O Evangelho no Santuário Israelita

Construído de acordo com o modelo original celestial (ÊX 25:9, 40), o santuário israelita, com suas medidas, móveis e ritos, contém importantes lições sobre o plano da salvação e a vida prática do povo de Deus. Erigido para efetuar substituição e reconciliação, o tabernáculo revelava o caráter amorável do grande Deus que condescendeu em habitar com Seu povo e ensinava aos israelitas que a solução divina para restaurar o relacionamento interrompido entre Deus e o homem era o sacrifício e a mediação. O serviço do santuário também revelava a natureza do pecado (definida pelos Dez Mandamentos depositados na arca do concerto no lugar santíssimo) e inculcava nos adoradores a necessidade de um redentor.

ESTRUTURA FÍSICA – Do ponto de vista da estrutura física, o tabernáculo era uma construção retangular de trinta côvados de comprimento por dez de largura e dez de altura, protegida por um pátio de cem côvados por cinquenta. O sistema completo consistia em três zonas de santidade gradativa: pátio, lugar santo e santíssimo. Orientado num eixo longitudinal leste-oeste, o santuário ficava de frente para o nascer do sol. Situado no centro do acampamento israelita, o tabernáculo indicava múltiplas implicações para os sacerdotes e o povo. O privilégio de habitar ao redor do palácio divino exigia um comportamento condizente com a “etiqueta” palaciana. Desse modo, uma variedade de instruções sobre impurezas de vários tipos visava a adequar o estilo de vida do povo e dos sacerdotes à santidade de Deus,que habitava no meio deles. Como declarou Ellen White: “Foi ordenada uma limpeza escrupulosa bem como uma ordem estrita por todo o arraial e arredores. Pôs-se em execução um regulamento sanitário completo. A toda pessoa que estivesse imunda por qualquer motivo, era vedado entrar no acampamento. Tais medidas eram indispensáveis para a conservação da saúde em meio de uma multidão tão vasta; e também necessário era que se mantivessem ordem e pureza perfeitas, para que Israel pudesse desfrutar da presença de um Deus santo”.

Sobre a disposição do acampamento, os filhos de Israel receberam instruções precisas sobre como se posicionar em relação ao tabernáculo (Nm 2). Os levitas deveriam se acampar no centro, formando um cinturão de proteção ao redor do tabernáculo (Nm 1:53). Quanto às demais tribos, Judá, Issacar e Zebulom deveriam se acampar ao nascente do sol, em frente do tabernáculo; Rúben, Simeão e Gade, ao sul; Efraim, Manassés e Benjamim, a oeste; e, finalmente, Dã, Aser e Naftali, ao norte. A o retomarem a jornada, cada tribo devia marchar em sua posição específica (Nm 2:17). Às família dos levitas cabiam o cuidado e o transporte do tabernáculo e sua mobília (Nm 1:51; 3:25-37).

O Contexto indica que essa configuração evocava uma organização militar. Afinal, tinha sido realizado um censo para determinar o número de homens de vinte anos para cima que podiam sair à guerra (Nm 1:3), com a observação de que cada tribo tinha seu estandarte (Nm 2:2) e o seu exército (Nm 2:4-31). Antigas gravuras egípcias confirmam o propósito militar de uma configuração semelhante, como indicado em um relevo do exército do faraó Ramsés II, cuja tenda ficava exatamente no meio do acampamento egípcio com as tropas distribuídas simetricamente ao redor.

Assi, as tribos israelitas funcionavam como unidades militares ao redor do quartel-general. Tendo Deus como seu Supremo Comandante, os israelitas marchavam como um exército em direção à terra prometida. Não era pela experiência de Moisés ou capacidade de Arão e outros líderes, mas pela liderança do próprio Deus que o exército israelita havia de vencer os gigantes e conquistar as cidades fortificadas de Canaã.

MÓVEIS – Havia sete ítens de mobília no santuário: altar de bronze, pia de bronze, candelabro, mesa com os pães da proposição, altar de incenso, arca e propiciatório. A construção desses móveis foi executada de acordo com instruçõesespecíficas e precisas quanto às dimensões, tipo de material e seu posicionamento no santuário. No pátio lacalizavam-se o altar de holocausto e a pia de bronze. No altar de holocausto, onde eram oferecidos os sacrifícios, o pecador encontrava perdão e reconciliação através do animal que ocupava o seu lugar. Esse altar prefigurava o calvário, onde o próprio Deus assumiu sobre Si a penalidade do pecado. Na pia, situada à entrada do santuário, os sacerdotes deveriam lavar-se antes de ministrar os sagrados ritos. Por meio desse ato, aprendiam que Deus exigia pureza dos que se aproximavam dEle para servi-lo.

