O capítulo 13 de Apocalipse fala sobre duas bestas que iriam promover a perseguição final contra o cristianismo verdadeiro e os cristãos bíblicos. O que ou quem exatamente essas bestas representam? Para responder a esta questão é necessário voltar a Daniel. O livro de Daniel possui uma série de profecias e também expressões que serão retomadas no livro de Apocalipse, de modo que há íntima relação entre os dois livros. Para citar alguns exemplos: Daniel faz a previsão de uma perseguição que duraria “um tempo, dois tempos e metade de um tempo” (Daniel 7:25 e 12:7). A mesma previsão é retomada em Apocalipse 12:14, com mais detalhes. Ainda em Apocalipse, a descrição que nos é dada da primeira besta (Ap. 13:2) possui partes de quatro bestas mencionadas em Daniel (Dn 7:3-8). Em suma, um livro é a chave para entender o outro.
A Sucessão de Reinos em Daniel
A parte profética do livro de Daniel se inicia em seu capítulo 2. Eis o panorama histórico: Jerusalém havia sido destruída pelo império babilônico e alguns dos judeus foram levados cativos para a Babilônia, cerca de 600 anos antes de Cristo. Um desses cativos era Daniel, o profeta que dá nome ao livro. No capítulo 2, o livro relata que o então rei babilônico Nabucodonosor tem um sonho que o perturba, mas que ele não consegue lembrar. Ele ordena que seus magos e sábios adivinhem o sonho que ele teve e o interpretem, mas nenhum deles é capaz de fazer a adivinhação. Irritado, o rei resolve condenar todos os seus sábios à morte. Sabendo disso, Daniel ora a Deus e se apresenta ao palácio para descrever o sonho do rei e interpretá-lo.
O sonho era de uma estátua com cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e quadris de bronze, pernas de ferro e pés feitos de ferro e barro. Em determinado momento do sonho, uma pedra cortada sem auxílio de mãos humanas acerta os pés da estátua e a reduz a pó. Então, a pedra se torna grande e enche toda a terra (Dn 2:31-36). Daniel explica que cada parte da estátua representava um rei, isto é, um reino, império, poder, governo. A cabeça de ouro simbolizava a própria Babilônia (Dn 2:37-38), que seria derrubada por outro reino no futuro e assim subsequentemente. O último reino dessa sucessão (o quarto reino) é representado pelas pernas de ferro, porque é dito que ele seria forte como o ferro, que quebra e esmiúça (Dn 2:39-40). O mesmo seria sucedido não mais por um império coeso, porém por um conjunto de reinos pequenos (representados pelos dedos dos pés da estátua). Tais reinos, Daniel diz, teriam algo da força do ferro e tentariam se unir mediante casamentos. Mas assim como ferro e barro não se misturam, eles também não conseguiriam formar um grande império único e coeso novamente (Dn 2:41-43). Na sequencia, esses reinos seriam destruídos pelo Reino de Deus, que se estabeleceria eternamente (Dn 2:44-46).
A profecia de Daniel 2 não nos dá maiores detalhes sobre a identidade cada um dos reinos, embora, pela história, saibamos que o império babilônico foi conquistado pelo império medo-persa (o segundo reino), o medo-persa pelo grego (o terceiro reino), o grego pelo romano (o quarto reino), e o romano teve sua parte ocidental esfarelada pelas tribos bárbaras, que deram origem aos países da Europa (os reinos divididos). Em outras palavras, a profecia se encaixa perfeitamente ao que aconteceu na história.
Esta primeira profecia sobre reinos subsequentes nos dá a tônica do restante do livro. A obra inteira seguirá dando mais detalhes sobre essa sequencia de reinos ou governos, ampliando o entendimento. No capítulo 5, por exemplo, o livro revela a identidade do segundo reino, o que derrubaria a Babilônia: o império medo-persa. No capítulo 7, Daniel tem uma visão que envolve quatro grandes animais: um leão alado (Dn 7:4), um urso que se levantava sobre um dos seus lados e comia três costelas (Dn 7:5), um leopardo com quatro asas e quatro cabeças (Dn 7:6) e um quarto animal terrível, espantoso e muito forte, que tinha dentes de ferro, devorava em pedaços e possuía dez chifres na cabeça (Dn 7:7). Cada um desses animais equivalem aos mesmos reinos simbolizados pelas partes da estátua no capítulo 2. Curiosamente, tanto as partes da estátua quanto os animais do capítulo 7 possuem características que se encaixam com perfeição nos reinos que historicamente se sucederam a partir de Babilônia, o que nos permite perceber a precisão das profecias.
