Os vícios a seguir podem atingir os indivíduos de qualquer lado do espectro político. Falo isso porque já vi tanto pessoas de esquerda quanto de direita caindo nesses mesmos vícios. E, pelo menos na minha experiência, posso dizer que a proporção da queda nesses vícios à direita e à esquerda é bastante parecida.
Vício 1: Apelo aos erros do adversário
- “Político A fez isso e isso errado”.
- “Ah, mas e o Político B?!”
Vício 2: Apelo às próximas eleições.
- “Político A fez isso e isso de errado”.
- “Ah, então você vai votar em quem nas próximas eleições? Porque não há opção melhor que o Político A”.
Vício 3: Negação
- “Político A fez isso e isso de errado. Há muitas evidências e as explicações dele não convencem”.
- “Isso é um complô geral contra o Político A”.
Vício 4: Justificação
- “Político A fez isso e isso de errado”.
- “Tudo bem, não é muito correto. Mas você precisa entender que isso é necessário. Além disso, todo mundo faz”.
Vício 5: Estratégia acima de tudo
- “Político A fez isso e isso de errado”.
- “Fez. Mas se você ficar aí criticando, vai fortalecer o Político B. Você precisa entender de estratégia política”.
Vício 6: Apelo à governabilidade
- “Político A fez isso e isso de errado”.
- “É, eu também não gostei. Mas política é assim mesmo. É preciso construir alianças pra poder governar. Sem isso, não se faz nada”.
Vício 7: Exclusão de opções
- “Político A fez isso e isso de errado. Como eu também não concordo com o Político B, vou votar no Político C ou no Político D”.
- “Não existe outras opções! Ou é A ou é B! Você precisa escolher um deles. E não escolher A já é escolher B!”.
Por que essas posturas não convém a um cristão? Porque o cristianismo exige uma visão cética do ser humano, rígida contra aquilo que é errado e honesta em relação às evidências. Defender e justificar todos os erros de um político, partido ou ideologia por razões de estratégia e/ou porque o adversário fez pior é uma postura política, não cristã. É na política que os homens costumeiramente colocam a estratégia acima da moralidade e adotam a premissa de que os fins justificam o meios. Este não é deve ser o modo cristão de ver o mundo.
É claro, isso não quer dizer que devemos ser desproporcionais. Todos erram. Não é sábio equiparar erros graves de alguns políticos com erros pequenos. Se um homem rouba e outro assassina, obviamente o assassinato é algo bem pior. Entretanto, também é verdade que tanto o roubo quanto o assassinato são erros morais e crimes. Não podemos cruzar a linha da proporcionalidade para dizer que o homem que rouba não precisa ser julgado e que está tudo bem ele ter roubado. Percebe a diferença?
Também é claro que não devemos ser ingênuos. Há ocasiões, na política, em que realmente precisamos escolher entre duas opções ruins. No geral, isso ocorre no segundo turno das eleições para cargos executivos – nas democracias representativas. Nestes casos, embora haja a opção de anular o voto (e ela é legítima!), há aqueles que pensam o seguinte: “Um dos dois vencerá. Então, vou escolher o que julgo ser menos pior”. Não há imoralidade nisso. É o tipo de pragmatismo razoável a um cristão. No entanto, escolher o menos pior não significa dar apoio incondicional a ele. Na verdade, sequer significa dar apoio, no sentido defensor e militante da palavra.
Não obstante, o que se vê muitas vezes são cristãos discutindo política como se as eleições fossem hoje e fosse absolutamente necessário desculpar todos os erros de seu político preferido para salvar o país de uma catástrofe. E isso, lamentavelmente, às vezes é entendido por essas pessoas como um dever cristão. Que me desculpem os que pensam assim, mas não posso concordar com isso. Este é, claramente, um caminho para a idolatria política.
Se queremos ser cristãos fieis à Palavra e mesmo cidadãos conscientes, devemos cobrar e criticar a todos os políticos e partidos que precisam ser cobrados e criticados. Sem “passar pano”. Sem se ofender porque outros levantaram críticas. O que o cristão deve entender, em especial o cristão conservador, é que político foi feito para ser cobrado mesmo, jamais mimado, acariciado, justificado. Na política, é melhor errar por excesso de cobrança do que por falta.
Davi, quando rei na teocracia judaica, foi cobrado e criticado pelo profeta Natã por causa de seu pecado de adultério com Bate-Seba (II Sm 12:1-11). E Davi, meus amigos, era um rei segundo o coração de Deus, um profeta e um símbolo do Messias vindouro. Faremos diferente de Natã? Lembremo-nos de que a Bíblia assevera: “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação. Sai-lhes o espírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios” (Sl 146:3-4). A Deus cabe toda a confiança, esperança e defesa. Aos bons homens, uma confiança parcial, uma esperança e uma defesa relativas, parciais. Aos políticos, quer bom, quer maus, nosso espírito crítico.
Por Davi Caldas
Fonte: Reação Adventista