Está Consumado! Com esse brado, nossa redenção foi assegurada

Ellen G. White diz que “far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus […] especialmente as [cenas] finais” (O Desejado de Todas as Nações, p. 83). Aproveitando o espírito que marca o momento que a cristandade chama de “semana santa” façamos um breve retrospecto dos sofrimentos de Jesus, começando com Sua agonia no Getsêmani até expirar na cruz.

Suor e sangue no jardim

Na noite de quinta para sexta-feira, após instituir a Santa Ceia e antes de orar por Seus discípulos, Jesus lhes deu as últimas orientações, parte das quais já fora do cenáculo (ver Jo 14-17). Haveria de deixá-los para retornar ao Pai, mas não os abandonaria, pois lhes garantiu que o “outro Consolador” o Espírito Santo, viria para estar com eles “para sempre” para fortalecê-los, guiá-los e guardá-los (lo 14:16-18,26; 15:26,27; 16:7-15).

Dadas as instruções e feita a oração, seguiram “para o outro lado do ribeiro Cedrom, onde havia um jardim” (18:1). O caminho era conhecido, pois outras vezes o haviam percorrido. Mas algo novo e estranho se fazia presente dessa vez – o Mestre emudecera; nunca O tinham visto tão triste! Com passos indecisos, mais cambaleava que andava, à medida que se aproximavam do jardim (Ibid, p. 685, 686).

Deixando oito discípulos em determinado ponto, avançou um pouco mais com Pedro, Tiago e João. A certa altura, sumariou a dor que Lhe invadia o ser: A Minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26:38). Afastando-Se um pouco, caiu ao solo frio e úmido do jardim, deixando, com agonia intensificada, escapar dos vacilantes lábios uma súplica angustiosa: “Meu Pai, se possível, passa de Mim este cálice!” (v. 39). Jesus assumia aí a culpa do pecado de toda a humanidade, com suas implicações.

Por duas vezes, Ele Se dirigiu aos discípulos em busca de conforto, mas os encontrou adormecidos. Aliás, o único discípulo que não dormiu naquela noite, pelo menos enquanto os demais dormiam, foi Judas. A dor da indiferença e da frustração acentuou a angústia de Jesus, e Ele Se prostrou pela terceira vez em súplica ao Pai, agora de maneira tão mais intensa que Seu suor se transformou em sangue! (Lc 22:44). Um anjo foi enviado (v. 43) para animá-Lo a ir até o fim, avivando-Lhe o glorioso resultado de Seu sacrifício.

Fortalecido, Jesus Se levantou e despertou os discípulos. Chegara o momento das trevas, e logo pressentiram as pisadas de uma turba invadindo o jardim e vindo para o lugar em que estavam. Jesus disse solenemente: “O Filho do homem está sendo entregue nas mãos de pecadores” (Mt 26:45).

Com espanto, os discípulos, à luz de archotes, reconheceram Judas à frente da turba. Viram-no aproximar-se do Mestre e beijá-Lo, enquanto Ele lhe dizia: “Judas, com um beijo trais o Filho do homem?” (Lc 22:48). Normalmente, um beijo expressa carinho, devotamente, afeto. Mas, por trás desse aparente afeto, um sombrio desígnio se escondia – a traição. Trinta moedas de prata dadas a judas o levaram a entregar Jesus àqueles que O odiavam. Imediatamente, Pedro reagiu brandindo uma espada (Jo 18:10,11). Mas Jesus Se rendeu à turba insana, e os discípulos, confusos e dominados pelo pânico, fugiram (Mc 14:50).

A farsa do julgamento

Passava de meia-noite quando Jesus foi levado, sob apupos e vaias, ao sumo sacerdote Anás para um pré-julgamento (Ibid.,p. 698). Que julgamento, se nem tinham de que O acusar? As testemunhas arranjadas mais se contradisseram do que depuseram (Mc 14:56-59). Em meio a essa trama, Jesus foi vítima das mais absurdas agressões: “os guardas O tomaram a bofetadas” (v. 65), cuspiam-Lhe no rosto, vendaram-Lhe os olhos e O esbofeteavam, interpelando: “Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que Te bateu!” (Mt 26:67,68).