Ainda no capítulo 7, Daniel vê sair do meio dos chifres do quarto animal um pequeno chifre, diante do qual três outros são abatidos. Esse pequeno chifre tinha olhos e falava com insolência (Dn 7:8). Depois segue-se o julgamento do Filho do Homem, autorizado pelo Ancião de Dias; então o espantoso animal é morto e funda-se o Reino de Deus (Dn 7:9-14).
A partir do verso 17, um mensageiro de Deus explica o sentido do sonho para o profeta, afirmando que cada um dos animais representava um reino (poder terreno) que se sucederia (Dn 7:17). Daniel se sente curioso para saber mais a respeito do quarto animal, dos seus dez chifres e do chifre pequeno e insolente que subia dentre eles e abatia outros três. Esse chifre pequeno parecia ter um poder religioso, já que fazia guerra contra os santos de Deus e prevalecia (Dn 7:19-22). O mensageiro, então, explica que o quarto animal é o quarto reino/poder da sucessão, que se diferirá dos demais por ser mais forte e ter maior extensão (Dn 7:23). Os dez chifres são dez reinos que surgem desse quarto grande reino, o que indica que o quarto reino será fragmentado. O chifre pequeno é um reino que surge dentre os dez e se torna diferente dos demais (Dn 7:24).
O que diferencia o pequeno chifre dos demais chifres mencionados? O seu poder religioso. Diz Daniel 7:25: “Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei”. Ou seja, o reino em questão não tem só poder terreno. Ele tem poder de mudar os tempos e a lei de Deus. Diz-se ainda, na continuação do verso 25, que os santos seriam entregues nas mãos desse reino por “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”.
Como já afirmei e podemos notar claramente, a profecia do capítulo 7 trata exatamente do mesmo tema da profecia do capítulo 2: a sucessão de reinos começando pela Babilônia. A diferença é que agora temos mais informações sobre cada reino. O leão alado confirma que o primeiro reino é o babilônico (representado pela cabeça de ferro em Daniel 2), pois o leão alado era um símbolo oficial da Babilônia (conforme atesta a arqueologia). O urso que se levanta sobre um dos seus lados faz referência clara ao império medo-pérsia, um império composto por duas etnias, das quais uma (a Persa) se sobressaia sobre a outra (a Medo). As três costelas mencionadas representam as principais nações que tiveram que abater para se tornarem um grande império na época: Babilônia, Lídia e Egito.
O leopardo é o império Greco-macedônico. As quatro cabeças do leopardo são uma indicação de que o império se dividiria em quatro partes (o capítulo 8 voltará a este assunto, como veremos adiante). De fato, o império grego foi dividido entre os generais Ptolomeu, Selêuco, Cassandro e Antígono, após a morte de Alexandre o Grande.
Finalmente, o animal terrível, espantoso, forte e com dentes de ferro é Roma, o império que sucedeu a Grécia, e que é representado pelas pernas de ferro no capítulo 2 de Daniel. Repare em como, mais uma vez, o império romano é descrito como sendo forte, agressivo e extenso (tendo seu poder de destruição comparado ao ferro). De fato, Roma foi o poder mais duradouro, forte, extenso e temível dos quatro mencionados pelas profecias.
Da mesma forma como no capítulo 2, o capítulo 7 também menciona reinos que surgem após a fragmentação do quarto grande reino (Roma). Sabemos, pela história, que o Roma Ocidental termina de ser fragmentada pelos bárbaros em 476 d.C. Porém agora há um detalhe a mais: a profecia menciona um pequeno reino com poder político-religioso que surge algum tempo após a divisão de Roma. Ele derruba três outros reinos e se torna grande, capaz de mudar os tempos e a lei do próprio Deus. Que reino/poder se encaixa nessa profecia?
Bom, sabe-se que durante os primeiros séculos de cristianismo o bispo de Roma não gozava ampla da autoridade, poder e reconhecimento que gozaria mais tarde como chefe supremo da Igreja. Os primeiros séculos de cristianismo foram marcados por disputas de autoridade e certa descentralização da Igreja a nível mundial. No entanto, no ano 533, o imperador Justiniano (de Roma Oriental) declarou que o bispo de Roma era o cabeça de todas as Igrejas. Dali até o ano de 538, comandou batalhas militares para destruir duas tribos tribos bárbaras que se opunham ao bispo de Roma (os Vândalos e os Ostrogodos). Antes disso, o imperador Zeno já havia destruído os Hérulos, que também se opunham ao bispo de Roma. Assim, em 538, não restavam mais tribos contrárias à autoridade do Papa, e sua autoridade como cabeça da Igreja se tornou oficial.