No lugar santo havia três móveis: a mesa, o candelabro e o altar de incenso. Sobre a mesa estavam os pães da proposição distribuídos em duas fileiras de seis. Esses pães eram renovados a cada sábado. Eles expressavam o reconhecimento de que todas as provisões e sustento vêm de Deus e apontavam para Jesus como o pão da vida. O candelabro desempenhava a função prática de iluminar o santuário e possivelmente simbolizava a onisciente presença de Deus no santuário (ver Zacarias 4:1-4). Jesus proclamou ser Ele “a luz do mundo” (Jo 8:12). O altar de incenso, lugar da intercessão contínua do sacerdote em favor dos pecadores, prefigurava a contínua intercessão de Cristo no santuário celestial (Ap 8:3-4). Na bíblia, a oração também é comparada ao incenso (Sl 141:2; Lc 1:9-10).

No lugar santíssimo ficavam os móveis mais importantes do santuário israelita: a arca do concerto com as tábuas da lei e o propiciatório. Funcionavam como uma transcrição terrestre do trono de Deus, fundado em justiça e misericórdia. Esse era o lugar em que o Senhor Se revelava; por isso, representava a presença divina. Nesse lugar centralizava-se “a cerimõnia simbólica da expiação e intercessão, que era o elo entre o Céu e a Terra”. Ali coexistiam os principais elementos da redenção: Deus, a lei, o sangue sacrifical, aspergido no dia da expiação, e a mediação sacerdotal.

MINISTÉRIO SACERDOTAL – O santuário requeria o serviço de pessoal especializado – os sacerdotes. Em contraste com o tempo dos patriarcas, quando a função sacerdotal era exercida pelo chefe da família, o santuário requeria um sacerdócio especializado, nomeado por Deus, para oficiar os diversos ritos. Ao ofertante cabia apenas trazer o animal, confessar seu pecado sobre ele, depois imolá-lo. Apartir daí, todos os outros ritos, em favor do pecador, eram oficiados pelo sacerdote. Era ele que representava o ofertante diante de Deus, e este, diante do ofertante. Enfatizava-se assim a seriedade do pecado e o profundo abismo que separava de Deus o ser humano.

Até mesmo o mais fiel e espirituual dos israelitas, não poderia entrar no santuário. Isso só era feito por meio de um mediador e do sangue que esse mediador apresentava como condição a ser satisfeita pelos pecados cometidos. Era o sacerdote que fazia a ponte entre Deus e o pecador, ao exercer seu ministério tanto dentro do tabernáculo, onde Deus habitava, como no pátio onde ficavam os pecadores ofertantes. Além disso, o sacerdote se identificava com o povo ao levar as duas pedras preciosas sobre os ombros, com o nome das doze tribos de Israel, e o mesmo se dava com as pedras do peitoral. Sua identificação com a esfera celestial ocorria ao levar ele sobre a mitra a inscrição: “Santidade ao Senhor”. Em determinados sacrifícios, o sacerdote deveria consumir parte da carne do animal sacrificado e assim tomar sobre si o pecado do ofertante.

Havia ênfase no preparao pessoal do sacerdote para oficiar no santuário. A pia situada à entrada do santuário advertia o oficiante de que Deus não requeria apenas ritos apropriados, mas também um sacerdócio puro para oficiar os ritos sagrados. “Os sacerdotes não deveriam entrar no santuário usando calçados. Partículas de pó que a eles se apegavam, profanariam o lugar santo. Deviam deixar os calçados no pátio, antes de entrar no santuário, e também lavar tanto as mãos como os pés, antes de ministrarem no tabernáculo, ou no altar dos holocaustos. Desta maneira ensinava-se constantemente a lição de que toda contaminação devia ser removida daqueles que se aproximavam da presença de Deus”.

Cabe ainda ressaltar que o ministério sacerdotal no santuário era realizado em duas fases: diária e anual. No serviço diário, mediante o sangue sacrifical, os pecados do povo eram transferidos para o santuário. Cabia ao ofertante impor as mãos sobre o animal, confessar sobre ele seus pecados e , logo a seguir, imolar a vítima sacrifical. O sacerdote recolhia o sangue e realizava os ritos de manipulação de acordo com o tipo de sacríficio oferecido. Finalmente, ao aplicar o sangue no altar de incenso e aspergi-lo diante do lugar santíssimo, o sacerdote transferia os pecados dos ofertantes para o santuário. Esse processo realizado ao longo do ano, contaminava o tabernáculo com os pecados e impurezas dos filhos de Israel. Por isso, uma vez ao ano havia uma cerimônia especial para efetuar a purificação do santuário.

