Música: do Divino ao Maligno

Entre as perguntas que Deus fez a Jó, registradas nesse livro, que é o mais antigo da Bíblia, está aquela: “Onde estavas tu… quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus?” (Jó 38:7). Com esta pergunta, Deus revelou que houve uma época de perfeita harmonia em todo o universo. Era uma época em que certamente o homem não existia, e por isso Deus perguntava a Jó: “onde estavas tu?”. Mas estava implícito, nesta pergunta, que todos os filhos de Deus, criaturas que já existiam antes do homem, cantavam e rejubilavam, juntamente com as estrelas da alva, que juntas alegremente cantavam.

No livro do Apocalipse, capítulo 1, verso 20, lemos que “as estrelas são os anjos”. Pedro, falando sobre a vinda verdadeira de Cristo, da qual ele foi testemunha ocular, diz àqueles que também obtiveram fé: “até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações” (II Pedro 1:19 e Apocalipse 22:16). Essa estrela, sem dúvida, é Cristo Jesus, a luz do mundo. Mas, por outro lado, Satanás também é chamado de “estrela da manhã,” em Isaías, onde lemos a respeito de sua queda: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva!” (Isaías 14:12); e também no Apocalipse, que fala de uma estrela caída do céu, que tem a chave do poço do abismo (Apocalipse 9:1).

Isto nos leva a imaginar que possivelmente tanto Cristo como Satanás deviam estar presentes, e em perfeita harmonia entre si e Deus, quando as estrelas da alva juntas, alegremente cantavam e rejubilavam todos os filhos de Deus. João confirma a presença de Cristo antes e durante a criação, quando diz: “nada do que foi feito sem ele se fez” (João 1:3), falando do Verbo feito carne. Então Cristo existia antes de tudo, e foi através dele que Deus fez o universo, como lemos em Hebreus 1:2. No livro de Jó lemos que Satanás veio juntamente com os filhos de Deus se apresentar diante dele (Jó 1:6 e 2:1). Mas antes de sua queda havia harmonia, havia música e alegria. Aliás, Satanás era um querubim da guarda, ungido, que permanecia no monte de Deus, um lugar de muito cântico e louvor, que segundo o Velho Testamento, é o lugar da autoridade de Deus. Ele possuía instrumentos especiais de louvor, como tambores e pífaros, como vemos nas melhores traduções de Ezequiel 28:13 e 14 e também uma harpa, como vemos em Isaías 14:11.

Quando Satanás foi expulso do céu, Cristo presenciou a sua queda: “Eu vi a Satanás cair do céu como um relâmpago” (Lucas 10:18) e seus instrumentos musicais foram lançados com ele sobre este mundo (Isaías 14:11). Ele é chamado de “o príncipe deste mundo” nas Escrituras, e é por isso que quando tentava a Cristo dizia: “Tudo isto te darei, se prostrado me adorares” (Mateus 4:9). É isto que Satanás quer ainda hoje. É usurpar o louvor e a adoração que pertencem a Deus, e a Bíblia afirma que a glória é pertencente a Deus e Ele não a dá a outrem (Isaías 42:8 e Isaías 48:11). Foi justamente isto que Satanás dizia quando a maldade entrou em seu coração: “Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus e exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao altíssimo”. (Isaías 14: 13 e 14).

Ainda hoje, Satanás está tentando tirar a glória de Deus. Como ele era perito no louvor, pois fora criado para isso, com acesso imediato e bem perto de Deus, e com instrumentos próprios para glorificá-Lo, é muito compreensível que use os próprios meios de louvor para desvirtuar a glorificação de Deus, para que ele receba a glória semelhantemente ao Altíssimo.

Cristo disse que Satanás foi homicida desde o princípio (João 8:44). É muito interessante de se observar que os ancestrais de Jubal, o pai de todos que tocam harpa e flauta, (Gênesis 4:21) eram criminosos. Ele era filho de Lameque, que havia matado um homem e um rapaz (Gênesis 4:23) e era descendente direto de Caim, o primeiro assassino, que matara seu irmão Abel (Gênesis 4:8).

Satanás é caracterizado na Bíblia também como o pai da mentira. Através do engano ele tem operado desde o princípio e continua a operar em todos os campos. Na música, a sua atuação é muito grande nestes dias, e muitos crentes estão caindo em seus laços e armadilhas (Efésios 6:11), mesmo tendo a melhor das intenções de querer “louvar a Deus”, através dos cânticos.

Embora a Bíblia claramente nos exorte que devemos servir a Deus com reverência (Hebreus 12:28) e que devemos ser sóbrios (I Pedro 1:3), temos visto justamente o oposto acontecer no campo da música. As palavras de Paulo a Timóteo com relação aos acontecimentos dos últimos tempos estão se cumprindo literalmente. Muitos estão “enganando e sendo enganados” (II Timóteo 3:13), e com a intenção de comercializar e vender, um tipo banal e irreverente de música sacra, têm até desvirtuado a música evangélica. Esta irreverência descrita por Paulo (II Timóteo 3:3) provém da conformação ou semelhança musical com o mundo (Romanos 12:2).