É plausível, portanto, supor que o pequeno chifre se refere ao poder papal. Ele é um “reino” no sentido de ter autoridade terrena, influência sobre reis, exércitos, súditos e terras. É um poder terreno. Ele ascende com toda a autoridade e reconhecimento após a fragmentação do império romano, derrubando (através de imperadores católicos) três tribos que se opunham ao seu poder. Além disso, é um poder diferente dos demais, pois possui uma autoridade religiosa capaz de mudar os tempos e as leis de Deus. Sabe-se que, sob autoridade do Papa, diversos erros foram agregados e mantidos na Igreja Católica, contradizendo a Palavra de Deus.
Mas antes de concluir, vamos dar uma olhada no capítulo 8 de Daniel. Ele segue o padrão do livro, tratando do mesmo assunto dos capítulos 2 e 7, mas com ainda outros detalhes. Nesse capítulo, o profeta Daniel tem um sonho onde vê dois animais: um carneiro com dois chifres, sendo um chifre mais alto que o outro (Dn 8:3) e um bode com um grande chifre entre os olhos (Dn 8:5). O bode arrebenta os chifres do carneiro e torna-se grande (Dn 8:6-7). Porém, na sua força, quebra-se o grande chifre e dele saem quatro chifres menores (Dn 8:8). Na sequencia, o capítulo torna a falar de um pequeno chifre. Ele cresce até atingir o exército do céu, lança as estrelas por terra, tira o sacrifício diário do príncipe do exército, deita o santuário abaixo e joga a verdade por terra (Dn 8:9-12).
A partir do verso 16, o anjo Gabriel começa a explicar a visão para o profeta. Ele afirma que a visão se estende ao tempo do fim (Dn 8:19) e explica: “Aquele carneiro com dois chifres que viste são os reis da Média e da Pérsia, mas o bode peludo é o rei da Grécia; o chifre grande entre os olhos é o primeiro rei; o ter-se quebrado, levantando-se quatro em lugar dele, significa que quatro reinos se levantarão desse povo, mas não com força igual a que ele tinha” (Dn 8:20-22).
Como podemos ver, isso confirma tudo o que vimos até aqui. Temos mais um capítulo ampliando um mesmo tema: a sucessão dos reinos. Os detalhes dados a mais confirmam a identidade do segundo e do terceiro reino (Medo-Pérsia e Grécia) e demonstram o que falamos antes sobre a divisão da Grécia entre os quatro generais de Alexandre. Isso tudo é confirmado pela história.
O anjo Gabriel continua a explicação, mas de uma maneira interessante. Em vez de ele falar do pequeno chifre, começa a falar de um rei de feroz catadura que se levantaria. Diz que ele causaria estupendas destruições, abateria poderosos, se levantaria contra o povo santo e também contra o Príncipe dos príncipes (Dn 8:23-26). Ou seja, fica claro que o anjo Gabriel faz uma associação entre o chifre mencionado no verso 9 e este rei de feroz catadura. Eles parecem fazer parte de um mesmo reino/poder. De quem se trata?
Bom, já sabemos pela história que o quarto reino, aquele que vem depois da Grécia, é Roma. E as descrições do capítulo 8 se encaixam perfeitamente ao império romano. De fato, Roma se levantou contra o povo santo (primeiro quando dominou Israel e, depois, quando passou a perseguir os cristãos) e contra o Príncipe dos príncipes (quando crucificou Jesus Cristo). Roma também causou estupendas destruições com seu enorme poderio militar (o que também as descrições do quarto reino em Daniel 2 e 7 predizem, descrevendo-o como um reino mais forte, extenso, duradouro e destruidor que os demais). Além disso, foi de Roma que surgiu o sistema católico romano, cujos erros doutrinários foram aceitos como verdade com o aval e consentimento do poder papal, jogando muitas verdades bíblicas por terra e obscurecendo o sacrifício de Cristo, através de tradições. Isso explica porque o anjo Gabriel fala do sistema católico romano e de Roma temporal como uma coisa só.
É importante ressaltar que a profecia não está interessada em apresentar uma descrição equilibrada do império romano e do sistema católico. Se assim fosse, ela teria de representar muitas qualidades desses dois poderes, mencionando diversos benefícios que eles trouxeram para o mundo. O objetivo da profecia, no entanto, é mais resumido e pontual. Ela deseja demonstrar a parte mais feia dos dois poderes, a fim de alertar o povo de Deus para alguns sérios problemas que ambos causariam para o cristianismo e os cristãos. Não devemos, com isso, acreditar que tudo o que veio desses dois poderes não presta. Longe disso, a obrigação de quem entende a profecia é simplesmente se proteger de problemas futuros que Deus resolveu nos revelar (ou de não cair em erros passados, para o caso de quem nasceu após a profecia se cumprir).
