A Bíblia é a palavra de Deus, através dela Ele se comunica com a humanidade. O livro de Hebreus 1:1 explicita que “Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas” (NVT), deixando claro que foi Deus quem falou através dos profetas. Um livro pode conter o nome de Isaías, Amós ou Daniel, mas Deus é o verdadeiro autor[2].
A forma como Deus se comunicou com os profetas é a revelação. A palavra revelação deriva do verbo revelare, que significa retirar o véu, descobrir algo que estava escondido, que para Bemmelen[3] ganha profundidade semântica em relação ao ato de Deus revelar Sua pessoa, vontade e propósito à humanidade. Pode-se sintetizar como a essência da revelação Divina ao afirmar que Deus Se revela em palavras e ações, através de muitos e diferentes canais, a intenção Divina é que os seres humanos possam conhecê-lo e estabelecer com Ele uma relação salvífica que trará como resultado eterna comunhão com Ele.
Os Adventistas do Sétimo Dia entendem que a Bíblia é a palavra revelada e inspirada por Deus e que sua autoridade é indiscutível, em seu livro de crenças fundamentais, esclarecem que: “As Escrituras Sagradas, o Antigo e o Novo Testamentos, são a Palavra de Deus escrita, dada por inspiração divina. Os autores inspirados falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo. Nesta Palavra, Deus transmite à humanidade o conhecimento necessário para a salvação. As escrituras Sagradas são a revelação infalível, suprema e repleta de autoridade de sua vontade. Constituem o padrão de caráter, a prova de experiência, o revelador definitivo de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na história”[4].
Duas forma de comunicação
Vale dizer que Deus se revela à humanidade por duas maneiras, e é a própria Bíblia da conta disso.
- Revelação Geral, isso é, através da criação: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Salmos 1:1). De fato, Deus se revelou por meio dos céus e da terra. A Bíblia é clara quanto ao fato de a natureza realmente ter algo a dizer às pessoas sobre seu Criador[5], esta modalidade de revelação é chamada de “revelação geral”.
- Revelação Especial: Por meio de homens que receberam a revelação de Deus e foram inspirados a escrever. Tal método é sobrenatural, Deus fala diretamente ou por meio de mensageiros sobrenaturalmente dotados[6], esta é chamada de “revelação especial”.
O processo da revelação especial torna-se complexo, pois é composto da atuação Divina, somada à humana: Deus revelou-se ao homem, e este materializou a revelação, a fim de ser apresentada e compartilhada para toda a humanidade, por meio da inspiração. É oportuno destacar que no processo da revelação e inspiração do texto bíblico, a participação do Pai, Filho e Espírito Santo é inegável. O livro de 2 Timóteo 3.16, que de acordo com Horgan “é constantemente citado em discussões sobre a inspiração bíblica”[7], deixa claro que toda escritura é inspirada por Deus. Nesse texto o autor utiliza a palavra theopneustos (θεόπνευστος) para apresentar que a Bíblia foi inspirada pelo Espírito de Deus e em um de suas traduções a palavra pode ser entendida como “o ar que foi expulso fisicamente dos pulmões de Deus”[8].
Outro texto esclarecedor, é o de 2 Pedro 1:20-21, que diz que “ […] nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”. Pedro nega que foi a vontade dos seres humanos que esteve envolvida na produção das escrituras, a mensagem procedeu de Deus, Ele é o autor[9]. O verbo que demonstra a atuação de Deus é pheromenoi (φερόμενοι), que de acordo com Gingrich[10] quer dizer “levar consigo, carregar, trazer, produzir, realizar”.
Neste caso, a ação é praticada pelo Espírito Santo, como confirmado por Canale[11], quando leciona que “a ação aqui é realizada pelo Espírito Santo, tendo como alvo os homens. Assim, ‘homens foram guiados, apoiados, sustentados impelidos pelo Espírito Santo’. A Bíblia, portanto, teve seu início por meio da ação do Espírito Santo sobre os escritores”.
