O alto clamor

O derramamento final do Espírito Santo sobre o remanescente de Deus – experiência representada pela chuva serôdia – dará à proclamação da terceira mensagem angélica um poder que iluminará a terra com a revelação da glória de Cristo.

Ela anuncia as boas novas do evangelho eterno em contraste com as falsas reivindicações de Babilônia, simbolizadas por seu vinho intoxicante (Apocalipse 14:8), e coloca a verdade do Salvador ao alcance de todos os que desejam ser libertados da servidão a Satanás.

Ao contrário do mistério da iniquidade, que aliena e escraviza, o mistério de Deus revelado na pessoa de Seu Filho permite que sejamos repletos de Sua justiça e, portanto, participantes da natureza divina (Colossenses 1:27-29; II Pedro 1:3-4).

O chamado de Deus para sair de Babilônia

O alto clamor consiste no último apelo e advertência da graça, o derradeiro chamado de Deus a um mundo que tem sido embriagado pelo vinho sedutor de Babilônia. Ele desafia o povo de Deus espalhado entre as muitas corporações religiosas a romper com o falso sistema de adoração e unir-se ao remanescente fiel que guarda os mandamentos de Deus e a fé em Jesus (Apocalipse 14:12).

A ira de Deus não terá lugar antes que seja proclamada essa advertência final. Ellen G. White escreve:

O Senhor do Céu não enviará Seus juízos destinados a punir a desobediência e transgressão, até que sejam proclamadas Suas advertências. Não encerrará o tempo da graça até que a mensagem seja mais distintamente proclamada. A lei divina deve ser engrandecida; seus reclamos, expostos em seu caráter legítimo e sagrado, para que o povo seja induzido a decidir-se pró ou contra a verdade. Contudo, a obra será abreviada em justiça. A mensagem da justiça de Cristo há de soar desde uma até a outra extremidade da Terra, a fim de preparar o caminho ao Senhor. Esta é a glória de Deus com que será encerrada a mensagem do terceiro anjo. (1)

 

A mais solene obra

O último apelo do Céu é representado pela obra de um quarto anjo (Apocalipse 18:1) que se une ao terceiro anjo (14:9-11) na proclamação final do evangelho eterno, em cumprimento à profecia de nosso Redentor (Mateus 24:14). A ênfase de sua mensagem e o poder que a acompanha tomam a forma de um alto clamor de proporções mundiais que ilumina a terra com a gloriosa luz do evangelho e prepara o povo de Deus para estar em pé durante a última grande prova (Apocalipse 3:10; 16:13-14). A Palavra de Deus diz:

Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória. Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável, pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria. Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou. (Apocalipse 18:1-5)

Note como essa solene mensagem é estruturada com base na perspectiva da tríplice mensagem angélica. O quarto anjo, comissionado pelo Céu, ilumina o mundo com a mensagem do primeiro anjo (Apocalipse 14:6-7), repete e desenvolve o anúncio do segundo (verso 8), e apela ao povo de Deus com base na advertência do terceiro (versos 9 a 11). Isso demonstra como os capítulos 14 e 18 de Apocalipse estão intimamente relacionados.

Esse anjo, que representa os mensageiros de Deus nos últimos dias, possui “grande autoridade” ou “grande poder” em função da natureza e do alcance de sua obra, e sua “potente voz” deve alcançar a todas as pessoas, em todos os lugares. Ao encarregar Seus discípulos com a Grande Comissão, nosso Redentor declarou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28:18). É com base na autoridade e poder de Cristo que a igreja deve cumprir sua missão, e ela o faz mediante o recebimento do Espírito Santo, prometido pelo Salvador aos que Lhe obedecem (Atos 1:8; 5:32).

Assim, os enviados de Cristo, cheios do Espírito de Deus, devem iluminar a terra com a glória da mensagem que receberam dEle. Essa qualidade – a de portadores de luz – é um cumprimento escatológico de Isaías 60:1 e 2:

Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor nasce sobre ti. Porque eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti aparece resplendente o Senhor, e a sua glória se vê sobre ti.

Ellen White observa que “o alto clamor do terceiro anjo já começou na revelação da justiça de Cristo, o Redentor que perdoa os pecados. Este é o princípio da luz do anjo cuja glória há de encher a Terra”. (2) Durante sua hora mais escura, o mundo receberá um testemunho poderoso da verdade como nunca antes, e todos então poderão fazer conscientemente sua escolha entre servir a Deus ou servir à Babilônia.