A identidade da primeira besta do Apocalipse
Agora temos condições de ir para o livro de Apocalipse. Vimos até agora que o poder papal parece ser entendido em Daniel como um poder que afronta a Deus. Ele toma para si uma autoridade que Deus não lhe deu e através dessa autoridade permite a manutenção e até o surgimento de erros doutrinários no seio do cristianismo. De fato, um pecado grave, que é enfatizado pela profecia não com o intuito de condenar os indivíduos que ocuparam à posição de papas, ou os católicos, mas sim à existência da posição de papa, suas falsas prerrogativas, sua influência perversa na depuração de algumas doutrinas cristãs e sua conivência com os desvios da Igreja que acabaram por se tornar tradição. O cargo papal é responsabilizado pela profecia pela romanização da Igreja, já que, como liderança máxima, detém a palavra final. O sistema papal e o romanismo, portanto, são postos pela profecia como dois lados da mesma moeda, dois desvios que viabilizam e fortalecem um ao outro. É o que se pode depreender através do estudo de Daniel e da história do cristianismo.
Ora, com essas informações nas mãos, partimos agora para a passagem de Apocalipse 13. Ali João menciona a primeira besta, que emerge do mar. O que é uma besta? É um animal grande e/ou feroz. Vimos em Daniel que animais grandes e ferozes são usados nas profecias escatológicas de Daniel para representar poderes, reinos, governos. Então, a besta pode ser um país, ou uma grande instituição, ou um grande sistema. Em suma, a besta é um poder humano, tal como as bestas de Daniel também são, mas não um indivíduo.
Essa besta emerge do mar (Ap. 13:1). Águas, em livros proféticos, geralmente significam muitas pessoas, povos, nações (como em Ap. 17:15). Então, ela surge de um lugar populoso. Ela possui dez chifres (Ap. 13:1), tal como o animal espantoso de Daniel 7, que representa Roma e as tribos bárbaras que a fragmentaram. É um indício de que ela tem algo a ver com Roma e com o continente europeu. A besta também possui partes referentes aos animais que representam outros impérios. Trata-se do leopardo, do urso e do leão (Ap. 13:2), que representam a Grécia, Medo-Pérsia e Babilônia, como vimos em Daniel 7. Isso é uma indicação de que essa besta se formou após todos esses impérios, adquirindo um pouco da força e das características de cada um.
Note, então, que até o momento a besta de Apocalipse 13 apresenta um bom número de aspectos em comum com o chifre pequeno de Daniel 7 e 8, que é o poder papal. Não é um indivíduo, surge um tempo depois da fragmentação de Roma e do meio de um continente populoso.
A besta recebe grande autoridade, mas parece perder parte dela quando uma de suas cabeças é golpeada de morte. No entanto, ela se recupera do golpe e retoma sua força (Ap. 13:3-4). Isso indica que o reino que ela representa exerce grande poder em um momento da história e o perde, mas para retomá-lo depois. Finalmente, é dito que a besta profere arrogâncias contra Deus e luta contra os santos, demonstrando ser um poder de âmbito religioso. O período de sua supremacia é mencionado como sendo de 42 meses (Ap. 13:5-7).
As coisas continuam batendo. De fato, o poder papal, após ganhar supremacia em 538, torna-se cada vez mais influente, estendendo essa influencia e autoridade por toda a Europa. Isso não quer dizer que não havia oposição ao papa, mas sim que seu poder terreno se tornou bastante forte, como o de uma nação poderosa. E é exatamente isso que Daniel descreve sobre o chifre pequeno. As duas profecias também deixam claro que esse poder tem âmbito religioso.
O que talvez cause um desconforto aqui é que o poder representado pela besta e o chifre pequeno é descrito como blasfemo, arrogante e perseguidor dos santos. Seria certo entender este poder como um poder cristão? Não devemos entender que a Bíblia está falando de um poder secular, talvez ateu? Não necessariamente. Para a Bíblia, o ato de deturpar a sua Palavra é entendido como uma usurpação do trono e da autoridade de Deus. Qualquer poder ou posição que tome tal atitude será considerado inimigo de Deus e dos santos, blasfemo e arrogante. Afinal, Ele está se assentando no lugar de Deus e, ainda que ignorantemente, está negando a autoridade de Deus. Em outras palavras, para a Bíblia não há diferença entre um poder descrente e um poder crente que usurpa a autoridade que apenas a Deus pertence.
Ressalta-se outra vez que não estamos falando de pessoas, mas de um sistema, poder, posição. É ao poder papal que Deus se opõe e não aos indivíduos que foram por ele enganados ignorantemente. Deus apenas condena o indivíduo que tem condições plenas de distinguir entre certo e errado, mas escolhe o erro ou a ignorância.