Três vezes Pedro O negou. Impressionante! Pedro, que conhecia a Cristo tão bem, negou conhecê-Lo; as falsas testemunhas que mal O conheciam, afirmaram conhecê-Lo. Por estranho que pareça, a verdade em todo aquele “processo” foi dita por um pagão, o pusilânime Pilatos. “Não acho nEle crime algum” afirmou mais de uma vez (Jo 18:38; 19:4); todavia, por amor à posição (v. 12), condenou-O.

A partir daí, uma série de agressões ainda mais atrozes foi aplicada a Jesus. Ele não havia dormido naquela noite; encontrava-Se em jejum, e começou a perder sangue mesmo antes de chegar à cruz. Os romanos açoitavam um réu condenado e o fizeram com Jesus tão logo terminou a farsa do Seu julgamento. Na verdade, Ele já havia sido açoitado antes, naquela instância em que Pilatos, no empenho de absolver um réu reconhecidamente inocente, propôs açoitá-Lo para então O soltar (Lc 23:16,22; Jo 19:1).

Esse castigo era infligido com o flagrum, um chicote com tiras de couro, crivadas com pedaços de osso ou metal. As pontas afiadas dessas tiras eram chamadas “escorpião” pelo efeito que causavam. Despida até a cintura e atada a um poste baixo, a vítima se postava arqueada para certeiros golpes aplicados com rigor. Esse ato era considerado o prelúdio da crucifixão.

De início, a pele sangrava e logo se retalhava, com a carne lacerando-se. Há informações de pessoas açoitadas a ponto de veias, tendões e até entranhas ficarem expostos! De Cristo, Isaías disse: “Ofereci as costas aos que Me feriam […] não escondi o rosto dos que Me afrontavam e cuspiam” (v. 50:6). Geralmente falamos da transfiguração de Jesus; mas aquele foi o dia da Sua desfiguração.

Agonia do Calvário

Com uma coroa de espinhos pressionada na cabeça, e envolto num manto de púrpura, Jesus foi intimado a carregar a cruz até o local da execução. Não reunia condições físicas para tanto, de forma que os soldados ordenaram a Simão Cirineu que o fizesse (Mt 27:32). Jesus, então, despido, deitou-Se sobre a cruz e foi pregado nela.

De acordo com algumas descobertas arqueológicas mais ou menos recentes, sabe-se que os cravos poderiam ser introduzidos no pulso do condenado, na área chamada espaço de Destot, para impedir que o corpo tombasse. Um cravo aí enterrado atinge o nervo médio que serve a todos os nervos sensoriais da mão e causa a mais intensa dor. Como o evangelho nos informa que Jesus teve as mãos traspassadas (ver lo 20:25, 27), é de supor que Ele foi crucificado nelas e nos pulsos.

Em seguida, dobraram parcialmente os joelhos de Jesus, sobrepuseram Seus pés um ao outro, e os pregaram com um longo cravo sobre um rebordo na parte inferior da haste vertical da cruz. Estando Jesus devidamente fixado nela, levantaram-na e a atiraram para dentro da fenda preparada para firmá-la. “Isso produziu a mais intensa agonia ao Filho de Deus” (Ibid, p. 745).

Além do sofrimento causado pelas feridas e pela incômoda posição, Jesus deve ter suportado violenta dor de cabeça em conseqüência da sobrecarga de sangue nas artérias do estômago e da cabeça. Febre traumática, acompanhada de forte sede (Jo 19:28), contribuiu significativamente para aumentar Sua tortura.

Então, compreendendo que o derradeiro momento se aproximava, Ele bradou: “Está consumado!” (v. 30), em alusão à natureza de Sua morte. Seis pontos exigem atenção:

1. Sua morte foi voluntária, como havia declarado algum tempo antes da cruz (ver Jo 10:18). Aprisionado, deixou claro ao impulsivo Pedro, que tentara livrá-Lo com a espada, que, se desejasse livramento, Deus mesmo agiria: Acaso, pensas que não posso rogar a Meu Pai, e Ele Me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26:53). Normalmente, uma legião reunia um contingente de seis mil soldados; “mais de doze” significa uma multidão de anjos. Doze foi referido por ser o número dos apóstolos – “uma legião em lugar de cada um dos discípulos” (Ibid, p. 696).

