Qual o significado da visão sobre o vale de ossos secos de Ezequiel 37:1-14?

O conteúdo do livro do profeta Ezequiel pode ser dividido em duas grandes seções. A primeira é composta pelas visões recebidas, em sua maioria, antes da queda de Jerusalém em 586 a.C. (capítulos 1:1 a 33:20), e a segunda compreende as visões tidas já no próprio contexto do cativeiro babilônico (capítulos 33:21 a 48:35). Nesta última seção aparecem várias visões que tratam especificamente da restauração de Israel e Judá, dentre as quais se destaca a do vale de ossos secos de Ezequiel 37:1-14. O relato da visão compreende a descrição da cena, de natureza metafórica (versos 1-10), e a interpretação soteriológica (versos 11-14).

Em Ezequiel 37, os ossos “sequíssimos” espalhados pelo vale representam a desesperada condição em que se encontrava “toda a casa de Israel” durante o exílio (verso 11), devido ao longo processo de apostasia e morte espiritual pela condescendência com o pecado (ver Sl 32:1-4). A restauração de Israel dessa condição é descrita na visão como se processando em duas etapas semelhantes às da criação original da raça humana (ver Gn 2:7). Primeiro ocorre a formação dos corpos (Ez 37:7 e 8), para depois serem estes vivificados pela poderosa atuação do Espírito de Deus (versos 9 e 10). A expressão “abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair dela” (verso 12) tem sido interpretada, por alguns comentaristas, como uma nova metáfora para descrever a mesma cena da restauração de Israel anteriormente mencionada e, por outros, como uma alusão à ressurreição literal dos justos mortos que haveria de ocorrer no clímax desse processo de restauração.

A revificação dos ossos secos simbolizava a restauração espiritual e política de Israel como nação, que ocorreria se os israelitas se submetessem completamente aos propósitos divinos. Uma vez que o povo não correspondeu com as expectativas divinas (ver Mt 23:37 e 38; Jo 1:11; At 7), a visão não obteve seu pleno cumprimento com a nação de Israel, e precisa ser agora reinterpretada à luz do novo Israel, ou seja, da Igreja (I Pe 2:9).

Os profetas do Novo Testamento esclarecem que a restauração final de todas as coisas não mais ocorrerá pelo retorno dos judeus para a Palestina, mas pela conversão a Cristo de representantes de “todas as
nações” do mundo (ver Mt 24:14; 28:18-20; At 1:8; Gl 3:16, 26-29; Ap 14:6); não mais pela reconstrução e perpetuação da cidade de Jerusalém, mas pela vinda da Nova Jerusalém celestial (ver Hb 11:8-16; Ap 21:2); e não mais pela renovação sóciopolítica da nação de Israel, ou mesmo do mundo, mas pela implantação de um “novo céu” e de uma “nova terra” (ver II Pe 3:7-13; Ap 21:1).

Fonte: Sinais dos Tempos, dezembro de 1998, p. 27

Descubra mais sobre Weleson Fernandes

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Sobre Weleson Fernandes

Evangelista da Igreja Adventista do sétimo dia, analista financeiro, formado em gestão financeira, pós graduado em controladoria de finanças, graduado em Teologia para Evangelistas pela Universidade Adventista de São Paulo. Autor de livros e de artigos, colunista no Blog Sétimo dia, Jovens Adventista. Tem participado como palestrante em seminários e em Conferências de evangelismo. Casado com Shirlene, é pai de três filhos.

Verifique também

036. Qual o vinho que Jesus bebia?

35 – Qual é a posição da Bíblia com relação ao vinho? Jesus bebia vinho? …

037. ESPOSAS DE PASTORES E NEPOTISMO

  RESPOSTAS A PERGUNTAS APRESENTADAS NA REUNIÃO DE 18 DE JUNHO DE 2000, EM MOEMA, …

038. ADVENTISTAS PODEM FAZER GREVES CONTRA O GOVERNO

Deve o cristão participar de movimentos grevistas contra o governo? Ao passo que o cristão …

Deixe uma resposta