O veredito de Deus sobre Babilônia

A urgência da mensagem do anjo de Apocalipse 18:1 é justificada pela solene decisão do tribunal celestial pronunciada sobre Babilônia mística. O anúncio da queda desse poder é uma repetição de Apocalipse 14:8, e reflete, dentro de uma relação entre tipo e antítipo, a sentença proferida pelo profeta Isaías contra a antiga Babilônia (21:9).

A condição espiritual e moral da Babilônia do tempo do fim é descrita por meio de uma linguagem altamente simbólica, porém inconfundível: este poder se tornou “morada de demônios” e “covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável” (Apocalipse 18:2).

A expressão “morada de demônios”, extraída de Isaías 34:14, indica que Babilônia se encontra totalmente possuída e influenciada por espíritos malignos. O fato de que muitas igrejas nominalmente cristãs estejam hoje sendo influenciadas pelo espiritismo e pelo movimento da Nova Era constitui um cumprimento progressivo do que se descreve aqui. Muitos dos professos seguidores de Jesus estão transformando suas igrejas em um “covil de toda espécie de espírito imundo” ao adotarem filosofias e práticas que Deus expressamente condena. O uso que João faz da palavra “imundo” nos lembra de que nada desse tipo entrará no reino do Céu (Apocalipse 21:27).

Babilônia também é culpada diante de Deus por estender sua influência corruptora a outros na esfera civil: as “nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição”, “os reis da terra” se prostituíram com ela e os “mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria” (Apocalipse 18:3). Com efeito, Babilônia eclesiástica não é responsabilizada somente pelos seus próprios pecados, mas também por ter levado outros a pecar, embora cada um seja responsável perante Deus por sua conduta.

“Retirai-vos dela, povo meu”

Conquanto a ênfase inicial em Apocalipse 18 pareça ser a corrupção e a ruína de Babilônia, o tema essencial é, na verdade, o chamado de Deus para sair do meio dela. O apelo divino aos seguidores de Jesus no tempo do fim é uma renovação do chamado de Deus para que Israel saísse da antiga Babilônia em Jeremias 51:6 e 9, como se torna evidente na seguinte comparação:

Essa correspondência entre o antigo chamado de Deus e o atual é bastante significativa. O chamado imperativo “retirai-vos dela” revela a preocupação que Deus sempre teve no sentido de preservar Sua igreja da influência contaminante de uma sociedade corrompida pela mentira e despertar em Seu povo a urgente necessidade de separar-se do falso modelo de adoração. Como no passado, é absolutamente necessário que o povo de Deus se separe de Babilônia hoje, pois sua condição espiritual e moral tornou-se irreversível aos olhos de Deus.

Quais são os pecados de Babilônia?

É possível encontrar uma relação de seus crimes nos capítulos 14 a 18 de Apocalipse, os quais constituem o libelo do Céu contra este poder apóstata. Babilônia é acusada de:

  1. Dar de beber a todas as nações do vinho de sua prostituição (Apocalipse 14:8).
  2. Manter relações adúlteras com os reis da terra, embriagando seus habitantes com o vinho de sua devassidão (17:2; 18:3).
  3. Glorificar-se com arrogância em sua riqueza, ostentação e autossuficiência (18:7).
  4. Seduzir as nações por meio de sua feitiçaria (18:23).
  5. Perseguir os profetas e os santos (18:24).

Esses pecados vão se acumulando contra Babilônia até chegarem ao Céu, ou seja, até atingirem o limite da graça e da paciência divina, exigindo a devida retribuição. O Comentário Bíblico Adventista (3) assinala que pode haver aqui uma alusão à torre de Babel (Gênesis 11:4).

Deus, então, “se lembrou” dos atos iníquos praticados por Babilônia (Apocalipse 18:5), um termo que expressa a iminente retribuição do Senhor, a qual efetivamente começa com o veredito do Céu e a derradeira mensagem de exortação para sair de Babilônia e atinge seu clímax durante a sétima praga (Apocalipse 16:19). A reação divina não é um ato meramente vingativo no sentido humano da palavra, mas se refere à justiça de Deus, que vindica a legitimidade de Seu governo (Apocalipse 11:15), revoga as sentenças de Babilônia contra os santos (18:6, 20) e pune os poderes que alienaram o mundo e perseguiram o povo de Deus (19:1-2).

