Você está andando à noite por uma rua escura e desconhecida, quando, de repente, ouve os gritos abafados de uma mulher. Eles estão vindo de um beco ainda mais escuro. Nervoso, você se aproxima e olha na direção dos sons. Duas figuras parecem estar lutando nas sombras. O que você deve fazer? Chamar a atenção do agressor? Talvez você se coloque em perigo. Ligar para a polícia? Mas talvez seja apenas uma briga de namorados. Você não tem certeza, então para que se envolver?
Trinta e oito pessoas não quiseram se envolver em uma terrível noite na cidade de Nova Iorque, em 1964. Uma jovem chamada Kitty Genovese foi esfaqueada várias vezes por um agressor e depois abandonada. Arrastando-se pela calçada, passando por vários prédios, ela gritou socorro. Algumas luzes se acenderam, algumas cortinas se entreabriram, mas ninguém saiu de casa para ajudá-la. Logo o agressor voltou e começou a esfaquear Kutty de novo. A moça gritava em agonia enquanto 38 pessoas ouviam e recusavam a intervir.
Finalmente, Kitty Genovese sangrou até a morte numa calçada de rua, sozinha. Seus gritos não provocaram resposta. As notícias desse ocorrido chocaram toda a nação. Não sabíamos como tínhamos nos tornado tão isolados uns dos outros.
Desde então, numerosos estudos tentaram determinar por que tantas pessoas permanecem passivas na cena de um crime enquanto outras fazem alguma coisa para ajudar.
Algumas pessoas intervêm. Pessoas como John Ayer. Em setembro de 1983, John, um mecânico de 34 anos, passava de carro por um bairro violento em South Dada County, na Flórida, quando viu um grupo de uns 20 homens cercando um veículo parado que tinha acabado de colidir com outro carro. John diminuiu a velocidade e notou que os homens estavam se esgueirando pela janela para assaltar uma moça assustada que estava dentro do carro. Um já havia arrancado a pulseira dela. Os homens insistiram para que John fosse embora gritando para ele:
– Ela está bem!
Mas ele queria ver por si mesmo. Parou, desceu de seu furgão e andou pelo meio deles até o carro parado. John forçou a porta amassada e disse à mulher, Ângela Vivier, calma e firmemente:
– Você vem comigo. Você vai ficar bem.
Ela desceu lentamente do carro, John passou o braço pelo ombro dela e começou a escoltá-la até o seu furgão, mas os homens foram atrás. Atingiram Ângela na cabeça, roubaram sua bolsa, e ela curvou-se apavorada. Alguém acertou John violentamente no queixo e ele também caiu, mas levantou-se imediatamente.
Nesse momento, quando os dois estavam sendo atacados, um motorista que passava tocou a buzina fazendo com que os agressores recuassem por um instante, dando a John e Ângela a chance de correrem para o furgão e fugirem dali.
Mais tarde, quando John estava se recuperando de seus ferimentos no hospital, Ângela, profundamente grata, trouxe-lhe flores. O Presidente Reagan enviou-lhe um telegrama de louvor e a Comissão dos Cidadãos Contra o Crime da Grande Miami concedeu-lhe um prêmio. Muitas pessoas que ele não conhecia ofereceram-se para ajudá-lo de alguma forma. Um admirador disse: “Todos nós gostaríamos de fazer o que ele fez, mas quantos de nós teríamos feito?”
Quantos de nós nos envolveríamos? Quantos de nós venceríamos nosso medo e isolamento?
O isolamento é um problema enorme no nosso mundo. Cada vez menos pessoas parecem capazes de estender a mão para as outras. Além de nossas janelas com grades e portas trancadas, a maioria de nós mal conhece seus vizinhos.
O círculo de nossa vida se tornou menor. Você já notou? Nossa capacidade de agir além de nossos estritos interesses enfraqueceu.
Eu gostaria de lhe falar sobre um homem que rompeu esse tipo de isolamento mais dramaticamente que qualquer outro. Ele estendeu a mão quando todas as outras estavam se fechando. Gostaria de levá-los à cena de um dos crimes mais abomináveis da História e à vítima desse crime.
Aquele homem estendeu a mão aos seus vizinhos necessitados, o fez mesmo quando estava sendo brutalmente assassinado. A provação desse homem começou num jardim, no Jardim do Gestsêmani. Jesus Cristo havia levado três de seus discípulos mais próximos lá uma noite, para um momento de oração. Ele precisava de forças para enfrentarm o que estava para Lhe acontecer dali a poucas horas.
Veja, diferente da maioria das vítimas, Jesus sabia exatamente que tipo de crime seria cometido contra Ele. Ele viu claramente o espectro da crucificação. Viu a morte lente e agonizante na cruz, os membros pregados, o corpo estirado até quase se quebrar, o peito contorcido em busca de ar. Jesus sabia que enfrentaria tortura. Mas muito mais horripilante que essa dor física era a possibilidade de Seu Pai lhe virar as costas, de esquecê-Lo, expressando Sua ira contra o pecado que Jesus optou por redimir. Isso, mais que qualquer outra coisa enchia Cristo de aflição. Então Ele cambaleou, já sentindo o terrível fardo do pecado pesando sobre Si.
