjos.

O juízo anunciado pelo primeiro anjo (Apocalipse 14:7) é inerente ao evangelho eterno (verso 6), pois revelará a justiça de Cristo em seu caráter vindicatório. Nesta fase do juízo, apenas os nomes dos vencedores permanecerão escritos no livro da vida do Cordeiro (Apocalipse 3:5. Comparar com 13:4 e 8). O anúncio do juízo conclama todos os habitantes da Terra a adorar o Criador num tempo em que a falsa tríade satânica reclama adoração por parte das nações. Esse solene chamado precede imediatamente o grande Dia do Senhor, ou seja, o Armagedom, o último conflito entre o bem e o mal. Visto que Babilônia está condenada (Apocalipse 14:8), Deus também conclama Seu povo para que se separe dela, a fim de não serem cúmplices em seus pecados e vítimas de seus flagelos (18:4).

Na mensagem do terceiro anjo há uma grave advertência do Céu contra os que se recusarem a aceitar a última oferta de salvação (Apocalipse 14:9-12). Estes beberão do vinho da ira de Deus, sem mistura de misericórdia. A palavra “tormento” no verso 11, no original, basanismos, tem o sentido de “testar” ou “provar mediante teste”. O grande Dia do Senhor consistirá, portanto, num teste que, de certa forma, provará o caráter de cada um, razão porque o nosso Senhor se referiu a este Dia como a ocasião para “experimentar os que habitam sobre a Terra” (Apocalipse 3:10). O apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos em Corinto, declarou:

Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. (I Coríntios 3:11-13)
Todos, justos e ímpios, passarão pelo mesmo teste, e “diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro” revelar-se-á definitivamente quem é povo de Deus e quem não é. Somente os justos resistirão, pois “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7:14).

O solene chamado de Deus para abandonar Babilônia mística e seu falso modelo de adoração constitui o propósito mais elevado do Apocalipse. Os que aceitarem Seu apelo demonstrarão por pensamentos e ações que, além de chamados, são também escolhidos e, sobretudo, fiéis a Jesus até o fim, mesmo ao custo da própria vida (Apocalipse 17:14; 12:11). Como testemunhas leais de Cristo, eles sabem que, a despeito da luta intensificada que terão de travar contra os reclamos de uma ordem social avessa ao governo de Deus, alcançarão a vitória com perseverança e fé em Seu Mestre (Apocalipse 14:12).

O amor é a força mais poderosa que há no mundo. O caminho do ódio é o da rebelião que conduz à morte; A vereda do amor genuíno é a da obediência à verdadeira fé. O cálice da ira do Senhor está para entornar fogo e enxofre sobre um mundo ímpio e rebelde, onde o amor de quase todos já se esfriou (Mateus 24:12). A Palavra de Deus está rapidamente se cumprindo; os ímpios estão sendo ajuntados em molhos, prontos para serem queimados, de modo que não restará nem raiz nem ramo (Malaquias 4:1).

Não vivemos numa época de transição para uma Nova Era, segundo a perspectiva humanista, mas em um tempo de decisão, diante da qual temos apenas duas alternativas: desfrutar o elevado e eterno gozo da companhia de nosso amado Salvador no Céu, ou a angústia inexprimível de separação total e definitiva de Sua presença na Terra. O Senhor Jesus insiste hoje para que façamos a melhor escolha.

Notas e referências

1. A revolução pedagógica que tem redefinido o papel da escola na sociedade é parte de uma revolução cultural mais ampla que visa a essa mudança nos valores, atitudes e comportamentos, tema de que se ocupa Pascal Bernardin em seu livro, Maquiavel Pedagogo.

2. Estas e outras expressões similares são recorrentes nos objetivos de organizações globalistas como a Iniciativa das Religiões UnidasIniciativa da Carta da Terra, entre outras.

3. Ellen G. White. O Grande Conflito. Décima Nona Edição. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1978, p. 624.

4. Alice A. Bailey. The Externalisation of the Hierarchy. Lucis Trust, 1957, p. 37.

5. Lee Penn. The Religious Face of the New World Order: From the Vatican to the White House to the United Religions Initiative. America’s Survival, 2010, p. 22.

6. Ellen G. White, op. cit., p. 587.

 

 

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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