A propósito do alto clamor e da exposição dos crimes de Babilônia, Ellen White escreve:

Os pecados de Babilônia serão patenteados. Os terríveis resultados da imposição das observâncias da igreja pela autoridade civil, as incursões do espiritismo, os furtivos, mas rápidos progressos do poder papal – tudo será desmascarado. Por meio destes solenes avisos o povo será comovido. Milhares de milhares que nunca ouviram palavras como essas, escutá-las-ão. (4)

 

Somente dois grupos

Como o livro dos contrastes por excelência, o Apocalipse revela que há somente dois ajuntamentos possíveis nos últimos dias: a união do povo de Deus na perseverança, obediência aos mandamentos de Deus e fé em Jesus, e a união do mundo em torno de Babilônia e suas falsas reivindicações.

Cada um desses grupos tão diferentes possui discursos igualmente distintos. A mensagem do povo de Deus é: “Retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor” (II Coríntios 6:17-18; Apocalipse 18:4); A mensagem das corporações religiosas e políticas que constituem Babilônia é: “Vamos nos unir”, “Vamos reafirmar nossas semelhanças e entender nossas diferenças”, “Vamos derrubar muros e construir pontes”, “Há mais coisas que nos unem, do que as que nos separam” (Apocalipse 16:13-14; 17:13).

O evangelho eterno desafia a cada um de nós a rejeitar o discurso consensual globalista de Babilônia e seu modelo espúrio de adoração fundamentado nas filosofias e tradições humanas. Tal rejeição e rompimento requerem humildade, coragem e determinação em face da ditadura da maioria. Ninguém, contudo, precisa desanimar. Por meio do evangelho da graça, nosso Salvador tomou amplas providências para que nEle alcancemos perdão, restauração e poder para resistir e triunfar sobre as forças das trevas durante a hora mais escura do mundo.

O anjo que ilumina a terra com a glória do evangelho eterno há de restaurar, imbuído do Espírito de Deus, todas as verdades que um dia o anticristo lançou por terra (ver Daniel 8:12; 7:25). Todos serão esclarecidos no tocante à verdade de Deus e às mentiras de Babilônia mística. À luz desta revelação sem precedentes, todos poderão conscienciosamente fazer sua escolha entre servir a Deus ou servir à besta e à sua imagem.

Infelizmente, grande parte do mundo e dos professos seguidores de Jesus rejeitará o último apelo e advertência do Céu. Por outro lado, muitos que nunca ouviram semelhante verdade responderão positivamente à obra do Espírito Santo por meio do alto clamor. Ellen White observa:

Milhares da hora undécima, verão e reconhecerão a verdade… Essas conversões à verdade operar-se-ão com uma rapidez surpreendente para a igreja, e unicamente o nome de Deus será glorificado. (5)

A derradeira mensagem de Deus para o tempo do fim nos desafia hoje a fazer a escolha certa, em nome do Senhor Jesus. A queda de Babilônia é um fenômeno inevitável em função de sua conduta criminosa. Solidarizar-se com ela significa se tornar cúmplice em seus crimes e participante de seus flagelos.

Que diante dessa solene verdade possamos responder favoravelmente ao chamado de Deus para o nosso tempo:

Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso. (II Coríntios 6:17-18)

 

Notas e referências

1. Ellen G. White. Testemunhos Seletos, vol. 2. Versão em CD-ROM. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, p. 373.

2. ______________. Mensagens Escolhidas, vol. 1. Versão em CD-ROM. Tatuí, SP: CPB, p. 363.

3. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 7. Tatuí, SP: CPB, 2014, p. 956.

4. Ellen G. White. O Grande Conflito, 19ª edição. Santo André, SP: CPB, 1978, p. 605. Recomendo insistentemente ao leitor que leia todo o capítulo: “O Último Convite Divino”.

5. ______________. Mensagens Escolhidas, vol. 2. Versão em CD-ROM. Tatuí, SP: CPB, p. 16.

 

 

Fonte: Três Mensagens

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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