Voltando à interpretação das profecias, existem ainda outras evidências de que o chifre pequeno de Daniel e a besta de Apocalipse representam o mesmo poder, que é o poder papal. Retornemos rapidamente à Daniel.
Profecias numéricas
Você deve lembrar que em Daniel 7:25 é dito que o chifre pequeno (aquele poder que surge após a fragmentação do império romano e destrói três tribos bárbaras) é um poder de âmbito religioso e que aflige os santos durante “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, isto é, 3,5 tempos. O que será que significam 3,5 tempos? Está claro que se trata de uma linguagem simbólica. Mas será possível definir o que este período representa e descobrir se ele ocorreu na história? É o que se espera da profecia, já que, até aqui, as predições proféticas tiveram como intuito nos mostrar que podemos ver a Palavra de Deus se cumprindo através da história. Devemos, portanto, procurar por respostas na Bíblia e na história. Vejamos.
Segundo o texto de Daniel 11:13, o termo “tempos”, em suas visões proféticas, significam “anos”. Ou seja, 1 tempo é igual a 1 ano. Nessa linha de raciocínio, temos 3,5 anos de supremacia exercida pelo chifre pequeno.
Curiosamente, o tempo de 3,5 anos é igual a 42 meses, uma quantidade de tempo que é mencionada em Apocalipse 13:5: “Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias, e autoridade para agir por quarenta e dois meses”. Essa é uma prova cabal de que o chifre pequeno de Daniel 7:25 representa o mesmo poder que a besta de Apocalipse 13. Os dois textos estão tratando do mesmo assunto: o surgimento de um poder político-religioso que mantém supremacia durante 3,5 anos ou 42 meses. A coisa fica mais interessante quando damos uma olhada em outros textos com medidas de tempos iguais:
“Darei às minhas testemunhas que profetizem durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco” (Ap. 11:3). As duas testemunhas se referem as Escrituras Sagradas (à época de João entendida como A Lei e os Profetas). Mas isso nós veremos mais adiante. O que devemos perceber agora é que 1260 dias equivalem há 42 meses (meses de 30 dias), que equivalem 3,5 anos. Ou seja, durante a supremacia do chifre pequeno/besta, duas testemunhas profetizam com pano de saco, que simboliza angústia.
“A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem por mil duzentos e sessenta dias” (Ap. 12:6). Mais uma vez os 1260 dias são mencionados. A mulher representa o povo de Deus, como costuma a ser em livros proféticos. Eles se refugiam de um poder perseguidor durante o mesmo período de supremacia do chifre pequeno/besta.
“E foram dadas à mulher duas asas da grande águia, para que voasse até o deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada durante um tempo, tempos e metade de um tempo” (Ap. 12:14). Aqui a medida de Daniel 7:25 é mencionada de novo. E mais uma vez vemos a ideia de cristãos se protegendo de algum grande perigo.
Além desses textos, Daniel 12:7 menciona mais uma vez o período de 3,5 tempos, dizendo que após o seu término, as pessoas se voltariam com mais ênfase à interpretação das profecias de seu livro, o conhecimento se multiplicaria e as pessoas começariam a entender plenamente as predições bíblicas. Esse período de 3,5 tempos é caracterizado no texto como o período da “destruição do poder do povo santo”. Por fim, Apocalipse 11:2 faz uma profecia sobre um tempo em que os gentios calcariam aos pés da cidade santa por 42 meses. O significado dessa profecia não é o escopo do texto, mas vemos novamente que o período de supremacia do chifre pequeno/besta é citado. E não parece ser um período bom para muitos cristãos.
A ideia de perseguição dos cristãos por esse poder não deve ser entendida apenas em seu âmbito físico. A perseguição inclui à mera pressão por parte poder em questão sob todos os cristãos para que obedeçam às suas doutrinas. Como tudo bate até agora com o poder papal, vamos considerar que a Bíblia está falando dele. Pelo menos por enquanto. Então, voltamos às duas questões levantadas: o período de supremacia do poder papal (1260 dias = 42 meses = 3,5 anos) equivale a quanto tempo? E esse tempo pode ser observado na história?
Bom, há pelo menos dois indícios de que não devemos entender os 3,5 anos como sendo anos literais. O primeiro é que o período de supremacia do poder papal foi muito mais extenso que isso. O segundo é que estamos lidando com livros proféticos, textos repletos de símbolos. Como o mesmo período é representado de três maneiras diferentes, há forte probabilidade de que estamos falando de um símbolo. Existe alguma chave bíblica para interpretar este símbolo? Sim.
