Música: Uma Questão de Gosto?

A Igreja não pode descer; o gosto é que precisa ser elevado e educado.

Desde que a Reforma estabeleceu os tipos básicos de Música Sacra que herdamos, o mundo assistiu à passagem do Classicismo, do Romantismo e do Modernismo musicais em comboios sucessivos; cada qual carregado de gênios musicais guiados por Bach, Beethoven e Debussy, respectivamente.

No período do Classicismo floresceu um tipo de música vigoroso com base numa harmonia natural e lógica. As várias formas musicais, obedientes a leis naturais, afetavam em cheio o cérebro das pessoas; era música racional, embora fizesse também vibrar as cordas do sentimento.

Passada esta época, parece que o coração das pessoas subiu para a cabeça. A música [no Romantismo[2]], embora ainda seguisse leis de harmonia e forma, apresentou-se dando maior importância à melodia e expressava basicamente mais o que pedia o coração, música rica em sua parte sentimental.

No fim do Período Romântico, novas características assumiram papel preponderante. As leis da harmonização natural, lógica e tradicional foram abolidas, e a música passou a manifestar uma atmosfera sonora dissonante; os ritmos se alteraram, se agitaram, livres e extravagantes, refletindo já muito da agitação artificial da vida moderna, com suas tendências livres e permissivas.

A música de cada época afeta de maneira diversa o estado da mente, e provoca uma atmosfera mental característica. A música Clássica favorece e estimula as manifestações intelectuais; a do Romantismo, os sentimentos e emoções; e, finalmente, o Modernismo, pelas dissonâncias e pelos ritmos, provoca reações de tensão ou apatia mental e movimentos físicos.

Nossa religião é mais racional e espiritual do que sentimental e emotiva, e não deve ser tensa, artificial e agitada como a vida moderna. Concluímos que a Música Sacra, que deve ter “beleza, emoção e poder[3]“, atinge melhor seus objetivos se tender para a atmosfera mental que provoca a música do período Clássico e do Romântico, e que o modernismo musical favorece um clima de tensão, angústia, suspense, agitação e desequilíbrio que é estranho à religião e ao culto, porque “Deus não Se agrada de algaravia e desarmonia. O certo é-Lhe sempre mais aprazível que o errado. E quanto mais perto puder chegar o povo de Deus do canto correto, harmonioso, tanto mais será Ele glorificado, a igreja beneficiada e os incrédulos impressionados favoravelmente[4]“.

É verdade que a vida humana tem sofrido grandes e rápidas transformações em coisas não essenciais neste final de século. A tendência tem sido para inovações tão surpreendentes que uma geração não entende nem a anterior, nem a seguinte. Por isso parece que está sendo difícil para um jovem hoje compreender que alguém que era jovem há vinte anos atrás não consegue adorar a Deus quando em presença de “música evangélica contemporânea”, que seja caracterizada por um ritmo popular, o qual naquele tempo era “swing”, ou “fox-trot”, por ele considerado como satânico para as danças sensuais da época.

Alguém que olhe para as tendências da “música jovem” numa perspectiva histórico-profética, conclui que a mistura do bem com o mal, tanto como foi com Adão e Eva, está tornando a mente “confusa, e entorpecidas suas faculdades mentais e espirituais[5]” a ponto de não se perceber que as palavras religiosas ao serem cantadas não trarão benefícios espirituais se vierem associadas com música popular. O que os protestantes e pentecostais estão produzindo e praticando em suas reuniões não nos serve de modelo. Satanás reivindica a música evangélica contemporânea (ver Revista Adventista de 08/84 – Editorial).

Pessoas amadurecidas têm-se indagado se a idéia de jovem adventista precisa estar associada com chiclete, jeans, coca-cola, gíria, patotas, atitudes kisses e olhares menudos, guitarras e rock (sem drogas, naturalmente); ou se a Igreja precisa ter música religiosa popular; ou se tudo não é apenas sintomático.

Entende-se que alguém mudaria de canal, se na TV percebesse se tratar de programa religioso, e que um “show” de música popular evangélica contemporânea o prendesse até, quem sabe, ouvir uma oração e se decidir a estudar a Bíblia; mas que o mesmo “show” esteja em lugar certo dentro da igreja é que não entra na cabeça inteligente, e muito menos que este tipo de música modele o gosto dos jovens da Igreja. O saldo é desfavorável, uma vez que se possa ganhar um de fora, mas pôr em risco a mil de dentro pelo gosto desenvolvido.

Muitos têm achado que poderíamos, como Igreja, fazer “aberturas moderadas” para a música religiosa popular na igreja; todavia os holandeses e argentinos sabem o que seria uma pequena fenda num dique ou em Itaipu. A Igreja está certa em manter a música popular religiosa fora da igreja, e a música popular profana longe da vida de seus membros. O próprio Manual da Igreja o determina: “A música profana ou a que seja de natureza duvidosa ou questionável, nunca deve ser introduzida em nossos cultos[6]“.

Voltando ao início desta série de artigos, quem não se arrepia e se comove com a idéia de que a maioria da juventude nesta época vai perder a vida eterna? Que bem melhor poderíamos fazer para nossos queridos jovens da Igreja senão o de esclarecer, e animá-los a se afastarem da música que a nada conduz, mesmo que isto implicasse em quebrar no joelho uma série de discos, queimar fitas e partituras? Animá-los a, em seus cânticos, não apresentarem diante do mundo atestados de pobreza cultural e espiritual?

A Igreja não pode descer; o gosto é que precisa ser elevado e educado. Isto é dever e necessidade da Igreja para que possa aqui antecipar a música celeste, pois “os que no Céu se unem ao coro angelical em seus cânticos de louvor, devem aprender na Terra o cântico do Céu, a nota tônica que é a ação de graças[7]“.

Triste a classe de quem se diz: “As vozes dos anjos e a música de suas harpas não lhes agradariam. Para sua mente a ciência do Céu seria um enigma[8]“.

“Ao guiar-nos nosso Redentor ao limiar do Infinito, resplandecente com a glória de Deus, podemos aprender o assunto dos louvores e ações de graças do coro celestial em redor do trono; e despertando-se o eco do cântico dos anjos em nossos lares terrestres, os corações serão levados para mais perto dos cantores celestiais. A comunhão do Céu começa na Terra. Aqui aprendemos a nota tônica de seu louvor[9]“.


Notas:

[1] Agradecemos à Loide Simon por esta contribuição ao Música Sacra e Adoração.

[2] Todas as expressões entre [colchetes] são de autoria dos editores do Música Sacra e Adoração.

[3] Ellen G. White. Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 457.

[4] Idem, ibidem, p. 45.

[5] Idem. Educação, p. 25.

[6] Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, p. 114.

[7] Ellen G. White. Testimonies for the Church, vol. 7, p. 244.

[8] Idem, Parábolas de Jesus, p. 364.

[9] Idem, Educação, pp. 167-8.


Fonte: Revista Adventista. Novembro, 1985, pp. 44-5.

Autor: Dario Pires de Araújo


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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