Viver em uma sociedade livre é algo muito mais desafiador do que aparenta ser. As pessoas têm corrido de um lado para outro em busca de sentido para a vida. De formas variadas, tentam desvendar o mistério da existência. A razão questionadora, que coloca tudo em dúvida, não encontra terreno seguro onde possa se firmar. O grande número de questionamentos que assombram a intrigante atualidade também alcança o cristianismo. Muitos o veem apenas como manifestação cultural e histórica. Torná-lo regra de vida seria retrógrado, uma atitude alienada de alguns seguidores incautos. Porém, estaríamos destinados a uma vida de problemas insolúveis e perguntas sem respostas, feitas para o vazio?
Enquanto alguns duvidam de tudo, outros parecem se sentir suficientes em suas crenças, mesmo sem saber por que acreditam naquilo em que se dispuseram a crer. Em ambos os casos, a vida carece de um fundamento sólido. A antiga cultura helenista, com a qual se confrontou o cristianismo primitivo, apresentava desafios semelhantes. É o que observamos em Atos 17, no impressionante relato da viagem do apóstolo Paulo à cidade de Atenas, onde ele esteve em contato com algumas correntes filosóficas da época, como os epicureus e os estoicos. Os epicureus eram mais imediatistas e baseavam a vida no prazer. Os estoicos acreditavam que o mundo todo
fosse regido pelas leis aleatórias da natureza, considerada um deus. Adeptos dessas ideias debatiam incansavelmente suas frágeis teorias.
Em Atenas, Paulo apresentou uma proposta diferente de tudo o que seus filósofos tinham visto e ouvido. Era inevitável que houvesse um choque de ideias. O cristianismo de Paulo, assim como o nosso, encontrava-se em conflito com a incerteza especulativa. Fala-se aqui de pessoas sem um claro conceito de Deus. Paulo viu ali a oportunidade de revelar uma crença contextualmente bem colocada e fundamentada em conceitos concretos. Ele pôde mostrar que o “deus desconhecido” na verdade é o verdadeiro Deus, que Se revela e Se faz conhecer por meio de Cristo Jesus.
Em seu sermão ao povo de Atenas, Paulo encontrou o ponto comum com seu público-alvo, dando aos ouvintes um possível fundamento que, por tanto tempo, foi procurado. Ele cita dois escritores gregos respeitados da época para apresentar seus conceitos com argumentos familiares àqueles que estavam ouvindo. Aparentemente simples, mas carregado de muito conhecimento, Paulo, acima de tudo, confirma a contextualização do Cristianismo. Muito mais do que um fundo histórico ou uma listagem de normas teológicas: o cristianismo inteligente, racional.
Como cristãos, de que modo devemos agir diante de desafios semelhantes? Como Paulo, precisamos entender o que está acontecendo ao redor para saber onde estamos inseridos. O que os filósofos contemporâneos nos dizem hoje? A exemplo de Paulo, cabe a nós, com base na verdade divina, expor nossa filosofia, conforme a Palavra de Deus, estando preparados para responder a todo aquele que nos pedir a razão de nossa esperança (1Pe 3:15). Estamos preparados para apresentar um cristianismo pensante e social, em meio à mistura descuidada de fundamentos flutuantes? Estamos dispostos a levar a verdade ao mundo, com relevância, deixando de lado todo espectro de visão unilateral? Por revelação divina, conhecemos o que procede de Deus (1Jo 4:1). Com base em nossa sólida convicção em Cristo, podemos ter uma certeza relevante e atrativa.