Desejos Modernos: Só Deus satisfaz os desejos do coração humano

Desejo ou paixão não tem nada que ver com as necessidades básicas do ser humano. Com a queda de Adão e Eva, nossas necessidades se desvirtuaram e, assim, o pecado encontra projeção nos desejos disfarçados em necessidades. As vozes do mundo nutrem desordenadamente nossos desejos e nos tornamos escravos da vontade. O grande perigo é a transformação dos desejos em necessidades básicas, porque a força do desejo é mais perigosa que a da razão. Aparentemente, somos saciados quando conquistamos esse ou aquele objeto do desejo. Mas, nesse cenário, vemos que a obtenção de determinado objeto não é o que realmente importa. Na verdade, a concretização do desejo chega a ser decepcionante, uma vez que não se cumpre a promessa abstrata de realização ou prestígio. Assim, quando o desejo é “saciado” a decepção mostra o absurdo desse jogo. Sobra, então, um “eu” envergonhado e um novo objeto a ser desejado.

Deseja-se o que o outro deseja e não apenas o que pertence ao reino das coisas, mas até mesmo o outro, ou seja, ser o outro. Renê Girard descreve essa realidade como produto de um mundo em que o homem é o centro.1 Esse é o evangelho humano: o homem como alvo de imitação e desejo. Esse mesmo homem se orgulha de ser escravo dizendo-se livre e independente, mas nunca está completo, nunca está satisfeito. Sua verdade é que lá é sempre melhor do que aqui. O externo dá as referências e o herói, agora, não é mais o divino, é o comum.

Comparando algumas épocas, percebemos que, até certo ponto, determinadas sociedades se inspiravam em alguns referenciais ou magnetizadores de seus desejos como o pai, o rei, o juiz, o sacerdote e Deus, por suas qualidades superiores. Mas, para a nossa realidade pós-moderna, Deus está morto. Entretanto, é inerente ao homem a necessidade de adoração. Mas o que se imita quando não há um referencial? Um ao outro. O que se deseja nessa situação? Ser igual ao outro. Sendo assim, o homem toma o lugar de Deus. E essa imitação cria um indivíduo hipnotizado e entorpecido pela inveja, tal a força dos desejos egoístas que o motivam. Então, nesse esquema em que a transcendência vem para a Terra e o homem passa a ser o deus do homem, nota-se que Deus não é excluído, mas substituído. Por quem? Pelo outro, por si mesmo e pelas coisas materiais. Acontece que essa divinização do eu e do outro cria abismos emocionais e uma falsa espiritualidade. A busca da realização de qualquer desejo moderno é, ao mesmo tempo, rota para a infelicidade e insatisfação. Detesta-se a felicidade tranqüila e calma do amor verdadeiro porque é preciso competir (com o outro), é preciso ter mais (do que o outro), é preciso ser melhor (do que o outro). Essa é uma idéia absolutamente oposta a todo princípio bíblico de realização, serviço e grandeza. “Sede sóbrios” (I Pe 5:8). “Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros” (Gl 5:26).

Onde há separação de Deus, há a divinização do eu e do outro. Interessante é que, dentro dessa realidade, considerar-se cristão não faz a mínima diferença. Dizer-se participante dessa ou daquela comunidade religiosa não isenta ninguém das armadilhas, desejos e sentimentos modernos. Todos são vítimas em potencial. Hoje, mais do que nunca, qualquer cidadão está condenado à vaidade e ao reino do nada.

Diante desse quadro, percebemos que este mundo, por incrível que pareça, é extremamente espiritual e nada materialista. Na supervalorização das coisas, não é o objeto em si que interessa, mas o conceito espiritual que ele carrega, com a promessa de preencher o vazio existencial. Todas as pessoas anseiam por algo melhor. Todas as ações, empreendimentos, projetos, sonhos e decisões são, no fundo, um reflexo da busca pela felicidade.

Isso nos mostra que fomos criados para uma vida completa e plena de felicidade. C. S. Lewis diz: ‘As criaturas não nascem com desejos, a menos que exista satisfação para eles. […] Se eu encontrar em mim mesmo um desejo que nenhuma experiência neste mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo.”2 Este é o ponto: Só teremos nossos desejos saciados se estivermos com Deus. Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará os desejos do teu coração” (Sl 37:4).

Deus usa esse desejo intrínseco de felicidade para nos impulsionar para Cristo. Ele é “o desejado de todas as nações” (Ag 2:7). Os desejos dos homens de todas as eras só podem ser completos nEle. Ele “é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos” (Ef 3:20). O homem não tem seu fundamento em si. Ellen G. White afirma: “Por toda parte os homens estão descontentes. Anseiam qualquer coisa que lhes supra a necessidade da alma. […] Falharão todo recurso e dependência humanos. As cisternas ficarão vazias, os poços se secarão; nosso Redentor, porém, é uma fonte inesgotável.”3

Assim, percebemos que abrir mão dos nossos desejos modernos é abrir mão do que temos de mais nocivo. Devemos ansiar por Deus, desejar Deus, querer mais dEle. Ellen White diz: “Temos de buscar a plenitude da graça de Cristo, permitir que nosso coração se encha de intenso desejo por Sua justiça, cujo efeito a Palavra de Deus declara ser paz, e cuja operação é repouso e segurança para sempre.”4Não há alternativa! Só nEle há paz, repouso e segurança. Caso contrário, todos nós nos tornaremos marionetes nas mãos de um inimigo vencido, com proposta barata de felicidade, onde o predomínio das paixões desliza para a animalização do ser humano. Nessa concorrência de vaidades, nesse vaivém histérico, o que sobra são sentimentos dilacerados, pois o mundo dos desejos não salva, não redime, “vão é o socorro do homem” (Sl 108:12).

Qual é a alternativa, então? Deus. Isso implica nobreza espiritual superior, uma vida espiritual ativa. O Espírito Santo quer abrir nossos olhos e, por meio de Sua atuação, desconstruir nossos falsos conceitos de felicidade. Se ouvirmos Sua voz, haverá uma decisão voluntária em favor do que é eterno, e uma indiferença genuína aparecerá diante das vaidades humanas. “Então, o Espírito de Deus, mediante a fé, produz nova vida na alma. Os pensamentos e desejos são postos em obediência à vontade de Cristo […] então, a lei de Cristo é escrita na mente e no coração, e podemos dizer como Cristo: ‘Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus meu”!

Referências

1. Girard, René. A Violência e o Sagrado. São Paulo: Editora Estadual Paulista, 1º edição;1990.

2. Citado por Zadcrison, James W. Eclesiastes (Lição da Escola Sabatina, 2007), p. 84.

3. White, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações, p. 187.

4. White, Ellen G. Atos dos Apóstolos, p. 566.

5. White, Ellen G. O Desejado de Todas as Mações, p. 176.

Texto de autoria de Creriane Nunes Lima, professora no Unasp, campus de Engenheiro Coelho, SP. Publicado na RA de Setembro/2008.


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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