Nos textos de Números 14:34 e Ezequiel 4:5-7 a Bíblia nos diz que, em profecia, às vezes um dia é usado para simbolizar um ano literal. Quando aplicamos isso ao texto de Daniel, entendemos que estamos falando de 1260 anos de supremacia do papado. É verdade? Pode ser encontrado na história esse período? Pode.
Como vimos, a supremacia tem início formal em 538, quando a última tribo que representava grande empecilho ao papa foi destruída. Cinco anos antes o imperador Justiniano, católico, havia declarado, com sua autoridade de maior imperador do mundo, que o bispo de Roma era o cabeça de todas as igrejas. O Papa se torna livre para iniciar essa supremacia então. E ela aumenta bastante com o passar dos séculos. No entanto, o papado começa a perder força e influência em meados do ano 1500, enfraquecido pela reforma protestante. O golpe que o derruba, simbolicamente, sua autoridade perante os olhos do mundo ocorre em 1798, quando Napoleão Bonaparte manda que seu General Berthier prenda o Papa Pio VI. O Papa é preso e morre um ano depois. Agora, note: de 538 até 1798 contam-se exatamente 1260 anos. Exatamente como previa a profecia. A chave do princípio dia-ano está correta.
Romanismo X Secularismo
O capítulo 11 de Daniel nos traz mais algumas informações interessantes. Este capítulo descreve uma série de batalhas entre dois personagens: o rei do norte e o rei do sul. A simbologia utilizada é muito inteligente e bem elaborada. Nos primeiros versículos, esses dois reis representam, respectivamente, Roma e Egito. A partir do verso 14, a figura do rei do norte assume a identidade de Roma espiritual, isto é, passa a ser o sistema papal/romanista (dois lados da mesma moeda). A descrição feita a partir do verso 36 é digna de ênfase:
“Este rei fará segundo a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis e será próspero, até que se cumpra a indignação; porque aquilo que está determinado será feito. Não terá respeito aos deuses de seus pais, nem ao desejo de mulheres, nem a qualquer deus, porque sobre tudo se engrandecerá. Mas, em lugar dos deuses, honrará o deus das fortalezas; a um deus que seus pais não conheceram, honrará com ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas agradáveis. Com o auxílio de um deus estranho agirá contra as poderosas fortalezas, e aos que o reconhecerem, multiplicar-lhes-á a honra, e fá-los-á reinar sobre muitos, e lhes repartirá a terra por prêmio” (Daniel 11:36-39).
A posição de Papa se encaixa aqui. O papado se engrandece sobre todo o deus, tanto pagãos, quanto o Deus verdadeiro. Ele usurpa a autoridade do Deus verdadeiro, deturpando as Escrituras e se colocando como o inerrante em matéria de doutrina. Ele não tem respeito ao desejo das mulheres, isto é, não é um poder que se envolve com casamentos. O papado se abstém desse tipo de associação humana. Ele também honra o “deus das fortalezas”, isto é, sua força está nos exércitos e reis católicos que lhe obedecem, bem como à riqueza e o poder que sua autoridade lhe proporciona. Com sua autoridade, age como um reino temporal. Embora receba oposições, sua autoridade é grande e capaz de lutar à altura contra outros poderes temporais. É uma descrição muito detalhada do papado durante os 1200 anos de supremacia.
No entanto, o verso 40 torna a falar do rei do sul, que agora assume a identidade do ateísmo ou secularismo como ideologia e sistema de governo (o que inclui jacobinismo da revolução francesa e toda a tradição socialista posterior), enquanto o rei do norte passa a ser o romanismo e/ou o sistema papal. Há neste versículo, portanto, uma luta ferrenha entre dois grandes sistemas de pensamento: o romanismo e o secularismo. E, segundo o Apocalipse, num primeiro round quem ganha é o secularismo, em 1798. Lembra-se que o texto de Apocalipse 13:3 que a besta iria receber uma ferida mortal em uma de suas cabeças? Pois é. Foi esta em 1798. O capítulo 11 de Apocalipse explica melhor esse golpe. A partir do verso 7 afirma-se que quando as duas testemunhas tivessem concluído o testemunho que deveriam dar no período da supremacia papal, uma besta subiria do abismo e as mataria, deixando seus corpos estirados “na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado” (verso 8). Esta cidade representa a França, que durante a Revolução Francesa, sobretudo entre os anos de 1793 e 1797, renegou a existência de Deus, blasfemou das coisas sagradas e se entregou à devassidão. Ela é chamada espiritualmente de Egito por se entregar à incredulidade e, de Sodoma, por exaltar a promiscuidade. O texto, no entanto, continua dizendo que as duas testemunhas (que representam a Bíblia), seriam ressuscitadas, demonstrando que o secularismo vencera apenas um round e não a luta inteira.
