A questão do uso de tambores para adoração no templo é algo que tem levado muitos a buscarem uma posição bíblica quanto ao assunto. Mas esta busca deve ser feita com humildade, sem pensamentos pré-concebidos, pois caso isso não ocorra, corremos o risco de sermos enganados pelo nosso “eu”.
Algumas pessoas, nesta busca pela verdade, chegaram a uma conclusão que pode ser descrita nos seguintes termos: Lúcifer, quando ainda estava no céu, usava tambores ali, os quais foram criados para ele pelo próprio Deus. Portanto, se isto for verdade, seu uso no culto de adoração não é apenas legítimo, mas altamente recomendável. Esta conclusão será o tema de análise deste artigo.
Antes de iniciarmos a análise da argumentação em si, leia esta mensagem do espírito de profecia:
“É plano de Deus dar suficiente evidência do caráter divino de Sua obra para convencer a todos quantos desejam sinceramente conhecer a verdade. Mas Ele nunca remove toda a oportunidade de dúvida. Todos quantos desejam pôr em dúvida e cavilar encontrarão ensejo.” Mensagens Escolhidas, vol. I, p. 72.
Todos quantos buscarem na Bíblia justificativa para suas ideias, encontrarão. Alguns usam a história de Raabe e das parteiras de Moisés para justificar que Deus aprova uma mentira se for para o bem, outros utilizam algumas declarações de Paulo para afirmar falsamente que o sábado e a lei foram abolidos. Outros utilizam as ordens dadas por Deus a muitos dos juízes e reis de Israel para matar homens, mulheres e crianças e afirmam que Deus é um ser cruel e sanguinário. Outros usam a parábola do rico e do Lázaro para justificar que existe vida após a morte. Muitas religiões, se utilizando de diversas passagens bíblicas, até hoje praticam a poligamia. Ainda tem aqueles que usam a ordem de Deus a Pedro para matar e comer animais imundos, para afirmar que Deus permitiu o consumo desses animais. Poderia citar várias outras passagens que são utilizadas para justificar muitas das mentiras de Satanás, mas acredito que estas, para aqueles que desejam encontrar a verdade sobre o uso dos tambores, já bastam.
Perguntas que surgem
Se Deus criou os tambores, por que eles não se encontram em nenhum dos versos que autorizam o uso de instrumentos musicais no Templo? Afinal, foi ele uma cópia do “verdadeiro Tabernáculo que o Senhor erigiu e não o homem”. O modelo do Templo é uma cópia do Santuário Celeste, onde são executados os louvores para adoração a Deus. Se Deus criou os tambores para Lúcifer dirigir o louvor no Santuário Celeste, por que não autorizou o uso em seu Templo Terrestre? Teria Deus mudado o sistema de adoração? Deus altera suas determinações a respeito de como devemos adorá-lo? (I Crônicas 25:3, II Crônicas 5:12, II Crônicas 20:28, II Crônicas 29:25, Êxodo 25:8, Hebreus 8:2, Malaquias 3:6).
Alguns podem argumentar sobre a existência de címbalos no templo, mas címbalos não são tambores, apesar de serem instrumentos de percussão, existem várias diferenças entre eles, principalmente na maneira como os címbalos eram utilizados.
Então de onde surgiu esta ideia?
Este ponto de vista surgiu a partir da leitura do verso encontrado em Ezequiel 28:13, conforme a tradução Almeida Revista e Corrigida que diz:
“Estavas no Éden, jardim de Deus; toda a pedra preciosa era a tua cobertura, a sardônica, o topázio, o diamante, a turquesa, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro: a obra dos teus tambores e dos teus pífaros estava em ti; no dia em que foste criado, foram preparados.” Ezequiel 28:13.
Quero analisar junto com você o texto do Comentário Bíblico Adventista sobre o verso.
Tambores.