Instrumentação, estilos e ritmos mundanos inundam de tal forma a música evangélica, chamada de “música jovem”, que, em geral não se pode mais hoje em dia fazer a distinção entre o que seja música mundana ou música da igreja. A desculpa é que “os jovens gostam desse tipo de música”. Se eles gostam e colocam o prazer em primeiro lugar, a satisfação pessoal que todos podem obter da música, reafirmam exatamente o perigo existente. Na admoestação de Paulo, ele diz que as pessoas, nos últimos tempos, seriam amigas dos prazeres (II Timóteo 3:4). Paulo também diz que um dos característicos dessa irreverência, é que “teria a forma de piedade” (II Timóteo 3:5).

Realmente, quando ouvimos textos piedosos da Bíblia serem cantados com este tipo de música, somos facilmente embalados pela música e, assim enganados, não percebemos o nosso comprometimento com a música e o estilo mundanos. Existe, entretanto o verdadeiro prazer espiritual, que provém de um louvor reverente e que glorifica e dignifica a Deus. Mas este prazer carnal que o abuso do ritmo, da bateria e da orquestração de boate criam, precisa ser identificado prontamente e retirado do meio do corpo de Cristo – a sua Igreja, que deve ser pura, sem mancha, nem ruga, santa e sem defeito (Efésios 5:27).

Aqui vemos também a concretização da parábola de Cristo: “Um lavrador semeou trigo. Veio seu inimigo (Satanás) e no mesmo campo plantou o joio”. Trigo e joio são semelhantes, mas o trigo glorifica ao Senhor e irá para o seu celeiro, ao passo que o joio será lançado no fogo para ser queimado (Mateus 13:24-30). Embora ambos estejam “crescendo juntos”, onde está o nosso discernimento espiritual para separar as cousas de Deus e do mundo? Ainda é contundente a observação do Salmista, falando de Israel, a herança de Deus: “se mesclaram com as nações e lhes aprenderam as obras; deram culto aos seus ídolos os quais lhes converteram em laço; (…) e assim se contaminaram com as suas obras e se prostituíram nos seus feitos” (Salmo 106:35-39).

Não há dúvida de que muitos de nós estamos sendo envolvidos pelos laços do maligno no próprio campo de música e louvor. O entretenimento e o prazer, atualmente, são os fatores determinantes na escolha das músicas! A juventude gosta de curtir o som, os aparelhos e os efeitos de som e de luz. Aquilo que é agradável aos olhos e aos ouvidos, a arte em geral, tem de fato sido usado para o louvor e a glória de Deus – mas sempre como SERVOS – como MEIOS, e jamais com finalidade em si, como hoje parece estar em voga, transformando sorrateiramente a igreja em teatro para entretenimento e diversão!

O elemento Espiritual da Música é, sem dúvida, salientado quando a música é equilibrada no seu ritmo, melodia e harmonia, porque cada um desses elementos musicais, tem um apelo próprio. O ritmo apela aos músculos, a melodia às emoções, e a harmonia ao intelecto. Como um todo equilibrado, a música pode ser um meio pelo qual nos enchemos do Espírito de Deus (Efésios 5:18 e 19). Mas freqüentemente a música é usada também para levar as pessoas a momentos de vileza e pecado, ou até mesmo para invocar espíritos malignos, no candomblé, na macumba e espiritismo. Com a música, ou glorificamos a Deus, ou a Satanás, no trono de Deus.

É exatamente num contexto em que fala da diferença entre os filhos das trevas e os filhos da luz, que Paulo nos recomenda cantar hinos do Espírito (Efésios 5:1-13). Elizeu mandou chamar um músico para tocar o seu instrumento, e ao tocar o músico, o “poder de Deus veio sobre ele” e ele assim profetizou (II Reis 3:15) e falou a palavra do Senhor. Quantas vezes a música pode ser o meio pelo qual o poder de Deus se manifesta! Observemos que a música instrumental, mesmo sem texto ou palavras, como a tocou aquele tangedor em sua harpa, com acordes reverentes, sóbrios e solenes, têm um potencial espiritual muito grande. E esse poder não só faz descer o Espírito do Senhor, como o fez a Elizeu e a Saul quando foi ungido Rei (I Samuel 10:5-9), mas também expulsa os espíritos malignos.

Enquanto Saul era obediente ao Senhor, o Espírito de Deus estava com ele. Quando ele se tornou desobediente, o Espírito do Senhor se retirou dele, e um espírito maligno da parte do Senhor passou a atormentá-lo. Aqui, também a música, tocada por Davi, homem de Deus, e “bom como um anjo”, afugentava aquele espírito maligno e Saul se sentia melhor (I Samuel 16:23). À luz desse fato é mais fácil de se compreender o Salmo 8:2, citado por Cristo em Mateus 21:16 de que “da boca de pequeninos e crianças de peito suscitasse força“. Cristo interpretou para nós esta força, como sendo “o perfeito louvor”, “por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador”. Assim como o louvor faz calar o inimigo, não é de admirar que muitos casos sejam relatados onde muitas pessoas opressas ou possessas são literalmente libertas através do cântico de glorificação a Deus!