A vitória do secularismo sobre o romanismo foi, de fato, ampla. Depois disso, o papado tornou-se um poder frágil e tímido. Nem sombra do que fora antes. Perdeu um espaço enorme para o secularismo e para as igrejas protestantes. Contudo, Apocalipse 13:3 diz que essa ferida seria curada e o mundo se maravilharia. De fato, o papado está em um interessante processo de retomada de influência. Em 1929, através do tratado de Latrão, o pontífice passou a ter um Estado próprio, o Vaticano, do qual é chefe. E a partir de João Paulo II, a figura do Papa tem se tornado novamente importante entre os líderes das principais nações do mundo.
O Concílio de Vaticano II, em 1962, ainda revela uma estratégia católica (muito criticada pelos católicos mais tradicionalistas) de se alinhar às ideias de Estado laico e preservação da liberdade religiosa, a fim de ganhar a simpatia de secularistas e progressistas. O pontificado de Francisco I tem dado grandes passos nessa direção, pois com seu carisma ele tem ganhado a simpatia de cristãos não-católicos e pessoas que não possuem religião. Inclui-se aí esquerdistas, trabalhistas, ambientalistas e ecumênicos. A tendência é que a influência do Papa se torne cada vez mais relevante, ainda que não do modo tradicional, como outrora. A ideia é cooptar diversos setores, fazendo algumas concessões, mas, sobretudo, ganhando domínio de forma velada.
Evidentemente, o mundo não se tornará católico. Pelo menos não de modo ortodoxo. Mas temos visto um caminhar do mundo para uma espécie de religião geral e extra-oficial, com aspectos secularistas e relativistas, mas também sincretistas. À adesão a esse tipo de religião fará com que as pessoas simpatizem com o papa mesmo não sendo católicas, e eventualmente o apoiem em ideias que parecem interessar a todos, independente de religião, conforme explico melhor em outro texto.
Não se espera que os próximos papas consigam implantar nos países pautas mais conservadoras como a proibição do aborto e do casamento gay. Por outro lado, um estudo mais aprofundado da Bíblia e das relações hoje travadas entre o Papa, a ONU, a União Europeia e o presidente dos EUA demonstram que há algumas pautas em comum que, se aplicadas, darão aos governos mais poderosos do mundo a possibilidade de lutar contra cristãos que insistem em seguir à Bíblia à risca. A verdade é que, com sua influência, o papado (a primeira besta) irá entregar uma autoridade enorme nas mãos da segunda besta (esta sim, um poder secular). E esta segunda besta tratará de perseguir os cristãos (incluindo os católicos honestos, que irão perceber como o papado acabou entregando os próprios católicos nas mãos dos perseguidores).
A identidade da segunda besta
Mas quem é a segunda besta? Bom, já sabemos que a figura da besta não representa uma pessoa, mas um poder, reino, sistema, instituição, governo. A análise das características dadas em Apocalipse sobre essa segunda besta é essencial. Em primeiro lugar, essa besta difere da primeira em sua origem. Em vez de surgir do mar, emerge da terra (verso 11). Ou seja, ela não emerge de um lugar populoso, repleto de povos, mas sim de um local mais deserto. Uma vez que a primeira besta emergiu do império romano, o qual era formado por dezenas de territórios populosos conquistados, a segunda besta necessariamente deve ter surgido de algum território isolado, muito menos populoso. Em segundo lugar, a segunda besta parece um cordeiro, mas fala como dragão (verso 11). Isso, sem dúvida, significa que se trata de um poder com aparência cristã, mas que se comporta como não cristão. Finalmente, a segunda besta possui tanta autoridade quanto à primeira, uma autoridade de escala mundial (verso 12). Que tipo poder se encaixa nessas características? Sem dúvida, os EUA.
A nação americana foi constituída em um continente novo, muito menos populoso que a Europa. Iniciou-se como uma nação majoritariamente cristã, construindo uma tradição evangélica no país e legando ao mundo grandes homens e mulheres de Deus. Em pouco tempo atingiu grande desenvolvimento econômico, vindo a tornar-se a nação mais rica, poderosa e influente do mundo a partir do século XX até os dias atuais. Como podemos ver, não existe outra nação que se encaixe tão bem nas características da segunda besta como os EUA. Mas por que os EUA falam como um dragão? Este verso provavelmente se refere ao crescente afastamento do povo americano das doutrinas puras do evangelho, somado à atividades do governo cada vez mais anticristãs e, sobretudo, o alinhamento futuro desta nação à primeira besta.
