O Uso da Síncope na Música de Adoração

 

O que é síncope? Qual é a sua influência na música e, mais especificamente na música utilizada para a adoração? Que efeitos ela causa ao ouvinte?

Uma definição de síncope pode ser a seguinte: “Quando uma nota é executada em tempo fraco ou parte fraca de tempo e se prolonga ao tempo forte ou parte forte do tempo seguinte. A síncope é regular quando as notas que a formam têm a mesma duração. É chamada de irregular quando suas notas têm durações diferentes.”

Exemplos de síncope:

Não temos visto estudos que tratem sobre o papel da síncope e sua influência na adoração. O que é uma pena, porque, pessoalmente, creio que a sua importância tem sido subestimada.

Assim como qualquer outro elemento musical, a síncope, por si mesma, não é errada. Ela é uma variação rítmica, que pode agir favoravelmente, quando utilizada de forma que não passe disso: uma variação, um detalhe, um ornamento, ou seja, é necessário que o uso seja ocasional. Numa música que usa a síncope de forma apropriada, continua muito claro onde ocorre o tempo forte e o tempo fraco e esta variação é interessante.

A mesma coisa acontece, por exemplo, na área da harmonia: se temos uma noção clara da escala e da tonalidade em que a música está, então a dissonância e a modulação podem ser variações interessantes deste padrão. Porém, ao terminar a variação (seja rítmica, melódica ou harmônica), o padrão deve ser reconfirmado: O ritmo deve ser retomado, a melodia deve seguir seu fraseado e a dissonância resolvida.

Porém, infelizmente, o que temos visto nas músicas utilizadas nos últimos anos em nossos cultos não é a utilização parcimoniosa, ocasional, da síncope. Abaixo, estão alguns exemplos de frases musicais retiradas de músicas populares ente os jovens da igreja:

Temos um problema com estes exemplos, porque a variação se torna o centro do movimento rítmico. Devemos ressaltar que estes são apenas exemplos pinçados aleatoriamente, mas sabemos que isto ocorre com a grande maioria da Música Cristã Contemporânea.

Tore Sognefest é músico profissional e pianista. Durante os anos 80 ele teve a sua própria banda de Rock que ficou famosa na Noruega. Ele recebeu o grau de Mestre em música pela Academia de Música em Bergen, onde lecionou durante vários anos. Sognefest é autor do livro “The Power of Music”. Ele comenta: “A exposição à música com ritmos harmônicos reforça os ciclos rítmicos do corpo humano, sincronizando mensagens nervosas, melhorando a coordenação, e harmonizando humores e emoções. Por contraste, a exposição à música com ritmos desarmônicos – quer seja a ‘tensão’ causada pela dissonância ou ‘barulho’ ou os balanços antinaturais de acentos rítmicos deslocados, síncopes, e polirritmos, ou tempo impróprio – podem resultar em uma variedade de mudanças incluindo: uma freqüência cardíaca alterada com sua correspondente alteração na pressão sangüínea; uma estimulação excessiva de hormônios (especialmente os opióides ou endorfinas) causando uma alteração no estado da consciência, desde mera estimulação num extremo do espectro até a inconsciência no outro extremo; e digestão inadequada.”

O problema que estamos apontando aqui é o seguinte: Se todo o padrão rítmico é sincopado, onde está o tempo forte e onde está o fraco? Esta falta de padrão ou, pelo menos, um forte deslocamento do padrão natural causa uma confusão mental, que precisa ser resolvida a qualquer custo.O recurso normal para resolver este conflito é marcar enfaticamente, de alguma forma, o padrão rítmico. Assim, o padrão fica claro e a variação pode ser executada e apreciada, sem causar angústia e confusão mental.

Esta marcação do padrão é feita de duas formas: com o auxílio de instrumentos de percussão ou com movimentos corporais. Obviamente que normalmente se faz uma combinação dessas duas formas, visto que uma reforça a outra. Portanto, chegamos à conclusão de que, para fazermos uma música altamente sincopada, torna-se necessário o uso de bateria, para reforçar o padrão rítmico, e este música também estimulará os movimentos corporais dançantes.

Se analisarmos as músicas onde a bateria não se faz necessária, como por exemplo os grandes hinos de nossa herança como igreja, ou mesmo músicas contemporâneas, mas que sejam solenes e reverentes, notaremos que a síncope, quando existe, é usada apenas como ornamento esporádico. Analisemos as músicas dançantes e onde a bateria se faz necessária e veremos que em todas elas a melodia é fortemente sincopada, sendo rara a coincidência das sílabas da letra com os tempos do movimento rítmico padrão.

Portanto, uma vez que a música é um estímulo e todo estímulo exige uma resposta, a música que escolhemos para o culto define o tipo de culto que desejamos: se queremos um culto racional, meditativo, solene, então usaremos músicas nas quais a síncope é apenas uma variação rítmica. Se desejamos um culto emocional, expansivo, que estimule movimentos corporais, então escolheremos músicas fortemente sincopadas. Mas a pergunta que verdadeiramente se impõe é: qual modelo de culto está de acordo com o que Deus espera de Seus filhos? (veja também o artigo Os Ritmos Sincopados).

Qual dos dois estilos de culto cumpre o padrão de João 4:23-24? “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”

Qual dos dois estilos de culto está de acordo com o pedido de Paulo em Romanos 12:1-2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”

Em nossos cultos estaremos renovando a nossa mente ou nos conformando com o mundo? Nossos cultos estão de acordo com o padrão de Deus ou com o padrão do mundo? Aliás, é possível fazer um culto a Deus, usando um padrão mundano? Não estaríamos quebrando o segundo mandamento?

Todos somos livres para fazermos escolhas. Mas não podemos esquecer que somos responsáveis diante de Deus por essas escolhas, e seremos chamados a prestar contar por elas.

Autor: Levi de Paula Tavares


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Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

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