2. Sua morte não foi acidental. Ele Se referiu a ela durante Seu ministério, e de como haveria de morrer. Os eventos foram ocorrendo até culminarem com a crucifixão.

3. Sua morte não foi a de um criminoso, embora tivesse sido condenado por um tribunal. As testemunhas arroladas contra Ele não foram coerentes; Pilatos reconheceu Sua inocência, e tentou absolvê-Lo.

4. Sua morte não foi meramente exemplar. Se fosse assim, ela teria valor relativo. A História está repleta de condenações injustas que levaram inocentes a morrer briosamente em meio a sofrimento. Teria sido apenas mais um a morrer assim.

5. Sua morte não foi a de um mártir, embora sob circunstâncias próprias do martírio. Em geral, os mártires enfrentam a morte com galhardia e sentimentos de superação. Não foi assim com Jesus, que disse ter a alma angustiada, e que bradou na cruz: “Meu Deus, Meu Deus, por que Me desamparaste?” (Mt 27:46). Sua morte se reveste de significado maior.

6. Sua morte foi um sacrifício expiatório e vicário. Ele morreu por nossos pecados e em nosso lugar, Jesus deu a vida “como oferta pelo pecado. […] Ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades. […] O Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos. […]” (Is 53:10,5,6). Todos nós estivemos lá naquela sexta-feira; todos nós O crucificamos.

Fomos nós que causamos Sua angústia no jardim. Por nossa causa, Ele suou gotas de sangue e teve o coração quebrantado, razão de Sua morte prematura na cruz. Assim, não foram exatamente os maus tratos, o açoite, a própria crucifixão, que mais fizeram Jesus sofrer, mas principalmente o peso dos nossos pecados. Assumir nossa terrível condenação O levou àquela angústia sem limites. O Calvário é mais que uma história sobre romanos, judeus, julgamentos, acusações e cruzes. Em última análise, é a história daquilo que os nossos pecados causaram a Cristo! A partir do Getsêmani, Ele amargou a conseqüência última da iniqüidade: separação de Deus, implicando agonia mental tão intensa “que Ele mal sentia a dor física” (Ibid, p. 753).

Conclusão

“Está consumado!” Esse brado foi dirigido ao Pai. O sentido era: A obra que Me deste a fazer está feita. Cumprido está o plano da redenção. Teu caráter está vindicado, o pecado do homem expiado, e a salvação do perdido assegurada.”

Foi um brado de vitória que sacudiu todo o Universo. Satanás foi desmascarado e vencido. Sua erradicação é agora apenas uma questão de tempo. Por amor a você e a mim, o Senhor consentiu e aceitou passar por tudo isso. Foram as palavras mais poderosas e mais abarcantes que lábios humanos proferiram. A expiação por um mundo perdido devia ser plena, abundante, completa” (Ibid, p. 566); e foi, pois através daquele brado, os portais do Céu se escancararam para quem quiser entrar. Jesus nos comprou com Seu sangue e a Ele pertencemos.

“Pesa sobre todos a culpa de crucificar o Filho de Deus. A todos é gratuitamente oferecido o perdão” (Ibid, p. 745). Haveria de ter sido inútil para nós essa singular manifestação do amor divino? Não é este o momento para também dizermos “está consumado”? Isto é, “dou por definitivamente consumada minha entrega a Jesus, devolvendo a Ele o que, por direito, já é Seu”? Somente assim ser-Lhe-á efetivada a posse total de nosso ser.

“Filho Meu, dá-Me o teu coração” (Pv 23:26).

Texto de autoria de José Carlos Ramos, professor de Apocalipse, no UNASP, Eng.Coelho – SP. Publicado na Revista Adventista de Março/2008.


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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