O Alinhamento Final
Como se dará o alinhamento final entre a primeira e a segunda besta? Há pelo menos duas possibilidades. Vou elencá-las aqui rapidamente. A primeira seria o fortalecimento da direita religiosa. Em resposta à crescente destruição dos valores morais e familiares por parte da esquerda, um movimento político-religioso poderia ganhar força nos EUA e em outras potências mundiais, visando restaurar a sociedade. Nesta hipótese, o avanço do secularismo estaria alimentando uma reação de igual força, mas para o lado religioso. Em uma espécie de movimento pendular, o mundo chegaria a um ponto máximo de destruição dos valores pelo secularismo e então voltaria com força para a religião.
A crise moral mundial, juntamente com crises financeiras e todo um colapso social, daria crédito a estes grupos político-religiosos, que ganhariam apoio de grande parte da população. Políticos com esta visão se elegeriam e o próprio povo pressionaria políticos discordantes. O contexto seria fundamental para a subida ao poder de um presidente americano alinhado com esta agenda religiosa que promovesse, junto ao Papa, a união das pessoas e dos povos contra o secularismo e pela restauração dos valores morais e religiosos.
Uma segunda possibilidade seria o fortalecimento dos ideais progressistas, provenientes da esquerda. Pensamentos como o multiculturalismo, um governo global, a união das nações em prol de uma agenda ambientalista, o ecumenismo, o trabalhismo e discursos com tônica nos direitos humanos, na defesa das minorias, na tolerância, no pacifismo e no antifundamentalismo continuariam avançando fortemente como hoje vemos. Órgãos como a ONU e a União Europeia clamariam por uma nova política mundial que visasse a superação dos problemas atuais, em especial a guerra, a exploração dos trabalhadores, a intolerância religiosa, a fome, o desmatamento e a poluição.
Neste ínterim, um Papa com discurso aparentemente mais progressista iria se aproveitar do contexto para ganhar a simpatia de governantes e de não-católicos, alinhando-se a um discurso belo de união dos povos e religiosos na resolução de problemas comuns a todos. Com a subida de um presidente americano também progressista, o apoio ao Papa seria natural. Cada qual com a sua estratégia: o Papa pretendendo restabelecer a sua influencia sobre o mundo e o presidente americano de esquerda buscando angariar o apoio as massas de católicos que seguem o Papa. Ambos com um objetivo: estabelecer o globalismo. O presidente norteamericano, o globalismo secular; o Papa, o globalismo católico. Ambos com apoio dos grandes órgãos mundiais e da mídia. Ambos flertando com o ecumenismo e o ambientalismo apenas para unir as pessoas sob suas mãos.
Nas duas hipóteses, o resultado será o mesmo na política: setores da esquerda e setores da direita concordarão com determinadas ideias em comum. A principal, a que terá o poder de unir quase todos, será a imposição do domingo como dia de folga universal; será o dia da Terra, o dia da família, o dia do descanso do trabalhador, o dia contra o capitalismo, o dia da união das religiões, o dia do Senhor para protestantes e católicos, o dia que simbolizará a paz.
Conforme dito em posts anteriores, esse é apenas um primeiro passo. A seguir deverão haver leis que praticamente imponham o trabalho no sábado. Em pouco tempo, os que não se curvarem diante dos ditames estatais influenciados pelo Papa ficarão em relevo e começarão a receber a antipatia do povo. Serão taxados de hereges pelos religiosos e de fundamentalistas pelos progressistas. Logo, os problemas do mundo serão relacionados a estes “rebeldes”. As próprias multidões clamarão para que o Estado faça algo contra esses grupos desviantes. Mais políticos surgirão propondo essas ideias. Outros sentirão a pressão e colocarão em pauta essas discussões.
Os dois golpes finais, que desencadearão de vez a perseguição legal dos desviantes, provavelmente serão: as sete pragas relatadas em Apocalipse e a falsa Parousia que o Diabo fará, no finzinho do mundo, terminando de convencer a todos da necessidade de destruir os “rebeldes”. Então, a perseguição será legalizada.
Independente de qual hipótese seja a correta, o que fica claro é que a posição de Papa, o papado, é a primeira besta; e o governo dos EUA é a segunda besta. De alguma forma, o governo dos EUA se alinhará ao Vaticano com uma proposta globalista. E a influencia dos dois agentes sobre o mundo conduzirá as massas ao sentimento de união para mudar o mundo. Como todas as propostas de mudança do mundo geraram perseguição, esta não será diferente. Quem não se adéqua ao poder reformador do mundo sempre acaba descartado por este mesmo poder.
Nossa esperança, evidentemente, está firmada nAquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Cristo Jesus prometeu que virá para nos buscar. Não buscar os adventistas do sétimo dia, mas buscar todos aqueles que se prontificarem a segui-lo fielmente. A perseguição virá sim, mas junto com ela, a nossa salvação. Maranata!