Plural de toph, pelo geral um tamborzinho de mão (t. III, p. 32). Alguns pensam que toph se refere aqui ao lugar em onde era engastada a gema.
Flautas.
Heb. néqeb, palavra obscura que talvez signifique “passagem subterrânea” ou “mina”. Alguns pensam que esta palavra faz alusão à cavidade na qual se engastava a pedra. Se isto fosse assim, a passagem estaria falando da formosa cobertura na qual estavam engastadas as pedras preciosas. A Bíblia de Jerusalém traduz: “Em ouro estavam lavrados os engastes e pingentes que levavas”, mas admite que se trata de uma “tradução duvidosa”. Por outro lado, se o texto aqui fala de instrumentos musicais, isto corresponde com Lúcifer, que foi diretor dos coros do céu (1 SP 28-29).
O termo toph não está definido como tambores, o Comentário Bíblico Adventista coloca outra opção e não a desqualifica. Nós sabemos que em todas as línguas existem palavras com grafias iguais, mas com significados diferentes, chamadas de homônimos. Portanto, para não haver problemas de interpretação, deve se levar em consideração todo o contexto. Isto é coerência.
Quanto ao termo néqeb, ele não está definido como pífaros, pelo contrário, existem no mínimo três diferentes significados.
- Passagem Subterrânea.
- Cavidade onde de colocava a pedra.
- Instrumento Musical.
Levando em conta a coerência no texto, seria bem mais aceitável a interpretação que tof e néqeb se referem a locais onde eram presas as pedras preciosas na vestimenta de Lúcifer, às quais todo o verso se refere.
De fato, a Nova Versão Internacional traz a seguinte versão para Ezequiel 28:13:
“Você estava no Éden, no jardim de Deus; todas as pedras preciosas o enfeitavam: sárdio, topázio e diamante, berilo, ônix e jaspe, safira, carbúnculo e esmeralda. Seus engastes e guarnições eram feitos de ouro; tudo foi preparado no dia em que você foi criado.”
Apesar do Comentário Bíblico Adventista não definir nada quanto ao assunto, mas apenas fazer algumas suposições, um dos comentários bíblico mais bem conceituado entre os eruditos, O Comentário Bíblico de Moody, considerado um dos maiores pregadores que já existiu, concorda com esta posição ao comentar Ezequiel 28: 13.
“De ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos. O T.M. diz : e (de) ouro (era) o acabamento (me’lakâ) de seus tamborins (o contexto exige “engastes”) e dos seus encaixes (penetrações, neqeb; provavelmente, “gravuras”. Cons. Ac. e Ug.).”
Conclusão
Concluímos então que o livro de Ellen White citado no Comentário Bíblico Adventista ( 1 SP 28-29 – Spirit of Prophecy, vol. 1. Pág. 28-29), onde ela afirma ter sido Lúcifer diretor do coro celestial, foi uma revelação Divina, pois em nenhuma passagem da Bíblia isto é confirmado. O fato desta citação se encontrar ali é apenas para citar a fonte de onde foi tirada a ideia de ter sido Lúcifer diretor do coro celestial, mas não para comprovar a suposição levantada de que Deus teria criado os tambores para Lúcifer.
No mesmo livro Ellen White afirma que Lúcifer solicitou uma audiência com Cristo para pedir que fosse lhe concedido uma segunda chance. Assim como esta, muitas outras afirmações são feitas por ela em Spirit of Prophecy. Ela fez estas declarações por que tinha autoridade profética para isso. Ela tinha esta autoridade, mas nós não a possuímos.
É muito perigoso fazer qualquer declaração baseado em suposições. Portanto, o mais sensato é permanecer em silêncio diante de textos como este, logo por que não existe confirmação em nenhuma outra parte das Escrituras para corroborar essa ideia, fugindo, assim, da orientação bíblica em Eclesiastes 7:27 e Isaías 28:10.
Autor: Hilton Robson Oliveira Bastos