No dia dez do sétimo mês do calendário hebereu, era feita a purificação do tabernáculo. Denominado literalmente “dia das expiações” (yom hakkippurim), o dia dez do sétimo mês era solene e de profunda reflexão para os israelitas (Lv 16:1-34; 23:26-32). Era o único dia do ano em que se permitia acesso ao lugar santíssimo. Através de um complexo conjunto de sacrifícios e ritos de manipulação de sangue, o sumo sacerdote realizava a purificação do santuário. Entre os ritos realizados no Dia da Expiação, merece atenção a cerimônia que envolvia dois bodes. De acorco com Levítico 16, tomavam-se dois bodes sem defeito e, mediante sortes, um para o Senhor e o outro “para Azazel” (Lev 16:8). Asexpressões “para Azazel” e “para o Senhor” sugerem contraste ou oposição entre os dois bodes.

O bode “para o senhor”, tipificando Cristo, era sacrificado e seu sangue utilizado nops ritos de purificação do santuário. Concluídos os ritos de manipulação de sangue que removiam os pecados e impurezas do santuário, o sumo sacerdote impunha as mãos sobre o bode vivo (aquele cuja sorte recaíra para Azazel), confessava sobre ele os pecados do povo e o despachava vivo para ser abandonado no deserto. Deve-se ressaltar que o bode “para Azazel”, um tipo de Satanás, não era sacrificado e, portanto, efetuava uma expiação não sacrifical, não substitutiva; era um meio para a remoção dos pecados do acampamento, os quais tinham sido acumulados ao longo do ano no santuário (Lev 16:10). Assim, os ritos que diariamente eram oficiados no tabernáculo revelavam e prefiguravam a obra salvífica de um Deus santo e misericordioso que tomava o lugar da criatura, levando sobre Si as culpas e os pecados deSeu povo. Nessa maravilhosa e inexplicável demonstração de graça e amor divinos, o pecador era perdoado. No dia da expiação, Deus demonstrava Sua aversão e ódio ao pecado, depondo sobre o originador do mal as responsabilidades que lhe eram devidas. Ao enviar o bode “para Azazel” ao deserto, Deus ensinava a Seu povo Sua aversão ao pecado e vindicava Seu caráter como rei santo, misericordioso.

REFLEXÃO E IMPLICAÇÕES ADICIONAIS – O santuário Israelita ensina e ilustra verdades fundamentais do plano da salvação e provê lições sobre o nosso relacionamento com Deus e do serviço que Ele espera de nós. Mostra a importância de planejamento e organização para executar tarefas, uma vez que não foi construído de forma desorganizada e desordenada. Tudo foi executado segundo as instruções divinas e de acordo com o modelo mostrado no monte. Instruções específicas foram dadas por Deus a Moisés sobre as dimensões e posicionamento do santuário, bem como tamanho e particularidades dos móveis. Deus prima por qualidade, precisão e ordem, e não aceita atitude displicente nem negligência em Seu serviço.

As exigências do preparo pessoal do sacerdote e as responsabilidades do povo em virtude da presença divina no santuário contém implicações para o povo de Deus hoje. Solenes responsabilidades pairam sobre os que servem a Cristo, ocupando cargos em Sua igreja. Ser membro da família de Deus é um privilégio que exige comportamento ético e moral a altura dos ideais divinos.

A organização das doze tribos ao redor do tabernáculo indicava que Deus era o supremo comandante de Israel. Por mais capacitadas que sejam as lideranças humanas, a igreja avança no cumprimento de sua missão sob o senhorio de Jesus Cristo, o supremo comandante.

O ministério em duas fases do santuário hebreu prefigurava as duas fases da obra que Jesus realiza nos dois compartimentos do santuário celestial. Desde 22 de outubro de 1844, nosso Sumo Sacerdote realiza a obra de purificação do santuário celestial, tipificada no santuário terrestre pelos ritos realizados no Dia da Expiação. Com base nos méritos de Seu sangue derramado na cruz, Cristo hoje efetua a obra de purificação do santuário celestial. O bode para Azazel tipificava Satanás, e os ritos realizados com esse bode prefiguravam o tempo em que sobre o enganador vão pesar as responsabilidades pela miséria introduzida na criação de Deus. O abandono do bode no deserto aponta para a prisão de Stanás durante o milênio e a subsequente destruição eterna do arquiinimigo no último confronto entre as forças do bem e as legiões do mal.

O serviço do santuário hebreu, portanto, oferece um quadro miniaturizado do grande conflito entre o bem e o mal, prenunciando a vitória de Deus sobre Satanás. Podemos olhar com fé e esperança para o futuro. O Deus de amor e misericórdia a quem servimos não vai tolerar o pecado para sempre. Satanás e seus seguidores serão destruídos. A Terra será transformada, nossas esperanças de um mundo melhor serão transformadas em certezas e nossos mais acalentados sonhos, em realidades. Como Ellen White expressa de maneira tão sublime: “O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O universo inteiro está purificado. Uma única palpiação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. DAquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor”.

Elias Brasil de Souza, Ph.D., é diretor e professor do SALT-IAENE, Cachoeira, BA.

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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