Teria Jesus morrido numa quarta-feira?

Se Jesus morreu na sexta-feira à tarde, como teria Ele passado “três dias e três noites no coração da terra”? Como entender Mateus 12:40?

Os quatro evangelhos afirmam que Jesus morreu no dia da “preparação” [parasceve, em grego paraskeuê), ou seja, na sexta-feira (Mt 27:62; Mc 15:42; Lc 23:54; Jo 19:31), descansou na tumba no dia de sábado (Mt 27:59-28:1; Mc 15:45-16:1; Lc 23:52-56; Jo 19:31-20:1) e ressuscitou no domingo, bem cedo (Mt 28:1-7; Mc 16:1-6; Lc 24:1-7; jo 20:1-9). Contudo, mesmo com todas essas informações bíblicas com respeito ao tempo entre a morte e a ressurreição de Jesus, alguns, mal interpretando Mateus 12:40, insistem na idéia de que Jesus teria morrido numa quarta-feira (outros, na quinta-feira). Seria isso mera questão de dia ou haveria uma questão teológica com respeito a esse tempo?

O texto em questão diz: “Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do homem estará três dias e três noites no coração da terra.” Pela nossa contagem ocidental, tais palavras de Jesus implicariam 72 horas completas. Acontece que não sabemos a hora em que Jonas foi engolido pelo grande peixe, nem a hora em que o peixe o vomitou na praia, nem ainda se esse profeta ficou mesmo 72 horas no ventre do peixe. Assim, o acontecido ao profeta Jonas não pode ser tomado para indicar 72 horas completas, e o mesmo acontece com o tempo entre a morte e a ressurreição de Jesus. Para um melhor entendimento da contagem do tempo entre os judeus, no Antigo e Novo Testamentos, detenhamo-nos um pouco no que é conhecido como “contagem inclusiva” dos Judeus (bem diferente da nossa contagem ocidental).

Pela contagem inclusiva, notamos que a palavra “dia” podia incluir um dia (as 12 horas de claridade) e uma noite (as 12 horas de escuridão). Exemplos:

• 1 Samuel 30:11-13. Nesses versos, é dito que Davi se encontrou com um moço egípcio que “havia três dias e três noites que não comia pão, nem bebia água” (v. 12). Mas, no verso 13, o próprio moço disse a Davi que tinha adoecido havia “três dias”. Ou seja, ainda estavam no terceiro dia da doença do moço, mas já contavam “três dias e três noites” completos.

• Ester 4:16-5:1. A rainha Ester pediu ao primo Mordecai que jejuasse por ela “três dias…, de dia e de noite” (v. 16). Depois disso, ela iria ao encontro do rei. Em 5:1, é dito que “ao terceiro dia”, Ester foi ao encontro do rei. Note que os “três dias” do jejum não haviam ainda se completado (estavam no terceiro) e a rainha já considerava esse último dia de jejum como tendo se completado.

• 1 Reis 12:5,12. O rei Roboão disse ao povo: “Idevos e, após três dias, voltai a mim. E o povo se foi.” Pela nossa maneira de contar o tempo, o povo devia voltar no quarto dia, certo? Mas no verso 12 é dito que “veio, pois Jeroboão e todo o povo, ao terceiro dia, a Roboão…” Os três dias ainda não haviam se completado, pois ainda estavam no terceiro dia. Mas o povo já considerava esse último dia como se o mesmo já tivesse se completado.

• Gênesis 17:12 e Filipenses 3:5. De acordo com o verso de Gênesis, a ordem de Deus a Abraão foi: “O que tem oito dias será circuncidado.” Se contarmos o tempo à nossa maneira ocidental, o menino deveria ser circuncidado no nono dia, certo? Mas lemos em Filipenses 3:5 que Paulo foi “circuncidado ao oitavo dia”. Isto é, o oitavo dia de vida já era contado como um dia completo e os meninos eram circuncidados nesse oitavo dia.

Entendendo a maneira inclusiva de contar o tempo, fica claro o que Jesus queria dizer com “três dias e três noites no coração da terra” (Mt 12:40). Ao dizer isso, Ele, sendo judeu, estava empregando a “contagem inclusiva”. Ou seja, pelo fato de ter morrido na sexta-feira, ter descansado na tumba no sábado e haver ressuscitado no domingo, se contam inclusivamente “três dias”, bem como as “três noites” desses dias (5a à noite – início do dia de sexta-feira; 6a à noite – início do dia de sábado; e sábado à noite – início do domingo, chamado nos evangelhos de “primeiro dia da semana”).

A seguir, veja os três dias e as três noites pela contagem inclusiva:

 

Alguém poderia dizer que não importa o dia em que Jesus morreu, mas sim o ato de Sua morte vicária e salvífica. Realmente, o ato é mais importante que a data, mas mesmo essa tem implicações teológicas. Não há como negar que, através de Sua morte, Jesus desempenhou a função de Recriador. O paralelo entre a semana da criação e o ministério de Cristo é claro: assim como Ele, na função de Criador, concluiu Sua obra na sexta-feira (Gn 1:31), assim Ele, na função de Recriador, concluiu Seu ministério (Seu trabalho) numa sexta-feira, morrendo pelos pecadores. Assim como o Criador descansou no sábado (Gn 2:1-3), também como Recriador, descansou de Sua obra salvadora em outro sábado, no túmulo emprestado por José (Lc 23:50-56). Tudo o que Deus podia fazer para nos salvar foi feito no Calvário. Mas de nada adianta saber do que Cristo fez se não O aceitarmos como nosso Salvador e não nos valermos de Seus méritos.

Autor: Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e editor na Casa Publicadora Brasileira. 

Sobre Weleson Fernandes

Escritor & Evangelista da União Central Brasileira

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