É desta maneira que os santos são descritos no Salmo 149:6, como tendo “nos lábios os altos louvores e nas suas mãos a espada de dois gumes” – a Palavra do Senhor, para esta luta espiritual na qual todos os filhos de Deus estão engajados (Efésios 6:12). Esta mesma relação de louvores e a Palavra existe na exortação de Paulo: “Habite ricamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão em vossos corações” (Colossenses 3:16). Nos versículos seguintes Paulo ressalta que isto deve ser feito em nome do Senhor, de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens (versos 17 e 23).

Não é bem diferente a nossa atitude hoje em dia quando dizemos que estamos “louvando a Deus”? Não procuramos acima de tudo, muitas vezes, agradar aos homens, para receber deles os aplausos para a nossa própria glória e envaidecimento? Quando agradamos a homens, não estaremos destronando Deus e entronizando a Satanás? Paulo dizia que se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo (Gálatas 1:10).

Na passagem de Ezequiel 28:16, vemos um trecho que fala a respeito da “multiplicação do comércio” de Satanás. Esse comércio de Satanás tem sido interpretado como a sua revolta que levou cerca de um terço dos outros anjos a se rebelarem contra Deus (Apocalipse 12:4 e 9). Outros ligam este fato ao “cirandar” e ao “passear pela terra” várias vezes relacionados com Satanás. Mas hoje em dia, uma outra coisa nos chama muito a atenção. É de que o maior comércio existente em todo o mundo está relacionado com a produção de discos, cassetes e aparelhos de som, para a divulgação de música altamente excitante e diabólica. Basta olhar nas capas dos discos para se perceber que é obviamente arte do maligno. Autoridades seculares estão alarmadas com o problema das discotecas, que estão destruindo os nossos jovens de hoje.

A Bíblia nos ensina que Satanás quer destruir o corpo e a alma. Quantos jovens se entregam às drogas, ao crime, ao roubo, através das músicas psicodélicas de hoje em dia? O nível tolerável de audição é de 90 decibéis. As discotecas, em geral, atingem 120 e até 150 decibéis, arruinando permanentemente os ouvidos dos jovens. Essa música barulhenta “hoje toma conta do carro, do apartamento, do metrô – torna-se mais perigosa que a cocaína, porque dopa todo mundo e tem o inconveniente de ser produzida e vendida livremente, sem se pedir licença[“.

O som de hoje “faz como qualquer processo de intoxicação: a reiteração barulhenta exclui a convivência. O ‘som’ não permite o raciocínio, a conversa, a discussão. Embriaga, literalmente, fazendo o tempo parar durante horas. Apenas um ritmo imperativo e despótico, sempre igual, domina nosso tempo. Como um doente mental grave ou como intoxicado, passamos a viver um tempo que não existe, cheio de som e fúria, significando nada“. Além de prejudicar os ouvidos e dopar as pessoas, as luzes pisca-pisca das discotecas desencadeiam convulsões nos jovens de tendências epilépticas, o que tem alarmado as autoridades médicas, levando alguns Estados do Brasil, como o Rio Grande do Sul, a tomar medidas sérias para controlar o abuso.

O que não dizer de grupos que divulgam discos deste tipo sobre cujas matrizes os sacerdotes de Satanás já impuseram as mãos para amaldiçoá-los, para cativar assim os jovens? Um desses grupos é o chamado KISS cuja própria sigla incorpora abertamente que é um serviço satânico internacional. Os próprios Beatles já usavam correntinhas no pescoço, com símbolos de Satanás e agora estamos deixando que ritmos de “rock”, usados por eles, por Elvis Presley (de vida mundana e comprometidos com droga, com Satanás e com o mundo) sejam a nossa linguagem musical na igreja!…

Satanás deve estar dando umas boas gargalhadas com a nossa inocência. Com isto estamos desobedecendo à palavra de Deus, que nos exorta: “Não deis lugar ao diabo” (Efésios 4:27). Pior que isto, podemos estar “obedecendo a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (I Timóteo 4:1). Pedro era um discípulo de Cristo, no entanto pensava que fazia um bem para Jesus quando disse: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá”, quando Jesus dizia que seria morto. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: “Arreda! Satanás; tu és para mim pedra de tropeço” (Mateus 16: 22 e 23). Ele era um discípulo, mas estava seguindo o ensino do demônio.

É bem possível que muitos de nós pensemos estar fazendo um bem para Cristo e para Sua Igreja, quando usamos um tipo de música comprometedora ou quando queremos abandonar a música nitidamente religiosa, simplesmente por ser “tradicional” ou “ultrapassada”. Não estaremos nós na realidade sendo verdadeiras pedras de tropeço para o evangelho e não estaremos nós sendo enganados e contribuindo para o entronamento do “príncipe das trevas”?


Notas:

Artigo de O. C. Louzada Filho, publicado no “Jornal da Semana”, de 20 de maio de 1979, p. 16.

Idem, idem, p. 20.

[Igreja Batista Boas Novas – de 25 de fevereiro de 1979 – nº. 9, p. 2.

Autor: João Wilson Faustini


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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