Jesus virou-se instintivamente para Pedro, Tiago e João e disse a esses homens o que está registrado em Mateus 26:38: “… a minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo.”
Imagine que situação trágica! Depois, afastando-se um pouco no meio das oliveiras, Jesus caiu no chão. Começou a orar desesperadamente. O horror do pecado era incontrolável. Ele se sentiu completamente isolado no meio da tempestade. Se ao menos Ele soubesse que seus amigos queridos entendiam e agradeciam o sacrifício que Ele estava por fazer… Ele ansiava por saber que eles estavam orando com Ele.
Então voltou aonde eles estavam no jardim e viu, por incrível que pareça, que eles estavam num sono profundo. Tiago e João… os homens que tinham abertamente declarado: “Sim, somos capazes de beber do cálice contigo”, simplesmente caíram no sono. E Pedro, aquele que prometeu: “Nunca vou abandoná-lo. Vou contigo até a prisão e a morte”, estava dormindo, talvez até roncando.
Agora pense um minuto no que Jesus poderia ter dito a esses três homens, quando os acrodou. Podia ter dito: “Durante esses três anos, eu joguei minha vida inteira em vocês. Abdiquei tudo por vocês, mas na única hora em que eu precisei de vocês, vocês me abandonaram.” Mas Jesus não disse isso. Ao contrário, a fraqueza dos discípulos provocou a preocupação e a simpatia de Cristo. Abaixando-se perto do sonolento Pedro, Ele disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação.” (Mateus 26:41)
Depois disse: “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”
Eu acho que essas são algumas das palavras mais incríveis jamais ditas.
A atenção de todo o Universo estava voltada ao que Cristo estava fazendo naquele momento. Esse é o epicentro da História, Cristo deve tomar a decisão mais importante que determina o destino humano. No entanto, vemos Sua atenção desviada para aqueles que Ele ama. No meio de Sua provação, Jesus estende a mão a Seus frágeis companheiros, preocupado se eles conseguiriam suportar o julgamento que viria.
Pouco depois, Jesus suportou o escárnio de um julgamento diante de Pilatos e do Sinédrio. Aí, soldados romanos cortaram as costas de Cristo com um chicote, afundaram uma coroa de espinhos em Sua cabeça e riram cruelmente dele. O crime havia começado de verdade. Havia testemunhas, muitas delas passivas. Elas encheram as estreitas ruas de Jerusalém e olharam para Jesus, enquanto Ele levava uma pesada cruz de madeira nas costas ensangüentadas e era ferido por lanças romanas.
Algumas mulheres choraram e ao ver isso, Jesus as ouviu. Em Sua própria dor intensa, Ele ouviu os sons do pranto. Então virou-se para essas observadoras e disse: “… filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos filhos.” Lucas 23:28.
Veja, os pensamentos do Salvador se voltaram para a destruição de Jerusalém e para o que essas mulheres e suas famílias teriam que suportar durante esse tempo. Ele ainda estendia Sua mão, rompendo aquele isolamento.
Finalmente, Cristo chegou à principal cena do crime: o Gólgota, lugar chamado caveira. Ali, Seus membros foram amarrados e pregados na cruz. As mãos que haviam curado e abençoado tantos não mais podiam se mover. A força que Ele usava para dar vida a tantos estava rapidamente se esgotando. Mas nada podia impedi-Lo de estender a mão, nada podia impedi-lo de perdoar. Os surpresos soldados romanos envolvidos em seu trabalho desprezível, ouviram essas palavras saindo dos lábios da vítima: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Lucas 23:34.
Uma multidão olhava à distância enquanto Jesus era colocado entre dois ladrões. Ela viu quando o sol se pôs diante dele enquanto sangue corria de seus ferimentos. Alguns observadores até riram dele. Mas a vítima, em meio a esse terrível crime, continuava estendendo a mão.
Um dos ladrões que morriam com Ele pediu que fosse lembrado no reino que viria. Jesus fez uma promessa brilhante na escuridão que O envolvia. Ele disse: “… estarás comigo no paraíso.” Lucas 23:43.
Aí Jesus olhou para baixo e viu sua mãe chorando descontroladamente. Imagine como ela se sentiu. Como ela se recuperaria da provação de ver seu filho assassinado? Quem cuidaria dela no futuro, depois que Ele se fosse? Jesus viu João, o discípulo mais afetuoso e receptivo a seus ensinamentos. Ele era a resposta. Quem melhor poderia confortar Maria com suas lembranças do que um discípulo amado? E João também poderia se beneficiar cuidando de Maria. Ele também gostaria muito de suas recordações carinhosas, então Jesus lutou para ganhar fôlego e disse meio rouco: “Mulher, eis teu filho”. Olhando para João, Ele disse: “Eis tua mãe”. Fato consumado. Os dois ficaram unidos um ao outro.
Jesus, no entanto, não ficaria isolado. Em meio a esse crime horrendo Ele estendeu a mão até o fim. Em nosso mundo repleto de atos violentos, Jesus sobressai como uma vítima extraordinariamente poderosa. Ele mudou vidas enquanto sofria o pior que os homens podiam Lhe causar, e Jesus sobressai como aquele que quer romper o isolamento, o nosso isolamento.