Ligação entre os Antigo e Novo testamentos
Bemmelen[12] ainda destaca que os apóstolos aceitavam o texto veterotestamentário – antigo testamento – como divinamente inspirado e dedicavam ao Espírito Santo os escritos dos profetas e salmistas. Pedro, ao falar a seus ouvintes reunidos no cenáculo, introduziu Salmos 69:25 e 109:8 dizendo: “Irmãos, era necessário que se cumprissem as Escrituras a respeito de Judas, que serviu de guia aos que prenderam Jesus. Esse acontecimento havia sido predito pelo Espírito Santo, por meio do rei Davi” (Atos 1:16, NVT). O livro de Atos e as Epístolas possuem declarações correspondentes que identificam o Espírito Santo como a fonte das palavras do AT (Atos 4:25; 28:25; Hebreus 3:7; 10:15).
O verbo que demonstra a atuação de Deus é pheromenoi (φερόμενοι), que de acordo com Gingrich[13] quer dizer “[…] levar consigo, carregar, trazer, produzir, realizar […]”, neste caso, a ação é praticada pelo Espírito Santo, como confirmado por Canale, quando ensina que “a ação aqui é realizada pelo Espírito Santo, tendo como alvo os homens. Assim, ‘homens foram guiados, apoiados, sustentados impelidos pelo Espírito Santo’. A Bíblia, portanto, teve seu início por meio da ação do Espírito Santo sobre os escritores”.
Deus é autor, não escritor
O texto bíblico tem em Deus o autor, porém não o escritor. Por outro lado, em um sentido diametralmente oposto, os profetas e apóstolos escreveram a Bíblia, mas não foram os autores dela. E a beleza está em Deus permitir a participação do homem na que Ele quis revelar aos seus filhos. Por mais débeis e falhos que possam ser o Eterno possibilitou que homens pudessem atuar em seu plano de redenção.
[1] Professor na Faculdade Adventista da Bahia (FADBA).
[2] DORNELES, V. et al (Org.). Comentário bíblico adventista do sétimo dia: Filipenses a Apocalipse. Tradução de Fernandes Lira et al. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014.
[3] BEMMELEN, Peter M. van. Revelação e inspiração. In: DORNELES, V. (Ed.). Tratado de teologia: Adventista do Sétimo Dia. Tradução de José Barbosa da Silva. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 26-66.
[4] ASSOCIAÇÃO MINISTERIAL DA ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA (Org.) Nisto cremos: as 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tradução de Helio L. Grellmann. 9. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2016.
[5] CULVER, Robert Duncan. Teologia sistemática: bíblica e histórica. Tradução de Valdemar Kroker et al. São Paulo: Shedd Publicações, 2012.
[6] BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Tradução de Odayr Olivertti. 3. ed. rev. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
[7] HORGAN, Maurya P. Comentário sobre a segunda carta a Timóteo. In: BROWN, Raymond E.; FITZMYER, Joseph A.; MURPHY, Roland E. Novo comentário bíblico São Jerônimo: novo testamento e artigos sistemáticos. Tradução de Celso Eronides Fernandes. São Paulo: Paulus, 2011. p. 649-654.
[8] LOGOS Bible Software Infographics Lexham Press. Bellingham, WA: Lexham Press, 2009.
[9] CANALE, Fernando. O princípio cognitivo da teologia cristã: um estudo hermenêutico sobre revelação e inspiração. Tradução de Neumar de Lima. 1. ed. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2011.
[10] GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do novo testamento: grego, português. Revisão Frederick W. Danker. Tradução de Júlio P. T. Zabatiero. São Paulo: Vida Nova, 1984.
[11] CANALE, Fernando. O princípio cognitivo da teologia cristã: um estudo hermenêutico sobre revelação e inspiração. Tradução de Neumar de Lima. 1. ed. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2011.
[12] BEMMELEN, Peter M. van. Revelação e inspiração. In: DORNELES, V. (Ed.). Tratado de teologia: Adventista do Sétimo Dia. Tradução de José Barbosa da Silva. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011. p. 26-66.
[13] GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do novo testamento: grego, português. Revisão Frederick W. Danker. Tradução de Júlio P. T. Zabatiero. São Paulo: Vida Nova, 1984.
Por Adriano Feitosa[1]
Fonte: Reação Adventista