Escapará Alguém do Julgamento Divino?

As palavras de Jesus, em João 5:24: “Quem ouve a Minha palavra e crê nAquele que Me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” indicam que haverá pessoas que escaparão do julgamento divino? O texto parece ainda dizer que tão logo um justo morre ele vai para o Céu. Como entender essas palavras de Jesus?

Em João 5:24, Jesus não está tratando do estado dos justos mortos nem sobre a ocasião em que eles irão para o Céu. O assunto é sobre a mudança de status espiritual quando alguém aceita Cristo como seu Salvador: de candidato à morte eterna a pessoa passa à condição de candidato à vida eterna; da situação de réu e sujeito ao juízo condenatório, passa, graças aos méritos de Cristo, à condição de inocente e, consequentemente, livre de qualquer condenação (cf. Rm 8:1).

No verso em análise, Jesus estabeleceu que ouvir Suas palavras e crer no Pai, que O enviou, é a condição para alguém passar da “morte” (status de réu e candidato à perdição eterna) para a “vida” (status de inocente e candidato à vida eterna). Ou seja, a salvação é obra divina. O pecador precisa apenas aceitar Cristo como “Cordeiro de Deus” (Jo 1:29), pedir perdão pelos seus pecados e se valer do sacrifício feito por Cristo na cruz do Calvário.

A expressão “não entra em juízo” parece contradizer outros textos bíblicos que afirmam claramente que todos irão a julgamento, a fim de que recebam a sentença de morte eterna ou de vida eterna. Segundo Paulo, “importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2Co 5:10); e “todos compareceremos perante
o tribunal de Deus” (Rm 14:10). Então, como entender a expressão “não entra em juízo”, dita por Jesus?

Devemos atentar para o original da palavra “juízo”, em João 5:24, que é krísis. Esse vocábulo, com suas diferentes terminações e de acordo com os casos típicos da gramática grega, além de significar “juízo”, de maneira geral (Mt 10:15; Lc 10:14; 11:32; Jo 5:30; At 24:25; 2Ts 1:5;
Hb 9:27), é empregado também com o significado de “juízo condenatório”, “condenação”. Vejamos alguns exemplos: “Veio o Senhor […] para exercer juízo [krísin] contra todos e para fazer convictos todos os ímpios” (Jd 15), “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação [kríseōs] do inferno?” (Mt 23:33), “os que tiverem praticado o mal, [sairão] para a ressurreição do juízo [kríseōs]” (Jo 5:29). Por esses textos, vê-se que o juízo para os ímpios é o condenatório, do qual estarão a salvo os justos. É a esse juízo condenatório que Jesus Se refere por meio da expressão “não entra em juízo”.

Por sua vez, o julgamento dos justos se dá na fase “investigativa” do juízo divino (cf. Dn 7:9, 10; Mt 22:1-14), um pouco antes da segunda vinda de Cristo (fase iniciada em 1844, conforme Daniel 8:14). Nesse julgamento, os justos têm Jesus como seu Advogado (1Jo 2:1) e, quando seus nomes são analisados, Ele Se coloca como substituto daquele que está sendo julgado e apresenta Seu sangue derramado como expiação pelo pecador.

A expressão “passou da morte para a vida” (Jo 5:24, última parte) alude, como dissemos, não à ida para o Céu de algum justo morto, mas à mudança de status daquele que aceita Cristo como Salvador: de pecador e morto espiritualmente, passa à condição de inocente (graças aos méritos de Cristo) e candidato à vida eterna. Além do mais, a Bíblia é clara quanto à ocasião em que os justos mortos irão para o Céu e receberão a vida eterna: será por ocasião da primeira ressurreição, quando Cristo vier segunda vez (cf. 1Ts 4:13-18; 2Tm 4:8), e não por ocasião da morte.

Por Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e professor no Unasp – Campus Engenheiro Coelho, SP. Publicado na RA de Jun/2011.

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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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