Veja, nós também temos que estender a mão. Temos que fazer algo quanto à vítima presa naquela cruz. Estamos todos lá, na cena do crime, quer percebamos ou não. Nós todos somos parte desse drama. Porque é pela nossa indiferença que Jesus está morrendo. Foi o nosso isolamento, nosso egoísmo que tornou tal sacrifício necessário. Nós fracassamos, nós fomos indiferentes incontáveis vezes, ao invés de estendermos a mão para ajudar os outros. E a nossa culpa é o que está esmagando a vida dessa vítima no Gólgota. Então, o que vamos fazer? Como vamos responder? Vamos premanecer passivos ou intervir ativamente?
Creio que podemos aprender algo sobre nossas respostas vendo novamente como as pessoas responderam a outros crimes.
Sabia que psicólogos e pesquisadores tentando compreender a diferença entre um bom samaritano como John Ayer e os vizinhos indiferentes de Kitty Genovese descobriram algumas respostas interessantes?
Depois de 20 anos de estudos, eles finalmente salientaram causas-chaves para o que chamam de “o efeito passivo”, ou seja, a tendência das pessoas no local de um crime permanecerem passivas e não intervirem.
Primeiro, é bem menos provável que uma pessoa ajude se há outros observadores presentes. As testemunhas tendem a difundir a responsabilidade. Elas pensam: “Bem, só uma pessoa precisa chamar a polícia, então outra pessoa vai chamar”.
As pessoas também tendem a olhar para os demais para determinar o que está acontencendo. Elas julgam a gravidade da situação pelo comportamento dos outros observadores. Se ninguém está ajudando, as pessoas pensam que talvez essa pessoa realmente não precise ou não queira ajuda. Temos um problema semelhante em relação ao que a vítima fez na cruz. Há tantos outros observadores por perto, tantas pessoas olham para a cruz e simplesmente vão embora, tantas permanecem impassíveis. Dá para imaginar?
É fácil para nós cairmos na mesma indiferença quando as outras pessoas não se envolvem.
Veja, a cruz é um crime terrível, de arrebatar o coração, O inocente cruelmente maltratado pelos culpados. E é o nosso próprio pecado, nosso próprio egoísmo que expôs Cristo a tal punição. No entanto, quando olhamos o crime e a multidão reunida em volta da cruz, quando vemos as pessoas olhando para ela à distância, é possível esquecer tudo a respeito. Talvez não seja nada tão grave afinal. Reconhecemos vagamente que aconteceu alguma coisa no Gólgota, mas será que temos realmente que intervir? Será que temos que nos envolver? Temos realmente que arriscar nossa vida? Se as outras pessoas não estão se arriscando, por que nós devemos?
Os pesquisadores estudando esse “efeito passivo” levantaram um outro fator que determina de forma clara o quão ativamente as pessoas vão intervir quando um crime é cometido. Esse fator é se as testemunhas se identificam ou não de perto com a vítima.
Por exemplo, quando três homens roubaram um motorista de táxi na cidade de Nova Iorque, o ocorrido logo se espalhou pelo rádio para outros taxistas da área. Conseqüentemente, acredite ou não, 29 motoristas de táxi acabaram caçando os suspeitos por dois bairros da cidade e finalmente pegaram os homens e os entregaram à polícia. Os motoristas de táxi sentiam que a vítima era “um de nós”, e que eles tinham que permanecer juntos.
Amigo, como olhamos para a vítima, Cristo, presa na cruz? Ele é realmente “um de nós”? Ou Ele é apenas uma figura que saiu da História? Algum símbolo religioso distante? Mas o fato é que Ele é uma vítima que se identificou totalmente conosco, os passivos. E finalmente, assumiu toda a extensão de nosso pecado. Ele se tornou um de nós e o fez enquanto Seus amigos e companheiros ficavam ociosos na cena do crime.
Nós já estávamos envolvidos, amigo, todos estávamos lá; na cena do crime. O sangue de Cristo respingou em nossas mãos. Nossos pecados estavam esmagando Sua vida. E esse Cristo abençoado estende a mão para nós, observadores passivos. Ele nos suplica, como suplicou a Pedro, Tiago e João para vigiarem e orarem, porque não podemos ficar sozinhos. Nossa carne é fraca.
Sim, Cristo continua estendendo a mão para nós suplicando o perdão do Pai enquanto as lanças O perfuram. Nós não sabemos o que fazemos, diz Ele tentando justificar o fato de termos ficado aí indiferentes por tanto tempo.
Ele nos oferece o perdão, um escape de nossa própria culpa esmagadora. E Ele também nos oferece um lugar com Ele no paraíso, assim como fez com o ladrão na cruz. Nós podemos estar com Ele para sempre. Tudo isso Ele oferece na cena do crime. Em Sua própria agonia Ele estende a mão para nós, os passivos. O que vamos fazer? Como vamos responder à mais nobre das vítimas? Vale a pena arriscar a vida por Ele.